Thursday, July 25, 2013

Apresentado publicamente o volume II da revista “A Falar de Viana”!

“O empenho evidenciado por todos os colaboradores é merecedor da nossa gratidão, pois, o seu trabalho é fulcral no bom êxito desta publicação. Igualmente, prestamos homenagem a todos os que contribuíram para esta edição, especialmente os patrocinadores. Não temos dúvidas que este número de A Falar de Viana engrandecerá no tempo, de forma indelével, a Romaria das Romarias…”

Os coordenadores

Aí está A Falar de Viana (Volume II, Série 2) – apresentado publicamente na abertura da 33 Feira do Livro de Viana do Castelo, que irá decorrer de 20 de Julho a 4 de Agosto –, cuja coordenação geral, pelo segundo ano consecutivo, é da responsabilidade dos Drs. Rui A. Faria Viana e António Maranhão Peixoto, cabendo-nos a nós a responsabilidade editorial. A explicação para a viragem editorial desta publicação, cuja primeira série saiu de 1995 a 2011 (dezassete números em dezassete anos), foi dada no primeiro número do ano passado: “Inicia-se com o presente número uma nova série desta revista. Nela são introduzidas diversas alterações com vista a torná-la mais atractiva de que se salientam a reestruturação do seu aspecto gráfico e a forma de apresentação dos conteúdos em diferentes secções. O formato habitual mantém-se, todavia, decidiu-se retirar a reprodução do cartaz das Festas da capa, sendo agora divulgado no seu interior, assumindo-se como uma publicação periódica anual onde se destaca aí o título A Falar de Viana, devidamente registado e com o respectivo ISSN. / A Falar de Viana pretende reforçar a componente cultural da Romaria de Nossa Senhora d’Agonia, acolher o maior número de colaboradores e textos inéditos sobre a cidade e as suas festas, continuando a divulgar narrativas com interesse sobre esta temática já editadas noutras publicações, havendo, no entanto, o cuidado de uma melhor identificação das fontes e dos seus autores…”. Assim justificávamos a renovação da imagem, a orientação e o alinhamento dos conteúdos!

Mesa de apresentação (da esquerda para a direita): Dr. Maranhão Peixoto (Arquivo Municipal), Dr. Rui Viana (Director da Biblioteca), Eng. José Maria Costa (Presidente do Município) e Dra. Maria José Guerreiro (Vereadora da Cultura). 

Sem grandes rodeios apreciativos, pelo facto de corrermos o risco de o ajuizarmos em causa própria, teremos que dizer que no presente número tivemos o privilégio de contar com quarenta trabalhos inéditos e o patrocínio de vinte e quatro das mais prestigiadas empresas do país e da região, o que acaba por fazer denotar a importância alcançada, na divulgação das “Romaria das Romarias”, por esta mesma publicação.
Dividida em quatro secções (Memória, Registo, Antologia Poética e Colectânea), conta ainda com uma mensagem do Presidente de Honra da Romaria da Senhora d’Agonia, Carlos Manuel Benjamim Marques da Silva, a apresentação dos coordenadores, a reportagem fotográfica de 2012 e o programa das Festas de 2013. A secção «Memória» conta com os seguintes trabalhos: Particularidades das Festas de Nossa Senhora d’Agonia de 1913, de Rui A. Faria Viana; As Festas há 100 anos segundo A Aurora do Lima, de Bernardo Barbosa; e, Memórias da Festa, de António José Barroso. Na secção de «Registo» são publicados dois trabalhos de Cláudio Basto (“A mulher do Minho” e “Viana do Castelo: A Princesa do Lima”) e um de Luiz Teixeira (“Festa de Agosto na Ribeira Lima”), publicado na revista “Panorama” em 1958, gentilmente enviado pelo nosso particular amigo limiano Amândio Sousa Vieira. Na secção de «Antologia Poética» contamos com a presença afectiva de Amadeu Torres (Castro Gil), 1924-2012, com o soneto “Feira Semanal”; Carlindo Vieira e o poema “Templos”; Euclides Rios, com “Quadras às Festas d’Agonia”; Eugénio Monteverde e a sua alusão ao “O Meu Pregão”; Fernando Castro e Sousa, com “Um rio”; Fernando Melim espelhando a sua inspiração em “Rostos”; a nossa incursão pela estória de um pescador “Era uma vez…”; e, finalmente, Luís Pedro Viana, com “O Frasco de Remédio”. Por fim, na secção de «Colectânea», temos trinta trabalhos inéditos: “Subsídios para o estudo das origens do culto à Sra d’Agonia em Viana (Sécs. XVII e XVIII)” de Manuel António Fernandes Moreira; “A Ribeira em cores: tapetes de sal, a flor do mar” de Álvaro Campelo; “Os artistas nas Festas d’Agonia: Carlindo e Juvenal Ramos evidenciaram-se” de Gonçalo Fagundes Meira; “Senhora d’Agonia, devoção e festa dos pescadores de Viana. Referências histórico-geográficas e vivências de relação com o evento” de José da Cruz Lopes; “Sentindo a alma da Ribeira: vendedora de peixe fresco” de José Rodrigues Lima; “As Festas da Senhora d’Agonia e o seu impacto nas gentes do Vale do Neiva na segunda metade do século XX” de Mota Leite; “Romaria d’Agonia: rainha das romarias de Portugal” de Matias de Barros; “Romaria de N.ª Sr.ª d’Agonia: um estudo-caso” de Francisco Sampaio; “A Sé e as Festas de Nossa Senhora d’Agonia” do Pe. Armando Rodrigues Dias; “Da Agonia se faz festa” do Pe. Paulo Gomes; “Senhora da Agonia – Mãe de Deus e Nossa Mãe” de André Torres Costa; “Com a Senhora da Agonia para um novo mundo” do Mons. Reis Ribeiro; “Ouro popular português” de Manuel Rodrigues Freitas; “Uma oficina de conserto de ourivesaria” de Eliana Amorim; “Confeitarias e pastelarias do nosso imaginário (3) «Paris»” de Francisco José Carneiro Fernandes; “Falar de Viana” de Artur Coutinho; “Iluminação pública em Viana do Castelo: notas históricas” de António Maranhão Peixoto; “Contributos dos bilhetes-postais ilustrados para a história do Turismo em Viana do Castelo” de António J. Cunha Leal; “A vossa empresa também é nossa” de Paulo Julião; “A propósito do centenário da Empresa de Pesca de Viana” de Manuel Oliveira Martins; “Viana & Camilo: presenças e situações” de David Rodrigues; “Abúndio da Silva, um eminente canonista vianense” do Mons. Sebastião Pires Ferreira; “Viana será a via Ana?” de Luís Gomes Costa; “Registros e bentinhos do Real Colégio das Chagas” de Manuel Inácio Rocha; “Para a história da nobreza titulada de Viana do Castelo” de José Aníbal Marinho Gomes; “O Doutor Baltasar Jácome do Lago, desembargador da Casa da Suplicação e Juiz das Ordens Militares do reino de Portugal” de Américo Carneiro; “Os árabes a norte do Douro e a presúria no Entre Minho e Lima” de António Rodrigues França Amaral; “Escritas populares em contextos de mobilidade: Séc. XIX e XX” de Henrique Rodrigues; “Moinhos de vento em Areosa” de António Martins da Costa Viana; e, finalmente, “Figuras afifenses: João Azevedo Ramos Paz «Casa da Quinta», Largo das Vendas, Afife” de Casimiro Puga.
       



             Aqui fica uma sugestão de leitura, para melhor conhecer Viana do Castelo, as suas Gentes e as suas Festas, consideradas por muitos como a “Romaria das Romarias”, qual Senhora da Agonia nos poderá aliviar da agonia e das turbulências desta “república” sem rumo!

Friday, July 19, 2013

José Ribas Fernandes volta a reunir antigos colegas e professores da “Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo”!

“Sem os outros, a vida, o amor e a felicidade, não passam de utopias. Estamos todos interligados por uma infinidade de fios. Uma vida depende doutra e nenhuma se desenvolve sem as outras”

P. Bosmans

Tendo em conta que a expressão amizade nos remete para etimologia grega philia (sentimento de afeição e amizade pelos outros) e um sentido restrito ao qual Aristóteles se ligou particularmente, sendo que o mesmo se expressa pelo elo selectivo entre duas – ou mais, diremos nós – pessoas e a benevolência activa e recíproca que daí resulta, nada melhor serviria justificar o contraditório de Samuel Johnson, quando um dia afirmou que “estamos sempre dispostos a acreditar naqueles que não conhecemos, pela simples razão de que esses ainda não tiveram oportunidade de nos enganar”. Tudo isto para dizermos que no passado dia 13 de Julho (Sábado), pelas 20 horas, o bom amigo e Professor José Ribas Fernandes levou a cabo o «3.º Jantar Convívio do Zé Ribas com os ex-colegas e Professores da EICVC», desta vez na Quinta do Fincão (Areosa). E tal “amigável convergência” acaba por sedimentar o resultado mais valioso de toda a educação que recebemos dos nossos mestres, da cumplicidade partilhada com os nossos companheiros de escola e da plena consciência de que a virtude não se ensina. Tinha razão Aristóteles quando “firmava” a convicção de que a amizade conseguida dá prova de uma escolha livre e de uma decisão partilhada de benevolência recíproca, reforçada pela noção de que “o outro é amado gratuitamente e não pelos benefícios que possa tirar dessa amizade”, útil e agradável. Foi assim que nos sentimos naquele dia.

Professores Rosa Figueiredo e Franklim Carvalho
         
           

       

       Responderam à chamada do bom amigo Ribas: Adélio Lima da Cruz, Adriano de Passos Gonçalves Pires, Artur Agostinho Monteiro Rodrigues, Domingos Carvalhido da Ponte, Fernando Lei Monteiro da Rocha, Guterres Fernandes Brás, Ilídio de Jesus Reina de Morais, José Augusto da Silva Portela, José Fernando Ferreira da Costa, José Lima Damião, José Maria Ribas Fernandes, Luís Gabriel Baptista Lima, Manuel Augusto Lopes Meira, Porfírio Pereira da Silva, Victor Manuel Esteves Montes Pinto; e os Professores Rosa Figueiredo e Franklim Carvalho. Bastando-nos de palavras, aqui fica a nossa modesta mas sincera homenagem, através de algumas imagens, dando jus à velha máxima de que, muitas vezes, “uma imagem vale mais que mil palavras”.
         
Fotografia da praxe dos antigos colegas e professores da Escola Industrial e Comercial (1970-1974)

          Pelo terceiro ano consecutivo a amizade e a cumplicidade falaram mais alto, tornando-nos mais felizes, solidários, reforçando elos de afeição recíproca. Para o ano lá estaremos, tornando o nosso mundo o melhor possível. Pela amizade, sempre!

Friday, July 12, 2013

A imaturidade de uma “aporética” república sem rumo!

“Portanto, a injustiça parece ser uma força tal, em qualquer entidade em que se origine – quer seja um Estado qualquer, nação, exército ou qualquer outra coisa – que, em primeiro lugar, a incapacita de actuar de acordo consigo mesma, devido às dissensões e discordâncias; e, além disso, tornam-na inimiga de si mesma e de todos os que lhe são contrários e que são justos”.

Platão (A República, 352a)

Escrevíamos nós em Junho de 2012, numa das nossas crónicas “Ao correr da pena e da mente…”, que a descredibilização da política estava – e continua a estar – aí instalada e pela voz sonante dos que se serviram da política para evoluírem, tão só, financeiramente. Quando aqueles que se “masturbaram” através da política, e nos deixaram neste estado de coisas, vêm agora a terreiro libertar “cobras e lagartos” a propósito de conjunturas, imbróglios e cozinhados neoliberais, estamos seriamente acometidos pela conflitualidade dicotómica entre o Estado de Natureza – discernível através da razão – e o Estado de Guerra, sendo que o primeiro, segundo John Locke, leva-nos a um estado de perfeita liberdade e de igualdade “por nos encontrarmos inicialmente num estado de abundância, e não de escassez, e com um pressuposto implícito de que, muitas vezes, as pessoas estarão directamente motivadas para obedecer à lei moral”, enquanto o segundo, consequência negativa do primeiro, para os já por nós denominados “forjadores da política”, assenta no direito de punir, ou seja, “o direito de fazer pagar pela sua transgressão aquele que transpõe os limites da Lei da Natureza”. E diríamos mais na altura, por incrível que pareça, que a transgressão moral é sempre atribuída aos mais fracos, aqueles que alimentam as máquinas pesadas do Estado, astuto na imunidade dos que detêm o próprio poder. Por isso, a nossa apreensiva cautela continua, no que toca a defensores de indexações circunstanciais (nunca por culpa deles), esguios aos princípios de justiça – premeditadamente situados entre a carência e a abundância – defendidos por John Rawls: “Cada pessoa terá direito igual ao mais vasto sistema total de liberdades básicas iguais compatível com o sistema similar de liberdade para todos”. Antes pelo contrário, continua-se a assistir ao proliferar de uma paupérrima dialéctica, porque assente na má formação (ética e) de carácter, milenarmente “moldado” pelas três disposições aristotélicas, porque por ele pensadas: “duas são perversas, a que é por excesso e a que é por defeito, e uma é a da excelência, a qual corresponde à posição intermédia”. Nos tempos que correm, infelizmente, é essa disposição intermédia (excelência) asfixiada pelas disposições do excesso e do defeito, forçando a negação da máxima, também ela aristotélica, de que “o Humano enquanto prático é princípio da acção”. Deveria ser no agir que o mesmo (Humano) se pode cumprir na sua possibilidade extrema, como ser ético ou reconhecer a política como arte e não como ciência. E esse propósito ou “disposição” falta a muitos dos nossos políticos, porque eticamente mal formados.
Apesar de estarmos longe de nos alvorarmos em “doctus cum libro” e desprovidos de qualquer química oculta de possíveis “vidências” – continuando essas faculdades a serem servidas em discursos engalanados pelos “fazedores de opinião”, em televisionadas ou discursivas “masturbações” –, escreveríamos um mês mais tarde, Julho de 2012, a propósito de apelativas licenciaturas denominadas de “não caso” para Passos Coelho – hoje no caminho da anulação, porque “caso” para o Ministério Público –, que nunca chegamos a embarcar em facilitismos, porque sempre achamos que o conhecimento deve ter por objectivo o pensamento humano e a relação deste com os seus objectos, e não por abjecto “parecer sem o ser”. Infelizmente, o “clube dos doutores e engenheiros” pela aparência, continua a ser a única saída para aqueles que estão vocacionados, única e exclusivamente, para o “ser aparente”, remetendo para um plano secundário o conhecimento, enquanto actividade pela qual o homem toma consciência dos dados da experiência e procura compreendê-los ou explicá-los. Deveriam ter em conta que o conhecimento é sempre “em si mesmo” uma actividade teórica e desinteressada, isto é, satisfaz um puro desejo de saber, sem se preocupar com a sua utilidade prática. Só o conhecimento “desinteressado” permite (empiricamente) uma acção eficaz. E isto parece que os nossos políticos não entendem ou procuram não entender. Daí, porque mal formados intelectualmente, a mediocridade de alguns dos governantes, deputados e dirigentes partidários – com as devidas desculpas pela repetição, porque cíclica e impulsiva.


Um ano depois, Julho de 2013, dá-se um grande alvoroço no “galinheiro”. Sai Vítor Gaspar, o ministro da palavra lenta que falhava as previsões, o mesmo que em Julho de 2011, mal chegado às Finanças, atirou a matar sobre a gestão do anterior governo, acusando-a de ter deixado um desvio “colossal” nas contas públicas. E de nada lhe serviria a presunçosa faceta de – aos dezassete anos de idade – ter lido na íntegra O Capital de Karl Marx, levando-o a ser portador de pouca eficácia nas previsões e “desastroso” no seu papel enquanto ministro. Até as “gasparianas” condições meteorológicas, acompanhadas pelas “cavaquistas” intervenções sobrenaturais de Fátima e S. Jorge, serviriam para justificar o injustificável. Quando tudo parecia caminhar em sentido perfeito, eis que Vítor Gaspar, depois de duas goradas tentativas, bateu com a porta à terceira, pedindo uma “inadiável” demissão, exigindo que as suas razões fossem tornadas públicas: “O incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto ministro das Finanças./ Os grandes custos de ajustamento são, em larga medida, incontornáveis, dada a profundidade e persistência dos desequilíbrios, estruturais e institucionais, que determinaram a crise orçamental e financeira. No entanto, o nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves. Requerem uma resposta efectiva e urgente a nível europeu e nacional. Pela nossa parte exigem a rápida transição para uma nova fase de ajustamento: a fase do investimento! Esta evolução exige credibilidade e confiança. Contributos que, infelizmente, não me encontro em condições de assegurar. O sucesso do programa de ajustamento exige que cada um assuma as suas responsabilidades. Não tenho, pois, alternativa senão assumir plenamente as responsabilidades que me cabem. (…) Os riscos e desafios dos próximos tempos são enormes. Exigem a coesão do Governo. É minha firme convicção de que a minha saída contribuirá para reforçar a sua liderança e a coesão da equipa governativa” – assim, o supra-sumo, o infalível, o eficaz “capataz da troika”, acabaria por morrer na praia, escancarando “portas” que poriam a nu fragilidades e incompetências, levando-nos à descrença nas crenças de muitos dos frágeis pilares daqueles que pretendendo ter a razão, quando normalmente dela são desprovidos, mais não são do que “cangalheiros” das democracias. Depois da “apalhaçada” (com as devidas desculpas para os verdadeiros palhaços, porque nos fazem rir pela positiva) demissão de Paulo Portas, o “panem et circenses” continua: “Apresentei a demissão […] que é irrevogável. Ficar no Governo seria um acto de dissimulação”. Até este acto final, faltar-nos-ia saber desde quando esta dissimulação reinaria no seio do Governo. E não foi preciso esperar muito tempo para que o “irrevogável” mudasse para “revogável” e a dissimulação continuasse: Paulo Portas passa a vice-primeiro-ministro, coordena áreas económicas e reforma do Estado e “rouba” às Finanças as renegociações do memorando da troika… Dizem-nos ser tudo pelo interesse do país. Que país e que povo?
          Resta-nos agora o baque da desactivada “bomba atómica” do acomodado – pacifista, demasiado silencioso para o nosso gosto – inquilino de Belém, qual vida ascética repensando, tal como em Platão, “palavras excelentes e admiráveis. É pensando nisto que considero a posse das riquezas como infinitamente valiosa, não para todo o homem, mas para o sensato e prudente: não enganar, nem mentir, mesmo de modo involuntário, nada dever…” (A República, 331b). Tal como diria a gente do Vale, mente passada à pena pelo nosso amigo e extraordinário contista Domingos da Calçada: Quijés portestar; Ah, grande caráfio! T’arrenego, ‘stafermo! Súme-te, arelho dos diabos!

Friday, July 05, 2013

Domingos Amaral e o romanceado “retrato da mãe de Hitler”!

“Este romance apresenta uma série de pormenores curiosos sobre a sociedade portuguesa da época, retratando o modo de vida no nosso país nos tempos de Salazar, onde as liberdades eram muito limitadas. (…) É, portanto, um bom retrato de uma época, bem cimentado numa profunda investigação por parte de Domingos Amaral, que soube passar para o papel, bem misturado com a animada ficção que criou, as informações recolhidas em arquivos e documentos”

Rui Azeredo

Normalmente não costumámos comentar livros que adquirimos, mas há circunstâncias em que essa regra é quebrada pelo “antídoto” do prazer oposto ao de Jack Gil por Luisinha (duas personagens em “o retrato da mãe de Hitler), dado que jamais poderemos suspender as nossas intenções, “com um sorriso que revela a minha vontade e ao mesmo tempo a minha pena”, porque votadas a um prazer diferente, que não nos obrigue a “esperar para depois do casamento”. A paixão pela leitura requer de nós um afago permanente. Daí, o termos esquecido os “cobres” circunstancialmente despendidos, ou surripiados ao nosso magro salário de “rapaz da cal”, sistematicamente “taxado” a preceito pelos corruptores deste país, para glosarmos o trama das paixões ou do amor que nos deixa sempre em alarme: Alarma-nos quando começa, ou quando não é correspondido; alarma-nos enquanto dura, e mesmo que seja correspondido; alarma-nos quando acaba e nos dói; e continua a alarmar-nos mesmo que tenham passado mil anos desde o dia em que terminou. Sempre gostamos de romances históricos, daqueles que exigem do escritor(a) uma permanente pesquisa aturada de informações recolhidas em arquivos e documentos.


Conhecíamos Domingos Amaral e a sua escrita através do seu blogue – onde escreve diariamente – (o diário de Domingos Amaral), do qual somos um dos seus inveterados seguidores, mas nunca tínhamos lido qualquer um dos seus oito romances. Aproveitando a sua vinda a Viana do Castelo, marcada pela iniciativa da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo «À conversa com…» – iniciativa que visa promover, em torno do livro, o diálogo e a troca de conhecimentos com escritores contemporâneos, proporcionando a oportunidade de conviver de perto com os autores e a sua obra. Pretende-se que seja um espaço de incentivo à leitura, de divulgação das obras dos autores da actualidade, de promoção da cultura e do conhecimento, e, sobretudo, de interacção entre o público leitor e os escritores –, atrevemo-nos a adquirir este seu último romance, na expectativa de o sentirmos e “roubar (-lhe) as frases”. Como bloguista que somos (muxicongo.blogspot.pt), não resistimos em partilhar a opinião de Rui Azeredo (portalivros.wordpress.com) – por dela comungarmos – a propósito deste último romance de Domingos Amaral: “A II Guerra Mundial já não estará tão presente no imaginário dos jovens de hoje em dia como o esteve num passado não muito distante. Mas, tal como aconteceu ao escritor Domingos Amaral, também no meu esteve presente; afinal, por volta dos meus dez anos, ainda só tinham passado cerca de trinta anos desde o final do conflito e agora já lá vão quase setenta anos. Por isso, esta é uma temática que continua a agradar-me, pelo que, depois da agradável surpresa que já se revelara Enquanto Salazar Dormia, foi um prazer regressar, com O Retrato da Mãe de Hitler (uma edição Casa das Letras), a este mundo, na vertente da espionagem, ainda para mais centrado em Lisboa, que por norma fica fora do roteiro da literatura relativa a este período tão importante e cativante da história. É que se em termos bélicos a guerra não passou pelo nosso país, já em termos de informação, segredos e espionagem, Portugal, e principalmente Lisboa, foi palco de importantes movimentações”. Amiúdas vezes, nosso pai Manuel Rebôlo (1933-2010), antes de nos deixar órfãos, confidenciou-nos essa emocional constatação, que magnanimamente Domingos Amaral nos acaba por “retratar”. Mais não adiantaremos, por forma a não deixarmos de aguçar o apetite a possíveis novos leitores. 


Apraz-nos dizer que Domingos Amaral é filho de Diogo Freitas do Amaral – qual maravilhosa leitura da biografia de “D. Afonso Henriques”, publicada em 2002 – e da escritora Maria Roma (Maria José Salgado Sarmento de Matos) – leituras também espelhadas em “Sorri, Francisca” (1990); “Primadona” (1994); e “De uma vez por todas” (2001) –, nasceu em Lisboa, a 12 de Outubro de 1967. É pai de quatro filhos, três raparigas e um rapaz. Formado em Economia, pela Universidade Católica Portuguesa, onde é actualmente professor da cadeira de Economia do Desporto (Sports Economics), tem também um mestrado em Relações Económicas Internacionais pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Durante muitos anos foi jornalista, primeiro no jornal “O Independente”, onde trabalhou 11 anos; tendo depois sido director das revistas “Maxmen”, durante sete anos, e “GQ”, por quatro anos. Além disso colaborou como cronista em diversos jornais e revistas, como “Diário de Notícias”, “Diário Económico”, “Grande Reportagem”, “City”, “Grazia”, “Invista”, “Fortuna”, “Correio da Manhã” e “Record”. Colaborou também com a Rádio Comercial e com a estação televisiva SIC.
Para terminarmos, e como atrás referimos, Domingos Amaral já tem oito romances publicados, todos na “Casa das Letras” (Grupo Leya): Amor à primeira vista (1998); O fanático do sushi (2000); Os Cavaleiros de São João Baptista (2004); Enquanto Salazar dormia (2006), já editado no Brasil, Polónia e Itália, cuja crítica considera “o primeiro grande romance de grande qualidade de Domingos Amaral. Escrita fluída, lição bem estudada, amores, camas e romance datado”; Já ninguém morre de amor (2008), também referenciado pela crítica como “um exemplo de um romance bem estruturado. Há uma história, uma hierarquia de histórias, a sina da família de Salvador, as mulheres dele e dos seus antepassados, merecia um final diferente, mas todos ele é um livro que demonstra que o escritor para além de saber usar as palavras tem uma capacidade de estruturar uma história e a criação dos personagens”; Quando Lisboa tremeu (2010), também editado no Brasil; Verão Quente (2012); e, finalmente, O retrato da mãe de Hitler (2013), cujo trama começa “no mesmo dia em que Hitler morreu, 30 de Abril de 1945, um coronel das SS chamado Manfred apodera-se de um valioso tesouro nazi, roubando um cofre em Munique”. À parte dos oito romances, editou igualmente o livro de crónicas Cozido à Portuguesa, e um livro sobre economia do futebol, com o título, um pouco amargurado para nós e para ele, Porque é que o FC Porto é campeão e o Benfica só ganha Taças da Liga?
         Para nós, Domingos Amaral é um escritor com nota máxima, e será sempre um nome a reter no panorama literário das novas gerações, nomeadamente quando se fala da – por vezes, exagerada e banalmente em voga – “escrita criativa”!