Friday, October 30, 2015
Monday, October 19, 2015
O caciquismo e «Os Predadores» em Vítor Matos!...
«São predadores de si mesmos nas guerras
internas dos partidos. Os maiores engolem os mais pequenos nesta cadeia
alimentar que vai do topo até à base…»
Vítor Matos
Tendo em conta que
nunca fomos dados à moleza de nos deixarmos influenciar pelos “objectores de
consciência”, presença diária nas programações de “lixo não reciclável” da TV,
colocamos a nossa exigência de leitura, observação e reflexão, em algo que possua
alguma credibilidade científica e intelectual. Não temos por hábito de beber em
fontes de águas inquinadas, o que equivale dizer que retemperamos a mente com
palavras e letras desparasitadas.
Depois de terem ficado
para trás seis livros de leitura aturada, devidamente por nós anotada e
comentada – a saber: «Mudar» de Pedro Passos Coelho; «Portugal na hora da
verdade: como vencer a crise nacional» e «Reformar sem medo: um independente no
Governo de Portugal» de Álvaro Santos Pereira; «E agora? A crise do Euro – As Falsas
Reformas – O futuro de Portugal» de Pedro Adão e Silva; «Da corrupção à crise:
Que fazer?» e «Janela do Futuro» de Paulo Morais –, concentramos a nossa
atenção, desta vez, no livro «Os Predadores», do jornalista de política na
revista “Sábado”, Vítor Matos, onde procura dar-nos a conhecer, numa
investigação jornalística independente, tudo o que os políticos fazem para
conquistar o poder e como os grandes partidos põem em perigo a democracia em
Portugal.
Embora todas as
investigações possam ter alguma carga de subjectividade, o que nos obriga a
precavermo-nos de uma possível influência e/ou manipulação objectiva, não
descoramos a nossa imparcialidade de análise aos conteúdos, que ora se
apresentam neste livro, no dizer do autor, como “um impulso jornalístico de
revelar as lógicas de funcionamento dos dois grandes partidos de poder em
Portugal”, deixando de fora a pequena clonagem (PP) que deu forma e
consistência à desarticulada Coligação de direita, mas tão bem tratada no
último livro de Álvaro Santos Pereira, «Reformar Sem Medo»: Sei bem que uma das razões que motivou
muitos dos ataques de que fui alvo ao longo de dois anos de governação
prende-se certamente com a independência do Ministro e dos Secretários de
Estado. Os lóbis nunca tiveram a minha simpatia. Os aparelhistas partidários
também não. No meu Ministério os lóbis ficaram à porta. E os aparelhistas nunca
encontraram na nossa equipa quem lhes desse ouvidos (p. 223). Daí, a sua
demissão, para dar lugar a um dos aparelhistas, sem que ficasse à porta das
Portas: Saí de Berlim convencido de que
era muito provável que Paulo Portas reivindicasse para si o Ministério da
Economia, não só porque essa era uma ambição sua desde o primeiro dia, mas
também porque era preciso desviar as atenções sobre o dano que tinha sido
causado ao país… (p. 330). Mais palavras serão desnecessárias acrescentar,
para não entendermos a ausência de um dos predadores, nesta investigação
jornalística que se diz independente
Voltando à vaca-fria d’Os Predadores, sem que estejam à espera
que venhamos a esmiuçar todo o seu conteúdo, damos-lhe o aval de alguma
credibilidade da nossa parte, tendo em conta o nosso permanente alerta, em
anteriores crónicas, para as chapeladas, manipulações e outras vigarices que os
políticos fazem para conquistar o poder. De facto, tem razão o autor, quando
afirma que “não vale a pena procurar culpados, porque não há inocentes. Quem
faz política tem de jogar segundo as regras do jogo. E as regras são estas.
Quem não as aceitar sai fora, é expelido como um corpo estranho. Quem fica tem
de hipotecar alguma coisa pelo caminho”.
Já António José
d’Almeida, aquele que viria a ser Presidente da República, escrevera em 1910,
na revista Alma Nacional, que «o
caciquismo não é um acessório do regime. É o próprio regime. Ou pelo menos está
para o regime como o coração está para o organismo que bate: é o aparelho
distribuidor da energia e da acção». E este cardápio de requisitos (os votos
não têm dono, mas têm trela), sempre actual e eficaz, também se estende às
regiões e às autarquias.
Nas últimas eleições
legislativas deu para perceber – palavras com as quais corroboramos – que “a
luta política é uma espécie de guerra e se as eleições são batalhas entre
opostos, os lugares no Estado são os despojos a que o vencedor tem direito”. Se
é que houve vencedor nas últimas legislativas. A dicotómica divisão
(Esquerda/Direita), nomeadamente dos votos com trela, fez-nos reler a velha
alegoria d’A MONTANHA PARIU UM RATO. Entretanto, o regime do caciquismo vai oxigenando
a falta de ar dos predadores. Até quando? Não se sabe.
A procissão ainda vai no adro!
Saturday, October 17, 2015
LANÇAMENTO DO LIVRO «BALIZA TRÁGICA DE UM NAUFRÁGIO»
No princípio, criamos os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; E o nosso espírito se movia sobre a face das águas. E dissemos: Haja luz. E houve luz. E vimos que era boa a luz; e fizemos separação entre a luz e as trevas. E chamamos à luz Dia; e às trevas chamamos Noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro. (Desconstrução genesíaca da nossa expansão sobre as águas e o naufrágio...). E começa a fazer-se luz!
No dia 30 de Outubro, esperamos por vós.
Estão todos convidados!
Friday, October 09, 2015
Exposição de escultura e fotografia “in memoriam” de José Dantas!...
«Durante anos atravessou a vida com as
esculturas às costas, num saco de vagabundo ou de poeta, mostrando-as em
qualquer parte onde houvesse alguém para ver, nos sítios que eram seus…»
Vítor Silva Barros
Apesar de não termos
conhecido pessoalmente o artista limiano José Manuel Dantas de Melo (1 de Julho
de 1948 – 13 de Fevereiro de 1975), vulgo Zé Micamé, dado o seu prematuro
passamento, sempre ouvimos da boca daqueles que lhe eram mais próximos que “a
sua compleição física, aliada a um temperamento rebelde, faziam dele um líder
que todos aceitavam”. E, para além disso, tinha a elevada particularidade de,
ainda que autodidacta, ser Artista.
Dado o facto de não o
termos conhecido pessoalmente, e por forma a interiorizarmos o dicotómico “objecto
ético-estético”, servimo-nos de um pequeno apontamento que,
circunstancialmente, abrilhanta o pequeno prospecto (catálogo) da magnífica
exposição que tem estado patente na Torre da Cadeia Velha, Ponte de Lima, de 4
de Setembro até 2 de Outubro: …Gostava
dos pequenos, dos mais desprotegidos, das crianças, dos mendigos e até dos
animais. / Não tinha medo de nada. Tratava o rio, as ruas e praças por tu, enfrentava
a “Vaca Cordas” como se o touro fosse um bezerro. / Crescemos a admirar esse
misto de generosidade e destemor. A liberdade que sempre sonhou tinha expressão
na permanente inquietação. Lugares fechados e rigores de mestres não o faziam
feliz. / O caminho que escolheu iluminou os melhores anos da sua curta
existência. A arte e a liberdade chegaram quase ao mesmo tempo. / Na escultura
pôde expressar o que lhe ia na alma e por lá encontrou formas de comunicar até
aí impossíveis. Depois veio a fotografia. / Retratou tudo o que gostava e mais
o que necessitava para sobreviver. Deixou a marca do seu enorme talento nos
retratos que fazia. As crianças, os desfavorecidos da sorte e os animais voltam
a preencher a sua vida. O que guardava da infância e dos primeiros anos da
adolescência vem povoar a sua expressão artística. / Não viveu muito tempo. A
vida mede-se, mas o talento não tem limites e é aqui que reencontramos o nosso
amigo e todos voltamos a partilhar as inquietudes e os anseios de uma geração
que o Zé personificou à perfeição… – descrição precisa e objectiva,
facilitou em muito o nosso percurso estético-emocional, pela magnífica
exposição.
Sem que tenhamos a
soberba presunção de nos alvorarmos em “objectores de consciência” ou “críticos
de arte”, tomamos a liberdade – assente no princípio de que o juízo estético e
a produção artística andam de mão dada – de apreciarmos a Arte do Zé Micamé,
com a consciência plena de que para se apreciar uma obra de arte não precisamos
de trazer connosco seja o que for da vida, qualquer conhecimento das suas
ideias e assuntos, qualquer familiaridade com as suas emoções. A criatividade
do artista precisa sempre de público e, como um dia escreveria H. Gadamer, para
o público, a arte criativa oferece «a experiência que melhor cumpre o ideal de
um deleite “livre” e desinteressado». Foi desta forma livre e desinteressada
que nos achamos no “direito” de percorrer “o elemento figurativo” em Zé Micamé,
levando como único conhecimento relevante, e exigível, que o observador precisa
de ter: sentido da forma, da cor e do espaço tridimensional.
Tomando como nossas as
palavras de L. Tolstoi, quando afirma, escrevendo, que “os artistas são pessoas
inspiradas por uma experiência de profunda emoção e usam a sua aptidão com
palavras, ou desenho, ou música, ou mármore, ou movimento, para dar corpo a
essa emoção numa obra de arte. A marca do sucesso nesse esforço é o estímulo da
mesma emoção no seu público”. Se lhe subtrairmos o mármore e lhe acrescentarmos
a madeira, o transbordar espontâneo de um poderoso sentimento emocional, esteve
bem patente naquela magnífica exposição “in memoriam” de Zé Micamé. Tudo
magnífico!
Não queríamos terminar
esta nossa modesta opinião sem referirmos o extraordinário e irrepreensível
trabalho de investigação, levado a cabo ao longo de mais de dois anos a esta
parte, pela Dra. Catarina Lima, que de uma forma altruísta (só as pessoas bem
formadas ética e intelectualmente, são portadoras desta humildade e princípio
moral), procurou rodear-se dos apoios necessários, por forma a lhe dar um cunho
institucional. Daí, o timbre da Associação «Comunidade Artística Limiana» como
pano de fundo de um querer e sensibilidade pessoal: A Associação Cultural CAL agradece a todas as pessoas e entidades que
possibilitaram esta homenagem ao artista, através da cedência de peças,
fotografias, instalações, material de apoio, testemunhos e outros suportes que
beneficiaram a exposição. Ainda um especial agradecimento à família e amigos do
artista pelo apoio na realização do evento.
Sábado, 26 de Setembro
de 2015, espaço-convívio deambulando por terras de António Feijó e Cardeal
Saraiva, na companhia de Amândio Sousa Vieira, um dos mais ilustres limianistas
que mais admiramos e respeitamos, viajando até ao âmago de Zé Micamé, o
primeiro a usar calças de ganga quando os outros usavam de terylene, cuja obra
revela, de facto, “uma elevada qualidade de alguém muito atento à realidade e
às desigualdades sociais do seu tempo”. Enalteça-se quem assim viveu e deu
testemunho do seu SER. Tal como nos confidenciara Amândio Sousa Vieira,
afirmação com a qual corroboramos, esta exposição foi “um momento alto de
cultura que muito dignifica Ponte de Lima”. Algo do melhor que se fez nesta
área, nos últimos anos em Ponte de Lima, diremos nós.
NOTA MÁXIMA!
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