Monday, April 18, 2016

A Arte em Fernando Hilário com «Desenhos para Pessoa»!...

«A ideia teve o seu começo involuntário. O Poeta tem razão: “Todo o começo é involuntário”. Depois, desceu sobre a ideia alguma luz e descobriu-se-lhe alguma forma…»

Fernando Hilário

Quando anuímos ao convite do Professor Doutor Fernando Hilário, para estarmos no dia 9 de Abril do corrente ano, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, com o sentido de darmos o nosso modesto contributo emocional, perante esta maravilhosa matéria-prima que resultou neste não menos maravilhoso produto acabado «DESENHOS PARA PESSOA», teremos de confessar que tememos um pouco pela nossa “integridade intelectual”, já que aliada à circunstância de padronizarmos a arte pelo gosto (emergente da natureza dos seres humanos), sempre pensamos, por defeito de formação – os filósofos não são os únicos a desenvolver teorias de arte –, que o valor da arte está necessariamente ligado ao prazer estético ou à satisfação; estamos, também, perante uma das grandes referências da Literatura e da Arte, em Portugal. Sim, de uma forma sintetizada, Fernando Hilário licenciou-se em Letras e doutorou-se em Teoria da Literatura e Literatura Comparada; foi professor do ensino secundário e do ensino superior privado e público; trabalhou na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto e com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto na área da formação pedagógica de professores; é membro investigador do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; co-fundador do Centro de línguas e literaturas da Universidade Fernando Pessoa, Ponte de Lima; tem obra publicada nas áreas do Modernismo português, das Artes plásticas e da Literatura angolana; actualmente, desenvolve trabalho de investigação na área da Poesia de expressão significante.


E poderíamos ficar por aqui. Mas não! Onde ficava a ideia do belo e do juízo estético, situado por Kant entre o logicamente necessário (teoremas matemáticos) e o puramente subjectivo (expressões de gosto pessoal)?...
Assim sendo, e tendo em conta que a subjectividade resulta da aparência de um juízo cognitivo, porque exprime um sentimento de aprovação pessoal, depressa nos atrevemos a saltar essa temerosa barreira do jogar à defesa, intelectualmente falando, por noção clara de que a beleza precisa de ser apreciada subjectivamente. Hans-Georg Gadamer (1900-2002), filósofo alemão considerado como um dos expoentes máximos da hermenêutica filosófica (interpretação de textos escritos, formas verbais e não verbais), uma das nossas redes neste “trapézio” da Arte, apesar de ter defendido que a abordagem à arte através da “experiência do gosto estético é relativamente externa e… algo redutora”, escreveu, também, a dado momento, que «Uma obra de arte… exige ser construída pelo espectador ao qual é apresentada. Não é… algo que possamos simplesmente usar para um fim particular, nem uma coisa material da qual possamos fabricar alguma outra coisa. Pelo contrário, é qualquer coisa que apenas se manifesta e se exige quando é reconstruída pelo espectador» – citamos. Ainda, segundo Gadamer, é por isso que o juízo estético e a produção artística andam de mão dada, sendo que a criatividade do artista precisa de público e, para o público (condição nossa, naquele momento e agora), a arte criativa oferece «a experiência que melhor cumpre o ideal de um deleite “livre” e desinteressado» – voltamos a citar Gadamer. Luís Filipe Castro Mendes, diplomata e poeta (ora nomeado Ministro da Cultura), que conhecemos nas Correntes d’Escritas deste ano, por exemplo, referiu-se a Fernando Pessoa como um dos grandes desafiadores da modernidade. Segundo Castro Mendes, o poeta é aquele que mais inspira do que é inspirado e o seu ganho está nos leitores, sinal acrescido dessa sensação de ganho, quando tem alguém que o leia. Aí, a perda é como uma irreversibilidade melancólica. 


Com «DESENHOS PARA PESSOA» de Fernando Hilário, estamos perante a expressão da emoção e a ideia de a Arte ser uma fonte de entendimento, quando o artesão sabe o que quer fazer antes de o fazer, passando aos outros – nomeadamente aos espectadores –, no dizer de Tolstoi, «intencionalmente e por meio de certos sinais externos, sentimentos que ele viveu e de os outros serem infectados por estes sentimentos e também os experimentarem»; e perante um livro com várias vertentes artísticas, que conjugadas no plural deixa de ser “simplesmente arte”, para ser, no dizer e na acção de Fernando Hilário, um «Baú da Arte-Toda», um legado ao Mundo de Fernando António Nogueira Pessoa, no plano literário, poético, estético e filosófico. No fundo, a actividade artística, inspiradamente experienciada por uma profunda emoção, usando a aptidão com palavras e desenhos, numa rigorosa expressão estética e emoção geradora, cujo sucesso desse esforço, acaba por resultar no estímulo da mesma emoção geradora e do rigor estético no seu público, circunstancialmente, os espectadores-receptores. Sentimos em «DESENHOS PARA PESSOA», o propositado propósito de omissão dos títulos, forma de libertação, até cronológica, com o fim do exercício de livre expressão estética. Só assim, no dizer de Tolstoi, é que os artistas comunicam a sua experiência emocional, não no sentido de profetizarem, mas de levar-nos ao modo distinto de entendimento da experiência humana!
«DESENHOS PARA PESSOA» é de facto um livro maravilhoso, e porque não dizer magnífico, porque agrega a forma significante e a expressão de emoção. Há uma perfeita relação entre os desenhos do Hilário para Pessoa, e os textos de Pessoa em Pessoa, conjugando-se harmoniosamente, também, as cores e a articulação do espaço.  
Ambos, os “Fernandos” – em Pessoa e em Hilário –, conseguiram captar a atenção do público, manifesta convicção nossa de que uma boa ou grande Obra de Arte – nesta circunstância apelativa de «DESENHOS PARA PESSOA» em Fernando Hilário –, estimula e dirige as percepções da audiência e não é apenas objecto passivo de apreciação. Daí dizermos que gostamos, e isso nos basta.

NOTA MÁXIMA!  

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