Saturday, May 30, 2015

Hermenêutica como programa filosófico!...

«A hermenêutica não é só uma mera técnica auxiliar para o estudo da história da literatura e em geral das ciências do espírito: é o método igualmente afastado da arbitrariedade interpretativa romântica e da redução naturalista, que permite fundamentar a validez universal da interpretação histórica.»

José Ferrater Mora

Muito se fala do termo Hermenêutica, tomando por base a distinção criada por Dilthey entre «ciências da natureza» e «ciências do espírito», e entre «explicar» e «compreender», levando a que muitos chamem a si o sentido único de estabelecerem os factos, interpretando de seguida o sentido das intenções ou das acções, como é o caso das «ciências humanas», de que é exemplo a História. E isso não é assim tão linear.  
O termo Hermenêutica, tal como presentemente o conhecemos, foi cunhado nos tempos modernos. Aparece, pela primeira vez, como título de livro em J. K. Dannhauer. De facto, o iluminista e teólogo luterano Johann Konrad Dannhauer foi aquele que utilizou pela primeira vez a palavra hermenêutica (1654), devidamente documentada através do seu livro «Hermenêutica Sacra», entendida como uma técnica destinada ao comentário dos textos sagrados, procurando utilizar as hermenêuticas como ciência. Desde então, a Hermenêutica ramificou-se em filológica-teológica e jurídica.
Depois de algumas mudanças e flutuações, o termo foi adoptado no séc. XIX (romantismo), por Schleiermacher com o intuito puramente filosófico. Assim, o projecto de Friedrich Schleiermacher, cujo objectivo principal foi o de unir as hermenêuticas – sendo que a unificação das hermenêuticas não significaria a reorganização de regras, mas com o destacar a problemática filosófica que subjaz a todas as hermenêuticas –, disciplina que consideraria auxiliar a outros saberes, vai no sentido de tentar tornar a Hermenêutica numa disciplina filosófica autónoma, tendo em conta que – para aquele teólogo e filósofo alemão – a interpretação é um modo de ser do homem. Ou seja, um modelo capaz de dar conta do homem.


É notória a influência de Platão, Espinosa e Kant em Schleiermacher, cuja filosofia procurou explicar de um ponto de vista simultaneamente realista e idealista, pelo que a sua posição própria tem sido designada como ideal-realismo. Para Schleiermacher, a Hermenêutica não visava o saber teórico, mas sim o uso prático, isto é, a técnica da boa interpretação de um texto. Tratava-se da «Compreensão», que se haveria de tornar no conceito básico e/ou principal finalidade da Hermenêutica. Compreender espelhar-se-ia na apreensão do pensamento numa expressão, captando a intenção de alguém, linguisticamente. No fundo, há compreensão onde há expressão de pensamento. A compreensão acontece, independentemente de haver escrita ou fala. Até o escritor sagrado suscita compreensão. Schleiermacher definiria assim a Hermenêutica como a “reconstrução histórica e divinatória, objectiva e subjectiva, de um dado discurso”.
Falando agora da «Compreensão», podemos afirmá-la como inversão da retórica. Mas, dentro da compreensão, temos que ter em linha de conta quatro “postulados”: Mal-entendido – para um romântico a compreensão tem que contar com o mal-entendido. O mal-entendido é inevitável, dado que ao lermos um texto corremos o risco de enfrentarmos o mal-entendido; Discurso – mediação com vista à comunidade do pensamento. Uma língua comum a todos; Estilo – marca pessoal que o autor imprime numa língua que é comum. Ou seja, o tratamento que o autor dá à língua, imprimindo-lhe o seu estilo próprio; Reconstrução – A compreensão pretende reconstruir o pensamento do autor. Assim, compreender é reconstruir, compreender o autor melhor que ele mesmo. O autor criou inconscientemente, o leitor sabe sempre mais, quando munido da interpretação gramatical e da interpretação técnica ou psicológica. Na interpretação gramatical (Língua), o importante é captar o sentido do discurso em função da língua, com as suas regras, o seu vocabulário que aí estão antes do autor. Estudar o discurso assente em regras. É o próprio Schleiermacher que afirma que a linguagem é a única coisa que se pode colocar na Hermenêutica. Quanto à interpretação técnica ou psicológica (interior), esta vai ao encontro do pensamento e interioridade do autor. Olha para o discurso como produção de um pensamento (generalidade do autor).
Outro dos pontos abordados seria o dos métodos «Comparativo» e «Divinatório». Dentro das metodologias comparativas estabelece-se a relação entre o todo e a parte e nas divinatórias faz-se uma apreensão intuitiva de uma tese. Mas como a própria noção de interpretação não é una como a sua metódica é diferente e inspirada pelos mais díspares pressupostos e se encontra enredada nas mais antagónicas malhas do «Círculo Hermenêutico», é necessário instituir uma teoria global da interpretação, para se compreender o todo tem que se compreender a parte, e vice-versa. O saber do ser finito do homem não pode ser linear, mas circular ou espiral. Em suma, o «Círculo Hermenêutico» não é um círculo vicioso.
Por fim, ao abordarmos a Subtilitas Intelligendi, significa que Schleiermacher reduz o objectivo da Hermenêutica à finura da inteligibilidade, que o mesmo será dizer, deve-se conhecer aquilo que se interpreta. Ler e interpretar não é só conhecer o autor, mas também a forma de aplicar isso ao nosso «eu», aqui e agora, o outro modo de conhecer o homem. No fundo, uma boa «Chave Hermenêutica» pode impedir uma guerra.   
Perante o exposto apraz-nos registar a importância da Hermenêutica no campo filosófico. Se recuarmos à antiguidade, nomeadamente à Grécia Antiga, este termo exprimia a compreensão e a exposição de uma sentença dos “deuses”, revestidas pela necessidade de um interpretação para ser apreendida correctamente. Nos séculos XVII e XVIII, assistimos ao uso do termo no sentido de uma interpretação correcta e objectiva das Sagradas Escrituras, até que, no séc. XIX, Friedrich Schleiermacher se propôs em unir as hermenêuticas, e através dessa unificação tornar a Hermenêutica numa disciplina filosófica autónoma, fazendo da interpretação um modo de ser do homem.
Surgindo como proposta do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer, a «Hermenêutica Filosófica» acaba por vincular a existência à necessária e constante interpretação, cujo fenómeno da compreensão – ao ter um alcance universal – se afirma como um fenómeno existencial básico. Daí, a extraordinária importância da Hermenêutica no contexto da existência humana.
          Pena é que alguns assim não o entendam!

Friday, May 22, 2015

Manuel Curado responsável pela edição crítica da Epopeia «As Viríadas» de Isaac Samuda!...

«Estava a começar o século XVIII quando um jovem médico português embarcou num navio inglês com destino a Londres. Os portos portugueses viam passar nessa altura muitos navios ingleses, devido à assinatura do Tratado de Methuen. O médico chamava-se Isaac de Sequeira Samuda e fugia do seu país, perseguido pela Inquisição…»

Manuel Curado

Já em nada nos surpreende esta intensa actividade intelectual do Professor Doutor Manuel Curado, figura ímpar dos meios académicos, da Filosofia e das Ciências Cognitivas. Investigador meticuloso, exigente, experiencia todo o seu exercício mental, permanente, quase sem descanso, tal como um dia escreveria Daniel Serrão, Professor Catedrático de Medicina, “com uma clareza por vezes quase desconcertante e com uma poderosa racionalidade lógica, Manuel Curado elabora um texto rigoroso e um intertexto subtil, dialogando, de igual para igual, com alguns monstros sagrados da Filosofia, da Antropologia e das Neurociências”. Felizmente, foi sempre essa a percepção que tivemos deste insigne MESTRE, tomando tal “comenda” por nos acharmos – talvez ambos – ao tempo aristotélico, sensível à criação da prosa científica, altura em que gravitavam uma grande amplitude de temas: lógica, filosofia, psicologia, ética, metafísica, sociologia, política, teoria literária, biologia e física. Daí, enquanto peripatético que somos o denominarmos de MESTRE, resguardados pela filosofia que, circunstancialmente, tem por objecto o Ser. Conhecer melhor o Professor Manuel Curado, tal como já o fizemos e continuamos a fazer (em revisitações permanentes), obrigar-nos-á à leitura da sua magnífica obra «Luz Misteriosa: a consciência no mundo físico» que, no dizer do Professor Catedrático de Inteligência Artificial, Luís Moniz Pereira, “é uma preciosa ajuda à missão exploratória da fronteira do conhecimento da luz interior, que é afinal tão indispensável às restantes”.


O Professor Manuel Curado, por se dedicar à Ética Biomédica, Filosofia da Mente, e à História das Ideias, da Psiquiatria e história da herança judaica portuguesa na Medicina e na Filosofia, não estranhamos que tomasse entre mãos a extraordinária obra épica de Isaac Samuda, As Viríadas. Segundo Maria Helena Rocha Pereira, trata-se de “uma epopeia portuguesa setecentista inédita, mas não ignorada, em décimas bem ritmadas, cujo autor, Isaac Samuda, é um dos judeus de talento que o fantasma da Inquisição chegou a aprisionar por um tempo e ameaçava persegui-lo de novo, pelo que teve que emigrar…”. Ainda segundo a mesma ilustre docente da Universidade de Coimbra, “estes e muitos outros dados, incluindo a multiplicidade dos interesses científicos de Samuda, são cuidadosamente analisados pelo autor desta edição, Manuel Curado, professor de Filosofia na Universidade do Minho – Braga. Assim, não deixa de pôr em relevo a presença dos ecos das epopeias clássicas, com a intervenção dos deuses, a paixão de Viriato por Ormia, que Tântalo, um dos guerreiros lusitanos, também pretende.” – citamos do prefácio.
 Assumindo a responsabilidade da edição crítica (p. 17-193), notas complementares (p. 497-642), Índice de assuntos seleccionados (p. 645-661) e onomástico (p. 663-677), o Professor Manuel Curado empresta a esta magnífica obra, numa edição esteticamente perfeita da Imprensa da Universidade de Coimbra, a síntese de uma laboriosa investigação sobre a história acidentada dos autores e do livro, “que nos revela, na origem da escrita, outro também choque cultural justificando a diáspora portuguesa, incluindo Isaac de Sequeira Samuda: a intolerância religiosa.” – citamos Anabela Rita, da Universidade de Lisboa, em nota de apresentação. Teremos de concordar com a autora da nota de apresentação, dado que devemos ao Professor Curado este precioso trabalho de edição que, “séculos depois, nos oferece uma epopeia perdida, limpando-lhe o pó, aclarando-lhe o verbo, perscrutando-lhe a história da escrita e dos autores, perseguindo-lhe o rasto… até a podermos colocar na estante, privilegiados por podermos contar, na nossa Literatura, com mais uma épica reflexão sobre a identidade colectiva…”. E muito mais se poderia dizer, se não fossemos condicionados pela elevadíssima veneração e/ou desmesurada amizade por este insigne filósofo, o que acabaria por criar nos leitores alguma sensação de subjectividade, parcialidade e falta de rigor de análise, o que não é o caso. Daí, tomarmos como emprestadas as palavras dos outros.
Falando agora da obra e do seu autor, teremos em dizer que Isaac Samuda morreu relativamente novo e sem descendência directa. Tal como escreve o Professor Curado, o amor de Isaac Samuda a Portugal nunca desapareceu: “Entre os seus papéis manuscritos estava um poema épico extraordinário em que, irmanando os antigos Lusitanos aos Portugueses, contava a história heróica da luta de um povo pela liberdade e contra a tirania. Muitas das descrições de paisagens que surgem no poema são claramente de terras portuguesas, com Évora e a planície alentejana. Esse poema épico tem o nome de Viríadas e não chegou a ser concluído por Samuda. O seu amigo que acompanhou muitos dos seus passos durante a vida, Castro Sarmento, resolveu terminar essa epopeia.” – esclarece o Professor Manuel Curado.


O poema é composto por 13 cantos com 1466 estâncias numeradas: Canto I: Samuda apresenta Viriato aos seus leitores através das suas acções; Canto II: As Viríadas começam com um momento de pausa a meio de uma guerra longa; Canto III: é composto na íntegra pela segunda parte do discurso de Viriato aos seus comandantes militares; Canto IV: Depois do discurso longo que dirigiu aos seus comandantes militares, Viriato passeia pelo campo e acaba por entrar num templo romano; Canto V: Em Macária (Chipre), Vénus vê passar Minerva a caminho da casa do Sono; Canto VI: Morfeu e os seus irmãos chegam à cidade de Afrodísea; Canto VII: Este Canto é especialmente eloquente sobre o aspecto paradoxal do conflito entre os povos; Canto VIII: Depois dos ritos religiosos, segue-se o banquete da vitória; Canto IX: Neste Canto continua o período do descanso dos guerreiros depois de uma batalha em que foram vitoriosos; Canto X: Continua a história dos amores de Tântalo e de Ormia depois da ameaça de Ate, a deusa da Discórdia; Canto XI: Regressando da floresta, Tântalo passa por uma fonte; Canto XII: Viriato avança para Sul a caminho da Andaluzia; Canto XIII: Continuando a sua campanha na Andaluzia, Viriato ataca os Sidónios que tinham entrepostos comerciais no Sul da península.
E mais não diremos, sem que antes transcrevamos a estância 17 do Canto V, Canto que se nos apresenta como a essência do tipo do Poema, tão presente, até no tempo presente: «Alerta! Alerta! Filhos, não durmamos! / Alerta! Alerta! Amigos, despertemos! / A defensa c’o tempo não percamos! / Quando um forte inimigo às portas temos, / O que devemos de fazer, façamos! / Em cuidar muito não nos descuidemos, / Que há grandes riscos na menor demora, / Perde-se um reino por perder-se uma hora.»         
        NOTA MÁXIMA!

Saturday, May 16, 2015

VI JORNADAS INTERNACIONAIS DE HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL (Coimbra, 11 e 12 de Maio de 2015)

Pelo terceiro ano consecutivo, participamos nas (VI) Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental. A importância destas jornadas traduz-se pela sua regularidade, por um lado, uma área de investigação devidamente institucionalizada no Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra-CEIS20 que deste a sua fundação e institucionalização, em 1988, abriu e manteve com dinamismo esta área de pesquisa que se tem traduzido em projectos de investigação, teses de doutoramento, organização de reuniões científicas, etc. Por outro lado traduz a existência de um conjunto de investigadores interessados nestas temáticas em Portugal e fora do nosso país e que têm neste evento um ponto de encontro para permuta da sua actividade de pesquisa.

Almoço no primeiro dia, pensando em Schopenhauer: «Ninguém é realmente digno de inveja». Pelo menos em Coimbra.

Os convites são formulados de uns anos para outros, face à importância e contributos dados nos anos anteriores, mas obedecem sempre a uma certa crivagem por parte da Comissão Científica da Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde – SHIS [Ana Leonor Pereira (Universidade de Coimbra, Portugal); António Carreras Panchón (Universidade de Salamanca, Espanha); João Rui Pita (Universidade de Coimbra, Portugal); Manuel Correia (Universidade de Coimbra, Portugal); Maria Gabriela Marinho (Universidade Federal do ABC; MH-FMUSP, Brasil); e Romero Bandeira (Universidade do Porto, Portugal)], em colaboração científica e institucional com o Grupo de História e Sociologia da Ciência e Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20. Por isso, as Jornadas traduzem a vitalidade desta jovem sociedade científica, que de parceria com o referido Grupo de História e Sociologia do CEIS20, têm levado a cabo estas importantes Jornadas. Este ano, a Comissão Organizadora foi presidida por Ana Leonor Pereira, sendo secretário científico João Rui Pita, coadjuvados por João Morgado Pereira, todos da Universidade de Coimbra.

O Psiquiatra David Simón Lorda e «El Dr. Joseph Durand de Gros y El Caso del Hombre Lobo Blanco Romasanta».

O Psiquiatra David Simón Lorda e a «Electroterapia em finais do século XIX e princípios do século XX». 

No primeiro dia tivemos as comunicações de Kamilla Dantas Matias, doutoranda em Altos Estudos Históricos e Mestre em História da Idade Média pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que nos falou das “Representações da Loucura em Merlin”; de Ana Catarina Pinheiro dos Santos Necho (Doutoranda/Investigadora), deambulando à volta do tema sobre “O Contributo da Psiquiatria Forense para o Entendimento/Jurisdição dos Alienados em Portugal no Séc. XIX; de Carolina Gregório Mendes Álvaro, Historiadora, sobre “Hospital Sobral Cid: A Génese de uma Obra de Assistência Psiquiátrica”; de Carina Bragança Rodrigues, Interna da Formação Específica de Psiquiatria na Unidade Local de Saúde do Nordeste, abordando o tema “Do Dispensário de Higiene Mental À ULS do Nordeste”, trabalho também elaborado de parceria com Mariana Noronha de Andrade, Interna da Formação Específica de Psiquiatria, e Virgílio Palma, Assistente Sénior de Psiquiatria, da mesma Unidade Local de Saúde; de N. Borja-Santos, Especialista em Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, Amadora, abordando “Os Irmãos D’Abranches Bizarro: Pioneiros da Estatística Psiquiátrica e Médica em Portugal”, um trabalho conjunto de M. Lages, S. Castro, S. Sequeira, M. Palma e A. Lérias; de Celia García Díaz, Psiquiatra, Universitary Hospital, Málaga, Spain, com o seguinte tema: “From The Ideal Woman To The Insane: Psychitry, Madness And Gender At The Begninning Of 20TH Century”; e de Karine Le Jeune, University of Nantes (Centre François Viète), France, abordando “A History Of Epilepsy In The Nineteenth And Twentieth Century: Definition And Development Of A Pathology Between Neurology And Psychiatrry”.
    
Professora Doutora Manuela Alvarez e a «Tendência secular das taxas de suicídio em Portugal».

Coimbra, Sé Velha, 11 de Maio de 2015, depois do primeiro dia das VI Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental, como peripatético que somos, sentimo-nos sempre reconfortados com a presença e as palavras do MESTRE (espaço e temporalidade aristotélica) Professor Doutor Manuel Curado. No saco vermelho, somos portadores da monumental obra «As Viríadas»: "...uma epopeia portuguesa setecentista inédita, mas não ignorada, em décimas bem ritmadas, cujo autor, Isaac Samuda, é um dos judeus de talento que o fantasma da Inquisição chegou a aprisionar por um tempo e ameaçava persegui-lo de novo, pelo que teve que emigrar...", com edição crítica (p. 17-193), notas complementares (p. 497-642), Índice de assuntos seleccionados (p. 645-661) e onomástico (p. 663-677) do Professor Manuel Curado, numa edição da Imprensa da Universidade de Coimbra. Exagerada a dedicatória: «Para o Sr. Porfírio Silva, amigo de coração de ouro, com a estima perene do Manuel Curado». Valeu Professor!

Sé Velha: nós e o Professor Doutor Manuel Curado e «As Viríadas» de Isaac Samuda.

Excelente jantar no "Guachão". Como seres pensantes, biologicamente, também temos que nos alimentar. 

Da esquerda para a direita: Professores Doutores Manuela Alvarez, João Morgado Pereira e Ana Leonor Pereira.

Professores Doutores João Rui Pita e Manuel Curado, e o Psiquiatra David Simón Lorda, do C. Hospitalario de Ourense.

No segundo dia, para além da nossa intervenção sobre “Camilo Castelo Branco (1825-1890): entre o génio-nevropata e a loucura do seu filho Jorge”, falaram ainda: Adrián Gramary, Médico Psiquiatra, sobre “Stefan Zweig e Joseph Roth: uma análise psiquiátrica da reacção dos intelectuais judeus ao Finis Austriae”; Pedro Macedo, Médico (Interno Complementar de Psiquiatria) do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar de Trás-Os-Montes e Alto Douro, expondo o trabalho realizado em parceria com Filipa Veríssimo, Médica (Assistente Hospitalar de Psiquiatria), com o sugestivo tema “Pintura e Esquizofrenia: Reflexões a partir da Obra de Hans Prinzhorn”; Manuel Curado, Professor Universitário da Universidade do Minho, com uma peculiar comunicação sobre “Médicos e Espíritas: a recepção do Espiritismo no Portugal Oitocentista”; Manuel Viegas Abreu, Professor Catedrático Aposentado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com “O Caso de Ângelo de Lima, Poeta de Rilhafoles ou Poeta d’Orpheu”, onde fez realçar a fragilidade científica da psiquiatria dos finais do século XIX e princípios do século XX. Com pena nossa, porque se impunha o regresso, condicionado pelo horário, na Rede Expressos, não podemos assistir às comunicações de Miguel Angel Miguélez Silva, Médico Psiquiatra, EOXI, Vigo, Espanha, num trabalho conjunto com Maia Piñeiro Fraga, Enfermeira Especialista en Salud Mental, Maria José Louzao Martinez e Tiburcio Angosto Saura, Médicos Psiquiatras, com dois interessantes temas: “A participação dos psiquiatras portugueses no I Congresso Mundial de 1950 em Paris” e dos psiquiatras espanhóis, no mesmo Congresso; e de Dolores Ruiz-Berdún, Profesora de Historia de la Ciencia, Universidad de Alcalá, Espanha, num trabalho de parceria com Ibone Olza Fernández, Psiquiatra, subordinada ao tema “La Violencia Obstétrica (Histórica y Actual) Y Sus Repercusiones En Las Mujeres Y Los Profesionales De La Atención Al Parto”.

Adrián Gramary, Psiquiatra, e «Stefan Zweig e Joseph Roth: uma análise psiquiátrica da reacção dos intelectuais judeus ao Finis Austriae»

Nós e o «Camilo Castelo Branco (1825-1890): Entre o Génio-Nevropata e a Loucura do seu filho Jorge».

Professor Manuel Curado e os «Médicos e Espíritas: A Recepção do Espiritismo no Portugal Oitocentista».

Professor Catedrático Manuel Viegas Abreu e «O Caso de Ângelo de Lima, Poeta de Rilhafoles ou d'Orpheu».

A premeio com as comunicações orais houve a apresentação de comunicações em poster, das quais destacamos as de David Simón Lorda (trabalho de grupo com Xaqueline Estévez Gil, Maria Victoria Rodríguez Noguera, Mónica Minoschka Moreira Martínez e Tatiana Bustos Cardona: «Electroterapia, “Nervios” Y Psiquiatría En Galicia (España) Finales Del Siglo XIX Y Primeros Años del XX» e «El Dr. Joseph Durand de Gros Y El Caso Del Hombre Lobo Blanco Romansanta (1853). Un “Braidista” En La Corte de Isabel II?»; e de Manuela Alvarez, Professora Assistente do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra, com o tema «Secular Trend of Suicide Rates In The population Of Mainland Portugal Between 1890 And 2011», num trabalho conjunto com os investigadores F. Resende, S. Freitas, A. Pinto, F. Florêncio e H. Nogueira. 
      
Coimbra tem mais encanto na hora da despedida.


      Acabados por chegar de Coimbra, extremamente cansados, mas intelectualmente enriquecidos. Intenso debate, motivação permanente, reconhecimento de quem nos quer bem. Muito abrigado pelo incentivo e pelas sugestões dadas, com a obrigatoriedade de para o ano lá voltarmos. Conhecimento é sofrimento, mas é, sem dúvida, uma terapia aconselhável ao vulcão do entusiasmo. Venham as VII Jornadas. Claro que Russel tem razão quando afirma que «os homens são como as palavras; se não se põem no seu lugar perdem o seu valor». Em Coimbra temos uma extraordinária cumplicidade na troca de palavras, e sabemos dar valor a cada um dos que connosco partilham o conhecimento. 
Há dias assim!

Friday, May 08, 2015

Jornadas Bartolomeanas publicadas em livro!...

«Um dos pontos altos no programa comemorativo dos 500 anos do nascimento do Beato Bartolomeu dos Mártires, na Diocese de Viana do Castelo, foram, sem dúvida, as Jornadas Bartolomeanas, cujas actas saem agora a público.»

Anacleto Oliveira
(Bispo de Viana do Castelo)

Como corolário das Jornadas Bartolomeanas, integradas nas Comemorações dos 500 Anos do Nascimento do Beato Bartolomeu dos Mártires, a Câmara Municipal de Viana do Castelo, com a coordenação de Rui A. Faria Viana e design de Rui de Carvalho, acaba de publicar as respectivas actas num bem elaborado livro, não muito “luxuoso”, mas esteticamente perfeito.
A sua apresentação pública esteve a cargo do seu coordenador, Rui A. Faria Viana, Chefe de Divisão da Biblioteca e Arquivo Municipais, onde fez uma pequena retrospectiva, por sinal bem elucidativa, aos conteúdos desta interessante obra, com duzentas e vinte e duas páginas, contendo um esclarecimento inicial do Coordenador (p.7), “Apresentação” do Presidente do Município vianense, José Maria Costa (p.9) e “Agradecimento” do Bispo da Diocese, D. Anacleto Oliveira (p. 11), seguindo-se seis magníficos trabalhos, que em muito fazem jus à qualidade científica dos seus autores e, circunstancialmente, vêm ajudar a melhor conhecermos esta figura mítico-carismática da Igreja do Século XVI:


FREI LUÍS DE GRANADA, MENTOR E BIÓGRAFO DE D. FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES – VIDA DO ARCEBISPO, de António Matos Reis. (p. 13-86), onde nos dá a conhecer o possível encontro e convívio de Frei Bartolomeu dos Mártires com Frei Luís de Granada, no Outono de 1552, altura em que Frei Bartolomeu dos Mártires, obedecendo às directrizes emanadas dos seus superiores hierárquicos, pôs-se a caminho de Évora, dado que procedia-se ao incremento e à reforma dos estudos a nível superior, no âmbito da política cultural incentivada no reinado de D. João III; desenvolve uma bem-aturada biografia do Frei Luís de Granada, estabelecendo pontes com as afinidades estabelecidas entre os dois; e faz a tradução do livro de Frei Luís de Granada, “Vida do Arcebispo”; A CONTROVÉRSIA SOBRE O PATRIOTISMO DE BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, de Artur Anselmo (p. 87-98), onde aborda um dos episódios mais controversos na vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, procurando, ao mesmo tempo, desmistificar a polémica sobre o patriotismo do Santo Arcebispo, aquando “os dias tumultuosos que precederam o estabelecimento da monarquia dual sob a égide do rei Filipe II de Espanha”; FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES DOUTOR E MESTRE EM SANTA TEOLOGIA, de Jorge Alves Barbosa (p. 99-132), como o próprio título sugere, o autor centra-se numa abordagem à formação teológica, aos escritos e ao magistério de Professor de Teologia da Ordem dominicana, de Frei Bartolomeu dos Mártires, uma faceta menos conhecida do Arcebispo Santo; ASPECTOS SÓCIO-RELIGIOSOS DAS VISITAÇÔES BARTOLOMEANAS PESSOAIS NO DISTRITO DE VIANA DO CASTELO (1559-1582), de Franquelim Neiva Soares (p. 133-178), trabalho meticuloso, que faz jus ao rigor científico do seu autor, onde são abordados seis itinerários visitacionais do Arcebispo Santo, actas visitacionais sobreviventes e conhecidas de paróquias de Viana do Castelo, programa pastoral e, por fim, análise das dezasseis visitações, bem documentada com diversas tabelas, onde aborda, também, a temática do Clero (secular e regular); ESTÍMULO DE PASTORES: A COMPREENSÃO DO MÚNUS EPISCOPAL, de David Sampaio Barbosa (p. 179-194), trabalho onde o autor faz uma análise à obra «STIMULUS PASTORUM» (Estímulo de Pastores), uma das muitas obras de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, e sobre a qual muitos estudos já se fizeram, numa abordagem ao texto, contextualizando-o ao tempo do Concílio de Trento, período histórico que a crítica está em crer que Frei Bartolomeu dos Mártires terá elaborado o mesmo; e, por fim, ANTÓNIO MACIEL: NOTÁVEL PINTOR – RETRATISTA VIANENSE DE D. FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES E ORDEM DE MALTA, de Manuel António Fernandes Moreira (p. 195-222), sendo que este creditado autor afirma que António Maciel constitui um retratista-pintor tão desconhecido nos nossos dias como famoso no seu tempo, e a sua vida e arte revelam singularidades únicas e surpreendentes, dizendo tratar-se de um pintor-mercador que viveu em Viana da Foz do Lima entre o final do séc. XVI e princípio da centúria seguinte. Aqui constituiu família, dedicou-se à mercancia do açúcar brasileiro, que enviava para o Norte da Europa, adquiriu em frente ao cais moradia rica e funcional e, ao mesmo tempo, retratou as principais figuras, nas quais se inclui Frei Bartolomeu dos Mártires, da burguesia local e da Ordem Militar de Malta.


Terminaremos com uma pequena nota, extraída do esclarecimento inicial de Rui A. Faria Viana, coordenador deste magnífico livro (adjectivação firmada na mais valia do mesmo), quando afirma que «a publicação destes trabalhos realizados no âmbito das Jornadas Bartolomeanas surge, sobretudo, como incentivo ao conhecimento de Frei Bartolomeu divulgando textos que, pela investigação e estudo da acção do insigne Prelado, nos permitem conhecer melhor o pensamento e a obra deste grande homem de fé que marcou de forma indelével as gentes de Viana do Castelo».
Estamos em crer que sim.
         NOTA MÁXIMA!

Saturday, May 02, 2015

VI Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental

As «VI JORNADAS INTERNACIONAIS DE HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL», nas quais estaremos presentes, numa organização da «Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde-SHIS», com o apoio e colaboração científica e institucional do «Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra-GHSCT-CEIS20» (coords. Profs Doutores João Rui Pita e Ana Leonor Pereira), irão decorrer, em Coimbra, nos dias 11 e 12 de Maio do corrente ano.

Aqui fica o programa completo!