Sunday, October 28, 2012

PALAVRAS CRUZADAS (26 de Outubro de 2012)

O Salão Nobre do Sport Clube Vianense (Viana do Castelo), numa iniciativa do Centro Cultural do Alto Minho (CCAM), foi palco de uma Tertúlia denominada de «PALAVRAS CRUZADAS», onde os dois "Porfírios" - Porfírio (Carvalho) Silva (n. 1961), licenciado e mestre em Filosofia. Doutorou-se em Epistomologia e Filosofia das Ciências com uma tese sobre as ciências do artificial como ciências do humano; e Porfírio (Pereira) Silva (n. 1956), licenciado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade do Minho -, um de Lisboa e outro de Viana do Castelo, "esgrimiram" de uma forma saudável conceitos politico-filosóficos, à volta dos seus últimos brados: «Agramonte: ou o mundo astral dos profetas» (Agramonte passou a ser um campo energético, lugar de chegada e partida. Ali, o bem e o mal coabitam sem se molestarem. Enquanto isso, "Deus" e o "Diabo" continuam a viver dentro de nós) e «Podemos matar um sinal de trânsito?» (Sem ser um romance, este livro é como um romance: no fundo, conta uma história que queremos saber como acaba. Sem ter a forma de um ensaio, é um ensaio: tem uma tese, mas não a impõe, nem arregimenta os argumentos em ordem clássica, deixando ao leitor o trabalho, que aqui é um gosto, de descobrir o seu próprio caminho marítimo para a Índia). Moderou o debate, a Médica Psiquiatra Luísa Quintela, Vice-Presidente do CCAM. Elisabete Pinto, excelente actriz do Centro Dramático de Viana (CDV) leu textos dos dois autores.


Opiniões e Testemunhos no "facebook": Antes da sessão: Hummmm! Um encontro de três Porfírios, é uma triangulação interessante! Vou ver se posso comparecer nesta conversa que promete!... (Sebastião Peixoto); E eu também "porfio" por lá estar... (Agostinho Pereira); Não vão reunir em Lisboa?? (Maria Ana G. Faria); Vou tentar estar lá (Conceição Machado); Eu também vou tentar (Té Fontes); «Hoje, todos os caminhos da cultura à conversa vão dar ao S. C. Vianense» (Sebastião Peixoto). Depois da sessão: Mais um encontro de nível literário e de partilha de opiniões muito interessante não fosse a conversa entre dois escritores filósofos com nível cultural e literário que permitiu uma bem composta plateia ter a oportunidade única de um encontro de homónimos, onde cada um pode opinar sobre a obra do outro! Uma noite cultural, imperdível!... Não sei quando será possível se é que se possa repetir, um encontro com estas características, onde dois escritores com características idênticas fizeram a interpretação do livro do outro. Pessoalmente nunca tinha assistido a um evento assim! Só duas pessoas de elevado carácter e muita sabedoria se permitiam participar num encontro desta natureza (Sebastião Peixoto); Momentos únicos vividos nesta passada Sexta-feira à noite,dia 26 de Outubro de 2012, no Salão Nobre do Sport Clube Vianense, em Viana do Castelo, com a presença inconfundível destes dois escritores e filósofos, em que são portadores do mesmo nome. Entre um jogo cruzado de palavras surge um campo magnético bem positivo capaz de superar todas as expectativas numa simbiose muito atractiva e estimulante compensando um pouco este mal estar provocado por uma crise em que continua instalada na nossa sociedade contemporânea. Aproveito para agradecer a ambos autores pela magnífica noite,que foi muito inspiradora e alimentou bem o nosso estado de alma (Helder Silva); Parabéns aos dois grandes Senhores e também ao CCAM que soube acolher este evento cultural numa linda sala do nosso Sport Clube Vianense. A forma como comunicam os dois PORFÍRIOS nem damos pelo tempo passar. Só tive pena de estar com bastante tosse que tive que sair rapidamente (Graziela Lima); Parabéns Porfírio, pena de não estar presente (Ana Moreira); Lamento não ter podido estar presente, mas uma forte gripe me impossibilitou (Céu Rosário); A sala estava cheia e as palavras cruzadas entre os dois autores prolongou-se até tarde (Helder Silva); Foi muito gratificante ouvir os Srs. filósofos (Rosa Lima); Dois autores e filósofos encontram-se em Viana do Castelo, no dia 26 de Outubro de 2012, numa assembleia com lotação esgotada para estabelecer um campo magnético, de âmbito positivo, por forma a conceber uma excelente apresentação de suas obras literárias. Ambas se conjugam num pensamento, em tempo de perversidades diversas... (Helder Silva); Um dia espero ver estas grandes iniciativas na nossa Praça da República, para todos verem as coisas boas que são feitas em Viana (Carlos Meira).


Friday, October 26, 2012

Colóquio na Universidade do Minho aborda a questão dos «Judeus Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura»


“Na chamada História da Filosofia, a nação judaica tem um lugar, como todas as demais nações, incluindo as que não tiveram o dom de escrever o que pensavam, mas esse lugar é geralmente considerado secundário, quando comparado com o significado do saber teológico e messianológico de Israel”.

J. Pinharanda Gomes

No dia 19 de Outubro último, demos por bem empregue o dia que passamos na Universidade do Minho, Campus de Gualtar (Braga), para assistirmos e participarmos no Colóquio «Judeus Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura», onde se procurou reflectir sobre a grande ciência e o grande pensamento de autores judaico-portugueses, tendo sempre a consciência de que este é um património cultural riquíssimo que merece ser estudado pelos investigadores. Tal como era propósito dos organizadores – Professores Manuel Curado (Departamento de Filosofia) e Virgínia Soares Pereira (Centro de Estudos Lusíadas) da Universidade do Minho – alertar para o facto de que o contributo dos Judeus Portugueses para a história da cultura em Portugal dificilmente pode ser apoucado, dada a sua vastidão, denunciando, ao mesmo tempo, os aspectos mais infelizes da relação entre Judeus e Portugal que ofuscam muitas vezes este património. Por isso, com este Colóquio pretendeu-se despoletar um certo entusiasmo para o seu estudo.


Desta vez não iremos discorrer como pretendíamos ao sabor da nossa pena e da nossa mente (sendo que, até aqui, sempre procuramos explanar o nosso pensamento, à volta dos temas que abordamos), por forma a descrevermos um pouco mais os conteúdos das intervenções magistrais neste magnífico Colóquio. E foram elas: PINHARANDA GOMES, justificada a sua ausência por motivos de saúde, sendo a sua comunicação lida pelo Professor José Marques Fernandes, acabando por trazer a este Colóquio «Aspectos da Filosofia Hebraico-Portuguesa» – em substituição do título proposto no programa, que nos propunha um «Itinerário do Pensamento Judaico-Português» –, onde são abordadas as épocas medieval, renascentista, moderna e contemporânea, perpassando questões como no caso dos Hebreus, a Filosofia ser considerada estranha à missão judaica, que consiste em conhecer Deus e em dá-Lo a conhecer (no pensamento hebraico, Filosofia tem um irrecusável sinónimo: Teologia – pensar a Deus super omnia, sobre todas as coisas, seres, visíveis e invisíveis ideias), a diáspora hispânica, o cabalismo, a expulsão dos Judeus, as comunas judaicas, o manter integra a “Arca da Aliança”, Bento Espinosa, junção da Filosofia e da Teologia, radical naturalismo na comunidade judaica, António Ribeiro Sanches e a abolição da Inquisição; ANTÓNIO ANDRADE, onde nos falou do tema que envolvia o «Mestre Dionísio, Manuel Brudo e Amato Lusitano: Três Médicos no Exílio»; ELVIRA AZEVEDO MEA, abordando «Alguns Aspectos da Diáspora Judaica (Séculos XVI-XVII), onde acaba por nos recordar que o movimento expansionista na Europa é a Diáspora Judaica, sendo que a dos Judeus Portugueses se estendeu através do Mediterrâneo, levando à formação das comunidades judaicas-italianas e a sobressaltos existenciais desta gente, a que denominavam de Cristãos-Novos; JOSHUA RUAH, médico judeu portuense, explanaria «O Pensamento Científico Judaico-português nos Séculos XVI e XVII», reforçando a convicção da existência da Bíblia e não do Velho Testamento (segundo ele, forma corrupta de chamar à Bíblia para os Judeus, pelos cristãos) e trazendo à discussão diversos argumentos filosóficos – judaísmo espiritualista para o judaísmo racionalista – o critério da morte cerebral, sendo que a sede da vida não é o coração mas o cérebro, a noção de que a evolução científica é uma continuação da criação divina, a demanda do regresso à cidade de Jerusalém e a Diáspora, como a maior dispersão de um povo; JORGE MARTINS, substituiu a sua comunicação programada de «O Marranismo como Cultura: Práticas Criptojudaicas nos Processos da Inquisição (Sécs. XVI a XVIII)» para «Marranismo, cultura e identidade», debruçando-se, indelevelmente, sobre alguns dos interrogatórios “In Gerene” na Inquisição e os significados depreciativos nos dicionários de português acerca das palavras que se ligam ao conceito de judeu, judia, judaísmo, etc. (o que nos deixou perplexos), terminando com uma interrogação de Fernando Pessoa: “Quem, que seja português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de uma só fé?”; PAULO ARCHER DE CARVALHO, espelhou a sua comunicação em «Joaquim de Carvalho, os estudos judaicos e o esquecimento da Shoah», que o mesmo será dizer “holocausto”, a cultura filosófica e científica judaica, sendo que para Joaquim de Carvalho – Espinosa é um filósofo, interrogando-se em “que Deus é que Espinosa (para Paulo Archer, mais um teosófico do que um teólogo) acredita?”, reforçando a máxima de “Deus existe em tudo, mas não existe em nada”, a liberdade das filosofias e a luta pela liberdade, a expulsão de Joaquim de Carvalho da Universidade de Coimbra, por se tratar de um republicano histórico e frequentemente não-alinhado, obediente à sua própria consciência, sendo tenazmente perseguido por Salazar; JOSÉ EDUARDO FRANCO e CRISTIANA LUCAS DA SILVA, professor e sua doutoranda, deambularam pela «Distinção entre Cristãos Velhos e Cristãos Novos e a Questão Judaica em Portugal: Representações e Posições», lembrando a legislação pombalina que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos (católicos sem suspeitas de antepassados judeus) e cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que discriminavam os cristãos-novos e impunham critérios de “limpeza de sangue”, a proposta do Pe. António Vieira a D. João IV, onde se declara favorável aos cristãos- novos e apresenta um plano de recuperação económica (estruturando a proposta, entre outras ideias, na preservação da independência de Portugal, admissão de judeus em Portugal, dado que os judeus portugueses enriqueceram outros reinos cristãos – os hereges são mais promíscuos que os judeus –, a liberdade religiosa como forma de levar à reconversão), batendo-se pela não divisão entre cristãos-velhos e cristãos-novos; RUI BERTRAND ROMÃO, falou sobre «Erro, Exame e Decisão em Francisco Sanches», fulcro do pensamento bracarense, filósofo-médico capaz de grandes sínteses, a sua ascendência judaica, o périplo de estudos pela Itália, o anti-aristotelismo e aristotelismo involuntária, fazendo ainda uma referência passageira à obra “Examen rerum”; MANUEL CURADO, professor anfitrião, numa alocução peculiar, a que já nos vai habituando, trouxe a este Colóquio «O Palácio do Sono do Doutor Isaac Samuda»; ADELINO CARDOSO, através dos «Requisitos do Médico Perfeito na Obra de Rodrigo de Castro O Médico Político» fazendo uma alusão à obra como sendo de ética médica, mas também uma obra mais ampla – jurisprudência – a questão da liberdade, alertando para o facto de Isaac Cardoso afirmar que “a filosofia começa por falar hebraico e não grego”, o médico deve começar pelas humanidades (retórica e dialéctica – arte que ajuda a pensar e argumentar – a anatomia, a terapêutica, etc.), a relevância da filosofia natural como sendo mestra do médico, tornando o acto médico enquanto tal um acto moral, relevando a certeza de que a arte médica aperfeiçoa a natureza do homem e a medicina é uma arte de tolerância, sendo que ninguém deve ser excluído por razões económicas e a prática da “mentira” utilizada com o medicamento, remetendo a verdade para os mais próximos do doente, comutando, assim, o médico como um cultor da alegria; JAMES W. NELSON NOVOA, com a comunicação «Leão Hebreu, Médico e Filósofo Português no Renascimento Italiano», de seu nome completo Jehudah Abravanel (1460-1521?) – filho de Isaac Abravanel (1430-1508) – filósofo marcado pelo espírito renascentista, de tendência sincrética, tentou mostrar o acordo da Bíblia com a filosofia grega, acaba por nos revelar que a obra principal deste médico-filósofo é “Diálogos de Amor”, onde o mesmo expõe a sua doutrina, segundo a qual o amor é o fundamento ontológico do real, concebido não apenas como sentimental, mas também como intelectual: deste modo pretende unificar fé e razão, embora deixando clara a prevalência da primeira; e, por fim, FERNANDO MACHADO, um dos maiores especialistas de Jean-Jacques Rousseau em Portugal (conhecemos-lhe a sua grande obra de referência “Rousseau em Portugal”), trouxe-nos «O despatriado Ribeiro Sanches na terra dos czares: débitos e créditos», referindo-se à pátria portuguesa como tendo sido madrasta para muitos dos ilustres pensadores portugueses e a Ribeiro Sanches como um dos homens mais lidos pelas comunidades científicas no século XVIII, contrastando o tratamento que teve na sua pátria e fora dela, aludindo aos cerca de dezassete anos que passou na Rússia, onde teve uma merecidíssima projecção científica, médica e académica, e onde chegou a ser nomeado médico dos exércitos imperiais.


Muito haveria para dizer – salvaguardando os “erros de simpatia”, tendo em conta que o que atrás descrevemos, é fruto da nossa apreensão e não “Ipsis verbis” dos comunicadores –, mas somos forçados a ficar por aqui porque, conscientemente, temos noção do quanto fastidiosos nos tornaríamos se cometêssemos a “leviandade” da pormenorização descritiva de todas as comunicações. Essa tarefa, diríamos científica, fica para a publicação das actas, prometidas para 2013. Tal como atrás referimos, concordamos plenamente com facto de que o contributo dos Judeus Portugueses para a história da cultura em Portugal dificilmente pode ser apoucado, dada a sua vastidão, sendo urgente estudar e dar a conhecer às novas gerações de universitários portugueses muitos autores cuja obra continua a influenciar e a inspirar o que fazemos em Medicina, em Filosofia e em muitas outras áreas da Cultura. E nesse dia 19 de Outubro de 2012, tendo como pano de fundo a Universidade do Minho, foi dado um grande contributo nesse sentido!

Friday, October 19, 2012

«Costumes e Tradições Populares» em Artur Rodrigues Coutinho


“Do seu intenso labor pastoral na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, atento aos problemas do seu meio, especialmente dos sectores mais desprotegidos, como atesta a sua multifacetada obra social, da actividade do Padre Artur Coutinho ressalta ainda o seu olhar atento e curioso sobre as terras e as gentes por onde a sua vida decorre”.

Albino Ramalho

Pegando nas palavras de Albino Ramalho, onde o mesmo realça o intenso labor pastoral do nosso conterrâneo e familiar por afinidade – “vínculo” plasmado na dedicatória no seu mais recente trabalho, do qual nos propomos aqui falar, onde podemos ler: “Ao Porfírio Silva e Idalina com um abraço de estima, admiração e gratidão do amigo e autor aparentado” – Artur Rodrigues Coutinho, teremos de recordar que, após a sua ordenação sacerdotal, em 9 de Julho de 1972, na Igreja da Apúlia (Esposende), a Missa Nova realizou-se em 13 de Agosto desse mesmo ano, com altar montado no adro da Capela de Nossa Senhora das Boas Novas (Mazarefes), à qual – no deambular das nossas dezasseis translações – tivemos o grato prazer de assistir. E recordamo-nos perfeitamente de nos terem falado (ainda estudante nos Seminários da Bracara Augusta), quando palmilhava as ruas dessa bimilenar cidade dos arcebispos, que o seu “olhar atento e curioso sobre as terras e gentes por onde a sua vida decorre” já se fazia sentir, nomeadamente quando partilhava a sua forte paixão pela “história, valores, tradições, linguagem, usos e costumes” da sua (e nossa) terra natal, publicando trabalhos de pesquisa no “Serão” do inesquecível José Rosa Araújo – com vista a uma futura “Monografia de Mazarefes” – e colaborado em algumas revistas. Foi ao depararmos com tão profícua produção monográfica, etnográfica e até antropológica de Artur Coutinho, que despoletou em nós a curiosidade pelas coisas da terra que nos viu nascer. Regressado de terras de África, ainda que condimentado pelo “gindungo”, ao saborearmos “o correr da pena” de Artur Coutinho, passamos a dar mais valor às nossas raízes, costumes e tradições, em detrimento do “batuque” e da “funji de fuba”.
Mas, hoje, o que aqui nos traz é o último trabalho deste nosso conterrâneo Artur Coutinho – sócio fundador do Centro de Estudos Regionais e membro da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho; foi director do Mensário “Serra e Vale”; e, presentemente, é director do “Paróquia Nova” –, com o sugestivo título de “Costumes e Tradições Populares”, numa edição da Fábrica Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo. Anteriormente já nos havia contemplado com outros trabalhos de grande fôlego, que nos apraz aqui registar: “Cancioneiro da Serra d’Arga” (com primeira edição em 1980, segunda edição em 1982, terceira edição em 2000 e uma quarta edição em 2007), obra bastante procurada, mas já há muito tempo esgotada; “A Cidade de Viana no Presente e no Passado – da Bandeira à Abelheira” (com primeira edição em 1986 e uma segunda em 1998); “Mosaicos da Serra d’Arga” (1997), havendo uma segunda edição; e “Famílias com Rosto” (com já três volumes publicados). Apesar de termos que referir mais três trabalhos em opúsculos – “Oração em Família”, em 1997, do qual foram impressos nove mil exemplares; “Milagres de Amor”, dissertações bíblicas contrastando com o quotidiano presente, em 1998, do qual foram impressos cinco mil exemplares; e “Apontamentos da Família”, em 2002, para uso particular da família –, “Costumes e Tradições Populares” (2012), a sua mais recente obra, é a sétima produção literária a sair para os escaparates.

Assoberbado pelas coisas da terra, Artur Rodrigues Coutinho (verdadeiro testemunho de um sacerdócio activo, porque humanista, zeloso e solidário) oferece-nos uma perspectiva peculiar, tal como escreve Albino Ramalho em prefácio à mesma obra, onde “sobressai a preocupação do autor pela história, usos e costumes tradicionais, crenças, actividades, formas e estilos de vida, nomeadamente da sua Mazarefes natal, inspiradora de boa parte de textos, e de outras que, como sacerdote, pastoreou: paróquias de Dem e Argas, em Caminha, e Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Viana do Castelo”. De facto, Artur Rodrigues Coutinho sempre soube aproveitar o contacto com o meio e as populações, auscultando-lhes as memórias e as vivências, traduzidas e/ou aliadas a um verdadeiro trabalho de campo, etapas indispensáveis ao conhecimento histórico, etnográfico e antropológico, tendo em conta que o conceito de etnografia está intimamente ligado à antropologia. Afirmamo-lo nesse sentido, porque sentimos-lhe – em tudo o que tem produzido até aqui – uma forte ligação às Ciências Sociais. As “Famílias com Rosto”, por exemplo, espelham bem esta vertente, quiçá, de uma “Antropologia Social” (convicção pessoal tendo em conta que “os estudos etnográficos são uma técnica, proveniente das disciplinas de Antropologia Social”), sabendo nós que o antropólogo social, comparando as diferentes sociedades, trata de revelar as características comuns das instituições, assim como as particularidades observadas em cada sociedade. Pelas páginas de “Costumes e Tradições Populares”, no dizer de Albino Ramalho (com o qual concordamos plenamente), perpassam, assim, “as memórias e vivências pessoais aliados ao gosto pelo estudo e interpelação da razão dos fenómenos”. São muitas as ligações sublimes ao fenómeno social, onde se estabelece um percurso entre a economia e o conjunto da organização social, passando pela família e espelhadas nas bem delineadas – numa escrita clara e escorreita – descrições de artes e ofícios: pescador do rio, sapateiro resistente, funileiro da Bandeira, afiadores, fotógrafos e casamentos, fogueteiros Silvas, o engraxador, os capadores, fotógrafos “à la minute”, os serradores, as leiteiras, os azeiteiros (ainda hoje nos lembramos do Sérgio de Darque), coveiros, cangalheiros e agentes funerários, os semeadores, os varredores, os ceifeiros, as bordadeiras, os sacristães, cascalheiros, calceteiros, pedreiros, canteiros, escultores…, o alfaiate, as rendilheiras, tricoteiras e crocheteiras, as parteiras da aldeia, os santeiros da Abelheira, os carreteiros, as doceiras, as tremoceiras, as aguadeiras, os carteiros, os barbeiros, as sardinheiras, as tecedeiras, os ferradores, carpinteiros e marceneiros, os padeiros, a figura do Regedor, carpinteiro ambulante, os cordoeiros de Mazarefes, os resineiros, os oleiros, as touradas e as garraiadas (no dizer de Artur Coutinho “não é desporto que me seduza”), a leiteira da sina, os farinheiros, o peneireiro, as lavadeiras, as engomadeiras, etc.
E os costumes, aliados às tradições populares e ao património, não escaparam ao olhar perspicaz do observador: a leitura da sina, os nichos das alminhas, lenços e penteado do cabelo, os cruzeiros e as cruzes de Viana, os moinhos, morte e tratamento dos corpos, santos populares, fórmula para cubicar uma vasilha, os brinquedos do seu tempo, as vindimas, as malhadas, o magusto, ceia de Natal e a fogueira, a apanha da azeitona, as matanças, as janeiras, serração da velha, os bigodes, barbas, cavahaques e as suíças, o calçado, as podadas, carro de bois, as flores e o luto, oratórios, a pobreza de ontem e de hoje, os transportes da sua meninice, o vestuário, o mês das almas, as trindades, mistérios, a eira, a cozedura do pão, os fornos e as lareiras, espadeladas e estopadas, a cordoaria, a casa antiga, a casa da lenha, os remédios caseiros, os calvários, a cultura do linho, as cavadas, as roçadas, a alimentação, (os célebres) aerogramas, a taberna, a arte de levar os andores, etc., etc… Tudo isto é mais que suficiente para aguçar o apetite do leitor mais atento às vivências directas da realidade, onde todos nós nos inserimos. Artur Coutinho, astuto na observância e na análise, tem vindo a demonstrar uma extraordinária capacidade de articular o exercício da sua missão na comunidade que pastoreia – e outras que anteriormente pastoreou – com a interacção sociológica, ligando o passado com o presente, mas perspectivando o sentido de uma evolução natural para o futuro. Daí, a sua grande obra social, que até o “catapultou” para o merecido título de cidadão de mérito vianense. 
“Costumes e Tradições Populares”, mais uma obra que Artur Coutinho oferece – dado que tudo o que tem produzido a nível literário, reverte a favor das obras sociais – à comunidade e à população em geral, a merecer a nota máxima!

Thursday, October 18, 2012

PALAVRAS CRUZADAS com três "Porfírios»

Viana do Castelo, 26 de Outubro de 2012, 21 horas, no Salão Nobre do Sport Clube Vianense



Porfírio (Carvalho) Silva (n. 1961), é licenciado e mestre em Filosofia. Doutorou-se em Epistemologia e Filosofia das Ciências, em 2007, com uma tese sobre as ciências do artificial como ciências do humano. Foi Investigador Visitante no Institut Supérieur de Philosophie, da Université Catholique de Louvain, e na Facultad de Filosofía da Universidad Complutense de Madrid. É actualmente investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (pólo do Instituto Superior Técnico), como bolseiro de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Aí, tem sido organizador dos Ciclos de Conferências com o título genérico “Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais”, actividade multidisciplinar que teve em 2011 a sua terceira edição. Publicou os livros A Filosofia da Ciência de Paul Feyerabend (1998, Piaget), A Cibernética: Onde os Reinos se Fundem (2007, Quasi), Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais (2011, Âncora) e Podemos matar um sinal de trânsito? (2012, Esfera do Caos). É colaborador do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa e do Projecto MILPLANALTOS.

MODERADOR: Porfírio Barbosa (Centro Dramático de Viana-Teatro do Noroeste)

Porfírio (Pereira) Silva (n.1956), é Licenciado em Filosofia e Pós-graduado em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade do Minho. Fundador do jornal Foz do Lima e da revista Íbis, é colaborador assíduo da imprensa regional e foi Presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho. Publicou os livros Ensaio Literário (1983, Edição de Autor), Desnublar (1986, Edição de Autor), Horizonte (1989, Editorial Regiminho), Pe. Manuel Francisco de Miranda: um monárquico no seu tempo (1992, Junta de Freguesia de Vila Fria), À Sombra dos Passos (1995, Junta de Freguesia de Mazarefes), Excelsior (1997, APPACDM Distrital de Braga), Existências: Viagens do Subconsciente (1997, Jornal Foz do Lima), S. C. Vianense: 100 Anos de História em datas (1898-1998), em co-autoria com Rui A. Faria Viana e António Maranhão Peixoto (1998, S. C. Vianense), Chamaram-me Muxicongo (Memórias de um ex-metalúrgico) (1999, APPACDM Distrital de Braga), Pambahamgumbo (Folhas Soltas) (2001, Centro de Estudos Regionais), Ermida (2003, Garrido Editores) e Agramonte: ou o mundo astral dos profetas (2012, Papiro Editora). Actualmente desempenha funções de Animador Cultural na Biblioteca Pública Municipal de Viana do Castelo.

Tuesday, October 16, 2012

A visão profética dos escritores e poetas portugueses face ao actual estado da nação


“Diz-se que o povo portuguez vive dominado pelo eterno messianismo; que a sua fraqueza (ou a sua força!) consiste em confiar sempre da Providencia, do Acaso, do Destino e nunca de um plano raciocinado e assente”.

Maria Amália Vaz de Carvalho

Face ao actual estado da nação, muitos são aqueles que pretendem, “a posteriori” dos acontecimentos, dizerem-se ou afirmarem-se visionários infatigáveis, imaculados, despretensiosos e supostamente cultos, porque gravitam à volta de todas as matérias económicas, financeiras e afins. Alguns trazem “coladas” às suas (in)consciências um sem número de mordomias, de reinserções várias (na linguagem popular, “chorudas reformas”), sem percursos graduais (degrau a degrau pelo próprio pulso, como seria exigível), porque tiveram a felicidade de pertencerem às “co-parcerias ajumentadas”, mas de grande eficácia para levarem a cabo os seus intentos. Hoje, este tipo de gente, goza de palanque os favorecimentos e “estádios secretos”, dos grandes barões (para não dizermos tubarões) do pós-25 de Abril em Portugal. Tal como um dia escreveria Miguel Torga a Ruben A., ainda que fosse em 1965 (artigo que seria integralmente cortado pela Censura), “o analfabetismo governamental, que há anos apara pelo sabugo as unhas alfabetas da nação, resolveu agora alargar a poda e decepar pura e simplesmente as mãos inquietadoras. Teremos de imitar Duarte de Almeida, e segurar a caneta com os dentes”. Se tivermos em conta o “cerrar de dentes” da maior parte dos políticos – sendo que daqui teremos que excluir os ingénuos, à espera do desfastio dos acomodados – parece-nos que a “História” tende a repetir-se. De facto, nunca Miguel Torga esteve tão actual, quando se afirmaria no fenómeno curioso de que “o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados”.


Nem mesmo o facto de Miguel Torga ter criticado Eça de Queiroz, numa conferência, em 1945, no Ateneu Comercial do Porto, apelando a “um problema de consciência” (paradoxalmente afirmando logo no início da conferência: “Amo-o e detesto-o ao mesmo tempo. Leio sempre que posso, mas fujo dele como o diabo foge da cruz”), onde afirmaria que, apesar da sua grandiosidade, a obra de Eça está cheia de falhas e defeitos, não resistimos em “soletrar” um dos devaneios críticos deste inesquecível romancista: “Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?". Apesar de Eça de Queiroz ter escrito isto em 1867, parece-nos uma extraordinária radiografia do deambular de (in)competências presentes. Em 1872, o mesmo Eça de Queiroz, nas “Farpas”, “repostaria” o estado da nação, qual “espelho mágico” ou “máquina do tempo” nos transportaria até ao século XXI: “Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte”. E, em 1891, mais uma vez pelo punho de Eça de Queiroz, uma revelação profética plasmada em conjunturas presentes: “Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: – mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não – pelo menos o Estado não tem: – e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior – e sem cura”. Cirurgicamente falando, tal como em 1891, “(…) e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política”. Subscrevemos inteiramente, complementando com mais umas das suas máximas: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”. Nos tempos que correm, resta-nos essa “muda” circunstancial. Mesmo sendo perfumada(mente) higienizada, pode-nos levar ao logro dos odores semelhantes.
E quem não se lembra da inesquecível Natália Correia (uma das vozes da poesia que mais admiramos), visionada por Mário Soares como “iconoclasta, irreverente, provocatória, mesmo exibicionista, era, julgo, uma máscara e uma defesa da verdadeira Natália – mulher de uma enorme sensibilidade, idealista, solitária, solidária, empenhada numa profunda transformação social e cultural – naquela sociedade do futuro onde os poetas, os verdadeiros, teriam voz…”, que apontava a meta da poesia como a libertação do homem e “o erro dos portugueses ao longo da história literária tem sido o de subjugarem a sua vocação romântica por um racionalismo de empréstimo que vão buscar além-Pirenéus”. As dependências além-Pirenéus, hoje moldada ao som da batuta do grande capital, mereceram também, em 21 de Fevereiro de 1995, a atenção de José Saramago: “Se a União Europeia fosse o que diz ser, nenhum dos países que a integram teria de temer a sombra de um vizinho economicamente mais poderoso, uma vez que as estruturas comunitárias lá estariam para velar pelo equilíbrio geral e resolver as tenções locais. Mas a União Europeia, como tenho dito, é a versão moderna do velho jogo das hegemonias, só na aparência diluídas de modo a dar a cada país pequeno a ilusão de ser parte importante no conjunto. O problema, hoje, está em que ninguém, sendo pequeno e pobre, quer aceitar e evidência da sua pobreza e da sua pequenez. Por isso é que não se aproximam nem se encontram os países atrasados do Sul, cada um deles vivendo a sonhar com o dia em que seja admitido em casa dos ricos, mesmo que seja só para abrir a porta aos convidados, a quem inveja, e servir o conhaque, que depois tentará beber às escondidas”. Pão, circo e conhaque, vão dando aso à profética interrogação de Eça de Queiroz, e que nunca nos cansaremos de recordar: “(…) Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”.

A constatação visionária ou profética dos escritores e poetas portugueses, uma leitura obrigatória para aqueles homens raros – honestos, capazes e competentes – que hoje “são postos na sombra pela Política”. Os outros, os bem instalados na política “e nulos a resolver crises”, por certo que não terão o nosso “habeas corpus”, porque começamos a ficar cansados de mudar as fraldas!

Thursday, October 04, 2012

Desencarnou o Professor António Eugénio Peixoto, um dos maiores impulsionadores e apaixonados pelo debate filosófico.


“Há três espécies de homens com os quais é útil ligarmo-nos pela amizade: os homens justos, os homens sinceros e os homens que muito aprenderam”.

Confúcio

Ao início da tarde do dia 29 de Setembro de 2012, pela voz de um dos nossos inesquecíveis mestres (assim o designamos pelo facto de todos nós – discentes pioneiros do Curso de Filosofia na Universidade do Minho – nos acharmos simples peripatéticos), Professor José Marques Fernandes, recebemos a triste – já há algum tempo esperada – notícia da desencarnação (preferimos à macabra designação da morte) do Professor António Eugénio Correia Braga Peixoto, emérito intelectual bracarense e Assistente Convidado em Regime de Requisição Especial na Universidade do Minho, onde foi nosso professor, nomeadamente nos “cadeirões” de Filosofia Moderna e Contemporânea. Tal acontecimento é deveras constrangedor, principalmente para todos nós que com ele convivemos afincadamente, debatendo as fronteiras do pensamento entre Idade-Média, Idade Moderna e Contemporânea, superando – mesmo aquando de algumas crispações da nossa parte, pelo formulado e/ou pretenso (ir)reconhecimento da nossa própria ignorância –, ao mesmo tempo, as teorias do conhecimento, da ciência e da lógica, a “crítica da razão pura”, a ética, estética, dialéctica, lógica e analítica transcendentais, e o imperativo categórico em Immanuel Kant (filósofo de “charneira” para este memorável professor); o “mundo como vontade e representação” em Arthur Schopenhauer; o idealismo e o materialismo alemães, perpassando por Fichte, Hegel e Karl Marx; a oposição de Kierkegaard a Hegel; a “origem da tragédia” em Friedrich Nietzsche, etc., etc… Belos debates, lições acutilantes, por parte de quem tinha uma desmesurada paixão pela leccionação das disciplinas de Filosofia e pelo próprio debate filosófico. Não é por acaso que estava indelevelmente ligado à criação e animação da “Comunidade de Leitores de Filosofia”, da qual era o seu coordenador. 
             

O Professor António Eugénio Correia Braga Peixoto, nascido na Bracara Augusta, em 3 de Julho de 1953, era licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pós-graduado pela Universidade do Minho em Filosofia da Educação e doutorando desta Universidade, nela tendo leccionado as disciplinas de Filosofia Social e Política, de História das Ideias Políticas e Sociais, Paradigmas Políticos Contemporâneos, na área de Filosofia Política; na área de Filosofia e Cultura Portuguesa as de Mentalidade e Cultura Portuguesa, de Pensamento Político Português e de Ideias e Estéticas no Portugal Contemporâneo. Por isso, as áreas de interesse do Professor Eugénio Peixoto, gravitavam à volta do Pensamento Social e Político, nomeadamente, nos seus reflexos (recepção e difusão) na cultura portuguesa dos séculos XIX e XX, e na área das mentalidades e da cultura portuguesa.


Outro dos factos relevantes na vida deste incansável professor era o de ele ter sido membro da Comissão Coordenadora do Curso Livre de Preparação para o Exame “Ad Hoc”, responsável pela sua implantação e organização. Em Outubro de 2007, escreveríamos na nossa crónica semanal “Impressões”, num dos jornais regionais – felizmente, um dia destes, ressurgirá das cinzas, qual “fénix” se materializará no “Falcão do Minho” – que colaborávamos, com o título «Universidade do Minho: antigos exames “Had Hoc” dão lugar a Cursos Livres de Preparação», realçando o papel preponderante (de líder) do Professor Eugénio Peixoto na iniciativa pioneira de criar Cursos Livres de Preparação para todos aqueles que pretendessem candidatar-se ao Ensino Superior. Destacávamos, também, o facto da Universidade do Minho, através do seu Conselho Académico, ter criado, no ano lectivo de 2003/2004, um Curso Livre de Preparação para o “Exame Extraordinário de Acesso ao Ensino Superior”, com base no desafio das sociedades modernas de informação e de formação ao longo da vida. Soubemos, mais tarde, que outras universidades e institutos politécnicos “copiaram” este modelo, dada a sua eficácia na resposta às solicitações, necessidades e desejos da região onde se inseriam. E o rosto de toda esta dinâmica era o Professor Eugénio Peixoto, levando a que a Universidade do Minho fosse pioneira nesta área.
O Professor Eugénio Peixoto deixa uma fabulosa e/ou excepcional (talvez única) biblioteca privada, nos domínios da filosofia, da literatura e da cultura portuguesas, a merecer a atenção da Universidade onde leccionava com empenho. Literariamente falando, conhecíamos-lhe – quantas conversas e segredos partilhados nos corredores da universidade – uma assoberbada paixão por Agustina Bessa-Luís. Partilhamos da convicção do Professor José Marques Fernandes, aquando da irreversível constatação do seu passamento (vítima de doença prolongada) – e sempre que nos lembrarmos das “Aulas Abertas”, dos “Colóquios”, dos “Seminários” e dos “Simpósios” onde participava afincadamente e partilhava muito do seu conhecimento e sabedoria, enriquecendo os debates filosóficos –, que os alunos e professores ficarão mais órfãos, a partir daqui.

Que descanse em paz, entre os filósofos que tanto amava!