Manhã de 19
de Setembro de 2015 (Sábado), vivenciamos um dos momentos culturais mais
gratificantes, nomeadamente daqueles que exigem de nós o hábito da gratidão,
enquanto disposição do ente, que nada nos poderia impedir de estarmos presentes.
Impunha-se a construção evolutiva da nossa existência, à qual se une a essência
do Ser, com a acrescida responsabilidade de fazermos o Elogio de circunstância
pelo Reconhecimento Público de Mérito Cultural e Social ao Pe. Dr. Artur
Coutinho, pela Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de
Mazarefes. E dissemos: Quando nos pediram para falarmos do Pe. Artur Coutinho,
nesta data memorável em que a nossa e sua Terra Natal, através da Associação
Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes, resolveram
homenageá-lo como Cidadão de Mérito Cultural e Social, aliviamos a nossa apreensibilidade
(apenas pela demora), reconhecendo de imediato que mais vale tarde do que
nunca.
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Artur Rodrigues Coutinho (Homenageado), Ana Margarida Silva (Câmara Municipal de Viana, Pelouro de Acção Social) e Francisco Barros (Presidente da Assembleia da União das Freguesias de Mazarefes e Vila Fria) |
E para
facilitarmos a nossa tarefa, recorremos a um texto que escrevemos há dez anos,
numa coluna que mantivemos durante cinquenta e três semanas, no velhinho «A
Aurora do Lima», onde manifestávamos a extrema dificuldade em falar do Pe.
Artur Coutinho, sem nos deixarmos levar pelo profundo sentimento de proximidade
física – porque ambos nascemos nesta ancestral freguesia de S. Simão da
Junqueira de Mazarefes – e pelos laços de consanguinidade que “partilha” com a
nossa alma gémea. Se outras razões não subsistissem, o respeito e a admiração
que por ele nutrimos era mais que suficiente para plasmarmos esta meia dúzia de
palavras.
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Manuel Dias Viana Barreto (Presidente da Direcção da ASCDCPM), usando da palavra na abertura da Sessão Solene. |
A sua acção
em prol da comunidade extravasa o mundo das “futilidades”, a que muita “boa
gente” se agarra, por inerência da falta de humanismo ou má formação moral. O
Pe. Artur Coutinho não vive de futilidades, porque é humanista e Igreja, num
sentimento universalista, à dimensão da “humanidade” civilizada e solidária. A
trivial indiferença de uns tantos (ou quase todos) faz-nos prostrar, em
reverência à sua dimensão espiritual. Mas, quem é este cidadão de mérito vianense
(1998), que, em 1997, comemorou as suas Bodas de Prata Sacerdotais?
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Público atento e solidário com o homenageado. |
Artur
Rodrigues Coutinho, filho legítimo de Manuel Ribeiro Coutinho e de Deolinda
Rodrigues de Araújo Amorim, nasceu na freguesia de Mazarefes, Viana do Castelo,
em 7 de Janeiro de 1947. Feita a instrução primária na sua (e nossa) terra
natal, rumou aos Seminários de Braga onde cursou Humanidades, Filosofia e
Teologia, terminando os estudos eclesiásticos em Outubro de 1971. Esses estudos
foram mais tarde complementados, em ordem à habilitação para a docência, com
exames de Introdução aos Estudos Históricos, de Literatura Portuguesa V e VI,
na Universidade do Porto e de Linguística Portuguesa I, na Universidade de
Coimbra, tendo também frequentado o Curso de História da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. No sector da preparação académica e actualização
científica e pedagógica, participou em dezenas de cursos, seminários,
simpósios, conferências, jornadas, e congressos.
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Até que chegou a nossa vez de fazer o Elogio de circunstância ao Pe. Artur Rodrigues Coutinho. |
Terminado o
Curso Teológico estagiou durante alguns meses, como cooperador da paróquia de
Balazar, Póvoa de Varzim, e, logo a seguir, nomeado director interino da Casa
dos Rapazes, em Viana do Castelo, após o que foi ordenado sacerdote, em
cerimónia realizada na igreja paroquial da Apúlia, em 9 de Julho de 1972. Foi
com o maior orgulho e satisfação que assistimos à sua «Missa Nova», cerimónia
realizada na Capela de Nossa Senhora das Boas Novas (Mazarefes), em 13 de
Agosto de 1972.
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Artur Rodrigues Coutinho agradecendo a homenagem que lhe acabavam de prestar. |
Paroquiou de
9 de Setembro de 1972 a Agosto de 1978, as três freguesias de Argas (Arga de
Baixo, Arga de Cima, Arga de S. João) e Dem, tendo publicado em 1980 o
“Cancioneiro da Serra d’Arga”, uma obra de maior importância que reflecte a
cultura e a ancestralidade de um povo (Literatura, Folclore, História,
Toponímia, Etnografia, Humorismo, numa recolha de Quadras Populares). Esgotada
a 1.ª edição, em Janeiro de 1982, é publicada uma 2.ª edição. Ali impulsionou a
restauração das igrejas das três paróquias das Argas, onde também conduziu a
reparação das capelas de Nossa Senhora da Rocha, de S. João, de Santo Antão,
todas também nas Argas, e da capela de Nossa Senhora das Neves, em Dem.
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Diana Correia, jovem estudante de Filosofia e fadista de circunstância, medalhada pela vereadora Ana Margarida. |
Em 2 de
Setembro de 1978, é-lhe confiada por D. Júlio Tavares Rebimbas, Bispo da
Diocese de Viana do Castelo, a paróquia citadina de Nossa Senhora de Fátima, em
regime experimental, que só em 1985 seria canonicamente constituída, e onde se
mantém. Ocupando toda a faixa oriental da cidade, principal zona de expansão da
mesma, ali convivem diferentes modos de vida, de cariz urbano e rural, de
mistura com uma população deslocada e desenraizada, que vem ocupar os novos
bairros habitacionais, em permanente surgimento. Foi esta realidade que o Padre
Coutinho veio encontrar, e para a qual, com a dedicação que lhe é conhecida e
reconhecida, se empenhou, desde o início, em procurar respostas adequadas.
Escreveu um dia o nosso particular amigo Euclides Rios: «É digna de registo
a profícua actividade apostólica, desenvolvida na modernização da catequese, na
atenção dedicada aos movimentos de formação juvenil, na organização de diversas
acções de formação cristã para adultos, na modernização e adequação das
cerimónias litúrgicas, nos cuidados dispensados aos doentes e idosos e na
construção e melhoria das estruturas físicas para desenvolvimento de todas
estas actividades.
Mas a
marca mais característica e identificadora da acção do P.e Artur Coutinho é o
seu trabalho de solidariedade social que, sendo uma prova edificante do seu
fervor evangélico, é, sobretudo, a demonstração de um carácter profundamente
humanista, de um coração generoso e de uma grande abertura de espírito que o
leva a fazer o bem sem olhar a quem».
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Estávamos longe de imaginar que também seríamos contemplados com uma medalha de reconhecimento. |
Mais palavras seriam desnecessárias, se
não tivéssemos que acrescentar a este seu modo de SER, nasceram numerosas obras
de beneficência e assistência social que conferiram à sua paróquia, e até à
cidade, a verdadeira dimensão solidária que toda a comunidade cristã deveria
ter. Um novo projecto, à dimensão do seu coração, tem-lhe tirado horas de sono,
e nem as debilidades genéticas o fazem desistir de estar ao serviço dos outros,
incondicionalmente.
Em 1986,
publicou «A Cidade de Viana, no Presente e no Passado», editado pela Paróquia
de Nossa Senhora de Fátima. Tem coordenado outros trabalhos editados pela
Paróquia como Devocionários e o Organigrama Paroquial, desenvolvido e explicado
por ocasião dos 25 Anos da fundação da Paróquia. Em 1996, publicou o livro
«Mosaicos da Serra d’Arga» que, praticamente se encontra esgotado. Em 1998 fez
a 2.ª edição (revista e aumentada) do livro «A Cidade de Viana, no Presente e
no Passado». Em 1999, com Natália Castelejo, publicou «Rugas... testemunho da
geração, do saber, do amar...» para comemorar os 20 anos do Centro de Dia da
Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Em 2000 é dada à estampa a 3.ª edição
do «Cancioneiro da Serra d’Arga»; «Famílias com Rosto» em três volumes,
publicados em 2005, 2008 e 2011; «Costumes e Tradições Populares», em 2012,
entre outras obras que seria fastidioso aqui referir.
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Outras medalhas seriam atribuídas a gente de trabalho e acção efectiva. |
Por fim, não
queríamos terminar, sem deixar de referir o seu livro «Abrindo Portas», numa
edição esteticamente bem conseguida do Centro de Estudos Regionais (CER), por
se tratar de um trabalho (premeditadamente) sequencial da sua assoberbada
paixão pela etnografia, etnologia e antropologia social ou cultural. Embora
saibamos das ligeiras diferenças de conteúdo, de objecto, do método e de
orientações, estaremos em dizer que, como um dia aventaria Claude Rivière,
essas diferenças assentam muitas vezes e/ou apenas nas próprias tradições. Se a
etnografia corresponde a um trabalho descritivo de observação e de escrita; a
etnologia, “ao elaborar os materiais fornecidos pela etnografia, visa, após
análise e interpretação, construir modelos e estudar as suas propriedades
formais a um nível de síntese teórica, tornando possível pela análise
comparativa”; a antropologia acaba por se apresentar ainda mais generalizadora
do que a etnologia. Tudo isto para concluirmos que as ligeiras diferenças de
conteúdo se sintetizam numa única disciplina, o que nos leva à plena convicção
(afirmativa) de que este trabalho do Pe. Artur Coutinho é por assim dizer um
abrir de portas – e fazendo nossas as palavras de Fabíola Silva, no prefácio –
“aos curiosos e dá as ferramentas básicas para que todos possam partir para a
descoberta da porta, desde objecto tão banal, mas que na realidade é tão
essencial no nosso quotidiano”.
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Artur Rodrigues Coutinho ladeado pela vereadora Ana Margarida Silva. Terminava assim o Reconhecimento Público de Cidadão de Mérito Cultural e Social, pela Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes. |
A
sintetização a que aludimos (ou constatamos) neste «Abrindo Portas», está bem
patente na minuciosidade descritiva empregue pelo autor, através de pormenores
particulares (profusamente ilustrados) – e que por vivermos numa globalidade
exasperada, os ignoramos ou desconhecemos – contidos no universal de uma porta:
ferrolhos, batentes, aldravas, puxadores, fechaduras, chaves, dobradiças,
trancas, protectores de cantarias, raspadeiras do calçado (vulgo “limpa-pés”),
visores, gateiras, caixas de correio e argolas para prisão de cavalos. Artur
Coutinho é um antropólogo cultural e social atento, levando-nos a olhar as
portas de uma forma diferente.
Neste
magnífico trabalho, Artur Coutinho fala-nos ainda d’A CASA: ESPAÇO E
FRONTEIRA (Capítulo I), sendo que esta, segundo o autor, “representa o
nosso espaço, onde nos sentimos a nós próprios com consciência ou sem ela, com
tranquilidade, com serenidade, com segurança e a presença dos nossos que nos
são muito queridos”; d’A PORTA NA BÍBLIA (Capítulo II), apresentando-se
a mesma como um local singular e anunciador de algo que se passa dentro, qual
alegoria ao facto de que “uma porta é sempre uma porta para o bem ou para o
mal” ou – citando o próprio autor – “o acto de abrir a porta deve ser um acto
de escuta, de proximidade, de intimidade, mas muitas vezes, distraídos com as
coisas do mundo a fechamos para ela não se abrir com facilidade às coisas de
Deus”…
E esta nossa
interpretação, quiçá assente numa hermenêutica tautológica, ainda que o faça
inadvertidamente, revestindo-a de alguma subjectividade da nossa parte (sim, as
nossas interpretações são sempre subjectivas aos olhos dos outros), define a
dimensão humanista e intelectual do Pe. Artur Coutinho.
Agora sim, e
para terminarmos, diremos que o Pe. Artur Coutinho é membro da Associação de
Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho (AJHLAM); sócio fundador do Centro
de Estudos Regionais (CER) de Viana do Castelo; foi director do Mensário
“Serra e Vale”; e, presentemente, é director / fundador do jornal “Paróquia
Nova”. Desde os seus tempos do Seminário que tem participado em trabalhos de
pesquisa – com destaque para a futura “Monografia de Mazarefes” – e colaborado
em algumas revistas.
E por aqui
ficamos, porque nos falta arte e engenho para falarmos da verdadeira dimensão
humana deste ilustre filho de S. Simão da Junqueira de Mazarefes!