Thursday, April 12, 2018

Imperativos da Memória (III)

As margens da palavra!…

«As escritas quotidianas são, actualmente, fontes primárias de especial relevo para investigações transdisciplinares (História, Linguística, Antropologia, Sociologia, Psicologia, entre outras). Dos acervos pessoais e familiares gerados nos últimos séculos os investigadores têm à sua disposição uma parte do que foi, na verdade, produzido pelos agentes da História»

Maria Olinda Rodrigues Santana
Henrique Rodrigues


A PALAVRA sempre foi para nós um escudo, acção de defesa e, tal como um dia lemos no «Tratado da Ciência Cabala ou Notícia da Arte Cabalística», especulação natural da virtude das letras, mesmo contra aqueles que a utilizam como “arma de arremesso”, envolta na intriga, dissimulação e alcoviteirice em proveito próprio. Aí constamos que da eficácia e virtude das letras (caracteres que formam a palavra) resultam, muitas vezes, “vários e notáveis efeitos naturalmente; porque, como vemos e lemos, por elas se denota já honra, já vitupério, escravidão, liberdade, e causas semelhantes, e daqui procede a observação de algumas nações políticas”, que punham na face o S ao escravo, e nas costas o L ao ladrão… Honestidade pela PALAVRA deixou de ter o cunho de uma formalidade a cumprir, nomeadamente quando os que nos antecederam, acabaram por nos educar no culto do respeito de uns pelos outros, através da palavra dada sem ser, obrigatoriamente, exarada a tinta ferrosa. Daí, um dia, Manuel Rivas (Barrós), escritor, poeta, ensaísta e jornalista galego, ter afirmado que “a exaltação tem mais palavras que a calma”.   
Hoje e agora, AS MARGENS DA PALAVRA, o mote que Maria Olinda Rodrigues Santana e Henrique Rodrigues, no papel de coordenadores, encontraram para produzir uma extraordinária obra, aguarelada por palavras expressas em cartas, vozes e silêncios femininos, numa edição da Associação Portuguesa da História do Vinho e da Vinha (APHVIN/GEHVID), ser motivo para nós de exaltação intelectual e científica dos coordenadores (simultaneamente autores do prefácio) e dos que os acompanharam neste desvelar (revisitado) de escritas gravadas por gentes anónimas de várias classes sociais, escritas essas que “têm chamado a atenção dos historiadores, dos linguistas, dos etnógrafos, dos antropólogos e doutros investigadores”, uma vez que estas fontes primárias permitem aos mesmos lançar olhares sobre espólios documentais muitas vezes condenados ao desaparecimento.


Trata-se de um caso único e especial, resultante de um óptimo trabalho, complementado pelos tratados científicos dos seus autores, especialistas de várias áreas, a quem prestamos aqui o nosso reconhecimento e gratidão: Ana Sílvia Albuquerque – Da vida e obra da mãe: reconstrução de um itinerário existencial e educativo; António Barros Cardoso e Sílvia Trilho – A angústia da distância encurtada pela escrita; Chris Gerry e Filomena Morais – De Florbela a Judith, de Judith a Florbela: uma correspondência imaginada, 1924-1925; Ernesto Português – Escritas silenciosas no Colégio de Regeneração nos finais do séc. XIX; Henrique Rodrigues – Silêncios e tempos de escrita da emigração de oitocentos e Escritas e silêncios de “Madrinhas de Guerra”: abordagem à correspondência feminina para um militar da Guerra Colonial; José Ignacio Monteagudo Robledo – Poder silencioso e submissão feminina em uma correspondência hispana-argentina; Maria Beatriz Rocha-Trindade e Amílcar Baião Pinto – Apontamentos: uma Viagem a África - 1897-1898; Maria Izilda Matos – Saudades: Epistolário de e/imigrantes portugueses escritos e sensibilidades (Portugal-Brasil 1890/1930); Maria Olinda Rodrigues Santana e Assis Gaspar Machado Monteiro – Nas encruzilhadas da vida: memórias contadas, silêncios guardados…; Maria Olinda Rodrigues Santana – Escritas e representações de sabores no feminismo; Mila Simões de Abreu – O misterioso alfabeto do Alvão e a origem da escrita em Trás-os-Montes: como uma ideia falsa se espalha através das redes sociais; Pedro Javier Cruz Sánchez – Creencias sobre la pared, epistemologia y problemática del emblema de la cruz en el âmbito urbano tradicional; Salvador Magalhães Mota – As Cartas Pastorais como instrumento de comunicação e propaganda privilegiada de conservadores e de reformistas na Congregação dos Bernardos na segunda metade do século XVIII. Alguns contributos.
         Aqui fica um excelente trabalho que, por certo, nos motivará à reflexão, debate e divulgação da História social e cultural do tempo da comunicação à distância através do escrito. NOTA MÁXIMA!... (com apenas um senão: os 200 exemplares publicados).


[Imperativos da Memória (III) - As margens da palavra!... A Aurora do Lima (Viana do Castelo), Ano 163, Número 13, Quinta-Feira, 12 de Abril de 2018]

Wednesday, March 28, 2018

Imperativos da Memória (II)

Recorrendo ao silêncio!…

«Há duas coisas que é absolutamente necessário compreender: a natureza do espaço e a natureza do silêncio. Interessa sumamente descobrir o que significa "espaço". Não queremos referir-nos à distância entre a Terra e a Lua, porém ao espaço psicológico, o espaço interior. A mente em que não há espaço é uma mente estreita, insignificante, vulgar; está presa numa armadilha, e os movimentos que faz dentro dessa armadilha chama "viver". Mas, para se descobrir o que é esse espaço interior, é necessário observar o espaço exterior»

Krishnamurti


Há momentos em que necessitamos de recorrer ao silêncio, refugiando-nos na leitura e releitura das grandes referências que nos têm acompanhado ao longo da vida e são companhia permanente das nossas estantes, onde as obras nunca são adquiridas às suas medidas. É no silêncio, quase clandestino, que por vezes preenchemos tardes a “discutir” antagonismos, interactividades, destruição de mistificações, ausência de mensagens inequívocas, principais instrumentos de informação, falsos passadismos, consequências de mudança, servir ou obedecer ao jogo, sempre com a noção de que antes de qualquer acção existe a lealdade à nossa convicção.
É no silêncio, porque a esse exercício somos muitas vezes obrigados, que amamos a terra que nos pariu. Contudo, sentimos um enorme vazio e tentamos descortinar as concepções da razão, constituinte e constituída. Isto quando procuramos a capacidade de ascender ao mundo das ideias, quer como essências, quer como valores. Passamos a abominar o cliché de «O homem é um animal racional», porque admitido como a diferença específica.


Daí gravitarmos mais na “formulação madura” da “razão suficiente” leibniziana, tendo em conta que a mesma enuncia que nada é sem que haja uma razão para que seja ou sem que haja uma razão que explique que seja. Sentimos um vazio, mas, mesmo assim, amamos a nossa Terra Natal. Pena é que, circunstancialmente, a “orgânica” esteja à mercê dos “usurpadores”, crentes na “sabedoria superior”, dilacerante da natureza da substância, neste caso concreto, o modo do conhecimento da substância e essência da razão.
Foi para quebrar um pouco do silêncio (quiçá, a “monotonia do silêncio”) que resolvemos anuir ao convite do Raul Pereira, para assistirmos ao lançamento do seu livro «Dentro de um Cesto de Rosas (Vila Franca: Celebração e Notas)», uma sentida experiência científica, por se dar conta de iniciativas similares da Direcção Geral do Património Cultural, de salvaguarda do património imaterial português, pensando de imediato na terra onde cresceu e no seu mais alto valor cultural: a Festa das Rosas.
Há dias em que, impreterivelmente, necessitamos do silêncio, e dele nos afastarmos, como espaço dentro de nós, criado pelo observador, pelo censor: o espaço em que ele vive. Mas, de vez em quando, faz falta um banho de multidões. E o Raul Pereira teve-o, merecidamente: «Quanto a mim, Raul Alexandre da Rocha Pereira, fiz o que achei que me competia: retribuí, com aquilo que pude e sei, o que agora me parece um mero alfinete no cesto de rosas que constitui tudo o quanto de Vila Franca recebi enquanto cresci
Silêncio, humildade e acção… VERBUM PRO VERBO!

[Imperativos da Memória (II) - Recorrendo ao silêncio!... A Aurora do Lima (Viana do Castelo), Ano 163, Número 11, 29 de Março de 2018.]

Sunday, March 11, 2018

Imperativos da Memória (I)

Escravos da palavra!…

«Vivemos num tempo em que borboletas voam em bibliotecas; os livros ficam às moscas nos casulos das instituições. Quando o livro perde o seu carácter mágico e passa a ser apenas um aglomerado de folhas e palavras, o mundo perde a dimensão do possível e se afoga na impossibilidade do real...»

André Anacoreta


130.º Aniversário (1888-2018) da fundação da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo (16 de Fevereiro) e do nascimento do antropólogo, médico, professor catedrático e autarca António Augusto Esteves Mendes Correia (4 de Abril), acabou por impelir-nos à evocação memorialista, como forma de não desculparmos o insucesso de uma sociedade materialista e a indiferença ao aprumo e autodestruição da nossa identidade cultural. Infelizmente, o sentimento (construtivo) de beleza e inovação das gerações da “Belle Époque” deu lugar à desumanização do ser humano.



Momentos inesquecíveis (que pensamos não serem os últimos), prazerosamente vividos no segundo dia da 19.ª edição (encontro) de «Correntes d'Escritas 2018», lugar, espaço físico e mística, onde acabamos por ficar escravos da palavra. "Acorrentados" aos motes "Escrever é um acaso de circunstância" e "Escrevo para dizer aquilo que não sei", gravitamos pelo contraditório entre o escrever pela circunstância (propriamente dita) e a circunstância do acaso, condimentadas pelo lado emotivo e pela reflexão, conjunto de factores que podem influenciar quem hoje escreve: o contexto da descontinuidade em que vivemos e a fragmentação de diferentes níveis que daí resulta; escrever remetendo-nos para a ideia de "Memória", biológica até, onde a criatividade está na base de qualquer escrita; aprendendo uma fonética que não era de nossa mãe (que nasceu, cresceu, sofreu e morreu sem saber uma única palavra), cujo conhecimento era por via oral, atendendo ao facto que qualquer coisa que um autor escreva é fruto de uma biografia de milhares e milhares de anos; o "mar das tormentas" como ponte para nos deixarmos levar, seguindo até aquilo que está do lado de lá; o saber o que escrevemos, sem termos a verdadeira percepção se, de facto, o chegamos a saber; o lado desarrumado, esquecido, leitor de outras escritas, usando da palavra para compor silêncios, mesmo na biblioteca desarrumada que ficará arrumada depois do homem/escritor morto. Emprestaram-nos as palavras (complexo lexical em que devíamos, de contínuo, ter usado aspas): Alberto S. Santos, Hugo Mezena, Isabel Rio Novo, Carlos Quiroga (moderador), Abraão Vicente, Miguel Real, João Paulo Cotrim, Bento Balói, Filipa Martins, Celso Muianga (moderador), Ana Margarida de Carvalho e Kalaf Epacanga.


      Tudo isto na semana de CORRENTES D'ESCRITAS, lá, e CONTORNOS DA PALAVRA, cá. Lá e cá o mesmo sentimento: A palavra dita, escrita, desenhada, sonhada, assume contornos novos, veste novas roupagens e despe-se de sentidos cristalizados.
        Centro e trinta anos depois, há dias, momentos e memórias assim!


[Imperativos da Memória (I) – Escravos da palavra!... A Aurora do Lima (Viana do Castelo), Ano 163, Número 08, 01 de Março de 2018.]

Saturday, February 03, 2018

VASCO SILVA E BRACARA AUGUSTA



Tudo começou por uma experiência, onde havia necessidade de lhe incutirmos a expressão imaginativa da emoção, aquela que Collingwood, sem dissimulações, ao falar de arte, afirmaria de forma bem específica – “não uma irrupção ou manifestação involuntária da emoção, nem um despertar deliberado da emoção, mas antes a clarificação de um sentimento inicialmente vago que através da sua expressão se torna claro.” Da experiência, emocionalmente marcada pelas deambulações na infância (com apenas quatro translações), acompanhando-nos por montes e encruzilhadas pedregosas do chão e paredes do nosso Alto Minho, vibrando com os negativos e as revelações dos nossos inocentes e/ou modestos “objectivo-disparos”, cresceu como observador desfrutando apropriadamente da sua experiência táctil, sensivelmente directa, ganhando consciência do processo de criação artística, isolando a natureza dessa emoção particular para a pessoa que dela tem experiência e que a expressa: “Uma pessoa que expressa algo ganha assim consciência do que está a expressar, e permite aos outros ganharem consciência da emoção que há em si e neles.” (Collingwood)
Hoje, o nosso filho Vasco da Cunha e Silva, deambula, vive e gravita por terras bracarenses, permitindo-se à conjugação artística entre a natureza e a humanidade. Para ele essa complementaridade é a única forma de clarificar e individualizar as suas próprias emoções. Quanto a nós, sentimo-nos extremamente orgulhosos. NOBLESSE OBLIGE!  

Wednesday, September 06, 2017

MOVIMENTO DE ARTES E OFÍCIOS EM VIANA DO CASTELO



Ao falarmos do Movimento de Artes e Ofícios (MAOS), teremos que forçosamente recuar ao tempo em que uma jovem, de seu nome completo Catarina de Sampaio e Silva, licenciada em Design do Produto pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, desde que se lembra, sempre teve paixão pelas artes do saber fazer. A sua inclinação para o artesanato do contexto têxtil surge-lhe da proximidade de familiares que tinham conhecimentos na área: Avó materna, através do bordado regional de Viana do Castelo e a avó paterna, exímia artífice no tear, sempre que a agricultura proporcionava umas pausas.

A bordar um "Cachené" -- Catarina Silva.

O desenvolvimento de produtos e marca própria, começou por algumas parcerias e desenvolvimento da “Marca Mimalho” com uma amiga, Filipa Pereira, nos tempos do ensino superior. Por paixão ao regional decide abdicar desta marca e acabou por criar a Viaarte, tendo sido, em 2009, a primeira marca a estar presente na Feira de Artesanato da Romaria de Nossa Senhora da Agonia, com produtos exclusivamente feitos com o tecido dos ditos lenços de Viana. Segundo a Catarina, pela abundância de produtos com estas características e por querer dar um passo maior, num produto realmente identitário da nossa região, não pelo que as pessoas identificam à primeira vista, mas pela História e Memória que poderá transportar, criou a Cachené’s, marca que ainda hoje está activa.

CATARINA SILVA

O surgimento da MAOS, vem no seguimento de participação em eventos relacionados com o artesanato, nomeadamente Feiras, por ter trabalho em contexto profissional e amador em organização de eventos no âmbito do artesanato e do tradicional, a quando um período da vida em que a necessidade de uma fonte de rendimento extra era essencial, criou, em Abril de 2013, a FAM (Feira de Artesanato Mensal). Felizmente que esse invento começou a ganhar corpo, participantes fixos, tal como visitantes fixos, decorrendo ainda hoje, com as mesmas iniciais, mas com a denominação de Feira de Artesanato e Manualidades.

FAM -- Feira de Artesanato e Manualidades, Porta Mexia Galvão.

Esta experiência serviu para perceber a necessidade de existir um órgão associativo que representasse de alguma forma os artesãos e curiosos dos nossos concelhos e, quiçá, de outros que se quisessem juntar.
Em Setembro de 2013, Catarina Silva decidiu, juntamente com seu companheiro, Raul Cruz, e arrastando alguns amigos, nomeadamente Cristina Faria, Juliana Lourenço e Joel Maltez, criar a MAOS – Movimento de Artes e Ofícios, Associação Promotora. Iniciaram actividade em Janeiro de 2014, não tendo parado de lá para cá.

FAM -- Feira de Artesanato e Manualidades, Porta Mexia Galvão.

Actualmente a Associação é composta aproximadamente por 60 sócios, sendo a maioria do concelho de Viana do Castelo. Há a realçar o facto curioso de que, desde o início, alguns foram os autores de outros concelhos a se juntarem a este projecto associativo, que já tem no seu palmarés uma participação na Feira Internacional de Artesanato (FIA), 2014, 2015, 2016 e com previsão para 2017 (FIL); e na Natalis – Feira de Natal de Lisboa, 2014 e 2015 (FIL).

FAM -- Feira de Artesanato e Manualidades, Santa Luzia.

Muitos têm sido os eventos organizados pela MAOS, dos quais destacamos: Mercado à Mão Natal – uma semana de Mercado na Praça da República, 2014, 2015, 2016, estando previsto continuar em 2017; Mercado à Mão Fumeiro e Doce – Sexta, sábado e domingo antes da Páscoa, integrado na Páscoa Doce, na Praça da Liberdade, 2015, 2016 e 2017; FAM – Feira de Artesanato e Manualidades – que decorre todos os meses ao segundo fim-de-semana. Contudo, poderá decorrer noutros períodos, como por exemplo em Festas e Romarias, ou em parceria com outras organizações.

Mercado à Mão Fumeiro e Doce.

Apostado na máxima de Albert Einstein – Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos – o Movimento de Artes e Ofícios (MAOS), tem trabalho em parceria com a Feira de Artesanato e Manualidades da Romania da Sra. d’Agonia, 2014, 2015, 2016 e 2017.

FIA -- Feira Internacional de Artesanato e Manualidades.

Ainda segundo Catarina Silva, quando ela e o seu grupo procuravam o nome para a Associação, fizeram-no com o sentido de algo que transmitisse uma relação directa com o objectivo de todos, mas ao mesmo tempo que não fosse mais uma “Associação”. Para Catarina, Artes e Ofícios é o que representam e procuram, Mãos as suas ferramentas e dos autores, inspiração imediata, pensamento activo, que os levaria a fazer um “trocadilho”, movimento das mãos em artes e ofícios. E diz-nos Catarina com alguma graciosidade: Somos MAOS, não querendo ser maus, nem sendo mãos, mas sem dúvida que ficamos no ouvido e na memória de quem connosco se cruza.

FAM -- Feira de Artesanato e Manualidades, Especial Páscoa.

No que toca ao futuro, mas sem esquecer o presente, actualmente estão em fase de tentar que lhes seja disponibilizado um espaço para sede da Associação, sendo seu objectivo a recuperação do edifício da antiga escola primária de Mazarefes, transformando esta em sede e “escola” de Artes e Ofícios. Para 29, 30 Setembro e 1 de Outubro, vai decorrer no Centro Cultural de Viana do Castelo o primeiro Mercado à Mão Artes e Ofícios, um evento onde pretendem que as artes e ofícios do nosso concelho sejam apresentados e relembrados, pois temos muita riqueza que desconhecemos e não devemos nem podemos deixar desaparecer. Este mercado será expositivo e formativo, pois haverá um seminário/conferência com painéis bastante interessantes, do mundo das artes e ofícios, apoios, programas dedicados a este contexto.
Uma iniciativa a louvar e a ser seguida em www.amaos.pt.
         Preservar as Artes e Ofícios é cuidar da nossa identidade.

(SILVA, Porfírio Pereira da - In, «A Falar de Viana», Volume IV, Série 2, p.193-195)

Tuesday, August 29, 2017

DEAMBULANDO POR AÍ... (1)

Branda de Bosgalinhas (PNPG) Gavieira, Arcos de Valdevez.

Deambulando por aí, inspirando-nos nas memórias ancestrais, continuando a ampliar a voz e soletrando palavras pelas serranias do Alto Minho que tanto amamos, sentindo «o poder dessa ancestralidade da Serra com as suas fragas e os seus córregos sinuosos, qual água cristalina mataria a sede dos deuses. É penosa e assustadora a caminhada por serpenteada e vertiginosa ladeira...» (In, SILVA, Porfírio Pereira da – Ermida. Lisboa: Garrido Editores, 2003, p. 114). Apesar de assustadora, a caminhada encerra-se numa paradisíaca beleza (interior), própria do panteão dos deuses... 
Há pequenos momentos assim!

Tuesday, June 20, 2017

«Poesia e outras coisas» em Mário Filipe Neves!...



«Mário Neves, leva-nos através de pensamentos em prosa, de palavras poéticas lindamente ordenadas, ao sonho, ao amor... à beleza de estar vivo e sentir a conjugação de todos os elementos que nos espreitam»

Silvestre Fonseca

Há cerca de dois meses que não dávamos sinal de vida activa, no que toca à premeditada, porque necessária, inspiração de “ao correr da pena e da mente” falarmos daquilo que desperta o nosso interesse, sem nos vincularmos aos interesses dos outros, o que desde já nos penitenciamos por essa falta de respeito para com os nossos leitores que nos respeitam e consideram, acendendo, à boa maneira chinesa, uma vela, em vez de amaldiçoarem a escuridão.
Embora sejamos apologistas de que a biografia de alguém (artista, autor, poeta) está ou se reflecte na sua obra, não queríamos deixar de referir apenas umas pequenas notas, sem adularmos o escritor/poeta antes de conhecermos a sua obra. O factor identitário impõe-se pela circunstância de neste caso Mário Filipe Neves se nos apresentar como santo fora da casa, do qual esperamos um “milagre”, sem práticas rituais ou “purificações pelo delírio”. Daí, atrevermo-nos perante a sua presença física, dizermos que Mário Filipe Santos Neves, filho mais velho dos três que sua mãe deu à luz, nasceu em Lisboa, a 29 de Dezembro de 1958; frequentou o curso de Engenharia Civil, até ao 3.º Ano, no Instituto Superior Técnico de Lisboa; no início de 1980 emigrou para Toronto, Canadá, onde viveu uma experiência no mundo do trabalho e da emigração; regressou a Portugal, no final do mesmo ano, saudoso de seus amigos e familiares, tendo iniciado um percurso pelo mundo da música e das canções, como cantautor, durante cerca de quatro anos; começou a trabalhar na empresa CTT – Correios de Portugal, SA, em 1981, onde permanece até hoje, já com 36 anos de serviço. Actualmente, e nos últimos 22 anos, desempenha as funções de Auditor interno na mesma empresa.


Nos tempos livres dedica-se à escrita (poesia, prosa, pensamentos e outras coisas que vão surgindo no tempo e na memória) e à divulgação da mesma. Co-autor, desde 2015, em diversas colectâneas de prosa e poesia, vê agora, com a publicação deste livro «Poesia e outras coisas», a sua primeira obra pessoal editada.
Posto isto, e ainda que voltemos a entrar no contraditório, tendo em conta que entendemos que poesia não deve ser explicada mas sentida, permitimo-nos a ultrapassar essa condicionante deontológica, para justificar a nossa “obrigação e desobediência ética” de estarmos, aqui e hoje, a apresentarmos a «Poesia e outras coisas» em Mário Filipe Neves.
Foi fácil para nós aceitarmos o desafio de apresentarmos o seu livro, naquele dia 18 de Março de 2012, porque nos identificamos com o seu discorrer do pensamento, aprofundado na descrição e “manuseamento” do fenómeno do conhecimento. Ao contrário de alguns poetas, Mário Neves não se deixa enredar pela tentação do jogo das “palavras soltas”, porque se fixa no conhecimento, enquanto relação do sujeito e do objecto, neste caso concreto, o poeta e a palavra dita e escrita.
Sem querermos recalcar os velhos clichés de que “não é poeta quem quer” ou “o poeta nasce e depois faz-se”, permitimo-nos, ainda que a nossa opinião seja sempre subjectiva, em afirmar que estamos perante um verdadeiro poeta. Em Mário Neves, as palavras soltas assentam na promessa de as mesmas o animarem através dos desenhos que os lábios o fazem escutar.
Mário Neves, enquanto SER pensante, reformula-se e encontra-se com a ajuda da ideia da «consciência em geral», pondo em prática as ideias inatas através da consciência concreta e individual. Daí não estranharmos o facto de ele ter receio de não ter medo daquilo que não percebe. A sua missão não é resolver o problema do conhecimento mas sim conduzir-nos à presença do problema.
Mário Neves tem consciência de que só é possível vivermos mantendo uma relação com o outro lado de nós: os outros, e como diria Goethe, a luta consigo próprio, o insaciável desejo de mais pureza, sabedoria, bondade e amor. O tempo e a história, os passos e as emoções, tocam profundamente o poeta. Há uma necessidade de aconchego, de saudade, de depuração.
A nossa empatia imediata pela poética e pensamento de Mário Neves, advém da natureza do EU, na sua essência e plano psicológico, análogo à que existe entre os acidentes e a substância, e à boa maneira kantiana, pela medida em que se nos colocam os problemas derivados da passagem da razão teórica à razão prática. O plano metafísico também tem lugar no EU de Mário Neves, porque é capaz de conter a consciência empírica como forma particular dele mesmo.
Concordamos com as palavras tomadas por Silvestre Fonseca (músico e escritor, circunstancial prefaciador deste brado poético) a Mário Neves – …Quem sabe um dia, emerges, te levantas e te ergues caminhando pelas margens nesta direcção de mim?...para depreender que estas palavras que nos prendem, integram o “Destino submerso” e mostram o perfil do autor, desafiante, sensível, amante das ideias e dos ideais e sobretudo… igual a si mesmo, como sempre foi… um bom amigo de refinado sentido de humor e… um grande Homem! – citamos. Mário Neves prende-nos por aquilo que temos de comum: a esperança de renascer, forma activa de aprender com os outros, imaginar o vácuo e, sobretudo, a cosmovisão, enquanto concepção do mundo que nos é dada de uma vez na sua totalidade, inalterável ao grito do poeta.
Antes de terminarmos, não queríamos deixar de referir que os hipotéticos leitores deste maravilhoso brado poético de Mário Neves encontrarão espaços e tempos de liberdade, vontades de descobrir a verdade, sonhos (sendo que alguns tropeçam no vazio e se afundam), destinos, silêncios e omissões, castelos de areia, aguarelas e janelas que se abrem vendo o tempo passar, promessas e palavras renovadas, beijos e afectos, melodias poéticas onde se sentem braços em contratempo, princesas a quem se dá boa noite
Para terminarmos, gravitando pelo universo, a natureza e concepções cosmológicas de Nicolau de Cusa, encontramos em Mário Neves o princípio da relacionalidade plena do universo (com a qual comungamos), unificando, nessa relacionalidade, a pluralidade de tudo o que existe, quer no que se refere à reciprocidade que se estabelece entre as coisas existentes, quer no que se refere à relação entre o conjunto dos entes finitos e o seu princípio fundante, terminando na noção clara da “douta ignorância”, como saber do não saber.
É isto que nos apraz dizer sobre o livro e o autor!       
         NOTA MÁXIMA!