Sunday, December 23, 2012

ANTIGO REINO DO CONGO


S. Salvador do Congo (hoje M'banza Congo) conheceu os nossos passos, pois aí vivemos (mesmo em frente às ruínas da antiga Sé do Congo) e aí nasceu nosso irmão Helder Manuel Pereira da Silva. A nossa entrada em S. Salvador do Congo deu-se pela estação do cacimbo, no longínquo ano de 1965. Esta cidade, ao tempo, capital do distrito do Zaire, situava-se a 216 quilómetros de Maquela do Zombo; 70 de Luvo, posto de despacho alfandegário (fronteira com o ex-Congo Belga); 180 de Nóqui; 53 de Madinha; 65 do Cuimba e 30 do Buéla. As terras de M'banza Congo ali a nossos pés, faziam-nos sonhar com o antigo reino do Congo, cuja cristianização se iniciou nos fins do século XV. Foi ali que, nove anos depois de Diogo Cão descobrir o rio Congo (1482), em 1491, aportaram os primeiros missionários, os cónegos seculares de Santo Elói de Lisboa. A 3 de Maio baptizaram o rei Nzinga-a-Nkuwa que, tomando o nome de D. João I, deu assim início a uma dinastia cristã. Não admira que se reproduzissem tantas historias e lendas. A imponente e bem conservada coluna erigida ao lado direito da Sé, no antigo cemitério dos monarcas do Congo, por exemplo, falava-nos da traição de uma rainha negra, e que o déspota rei do Congo, seu marido, fiel ao cristianismo e aos portugueses, a mandou sepultar viva nessa coluna, servindo de coacção aos seus súbditos. Talvez a forma deturpada de lembrar Afonso I, filho de D. João I, quando reprimiu a revolta dos pagãos chefiados por seu irmão mais novo. O conceito de monarquia, fazia sentido nestas terras. Ouvimos falar dela, privamos de perto com um descendente (de quem não nos lembramos o nome) do último rei do Congo (D. António III), falecido em 1957, depois de um breve reinado de pouco mais de um ano. Por ser primo de D. Isabel, herdeira do trono, o casamento realizou-se (1924) com autorização especial (dispensa) de Roma. Guiado pelo seu descendente, chegamos a entrar na casa que serviu de residência deste monarca, percorrendo as dependências, avivando aqui e acolá um sentimento de africanidade, revelado não só pelos cenários, mas sobretudo pelas memórias. A árvore da cola, que diziam ter sido da forca, testemunhou alguns dos nossos passos, confidências e brincadeiras. Dentro da nossa inocência, ouvimos falar, pela passagem de testemunho dos seus ascendentes, da forma pouco ortodoxa e sobretudo enganosa com que o governo português havia alimentado este reinado sem trono, mesmo quando lhes permitiu (a D. António III e D. Isabel) possuir casa de Estado, secretários e ministros, à semelhança dos seus antepassados. À data da nossa permanência em S. Salvador do Congo, D. Isabel (Quengue) ainda era viva, mas já havia sido destituída do título de rainha (1962) e vivia numa das sanzalas das imediações.  [Texto extraído e adaptado do nosso livro «Chamaram-me Muxicongo: memórias de um ex-metalúrgico», Braga: Edições APPACDM Distrital de Braga, 1999].

Saturday, December 22, 2012

O olhar de José Ernesto Costa sobre as Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos


“Nos lagos e lagoas reina uma contínua interacção entre a matéria inorgânica, os vegetais e as algas produtoras de substâncias nutritivas, os animais herbívoros e carnívoros e os microrganismos que decompõem as substâncias inorgânicas. Os seres vivos de uma região formam juntamente com o ambiente que os rodeia, um conjunto natural que é o ecossistema”.

Fernando Aldeia

José Ernesto Costa autografando
Sempre respondemos ao chamamento ou apelo de quem gostamos. Em Ponte de Lima, felizmente, são muitos os que conseguem atrair-nos para as mais diversificadas iniciativas, porque há uma saudável cumplicidade cultural à boa maneira hegeliana, onde a cultura é um processo histórico no decurso do qual o homem aprende a dominar a realidade e onde não pode contentar-se com o já existente, sendo sempre obrigado a imprimir a sua marca no mundo através da sua actividade, movimento que reflecte o progresso da consciência. É assim que sentimos – sem rotulações político-partidárias ou supostas colagens ao poder instituído, dado que há boas e más pessoas em todo o lado – o pulsar das gentes limianas, para as quais a cultura é a realização da natureza humana e não do abandono desta. Associado ao facto de que a nossa noção de cultura assenta no princípio mais básico (sem ser banal) do “conjunto de conhecimentos e práticas aprendidos e ensinados, por contraste com o que é inato”, nunca deixamos de responder a esses apelos culturais, vindos das terras de António Feijó. Nesse sentido, não poderíamos deixar de estar presentes na sessão de lançamento do último trabalho literário do bom amigo/poeta e ilustre memorialista limiano, José Ernesto Costa, que decorreu no pretérito dia 15 de Dezembro, no Auditório do Centro de Interpretação Ambiental da Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos, aprazível local que faz jus à deambulação poética do José Ernesto Costa, com o seu «…olhar sobre as…» mesmas Lagoas. Tal como nós, para além do seu “limianismo” e paixão memorialista, José Ernesto Costa também levou com o “aroma tropical pela tromba”. É essa dicotómica cumplicidade, difícil de explicar, que nos aproxima cada vez mais um do outro: “Esta dádiva da Mãe Natureza, deve ser preservada por todos nós, até ao fim das nossas vidas” – concordamos plenamente!


A nosso modesto ver, «O nosso olhar sobre as Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos» de José Ernesto Costa, apresenta-se assim como um testemunho real que reflecte o progresso da consciência humana, sem pretensões a qualquer tratado científico – sabemo-lo que nisso o José Ernesto é bastante sério –, tendo apenas em mente a obrigação de imprimir a sua marca poética no mundo através da sua actividade intelectual plasmada no (como anteriormente dissemos) movimento que reflecte o progresso da própria consciência. Deliciamo-nos com as excelentes fotografias do Manuel Varela e Délio Costa (seu filho), e a prosa poética de José Ernesto Costa, onde “é difícil resistir a tão bela paisagem sem distinguirmos sons nem melodias neste inconfundível espaço das lagoas”, com “imagens que nos seduzem num mundo possível”. Este espaço, importante para a conservação da natureza e da biodiversidade, acaba por seduzir qualquer pessoa conscienciosa do seu papel na sociedade cada vez mais globalizada, indiferente e/ou adversa à coabitação homem/natureza. Neste livro encontramos uma envolvência profunda – como escreveria Fernando Aldeia no prefácio – da alma e coração. De facto, aquele local transmite-nos um ambiente aprazível e incomparável, sensação cognitiva que José Ernesto Costa, Manuel Varela e Délio Costa, magnificamente nos souberam transmitir. Concordamos com as palavras do autor quando afirma que “preservar um espaço assim verdejante e paradisíaco é por certo a grande ambição do Município. Sensibilizar as populações visitantes para esta riqueza natural é um dever de todos os limianos”, confessando, ao mesmo tempo, a impossibilidade de descrever na sua totalidade, toda a riqueza e diversidade assinaláveis de espécies de fauna e flora, o que acaba por fazer denotar, mais uma vez, uma confessa e verdadeira seriedade intelectual: “O meu olhar pelo interior das lagoas, despertou em mim uma procura interminada da flora e fauna. Desse nosso olhar pelo paraíso, destacamos o possível, ficando muito aquém do existente”. Temos que ter consciência que se trata apenas de olhar diferente de tantos outros, mas que se presta, a custo zero para o município, à divulgação da riqueza e qualidade ambiental desta “mui nobre” vila limiana. Um dia, quando o mundo globalizado despertar para a realidade da natureza humana – reconhecendo a falibilidade dos números, qual capitalismo selvagem –, todas estas incursões literárias do José Ernesto Costa (e de outros tantos que por aí gravitam, bebendo da água do Lethes), serão lembradas como o garante para o desenvolvimento sustentado da nossa região: “Uma riqueza cuja qualidade ambiental se deve estimular e ajudar na promoção daquele património natural, dado o grande potencial que congrega para o desenvolvimento da actividade turística. Um património natural que nos enche a todos de um enorme orgulho” – citamos Fernando Aldeia.

Obrigado José Ernesto Costa por este excelente trabalho literário, do qual gostamos bastante e que vivamente recomendamos. Apenas um senão – numa sugestão crítica/construtiva, que por certo aceitarás –, o final do livro deveria conter as fotos e umas pequenas notas biográficas do Manuel Varela e do Délio Costa!

Tuesday, December 18, 2012

O “Sentimento do Poema” em Amândio Sousa Dantas


“O romance apresenta imagens perceptíveis com sensações definidas, e a poesia com sensações indefinidas, para cujo fim a música é uma parte essencial, dado que a nossa concepção mais indefinida é a compreensão de um som doce”.

Edgar Allan Poe

Aí está o novo livro de Amândio Sousa Dantas. Algumas pessoas questionar-se-ão do nosso persistente atrevimento em falar de novo deste inspirado vate limiano, quando já o fizemos por duas vezes este ano, nomeadamente numa das nossas crónicas – a propósito da sua magnífica “Antologia Poética” – e no “Anunciador das Feiras Novas, onde o baptizaríamos de “um poeta mesológico do Lethes e do Mundo”. Na altura, fizemos questão de salientar que sempre soubemos perscrutar-lhe a alma, porque o sentimos possuidor das três distinções mais imediatas e óbvias do mundo da mente: o “Puro Intelecto”, o “Gosto” e o “Sentido Moral”, parafraseando Edgar Allan Poe quando afirma que “da mesma maneira que o Intelecto se preocupa com a Verdade, assim o Gosto nos informa sobre o Belo, enquanto o Sentido Moral se responsabiliza pelo Dever”. Achamos que, pelo ajuste das distinções, não serão necessários mais condimentos ou adjectivações para considerarmos Amândio Sousa Dantas, sem o acantonarmos ao nosso espaço geográfico e sem menosprezarmos outros poetas que tanto admiramos, um dos grandes poetas contemporâneos nacionais. Tal facto, tendo em conta a nossa convincente afirmação (tão só, sedimentada pelo nosso gosto pessoal), permite-nos, ao mesmo tempo, formular alguma concepção especulativa no que concerne à “mimese poética” de muitos outros poetas – e poetisas – de quem gostamos. E não são poucos, tendo em conta que todos eles têm o seu lugar próprio na nossa percepção cognitiva – escolha de uma impressão, ou efeito, a ser transmitido (E. A. Poe) – de cada um. À sua vez, iremos falar de todos aqueles que, “poetando”, nos criam um estado emocional, uma saudável nostalgia ou uma sonorização melódica – sim, com certa musicalidade –, transmitindo partilha de pensamento (mesmo quando na dor), porque a poesia se repercute na linguagem humana, utilizada com fins estéticos, compreendendo mesmo aspectos “metafísicos”, no sentido de sua imaterialidade e da possibilidade de se transcender ao mundo fático.


Mas, voltemos ao Amândio Sousa Dantas e ao seu mais recente brado poético – “Sentimento do Poema”, qual espelho de revelação, voo, existência, desafio, presságio, despedida, tristeza, silêncio, ternura, abraço, olhar, sombra, caminhos, medo, dúvida, natureza, rio, vento, reconciliação, desolação, entardecer, paisagem, rumo, luz, assombro, adeus, tempo, palavra, vida como um fio, comunhão, esperança, amor e eternidade – complexo lexical em que devíamos ter usado aspas, visto que extraído dos textos –, melhor expressaria o sentimento profundo do poeta, em cuja “metafísica não segue a [sua] minh’alma” (sou mais de olhos na paisagem / pela viagem de Ulisses), e que tudo conjugado dissimula, de uma forma perfeita, uma canção para seu irmão: “As lágrimas transformaram-se / em vidro estilhaçado: / e eu, meu irmão / teu rosto não alcanço, / e só na minha alma um rio corre / sem cessar – eu não o posso atravessar”. Se não fosse a riqueza de conteúdo que percorre todo o “Sentimento do Poema”, onde “o poeta é responsável pelo ar que o rodeia” e “um fio se tece por sua dor”, bem que poderíamos ficar por aqui. Contudo, mais nos apraz dizer que o “Sentimento do Poema”, apesar de nos revelar um sentimento amargurado (de dor) de quem perdeu algo que o complementava – pensa crescer árvore / sol ou o amor exacto / no esplendor do dia (Luís Dantas) –, produzindo um efeito profundo e duradouro de que “só a força invisível do poema” o contempla: “Hoje conheço o silêncio mais fundo, / como o estremecer da terra e / de nós a desprender-se. / Ali, uma fenda se abre dentro de mim. / Eis-me sozinho a estancar a dor”, é, simultaneamente, um hino à imortalidade e ao amor: “Imortal / sou e / o que de mim / ficou? / o amor”. De facto, a poesia em Amândio Sousa Dantas flui com a maior naturalidade porque, felizmente, e extraindo das suas próprias palavras, “o poeta não se refugia na cara da dor. / Só a vida se abre ao conhecimento”. Só os grandes poetas conseguem ver, numa verdadeira e sensitiva reconciliação, “que a compaixão se funde no poema”. Mais não diremos, ficando o apelo à sua leitura e interiorização, como um abraço que nasce da emoção: “Assim – sem mais nem menos – / Um abraço do poema ao sol: / e toda a sombra / do poeta / por ele se ilumina”. Simplesmente, sublime…
“Sentimento do Poema”, mais um livro com nota máxima!

Saturday, December 08, 2012

Arlindo Pintomeira expõe “Trabalhos sobre papel” no Museu Nogueira da Silva, em Braga


“Todos os dias, devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas”.

Goethe

Tomados pela necessidade de nos mantermos alheados ao uso excessivo da violência e indecoro de certos “políticos de pacotilha”, nomeadamente aqueles que sistematicamente lutam contra a Cultura e contra os homens e mulheres completos (corpo, intelecto e espírito), onde tudo evolui paralelamente para uma vida bem-sucedida e equilibrada, no dizer de Montapert, lá vamos descomprimindo o nosso “estádio sombrio” da mente, deliciando-nos com a boa música, boa poesia e a boa medida do estado emocional da Arte e da Filosofia. Imbuídos pelo saudável deleite da Cultura – qual forma imprescindível de respirar – aceitamos o amável convite do Museu Nogueira da Silva, por forma a rumarmos até à cidade dos arcebispos, ao fim da tarde da data memorável – 1 de Dezembro de 1640 – para a independência de Portugal (vilipendiada, a partir do próximo ano, pelos tais “políticos de pacotilha”), acompanhados pela nossa sobrinha Jessy Silva, a fim de assistirmos à abertura da Exposição «Trabalhos sobre papel (1975-2011) retrospectiva», do nosso bom amigo Arlindo Pintomeira, de quem já aqui falamos numa das nossas crónicas, a propósito das duas exposições que mantém em Viana do Castelo até ao dia 31, deste mês de Dezembro: “Exteriores-Interiores”, nos Antigos Paços do Concelho; e “Outras Faces”, na Galeria d’Arte da Misericórdia. Na altura, demos conta do seu extraordinário percurso de profícuo artista que é, e que continuará a ser, face à sua não menos extraordinária sensibilidade, criatividade e linha filosófica, elevada pela experiência humana, que o tem levado a concretizar diferentes formas de arte, às quais nos vamos deixando seduzir: surrealismo, contornismo e figurativismo (texturas espessas, o desenho automático, as cores vivas e primárias do expressionismo em combinações complementares, e ainda os motivos simples e depurados com algumas ligações ao surrealismo e á arte primitiva, acompanharam o artista durante grande parte da sua obra) com alguma influência através do grupo “CoBra”, mas criando o seu próprio estilo e peculiaridade.
     
Com nossa sobrinha Jessy Silva, ladeando o talentoso artista Pintomeira

Introduzidos por um painel colocado à entrada da exposição, que nos alertaria para o facto de que “a desmaterialização dos objectos foi o caminho seguido por Pintomeira numa nova linha onde o contorno acabou depois por se reduzir a um filete, as imagens dos objectos aparecem estilizados quando não reduzidas a silhuetas sem cor nem respeito pelos outros objectos do quadro, e este composto de texturas que lhe conferem ritmo, irrealidade, estatuto de «formas puras». Neste ambiente Pintomeira colocou grelhas quadriculares, aves, silhuetas femininas, rostos de perfil, frutos; e varandas, e luas, e caras com olhos de espanto”, depressa nos entrosaríamos no ambiente apelativo da pretensa e bem conseguida retrospectiva dos “trabalhos em papel”. Gostamos bastante, e isso nos basta.

Sem mais devaneios – valorizando, desta vez, o testemunho da imagem –, aqui fica esta nossa pequena nota e oportuna sugestão/convite para se deslocarem até à cidade de Braga, nomeadamente à “Galeria Jardim/Museu Nogueira da Silva” (até ao dia 3 de Janeiro de 2013), onde poderão disfrutar da mensagem, do exercício e experimentação artística do grande Artista contemporâneo do Lima e do mundo, Arlindo Pintomeira. Creiam que valerá a pena!


Pintomeira à conversa com o Reitor da Universidade do Minho, Prof. Doutor António M. Cunha


Prof. Doutor Miguel Bandeira (UM) e filho, presenças afectivas na Exposição de Pintomeira

Sunday, December 02, 2012

Em homenagem a Amadeu Torres, reeditado “O meu caminho é este” de Castro Gil


“Elaborado depois de receber «uma luzinha para não errar», este código quase dogmático que terçara, a todo o instante, contra turbulências várias e enigmáticos percursos, como luzeiro amainante e revigorador, não podia perder a vivacidade antes do tempo, na visão sentida do autor”.

Alípio Rodrigues Torres

Precisamente, no dia – 25 de Novembro – em que Amadeu Rodrigues Torres (1924-2012), nosso amigo/irmão e eterno confidente, completaria oitenta e oito anos de idade, a Câmara Municipal de Viana do Castelo e a Junta de Freguesia de Vila de Punhe (Viana do Castelo) prestaram-lhe uma justa e merecida homenagem, que teve lugar na Terra Natal deste ilustre e incontornável homem da ciência e da linguística, mesmo a nível internacional. Justificar ou patentear esta afirmação – dado que a não fazemos de “ânimo leve” –, levar-nos-ia a discorrer pela sua vastíssima obra científica e pelas dezenas de academias em que tinha assento, muito bem demonstrada pela extraordinária intervenção de Rui A. Faria Viana, director da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, que naquele dia (e ao contrário do que alguns perniciosos à cultura e à memória de Castro Gil têm procurado empacotar a dimensão intelectual deste vulto da nossa região, com mastigados conceitos, disfarçados de eruditismo, para explicar o que é imperceptível a todos e talvez a eles próprios, como forma de se pavonearem em multifacetadas dimensões intelectuais, que não possuem) nos fez uma retrospectiva da vida e obra do homenageado, de uma forma clara, cientificamente irrepreensível e honestamente elaborada. Sabemos, por lhe conhecermos o âmago, que o Professor Doutor Amadeu Rodrigues Torres (Castro Gil), se fosse vivo, iria gostar de ouvir e, por certo, como emérito académico que era, lhe atribuiria nota máxima. Mas, o ponto alto desta extraordinária homenagem, que contou com a presença de diversas personalidades ligadas aos meios civis e religiosos, foi a apresentação pública da edição fac-similada da 1.ª edição (1948) do excelso brado poético de Castro Gil, “O meu caminho é este”, numa edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo, artisticamente elaborada pelo competentíssimo e inspirado designer Rui Carvalho, com mensagem do Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, José Maria Costa, e preâmbulo do irmão de Castro Gil, Alípio Rodrigues Torres.

Abriu a sessão em homenagem a Castro Gil, o Presidente da Junta de Vila de Punhe, António Moreira

Nesta edição de “O meu caminho é este”, começamos por referir que o preâmbulo de seu irmão, Alípio Torres, justifica a nossa profunda deferência, pela extraordinária qualidade crítica-literária, beleza de escrita e sentimento de memória e gratidão: «Sempre fiel aos princípios escolhidos, só a “vitória completa e mais precisa – A eterna recompensa, a luz dos céus”, ou seja, o retorno à Origem, em quem sempre confiou (9 de Fevereiro 2012), tornara viável que a primeira publicação há muitas décadas inexistente no mercado, “O meu caminho é este”, enfarpelada segundo os ditames modernos, ressurgisse, por iniciativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo, na altura em que Castro Gil completaria oitenta e oito anos de vida, como prenúncio de que os seus trabalhos continuarão a irradiar, desde já, emblemáticas lições de perenidade». Para nós, este preâmbulo representa uma pincelada aguarelada de sentimento e perscrutação da alma do poeta, «qual “Romeiro de beleza e simetria…”, vivendo numa “angústia constante de nunca saciar a sede requeimante” de completar sonhos diversos, como adiantara aos oitenta e dois anos: – “falta ainda muito, a começar por um conjunto grande de artigos, estudos e outros trabalhos… nunca reunidos até hoje” –, das recordações nostálgicas e de um passado saudosista, e não recuperável, numa segunda fase, inspirado pela “viagem real e o contacto com o mundo, seja o plurifacetado da natureza, seja o multívolo das civilizações do que resultou uma poesia predominantemente de fora para dentro”, tanto trata o impacto da monumentalidade e dos saberes, como o desencanto humano e seus retrocessos, as injustiças e as práticas duvidosas». Retrato fiel das “canseiras cognitivas” de quem se inspirava viajando e auscultando outras civilizações, que já se faziam adivinhar em “O meu caminho é este”, como um “caminheiro das estradas direitas e tortuosas,/ Das estradas brancas de sol ou negras de ilusões…/ No bornal anda-me o pesadume de muitos séculos”. E que poética pena – não de penúria, mas de inspirada escrita – a de Alípio Torres produziria a génese de Castro Gil: “Para quem, em idade de jovens incertezas, de encruzilhadas múltiplas e de dúbia existência, introspectivara, séria e reflexivamente, até aos ínfimos graus e linhas, um projecto a desdobrar ao longo da vida e pré-definiu, em englobantes parametrias, as temáticas rumativas de contornos axiológicos a desenvolver, qualquer baliza, ainda que só parcialmente cerceadora do contínuo fluir do pensamento realizativo, mesmo que de reafirmações de vetustos valores se tratasse, assinalaria uma nova etapa a começar”… Simplesmente sublime!

A nossa curta intervenção em homenagem a Castro Gil
 Falar de “O meu caminho é este” é falar da alma do poeta, ainda que envolto em “indecisões, avanços e recuos” e fechando-se no silêncio a meditar, sempre acreditaria que, a partir dali, o seu caminho era o de “louvar a Deus, sofrer, sorrir e fazer versos!...”; do “Bem e da Beleza e da Virtude!...”, sem temer andar descalço no brasido; dos “bosques humanos, os povos, as florestas de gentes”, quais sentidos diferentes atravessados “por hienas, tigres, chacais e camaleões de circunstância”; da inspiração filosófica da “perfeição absoluta, Actividade/ Sem mescla de potência, ó mar de Ser/ Que eu lograria apenas compreender,/ Se o finito abarcasse a infinidade…”; do “Deus da infância,/ A voz severa e justa da razão,/ As alegrias sãs/ Do coração”; do “coração que bata com coragem,/ Não por si…, e que anseie, em lances tais,/ Fugindo a merecida vassalagem,/ Ser humilde vassalo dos demais”; do coração que olha para fora; do poeta que lê versos no céu, ao luar sozinho; da “alegria daqueles que sabem fazer das mãos/ Caídas, nervosas ou enclavinhadas pela dor,/ Uma miniatura ascética de heróica montanha/ Por onde subam orações e olhares ao Senhor…”; da “nuvem desherdada” que encobre o azul do firmamento; do caminheiro das estradas direitas e tortuosas; do coração “em fome e algoz secura”; do “augusto murmurar”, da alva e belíssima harpa eólica; do estender da “mão a quem por ti chamar”; das portas discretamente semicerradas, das cortinas de carvão e sanefas de piche; do cheiro a cera, do relógio da sala, de bater aéreo; do céu pesado e traiçoeiro, sendo que nesse dia “morreu meu pai!”; do rio que corre desprezando a beleza da paisagem; do poeta que é poeta mesmo e não “cantor fingido de emprestada lira”; da alma que chora e do mundo como uma fornalha de tortura; da morte do dia como morre a gente; do fazer dos braços arcos em ogiva; dos horizontes belos, “de manhã primaveril,/ E andam perfumes de Abril/ Incensando a mocidade…”; das mãos – fadas de sonho e luz – “que não sabem fazer mal a ninguém”; da “face amarela da lua soturna,/ Que faz o sorriso de nome luar,/ Sentindo a agonia da larva nocturna,/ Desmaia a chorar…”, etc., etc. E as sublimes homenagens a José Régio, com o “Canto da Alegria”, e a António Corrêa de Oliveira, com “Poeta, reis de poetas…”?!... Então o poema a sua mãe, comove-nos profundamente… De facto, neste maravilhoso brado poético de Castro Gil “ser poeta é ver as coisas/ que os outros vêem também;/ mas senti-las, cá por dentro,/ como não sente ninguém”.
Congratulamo-nos com o testemunho deixado pelo Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, na mensagem introdutória ao livro, ora reeditado: “Viana do Castelo evoca desta forma singela o insigne professor, o conceituado investigador de estudos humanísticos e linguísticos, o editor e autor de inúmeras edições e trabalhos científicos e o inspirado poeta”.
A nossa última palavra de profunda gratidão vai para Maria José Guerreiro, vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo, pelo empenho, sensibilidade e discernimento que emprestou à realização deste maravilhoso “caminho” que nos leva à perenidade da Cultura.

Quiçá, se “O meu caminho é este” não é o reflexo ou o espelho dos nossos próprios passos, convergentes e, no dizer de Castro Gil, “pergaminho de um Povo de imortais”. Os poetas não morrem e… “nec plus ultra”.

Saturday, November 24, 2012

Tiago Manuel ilustra “Antologia Poética” de Mário de Sá-Carneiro


“Quando recebi o convite para ilustrar a poesia de Mário de Sá-Carneiro, aceitei o desafio com a confiança de quem conhece bem o chão que pisa. Não quero com isto dizer que foi fácil a empresa ou que de tais cuidados tirei prazer. As obras que nos ajudam a compreender a vida raramente estendem o vocabulário até ao contentamento”.

Tiago Manuel

Tal como afirmamos em jeito de apelo, aquando do nosso sensitivo “devaneio crítico” a propósito das exposições do nosso bom amigo Pintomeira, para que procurassem fazer uma visita às duas exposições e se deixassem envolver pela mística das pessoas interessadas em obras de arte e não apenas na ideia de arte, na altura salvaguardamos, contudo, o nosso “acto de contrição”, pelo facto de carregarmos o “martírio” de sermos bibliófilos, condicionante circunstancial de apenas nos ficarmos pela ideia de arte, em detrimento do interesse em obras de arte, infelizmente, o mesmo tem acontecido com tudo o que Tiago Manuel tem produzido e o lugar destacado que ocupa no panorama artístico em Portugal. Apreciamos-lhe a sua vastíssima obra, interiorizamos as suas mensagens pictóricas, mas – porque condicionados pelas nossas “magras jornas” – temo-nos ficado apenas pela ideia de arte. E hoje predispusemo-nos a falar dele, pelo simples facto de termos adquirido o seu último trabalho artístico.


Para os mais distraídos, e como tributo à nossa venerável admiração pelo artista, aqui fica uma pequena nota biobliográfica: O Tiago Manuel nasceu em Viana do Castelo, a 1 de Agosto de 1955. Fez a sua formação artística com os mestres Aníbal Alcino e Júlio Resende. A sua obra tem sido apresentada no país e no estrangeiro em instituições e galerias de referência. Foi premiado várias vezes. EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS: 2010 – “Sai do meu Filme”, Exposição de Desenho, Antigos Paços do Concelho, Viana do Castelo; 2008 – Mishima, Manifesto de Lâminas, Centro Cultural de Belém, Lisboa; 2008 - Galeria Spectrum Sotos, Saragoça; 2007 – Galeria Palmira Suso, Lisboa; 2002 –Lugar do Desenho, Fundação Júlio Resende, Gondomar; 2001 – Serpente, Galeria de Arte contemporânea, Porto; 2001 – Bedeteca de Lisboa, Palácio do Contador-Mor, Lisboa; 2000 –  Galeria Assírio & Alvim, Lisboa; 1998 – Galeria Spectrum, Saragoça; 1998 – Galeria Arte Periférica, Lisboa; 1996 – Galeria Arte Periférica, Lisboa; 1995 – Museu Municipal de Viana do Castelo; 1994 – Galeria J.M. Gomes Alves, Guimarães; 1993 – Galeria Quadrum, Lisboa; 1992 – Sede do Instituto Politécnico de Viana do Castelo; 1992 – Galeria Spectrum, Saragoça; 1992 – Galeria Absidial, Nantes; 1991 – Galeria Quadrado Azul, Porto; 1991 – Galeria Municipal, Famalicão; 1990 – Galeria Pedro e o Lobo, Lisboa; 1989 – Galeria Quadrado Azul, Porto; 1989 – Galeria Orfila, Madrid; 1989 – Galeria Matisse, Barcelona; 1986 – Salão da Cultura, Viana do Castelo; 1986 – Círculo de Artes Plásticas, Coimbra; 1983 – Museu Nogueira da Silva, Braga; 1983 – Galeria de Arte Moderna, S.N.B.A., Lisboa; 1982 – Salão da Cultura, Viana do Castelo; 1980 – Salão da Cultura, Viana do Castelo; 1979 – Salão da Cultura, Viana do Castelo; 1979 – Fundação Eng. António de Almeida, Porto; 1978 – Salão da Cultura, Viana do Castelo (exposição promovida pelo Instituto no âmbito da Presidência Aberta). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: 2011 – “Tinta nos Nervos”, Banda Desenhada Portuguesa, Museu Col. Berardo, CCB, Lisboa; 2009 – “Sonhos com Moldura”, Centro de Arte de São João da Madeira; 2008 – ARCO / Casa da Cerca, Almada; 2008 – “2008 Voltas no Carrossel” – Exposição colectiva de ilustradores portugueses e estrangeiros, Auditório Augusto Cabrita, Barreiro; 2007 – PRÉMIO STUART DE DESENHO DE IMPRENSA, Lisboa; 2006 –1ª Edição do “FAROL DOS SONHOS – Encontro Internacional sobre o Livro e o Imaginário Infantil” Cascais, 2006 – PRÉMIO STUART DE DESENHO DE IMPRENSA, Lisboa; 2004 – PRÉMIO STUART DE DESENHO DE IMPRENSA, Lisboa; 2004 – SALÃO LISBOA de Ilustração Portuguesa 2004, Câmara Municipal de Lisboa; 2002 – SALÃO LISBOA de Ilustração Portuguesa 2002, Câmara Municipal de Lisboa; 2001 – SALÃO LISBOA de Ilustração e Banda Desenhada, Câmara Municipal de Lisboa; 2000 – SALÃO LISBOA de Ilustração e Banda Desenhada, Câmara Municipal de Lisboa; 1998 – ARCO, Feria Internacional de Arte Contemporâneo, Madrid; 1997 – “Contra Viento y Marea” Fotografia Ibérica Contemporânea, Ministério da Educação e Cultura de Espanha, Escola de Belas Artes de Saragoça; 1994 – Exposição de grupo, Museu Municipal de Viana do Castelo; 1993 – “Prémio Nacional de Pintura Júlio Resende”, Câmara Municipal de Gondomar; 1993 – Tarazonafoto, Encontros Internacionais de Fotografia, Tarazona; 1991 – “Prémio Nacional de Pintura Júlio Resende”, Câmara Municipal de Gondomar; 1990 – Exposição Nacional de Desenho, “A Invenção do Lápis”, E.S.A., Árvore, Porto; 1989 – II Exposição Nacional do pequeno formato, Árvore, Porto; 1989 – “Le Temps du Regard”, Ministére de la Communication, des Grands Travaux et du Bicentenaire (Villejuif, Créteil, Paris, Rennes); 1987 – III Bienal Nacional de Desenho/ Árvore, Porto, Évora; 1986 – Exposição sobre os Direitos Humanos (Fundação Eng. António de Almeida, Porto; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; e Sede dos Direitos Humanos, ONU, Genebra); 1984 – Exposição Convívio, S.N.B.A., Lisboa; 1984 – 3ª Exposição de Artes Plásticas do Centro Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo; 1983 – 2ª Exposição de Artes Plásticas do Centro Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo.
Na qualidade de ilustrador publicou nos jornais “Público”, “Expresso”, “JL –Jornal de Letras”, “Letras & Letras”, “O Diário”, nas revistas “Colóquio/Letras” da Fundação Calouste Gulbenkian, “LER-Círculo de Leitores” e nas editoras “Âmbar”, “ASA”, “Afrontamento”, “Media Vaca” (Valência) e “Bertrand”, entre outras. Últimos trabalhos: “O sangue por um fio”, livro de poesia de Sérgio Godinho, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009 – Cartaz para o filme “Ruínas” de Manuel Mozos, Festival INDIELISBOA, 2009. Em 2008 criou e passou a dirigir a colecção de banda desenhada “O Filme da minha Vida”, editada pela Associação de Produção e Animação Audiovisual AO NORTE, Viana do Castelo.

Desde 2000, para além do “Sai do meu filme” (Calendário de Letras, Porto, 2010), Tiago Manuel já publicou doze livros, artisticamente inspirados por sete dos seus vinte e cinco heterónimos – Terry Morgan (“Lua Negra” e “O amor é vermelho e arde”), Murai Toyonobu (“NAUTILUS the ship” e “Tango”), Tom Mccay (“Debaixo da Lua vive gente” e “Os sonhos da cobra”), Tim Morris (“O Escapista” e “Mente Perversa”), Marriette Tosel (“O armário psicótico / boas maneiras”), Tamayo Marín (“A tempo inteiro”) e Max Tilmann (“Este céu cheio de terra” e “Já não há maçãs no paraíso”) –, cujas obras produzidas e a produzir abrangem as seguintes áreas: ilustração de autor, banda desenhada, humor negro, histórias infantis, romance gráfico, diários ilustrados com fotografias e pinturas, teatro, literatura policial, moda e cinema. Da sua publicação total resultará uma pequena biblioteca de 50 livros. Muito recentemente acaba por ser editada uma antologia poética de Mário de Sá-Carneiro, que contém ilustrações de Tiago Manuel, numa edição de “Kalandraca Editora Portugal, Lda.”, onde são publicados poemas escritos entre 1913 e 1916 (“O Lord”, “A Queda”, “Estátua Falsa”, “El-Rei”, “O Fantasma”, “O Recreio”, “Pied-de-Nez”, “Apoteose”, “Ápice”, “Último Soneto”, “Salomé”, “O Resgate” e “Fim”). Segundo o nosso ilustríssimo artista – que tanto apreciamos – Tiago Manuel, ao ler os poemas de Mário de Sá-Carneiro, “senti que as palavras do poeta desenhavam a minha vida direita pelas linhas tortas do mundo que conheço, em tudo quase igual ao mundo que ele conheceu cem anos antes. A mesma dor, os mesmos medos, as mesmas nuvens sombrias antes da catástrofe”. Filosoficamente, percebemos perfeitamente a “dicotomia” cognitiva, não estranhando por isso que o Tiago Manuel se assumisse como autor dos poemas e Mário de Sá-Carneiro fosse remetido para a elaboração dos desenhos, como uma “realidade e reflexo no espelho estilhaçado da vida. / Hoje ainda vejo o meu rosto; amanhã, só a luz tocará a superfície onde se apagaram os meus olhos”. E termina no dizer dos outros que Mário de Sá-Carneiro amou uma mulher e morreu, interrogando-se se haverá melhor maneira de gastar a vida. Quiçá, a existência de alguma verosimilitude na vida de cada um, reflexo dos nossos próprios passos. Daí, o “espelho” como forma de “encarnarmos” o sentir dos outros: “A última ilusão foi partir espelhos –/ E nas salas ducais, os frisos de esculturas/ Desfizeram-se em pó… Todas as bordaduras/ Caíram de repente aos reposteiros velhos”.
Um livro excepcional, a merecer nota máxima, e que será apresentado no próximo dia 30 de Novembro de 2012, pelas 21 horas e 30 minutos, na Livraria Papa-Livros, Rua Miguel Bombarda (Porto), sendo que as reproduções das imagens de Tiago Manuel ficarão aí expostas até 4 de Dezembro.

Saturday, November 17, 2012

«Paço de Giela» um património histórico-monumental a preservar…


“Mas esperava-me uma triste surpresa em Giela: as ameias do palácio – mais de uma dúzia – tinham acabado de ser arrancadas e estavam no chão, algumas desfeitas em pedaços, outras inteiras, porque a rijeza do granito aguentou a pancada da queda. Sentia-se que a selvajaria era recente; era como uma ferida que ainda sangrava”.

José Hermano Saraiva (O Tempo e a Alma)

Sempre que pretendemos descomprimir as dilacerações da mente, procuramos deambular pelas mais pitorescas e agradáveis paisagens do Alto Minho, enriquecidas pela fertilidade dos seus vales e pela altitude e beleza das suas montanhas. Felizmente que é essa a sensação que sentimos quando amiudadamente nos deslocamos até “Terras de Valdevez”, cuja posição geográfica lhe empresta a cumulação de uma poética luxuriante, bem no coração do Vale do Lima, recortada também pelo não menos mitológico Rio Vez, que nasce e desagua dentro do concelho. Já não era a primeira vez que nos predispúnhamos a visitar Arcos de Valdevez e, de uma forma particular, o multisecular Paço de Giela (classificado de Monumento Nacional, através do Decreto de 16 de Junho de 1910), localizado a cerca de quilómetro e meio da sede do concelho, na encosta duma pequena elevação, que domina o vale, quase fronteira à vila. Trata-se de um solar fortificado, uma autêntica preciosidade medieva, cuja origem está profundamente ligada à origem e formação da terra de Valdevez.


O Paço de Giela, aí pelos anos vinte do século XX, é descrito por Luís de Figueiredo da Guerra (1853-1931) como um edifício que se compõe “do alcácer voltado ao sul, tendo junto para o nascente uma alta e forte torre quadrada, cuja única janela olha para poente; na sua coroa de ameias, sobre setentrião, existe ainda um machiculis ou parapeito de guarita: o palácio no gosto manuelino data dessa gloriosa época, e assaz conservado apresenta uma bonita janela ou varanda de honra, encimada pelo escudo dos Limas de Galiza (Limas, Silvas e Sottomayores); o senhoril cubo roqueiro é obra dos fins do século XIV ou princípio do XV, mas posteriormente reedificado: notam-se nele vestígios de três pavimentos, achando-se apenas ligado por uma quina ao Paço, servindo actualmente de asilo a pombas. Este morro sobre que assenta o castelo é contraforte do monte do Morilhões, que fecha o vale pelo nascente”. Aos nossos olhos, e face a uma investigação efectuada em termos arquitectónicos, podemos dizer que se trata de uma preciosidade medieva, constituída por dois corpos distintos, denotando que ambos eram denticulados de ameias: o torreão medieval (século XIV) da construção primitiva, e a residência paçã, de estrutura quinhentista. A torre de planta quadrangular, é provida de seteiras e de um balcão de mata-cães. A residência senhorial, forma um vasto rectângulo com quatro fachadas. Está arrimada ao torreão e tem um andar rústico. Valorizando a construção, ainda que de linhas simples, a portada de acesso, protegida por um arco de volta redonda, sobre a qual poisa a varanda da sacada, trabalhada em cantaria. Nesta fachada, voltada a Norte, rasgam-se duas janelas de estilo manuelino, intercaladas entre outras duas, de molduras lisas e linhas sóbrias, o que faz denotar ser de época posterior. A face oriental, tem duas janelas, sendo uma delas chanfrada e, no alto, quatro modilhões. Na fachada oposta, sobressai uma bem estilizada janela, curiosa pela sua decoração com cordame manuelino, encimada por uma pedra de armas que, face à dificuldade de leitura pela arrizada cobertura de vegetação, a fazer fé em Figueiredo da Guerra será dos Limas (Limas, Silvas e Sottomayores). Aliás, por cima da portada de acesso também ostenta uma singela pedra de armas, bastante desgastada, que heraldicamente deveria conter os mesmos apelidos. Inferiormente à janela manuelina, e num recanto, uma acanhada porta ogival, com o limiar afastado do chão. Na área envolvente a esta preciosidade arquitectónica existem outros edifícios, também em ruínas, que dizem ter servido de residência aos caseiros, e uma arruinada capela engolida pela vegetação, cujo patrono era “Santa Appolonia”. De uma forma sucinta, dado que o espaço desta crónica – e disso temos consciência – não nos permite alongar muito mais o nosso “apaixonado” devaneio pelas coisas da nossa terra (do Lima que nos viu nascer e nos vai inspirando), convenhamos em dizer que em 2 de Janeiro de 1399 deu D. João I, estando no Porto, a seu vassalo Fernão Anes de Lima, daquele dia para todo o sempre, para seus filhos, netos e descendentes legítimos por linha direita, as terras de Fraião em Coura, de S. Martinho, de Santo Estevão (Facha e Geraz), e de Valdevez, com todos os seus lugares, termos e suas herdades, casais, rendas, direitos, foros e pertenças, com suas entradas e saídas, rocios, montes, fontes, rios, ribeiros, pescarias, colheitas, montados, tabeliões e todas as outras coisas que às ditas terras pertencem; e ainda a sua jurisdição civil, crime, e mero império, com todos os outros direitos temporais e reais, assim como el-rei os possuía, reservando somente a correição e alçada. Este mesmo monarca lhe fez nova mercê quando estava no arraial sobre Tui, em 24 de Junho daquele mesmo ano de 1399, doando-lhe a casa e honra de Giela, que se achavam vagas na coroa. Segundo Figueiredo da Guerra, “esta linhagem procede de Limia na Galiza, donde tomaram o nome; Fernão Anes tomou o partido de Portugal, e viveu em Valdevez, jazendo à porta da igreja paroquial de Giela; seu filho Leonel de Lima, como primogénito, herdou a casa da Giela”. E foi assim que tudo começou!
  
A última vez que aí nos deslocamos foi no domingo, 4 de Novembro de 2012, e levávamos connosco a “má impressão” das visitas anteriores e o longínquo testemunho (1986) negativo de José Hermano Saraiva (1919-2012) – O atentado cometido no Paço de Giela vem agudizar o sentimento de urgência de intervenções neste sentido. O nosso património artístico e monumental está a desaparecer rapidamente –, mas também a esperança deixada (e/ou prometida) pelo município arcuense, dinamicamente liderado por Francisco Araújo, em Novembro de 2011, aquando da divulgação do “Concurso de Ideias” para requalificação do espaço envolvente ao Paço de Giela, já que é proprietário deste importante imóvel desde 1999, cujo declínio e abandono se começaram a acentuar a partir do século XIX. Na altura, foram divulgados os três primeiros classificados do concurso de ideias internacional lançado pelo município, em colaboração com a Ordem dos Arquitectos da Região Norte, para a referida requalificação da área envolvente ao Paço e edifícios anexos, a qual corresponde aproximadamente a 17,8 ha: (1.º) ABDA – Arquitectos Botticini – de Appolonia e Associati, SRL; (2.º) CVDB Arquitectos Associados; (3.º) Giovanni Alessandro Piovene Porto Godi, Vasco Miguel Pinel de Melo e Mónica Ravazzolo. Segundo foi dito, também, que “os concorrentes encontraram soluções que asseguram a valorização dos edifícios existentes, respeitando o cariz específico do local e acima de tudo o Paço e a forma como é visto, bem como a efectiva comunicação da zona em questão com a área urbana da Vila”. Aplaudimos a iniciativa, ainda pelo facto de explorarem temáticas como a “água” e o “garrano”, assim como a criação de condições para a realização de actividades desportivas, culturais e turísticas, projectando um Anfiteatro ao ar livre e uma Unidade Hoteleira.


Mesmo tendo nós consciência das dificuldades inerentes à conjuntura económica presente, que o país e a Europa atravessam, esperamos ansiosamente pela segunda fase do projecto de recuperação do Paço de Giela e área envolvente, que passará pela adjudicação da obra e sua concretização. Será bom para o município e, sobretudo, para toda a região alto minhota!

Friday, November 09, 2012

Arlindo Pintomeira mostra “Exteriores-Interiores” e “Outras Faces”


“Em conclusão, podemos dizer que nesta poética da composição artística, em que consiste «Interiores», Pintomeira isola as unidades mínimas da composição, tentando aproximar-se, o mais que pode, das formas de vida contidas na encenação dos objectos”.

Moisés de Lemos Martins

Pelas dezassete horas e trinta minutos do dia 3 de Novembro, foram inauguradas duas exposições – “Exteriores-Interiores” e “Outras Faces” –, em Viana do Castelo, do nosso respeitável amigo e extraordinário artista Arlindo Pintomeira, nos Antigos Paços do Concelho e na Galeria da Santa Casa da Misericórdia, respectivamente. As duas exposições estarão patentes ao público até 31 de Dezembro, o que significa que o envolvente à Praça da República será palco, tomando como nossas as palavras de Moisés de Lemos Martins, da “poética da composição artística” de Pintomeira, permitindo-nos, enquanto observadores sensíveis, explorar a natureza das nossas próprias emoções, por temos consciência de que a expressão bem-sucedida de uma emoção permite ao observador ganhar consciência dela; e a noção clara de que – como um dia escreveria Nigel Warburton – “o artista mostra aos observadores da obra de arte como expressar a emoção particular que se encontra na obra”. Já há muito tempo que Pintomeira tem conseguido criar em nós a útil magia da emoção, sem que para isso – e contrariando a sapiência redutora de alguns pressupostos eruditos de Arte – tenhamos a necessidade de “desfiar rosários” elementares ao conhecimento preconcebido, para usufruirmos da liberdade do “gosto”, da “imaginação” e da “visão”, como corolário da velha máxima: “a verdadeira obra existe na forma de ideias na mente do seu criador, e na mente de quem está a apreciar a obra”. Temos vindo a apreciar a arte em Pintomeira, valendo-nos também do factor da “imaginação”, tendo em conta que – para R. G. Collingwood – “uma verdadeira obra de arte é uma actividade total que a pessoa que dela desfruta apreende ou tem dela consciência pelo uso da sua imaginação”. E esta nossa actividade imaginativa não é somente visual, mas também emotiva, porque percepcionamos, apreendemos e deixamo-nos envolver pela criação do artista. Mesmo que não bastasse tais “predicados”, só por isso (actividade imaginativa) Arlindo Pintomeira é para nós um artista que nos agrada profundamente.
Porque já nos alongamos em demasia nas considerações “sensíveis-pessoais”, e sem nos querermos envolver na crítica elaborada que, a nosso modesto ver, é dada “estatutariamente” ao mundo da arte e seus entendidos, apenas nos apraz registar os bens elaborados textos “crítico-literários” de José-Luís Ferreira (sociólogo, escritor, investigador de arte) – A sua linguagem pictórica, criada a partir de evidências imagéticas contextuais ou, deliberadamente, (des)contextualizadas, adquire-se (ou provém) de um constante e requintado exercício radical de exploração pangeométrica, buscada em pressupostos íntimos duma génese anímica e (re)invencional da imagem de alto contraste, com o objectivo da sua transposição, sob pretextos de equilíbrio óptico, obedientes a um doseamento compositivo secreto (…) – e de Moisés de Lemos Martins (professor da Universidade do Minho) – Existe hoje na pintura de Pintomeira este esplendor dos objectos, uma poética que inscreve o humano naquilo que o não pode ser. O seu sistema de objectos faz-nos pensar numa “autopoiesis”, que age no mundo como uma unidade autónoma que se auto-engendra –, inseridos do catálogo da exposição “Exteriores-Interiores”; e os de José Paulo Leite de Abreu (director do Museu Pio XII) – Na obra de Pintomeira sobressaem também os contornos, que focam o olhar do interlocutor, sublinham centralidades e funcionam como útero onde se esconde e defende o essencial da mensagem a transmitir – e de Moisés de Lemos Martins (professor da Universidade do Minho) – Com o desenho de linhas e o alinhamento de pontos, Pintomeira figura cordas físicas e tácteis. As linhas, tal como os pontos alinhados em recta, são então cordas tensas, abrigos contra o abandono, a impessoalidade e o isolamento. O artista entrançou-os num tecido a que nos liga –, no que toca à exposição “Outras Faces”. Escolhemos estas citações porque, de certa forma, vão de encontro aos nossos iniciais devaneios da sensibilidade emocional.


Para os mais incautos, convenhamos em dizer que Arlindo Pintomeira nasceu na Limiana freguesia de Deocriste, Viana do Castelo, em 1946. É na cidade de Viana que, em 1966, realiza a sua primeira exposição na Galeria da “Livraria Divulgação” (hoje Bertrand). Desiste da sua formação em arquitectura e ingressa, em 1967, num dos mundos que mais o fascinava: o da pintura. O outro era o cinema, uma paixão dos tempos do Liceu. Vai para Lisboa, frequenta um atelier colectivo na Mouraria onde encontra o pintor surrealista Raul Perez. Convive mais tarde com Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas e outros do movimento surrealista português. Anos mais tarde, mais exactamente em 1972, e após uma curta passagem por África, parte para Paris na companhia da pintora e modelo holandesa Marijke de Hartog que conhece em Portugal e com quem casa em 1976, em Amesterdão. Os dois fixam-se na capital holandesa. Abortada a possibilidade de inscrição na “Nederlandse Filmacademie” ( Academia de cinema da Holanda), razão primeira que o levou a deixar Portugal, Pintomeira frequenta em 1978-1979 a CREA (Studentencentrum van de Universiteit van Amsterdam) onde estuda pintura e cinema. Após algumas exposições na Holanda, faz em 1978 a sua primeira exposição em Paris, na “Galerie Entremonde”. No mesmo ano participa no “Salon Metamorphoses” em homenagem a René Magritte realizado no “Grand Palais” de Paris. Com esta participação, termina o seu período surrealista.
Durante a década de 80, no seu atelier em Amesterdão, Pintomeira recebe várias influências, sendo a mais marcante a do grupo CoBrA (agregação das letras iniciais das cidades de Copenhada, Bruxelas e Amesterdão) e do qual fazem parte grandes nomes como Karel Appel, Corneille, Asger Jorn e Lucebert. Algumas influências desse movimento, como as texturas espessas, o desenho automático, as cores vivas e primárias do expressionismo em combinações complementares, e ainda os motivos simples e depurados com algumas ligações ao surrealismo e á arte primitiva, acompanharam o artista durante grande parte da sua obra.
Na década de 90 inicia uma fase de estilização e depuração da figura que consiste no constante exercício e experimentação à volta do contorno, tornando-o preponderante através do seu alargamento, prolongação e multiplicação; em 1999 Pintomeira deixa Amesterdão e regressa a Portugal. O trabalho que realiza no seu novo atelier no norte do país, dá origem um um vasto conjunto de obras figurativas, ainda com influências do grupo CoBrA e que denomina de “Nova Linha”; entre 2003 e 2010, e alternando com “Nova Linha”, Pintomeira produz também um vasto trabalho sobre tela e papel a que dá o nome de “Faces”; o ano de 2007 marca uma viragem acentuada na sua obra figurativa. As influências CoBrA e os contornos desaparecem. O tema “Interiores” apresenta trabalhos próximos da “Pop Art” com influências do design gráfico. A figura está manifestamente presente e as cenas de interiores denunciam representações teatralizadas. Neste sistema de objectos sobressaem o palco, a tela e a encenação; em 2009 e 2010 é produzido o tema “ Outras Faces”; conjunto de obras realizadas em impressão digital e acrílico sobre tela e que nos transportam para uma nova “Pop Art”; e, finalmente, em 2011 surge “Exteriores” que vem complementar “Interiores” produzido entre 2008 e 2009. É composto por uma série de trabalhos que reúnem figuras do quotidiano em encenações urbanas, atravessando passadeiras de rua, onde a sinalética rodoviária é fortemente explorada.
Terminaremos, agora sim, recordando que desde 1966 e até à actualidade Pintomeira tem no seu currículo uma quantidade enorme de exposições individuais, em Portugal e no estrangeiro. Entre 1971 e 2010 participou em várias exposições colectivas, bienais e feiras de arte, tanto em terras lusas como noutros estados europeus. Está representado em várias colecções institucionais, colecções públicas e privadas em diversos estados da União Europeia, nos Estados Unidos e Israel.
Aqui fica um apelo: procurem fazer uma visita às duas exposições e deixem-se envolver pela mística das pessoas interessadas em obras de arte e não apenas na ideia de arte. Desse mal padecemos nós, porque, infelizmente, carregamos o “martírio” de sermos bibliófilos, condicionante circunstancial de apenas nos ficarmos pela ideia de arte, em detrimento do interesse em obras de arte… Beati possidentes!

Monday, November 05, 2012

Premeditada reflexão no 25.º Aniversário do «Centro de Atletismo de Mazarefes»


“O atletismo é indiscutivelmente o mais universal de todos os desportos. Nenhuma outra federação congrega tantos países como a Federação Internacional das Associações de Atletismo. Nenhuma outra modalidade goza de semelhante acentuação olímpica”.

Sequeira Andrade

Ao falar-se do atletismo – e para termos uma noção clara de que o mesmo é a forma mais antiga de desporto e/ou a mais universal das modalidades desportivas –, teremos que forçosamente recuar até aos primórdios da nossa civilização, mesmo até ao tempo do homem das cavernas que, de uma forma natural, praticava uma série de movimentos, nas actividades da caça e de defesa, onde saltava, corria, lançava, ou seja desenvolvia uma série de habilidades relacionadas com as diversas provas de uma competição de atletismo. Contudo, o atletismo sob a forma de competição, teve a sua origem na grande civilização grega, cujo espírito agónico era uma das suas características, desde os mais remotos tempos. Esta realidade já se encontra nos Poemas Homéricos, onde a preparação física é realçada como uma componente essencial da mundividência helénica. Segundo o professor catedrático José Ribeiro Ferreira – um dos grandes especialistas de estudos clássicos – “a paixão atlética emerge, assim, no quotidiano de um povo, que desenvolveu o seu espírito de competição, através da participação em diversos festivais e jogos que proliferaram nas diversas cidades gregas. Imbuídos de [tal] espírito agónico, amantes do exercício físico e desejosos de se superiorizarem aos demais, os Gregos gostavam de participar em competições e jogos desportivos que reunissem a fina-flor dos atletas”. As primeiras reuniões desportivas organizadas da história foram os Jogos Olímpicos, organizados pelos gregos no ano de 776 a.C., cujo principal evento aí realizado foi o pentatlo, que compreendia lançamento de disco, salto em comprimento e corrida de obstáculos. Celebravam-se no santuário de Zeus em Olímpia e cujo principal motivo eram celebrações e festividades religiosas, nas quais se integravam jogos atléticos, que ali se realizavam de quatro em quatro anos. Os jogos serviam amiudadas vezes de palco a conversações e a tratados de importância geral para os Gregos. Não é por acaso que Olímpia foi escolhida, com frequência, como lugar ideal para depositar o registo desses tratados e preservar tais documentos. Era o tempo em que os atletas vitoriosos eram recebidos com festejos nas suas cidades e cumulados de honras, sendo que os jogos davam a impressão mais nítida de uma unidade grega.


Esta realidade filosófico-desportiva é bem diferente nos tempos que correm, já que a cumulação de honras vai mais para outro desporto que nos escusamos aqui mencionar, para não ferir susceptibilidades, muitas vezes clubistas. É dentro deste contexto civilizacional contemporâneo que, em 1975, a coberto de uma juventude irreverente, seria fundado o Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes (GACDM), embrionariamente consumado por nós, Manuel Vaz da Silva, José Maria Rodrigues Forte e Américo Afonso da Balinha. Das profícuas actividades deste Grupo, o atletismo foi sempre a vertente associativa que mais longe levou o nome da nossa terra, a ponto de, a determinada altura, ser uma das grandes fontes de rendimentos para a sustentabilidade do mesmo Grupo. Em 1987, e porque se precipitavam algumas incongruências e crispações em relação à modalidade, o responsável pela mesma, Manuel Vaz da Silva, a conselho de algumas personalidades ligadas ao meio desportivo federado, resolveu romper com o Grupo que havia ajudado a criar, fundando o Centro de Atletismo de Mazarefes (CAM), com a empenhada colaboração de outros aficionados, a saber: Manuel da Silva Liquito, Armando Afonso Forte, José Napoleão Ferreira Ribeiro, Agostinho Dias Forte, João Paulo Dias Carvalho, José Gomes Forte e António José Liquito da Torre. Não foi fácil esta ruptura com o GACDM, levando a algumas incompreensões e até a empolgadas reacções negativas por parte de quem se manteve fiel ao Grupo, ora órfão do atletismo. Os ânimos exaltados foram-se apaziguando ao longo dos anos e todos foram ganhando o seu espaço, conquistando as suas cumulações de honras e a respeitarem-se mutuamente, fazendo transparecer a certeza de que tal percurso foi o melhor que poderia ter acontecido para a nossa freguesia, porque se duplicaram talentos, construíram-se novas infra-estruturas e promoveram-se proximidades. Tal como na Grécia, essa mesma competitividade acabou por ser palco de conversações e tratados de importância geral para todos nós e para a terra que nos viu nascer, e que a alguns soube acolher. Compreendemos perfeitamente as palavras de Manuel Vaz da Silva, aquando das comemorações do vigésimo quinto aniversário do Centro de Atletismo de Mazarefes (27 de Outubro de 2012), a propósito das dúvidas suscitadas pelos mais incrédulos, na tentativa de menosprezar o trabalho levado a cabo ao longo destas duas décadas e meia, relevando-as para o caminho percorrido em detrimento da desconstrução de uns poucos, que nada fizeram pela freguesia e muito menos pelo atletismo, em especial.
Hoje o atletismo em Mazarefes goza de boa saúde, porque há uma excelente e saudável articulação com as entidades oficiais, nomeadamente com a Câmara Municipal de Viana do Castelo, Junta de Freguesia de Mazarefes, Associação de Atletismo de Viana do Castelo – sendo que o CAM contribuiu de uma forma particular para a sua fundação –, e com a Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes (saída da fusão do Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes com a Casa do Povo, da mesma freguesia). Fruto desta saudável articulação, Mazarefes dispõe hoje de uma Pista de Atletismo, de uma excelente sede social e de um polidesportivo sintético, há bem pouco tempo inaugurado.
Para terminar este nosso “deambular” da pena e da mente, convém aqui salientar que o Centro de Atletismo de Mazarefes tem no seu vastíssimo palmarés, desde campeões distritais a campeões nacionais, quer a nível individual quer colectivo, e pelo quarto ano consecutivo é considerado o clube do ano pela Associação de Atletismo de Viana do Castelo, por ser um clube dos mais representativos, tanto em número de atletas como em títulos conquistados. Como diria Manuel Vaz da Silva, o atletismo existe em Mazarefes há trinta e sete anos – numa alusão clara ao Grupo de Acção – e “por vezes digo que a nível distrital já ganhamos tudo que havia para ganhar”. Diremos nós que, com este espírito colectivo, ganhou a freguesia, a cidade e a região.

Parabéns ao Centro de Atletismo de Mazarefes e a todos aqueles que dão corpo a projectos desta natureza!

Sunday, October 28, 2012

PALAVRAS CRUZADAS (26 de Outubro de 2012)

O Salão Nobre do Sport Clube Vianense (Viana do Castelo), numa iniciativa do Centro Cultural do Alto Minho (CCAM), foi palco de uma Tertúlia denominada de «PALAVRAS CRUZADAS», onde os dois "Porfírios" - Porfírio (Carvalho) Silva (n. 1961), licenciado e mestre em Filosofia. Doutorou-se em Epistomologia e Filosofia das Ciências com uma tese sobre as ciências do artificial como ciências do humano; e Porfírio (Pereira) Silva (n. 1956), licenciado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade do Minho -, um de Lisboa e outro de Viana do Castelo, "esgrimiram" de uma forma saudável conceitos politico-filosóficos, à volta dos seus últimos brados: «Agramonte: ou o mundo astral dos profetas» (Agramonte passou a ser um campo energético, lugar de chegada e partida. Ali, o bem e o mal coabitam sem se molestarem. Enquanto isso, "Deus" e o "Diabo" continuam a viver dentro de nós) e «Podemos matar um sinal de trânsito?» (Sem ser um romance, este livro é como um romance: no fundo, conta uma história que queremos saber como acaba. Sem ter a forma de um ensaio, é um ensaio: tem uma tese, mas não a impõe, nem arregimenta os argumentos em ordem clássica, deixando ao leitor o trabalho, que aqui é um gosto, de descobrir o seu próprio caminho marítimo para a Índia). Moderou o debate, a Médica Psiquiatra Luísa Quintela, Vice-Presidente do CCAM. Elisabete Pinto, excelente actriz do Centro Dramático de Viana (CDV) leu textos dos dois autores.


Opiniões e Testemunhos no "facebook": Antes da sessão: Hummmm! Um encontro de três Porfírios, é uma triangulação interessante! Vou ver se posso comparecer nesta conversa que promete!... (Sebastião Peixoto); E eu também "porfio" por lá estar... (Agostinho Pereira); Não vão reunir em Lisboa?? (Maria Ana G. Faria); Vou tentar estar lá (Conceição Machado); Eu também vou tentar (Té Fontes); «Hoje, todos os caminhos da cultura à conversa vão dar ao S. C. Vianense» (Sebastião Peixoto). Depois da sessão: Mais um encontro de nível literário e de partilha de opiniões muito interessante não fosse a conversa entre dois escritores filósofos com nível cultural e literário que permitiu uma bem composta plateia ter a oportunidade única de um encontro de homónimos, onde cada um pode opinar sobre a obra do outro! Uma noite cultural, imperdível!... Não sei quando será possível se é que se possa repetir, um encontro com estas características, onde dois escritores com características idênticas fizeram a interpretação do livro do outro. Pessoalmente nunca tinha assistido a um evento assim! Só duas pessoas de elevado carácter e muita sabedoria se permitiam participar num encontro desta natureza (Sebastião Peixoto); Momentos únicos vividos nesta passada Sexta-feira à noite,dia 26 de Outubro de 2012, no Salão Nobre do Sport Clube Vianense, em Viana do Castelo, com a presença inconfundível destes dois escritores e filósofos, em que são portadores do mesmo nome. Entre um jogo cruzado de palavras surge um campo magnético bem positivo capaz de superar todas as expectativas numa simbiose muito atractiva e estimulante compensando um pouco este mal estar provocado por uma crise em que continua instalada na nossa sociedade contemporânea. Aproveito para agradecer a ambos autores pela magnífica noite,que foi muito inspiradora e alimentou bem o nosso estado de alma (Helder Silva); Parabéns aos dois grandes Senhores e também ao CCAM que soube acolher este evento cultural numa linda sala do nosso Sport Clube Vianense. A forma como comunicam os dois PORFÍRIOS nem damos pelo tempo passar. Só tive pena de estar com bastante tosse que tive que sair rapidamente (Graziela Lima); Parabéns Porfírio, pena de não estar presente (Ana Moreira); Lamento não ter podido estar presente, mas uma forte gripe me impossibilitou (Céu Rosário); A sala estava cheia e as palavras cruzadas entre os dois autores prolongou-se até tarde (Helder Silva); Foi muito gratificante ouvir os Srs. filósofos (Rosa Lima); Dois autores e filósofos encontram-se em Viana do Castelo, no dia 26 de Outubro de 2012, numa assembleia com lotação esgotada para estabelecer um campo magnético, de âmbito positivo, por forma a conceber uma excelente apresentação de suas obras literárias. Ambas se conjugam num pensamento, em tempo de perversidades diversas... (Helder Silva); Um dia espero ver estas grandes iniciativas na nossa Praça da República, para todos verem as coisas boas que são feitas em Viana (Carlos Meira).


Friday, October 26, 2012

Colóquio na Universidade do Minho aborda a questão dos «Judeus Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura»


“Na chamada História da Filosofia, a nação judaica tem um lugar, como todas as demais nações, incluindo as que não tiveram o dom de escrever o que pensavam, mas esse lugar é geralmente considerado secundário, quando comparado com o significado do saber teológico e messianológico de Israel”.

J. Pinharanda Gomes

No dia 19 de Outubro último, demos por bem empregue o dia que passamos na Universidade do Minho, Campus de Gualtar (Braga), para assistirmos e participarmos no Colóquio «Judeus Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura», onde se procurou reflectir sobre a grande ciência e o grande pensamento de autores judaico-portugueses, tendo sempre a consciência de que este é um património cultural riquíssimo que merece ser estudado pelos investigadores. Tal como era propósito dos organizadores – Professores Manuel Curado (Departamento de Filosofia) e Virgínia Soares Pereira (Centro de Estudos Lusíadas) da Universidade do Minho – alertar para o facto de que o contributo dos Judeus Portugueses para a história da cultura em Portugal dificilmente pode ser apoucado, dada a sua vastidão, denunciando, ao mesmo tempo, os aspectos mais infelizes da relação entre Judeus e Portugal que ofuscam muitas vezes este património. Por isso, com este Colóquio pretendeu-se despoletar um certo entusiasmo para o seu estudo.


Desta vez não iremos discorrer como pretendíamos ao sabor da nossa pena e da nossa mente (sendo que, até aqui, sempre procuramos explanar o nosso pensamento, à volta dos temas que abordamos), por forma a descrevermos um pouco mais os conteúdos das intervenções magistrais neste magnífico Colóquio. E foram elas: PINHARANDA GOMES, justificada a sua ausência por motivos de saúde, sendo a sua comunicação lida pelo Professor José Marques Fernandes, acabando por trazer a este Colóquio «Aspectos da Filosofia Hebraico-Portuguesa» – em substituição do título proposto no programa, que nos propunha um «Itinerário do Pensamento Judaico-Português» –, onde são abordadas as épocas medieval, renascentista, moderna e contemporânea, perpassando questões como no caso dos Hebreus, a Filosofia ser considerada estranha à missão judaica, que consiste em conhecer Deus e em dá-Lo a conhecer (no pensamento hebraico, Filosofia tem um irrecusável sinónimo: Teologia – pensar a Deus super omnia, sobre todas as coisas, seres, visíveis e invisíveis ideias), a diáspora hispânica, o cabalismo, a expulsão dos Judeus, as comunas judaicas, o manter integra a “Arca da Aliança”, Bento Espinosa, junção da Filosofia e da Teologia, radical naturalismo na comunidade judaica, António Ribeiro Sanches e a abolição da Inquisição; ANTÓNIO ANDRADE, onde nos falou do tema que envolvia o «Mestre Dionísio, Manuel Brudo e Amato Lusitano: Três Médicos no Exílio»; ELVIRA AZEVEDO MEA, abordando «Alguns Aspectos da Diáspora Judaica (Séculos XVI-XVII), onde acaba por nos recordar que o movimento expansionista na Europa é a Diáspora Judaica, sendo que a dos Judeus Portugueses se estendeu através do Mediterrâneo, levando à formação das comunidades judaicas-italianas e a sobressaltos existenciais desta gente, a que denominavam de Cristãos-Novos; JOSHUA RUAH, médico judeu portuense, explanaria «O Pensamento Científico Judaico-português nos Séculos XVI e XVII», reforçando a convicção da existência da Bíblia e não do Velho Testamento (segundo ele, forma corrupta de chamar à Bíblia para os Judeus, pelos cristãos) e trazendo à discussão diversos argumentos filosóficos – judaísmo espiritualista para o judaísmo racionalista – o critério da morte cerebral, sendo que a sede da vida não é o coração mas o cérebro, a noção de que a evolução científica é uma continuação da criação divina, a demanda do regresso à cidade de Jerusalém e a Diáspora, como a maior dispersão de um povo; JORGE MARTINS, substituiu a sua comunicação programada de «O Marranismo como Cultura: Práticas Criptojudaicas nos Processos da Inquisição (Sécs. XVI a XVIII)» para «Marranismo, cultura e identidade», debruçando-se, indelevelmente, sobre alguns dos interrogatórios “In Gerene” na Inquisição e os significados depreciativos nos dicionários de português acerca das palavras que se ligam ao conceito de judeu, judia, judaísmo, etc. (o que nos deixou perplexos), terminando com uma interrogação de Fernando Pessoa: “Quem, que seja português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de uma só fé?”; PAULO ARCHER DE CARVALHO, espelhou a sua comunicação em «Joaquim de Carvalho, os estudos judaicos e o esquecimento da Shoah», que o mesmo será dizer “holocausto”, a cultura filosófica e científica judaica, sendo que para Joaquim de Carvalho – Espinosa é um filósofo, interrogando-se em “que Deus é que Espinosa (para Paulo Archer, mais um teosófico do que um teólogo) acredita?”, reforçando a máxima de “Deus existe em tudo, mas não existe em nada”, a liberdade das filosofias e a luta pela liberdade, a expulsão de Joaquim de Carvalho da Universidade de Coimbra, por se tratar de um republicano histórico e frequentemente não-alinhado, obediente à sua própria consciência, sendo tenazmente perseguido por Salazar; JOSÉ EDUARDO FRANCO e CRISTIANA LUCAS DA SILVA, professor e sua doutoranda, deambularam pela «Distinção entre Cristãos Velhos e Cristãos Novos e a Questão Judaica em Portugal: Representações e Posições», lembrando a legislação pombalina que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos (católicos sem suspeitas de antepassados judeus) e cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que discriminavam os cristãos-novos e impunham critérios de “limpeza de sangue”, a proposta do Pe. António Vieira a D. João IV, onde se declara favorável aos cristãos- novos e apresenta um plano de recuperação económica (estruturando a proposta, entre outras ideias, na preservação da independência de Portugal, admissão de judeus em Portugal, dado que os judeus portugueses enriqueceram outros reinos cristãos – os hereges são mais promíscuos que os judeus –, a liberdade religiosa como forma de levar à reconversão), batendo-se pela não divisão entre cristãos-velhos e cristãos-novos; RUI BERTRAND ROMÃO, falou sobre «Erro, Exame e Decisão em Francisco Sanches», fulcro do pensamento bracarense, filósofo-médico capaz de grandes sínteses, a sua ascendência judaica, o périplo de estudos pela Itália, o anti-aristotelismo e aristotelismo involuntária, fazendo ainda uma referência passageira à obra “Examen rerum”; MANUEL CURADO, professor anfitrião, numa alocução peculiar, a que já nos vai habituando, trouxe a este Colóquio «O Palácio do Sono do Doutor Isaac Samuda»; ADELINO CARDOSO, através dos «Requisitos do Médico Perfeito na Obra de Rodrigo de Castro O Médico Político» fazendo uma alusão à obra como sendo de ética médica, mas também uma obra mais ampla – jurisprudência – a questão da liberdade, alertando para o facto de Isaac Cardoso afirmar que “a filosofia começa por falar hebraico e não grego”, o médico deve começar pelas humanidades (retórica e dialéctica – arte que ajuda a pensar e argumentar – a anatomia, a terapêutica, etc.), a relevância da filosofia natural como sendo mestra do médico, tornando o acto médico enquanto tal um acto moral, relevando a certeza de que a arte médica aperfeiçoa a natureza do homem e a medicina é uma arte de tolerância, sendo que ninguém deve ser excluído por razões económicas e a prática da “mentira” utilizada com o medicamento, remetendo a verdade para os mais próximos do doente, comutando, assim, o médico como um cultor da alegria; JAMES W. NELSON NOVOA, com a comunicação «Leão Hebreu, Médico e Filósofo Português no Renascimento Italiano», de seu nome completo Jehudah Abravanel (1460-1521?) – filho de Isaac Abravanel (1430-1508) – filósofo marcado pelo espírito renascentista, de tendência sincrética, tentou mostrar o acordo da Bíblia com a filosofia grega, acaba por nos revelar que a obra principal deste médico-filósofo é “Diálogos de Amor”, onde o mesmo expõe a sua doutrina, segundo a qual o amor é o fundamento ontológico do real, concebido não apenas como sentimental, mas também como intelectual: deste modo pretende unificar fé e razão, embora deixando clara a prevalência da primeira; e, por fim, FERNANDO MACHADO, um dos maiores especialistas de Jean-Jacques Rousseau em Portugal (conhecemos-lhe a sua grande obra de referência “Rousseau em Portugal”), trouxe-nos «O despatriado Ribeiro Sanches na terra dos czares: débitos e créditos», referindo-se à pátria portuguesa como tendo sido madrasta para muitos dos ilustres pensadores portugueses e a Ribeiro Sanches como um dos homens mais lidos pelas comunidades científicas no século XVIII, contrastando o tratamento que teve na sua pátria e fora dela, aludindo aos cerca de dezassete anos que passou na Rússia, onde teve uma merecidíssima projecção científica, médica e académica, e onde chegou a ser nomeado médico dos exércitos imperiais.


Muito haveria para dizer – salvaguardando os “erros de simpatia”, tendo em conta que o que atrás descrevemos, é fruto da nossa apreensão e não “Ipsis verbis” dos comunicadores –, mas somos forçados a ficar por aqui porque, conscientemente, temos noção do quanto fastidiosos nos tornaríamos se cometêssemos a “leviandade” da pormenorização descritiva de todas as comunicações. Essa tarefa, diríamos científica, fica para a publicação das actas, prometidas para 2013. Tal como atrás referimos, concordamos plenamente com facto de que o contributo dos Judeus Portugueses para a história da cultura em Portugal dificilmente pode ser apoucado, dada a sua vastidão, sendo urgente estudar e dar a conhecer às novas gerações de universitários portugueses muitos autores cuja obra continua a influenciar e a inspirar o que fazemos em Medicina, em Filosofia e em muitas outras áreas da Cultura. E nesse dia 19 de Outubro de 2012, tendo como pano de fundo a Universidade do Minho, foi dado um grande contributo nesse sentido!