Friday, February 05, 2016

Nós e os outros e o cordão umbilical da amizade!...

«Há três espécies de amigos que são úteis e três espécies que são prejudiciais. Os amigos rectos e verdadeiros, os amigos fiéis e virtuosos, os amigos que nos iluminam pela sua inteligência, são os amigos úteis. Os amigos que demonstram uma gravidade toda exterior e sem rectidão, os amigos pródigos em elogios e vulgares lisonjas, os amigos que apenas são loquazes sem inteligência, são os amigos prejudiciais…»

Confúcio

Hoje resolvemos aziumar este nosso “agrupar” de palavras, face a algumas desilusões sofridas na procura da rectidão na natureza do homem, tendo em conta que alguns procuram ignorar a verdade confuciana de que se esta rectidão do natural se perde durante a vida, toda a felicidade se afasta de si.
Há uns dias para cá, aliado à desilusão temos percepcionado, sentindo, alguma frustração, levando a que tenhamos que ser rígidos connosco, mas condescendentes com os outros, por forma, como diria Confúcio, a ver-nos livres de toda a inveja e ressentimento. É isso que temos procurado fazer: Controlar os nossos actos, não agindo com precipitação ou ressentimentos, de forma a evitar grandes fracassos e/ou desvio do caminho recto – se é que alguma vez ele possa existir –, a bondade suprema como a água. Sim, como a água. Como diria Lao Tse, «a água é benéfica a todas as coisas, mas não entra em competição. Fica no sítio que outros desprezam» – citamos.
Faz sentido toda esta retórica quando vivemos o favor e a desgraça revestidos pelo medo e pela traição? Ninguém se deverá escandalizar com estas aziumadas (porque prometidas) palavras, em jeito de pergunta, porque, se através do sentimento tornamos o nosso coração profundo, mantendo-se em bem com os outros, não é menos verdade que é através das palavras que mantemos a confiança nos outros. Olhos nos olhos, sem verniz ou madeixas, purificando a escuridão, aclarando o confuso, para que ele se clarifique. Faz sentido a nossa frustração? Nova pergunta de resposta difícil, mas que para nós se tornará fácil, principalmente quando nos pautamos pelo princípio de Lao Tse, quando afirma que «sem sair fora da porta pode-se conhecer todo o mundo. Sem se olhar pela janela pode-se ver o Tau do céu. Quando mais se viaja, menos se conhece.» – citamos. Especulação, retórica e devaneios? Talvez!


Há uns dias para cá que sentimos alguma frustração, porque, se calhar, em vez de procurarmos o grande caminho plano e fácil, temo-nos deixado enredar pelos atalhos traçados e percorridos pelos outros, dissimulando filosofias de antanho (e de novo a tentação das alegorias, por “defeito de formação”), que propunham a reflexão antagónica dos palácios reais serem muito bem conservados, mas os campos deixados cobertos de ervas daninhas e os celeiros vazios. A fragilidade da nossa relação de uns com os outros, usando vestes bordadas, mas trazendo à cintura espadas afiadas. Um corte umbilical com o princípio confuciano que nos dirige em conformidade das nossas acções com a natureza racional: «regra de conduta moral (ou) recta via». Tomados, conscientemente, pela filosofia oriental, somos daqueles que sempre acreditamos que as palavras sinceras não são elegantes; as palavras elegantes, mormente, não são sinceras.
Começamos a ficar cansados das dissimulações que nos levam à frustração, porque lhes assinalamos alguns aspectos irracionais, algo que é alheio à razão.     
A amizade construída em alicerces pouco consistentes, normalmente leva ao desmoronamento, o corte umbilical com os princípios supremos daquilo que existe, por exemplo, em Aristóteles: «unidade do entendimento». Talvez encontremos o antídoto para essa nossa, ainda que momentânea, frustração, num dos seguidores de Aristóteles, Averoes, que exprimiu o sentimento, do qual comungamos, de que a doutrina da unidade do intelecto acentua a racionalidade e a espiritualidade da alma humana, mas em detrimento da sua individualidade.
Obrigado a todos os que se deslocaram a Braga, para assistirem, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, à cerimónia de lançamento do nosso livro «Baliza trágica de um naufrágio», um olhar sobre o Mar, uma reflexão universal para o futuro, através de conjunturas passadas e presentes, desmistificando sensibilidades, idealismos, transformações sociais e culturais. Brilhantemente apresentado pelo Professor Manuel Curado, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho.
         Bem-haja à amizade e à unidade do entendimento!

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