Sunday, April 08, 2007

Impressões de uma visita a Paris!...

“C’est que la France, si elle n’est plus la grande nation, demeure l’irremplaçable nation, et que servir la france, c’est servir le monde”.
Charles De Gaulle

Cidade Luz, cidade que não pára – basta percorrer as artérias junto às “Rue de la Huchette” e “Rue de la Harpe”, em Saint-Michel –, capital do pensamento, um pequeno mundo dentro do mundo, são algumas das impressões que apreendemos nos quatro dias que passamos na cidade de Paris. Por qualquer canto se respira cultura de uma forma ordenada, eficaz e, consequentemente, objectiva. Os filhos da nossa terra têm consciência disso e facilmente se inserem na dinâmica desta extraordinária metrópole.
Visitamos o Museu de Louvre, onde sentimos o poder e a magia da Pirâmide de Vidro (causa e efeito de uma extraordinária energia universal), essa grande obra do arquitecto sino-americano, I. M. Pei (1981), que permite aos visitantes contemplar toda a extraordinária e majestosa arquitectura dos edifícios históricos que a cercam, infelizmente vilipendiada e adulteradamente visionada em pseudo-códigos Da Vinci; o obelisco (com cerca de 3200 anos) arrancado às portas de Luxor, hoje reclamado o seu regresso pelos egípcios, face à exigência e consciência do património “roubado” à sua ancestral nação; o Arco de Triunfo (Arc de Triomphe du Corrousel), erguido em 1806 e decorado com os cavalos saqueados de São Marcos, Veneza; o monumento ao libertador Charles De Gaulle: “c’est que la France, si elle n’est plus la grande nation, demeure l’irremplaçable nation, et que servir la france c’est servir le monde” (servir a França é servir o mundo); algumas das 50 fontes de água potável mandadas erigir por Richard Wallace; o Moulin Rouge por fora, na sua luminosidade; as nocturnas visões do Panteão (Panthhéon), onde jazem as maiores figuras da nação francesa, e da Notre-Dame (com esperança de um dia visionarmos, de dia, os pormenores das suas gárgulas, rosáceas, arcobotantes, galerias, portal da Virgem e torres – com destaque para a torre-agulha, desenhada por Viollet-le-Duc e que se ergue a uma altura de 90 metros), memória lendária do corcunda e da formosíssima Esmeralda, esplendorosa obra cuja primeira pedra seria colocada pelo Papa Alexandre III, em 1163, e onde se reflectem as inspirações dos grandes arquitectos góticos e medievais, cuja conclusão seria em 1330 – tinha 130 metros de comprido e ostentava colunas, um grande transepto, coro e torres de 69 metros; algumas das mais de uma dezena de pontes do Sena, esse mitológico rio que a famosa cantora francesa de cabaré Mistinguett dizia ser “uma loira bonita de olhos risonhos”; os monumentos a Theophile Roussel e ao grande Imperador romano César, etc., etc. Não deu para mais, mas prometemos lá voltar!
Impressionamo-nos com a iniciativa «Pari Roller», onde mais de 20.000 patinadores, todas as sextas-feiras (e que sexta-feira nocturna, bem vivida), percorrem várias artérias principais de Paris; os artistas de rua, com os seus rodopiantes dançarinos “break-dance”, ilusionistas e maravilhosos tocadores de guitarra clássica, por nós apreciados na “rue de La Harpe” – tendo como cenário de fundo uma das «Achat de Bibliotheques a Domicile» –; os famosos restaurantes de todas as nacionalidades, com o prazer redobrado de termos partido pratos à boa moda grega, no Restaurante «Le Meteora», especialista em “grecques” e marisco do Mediterrâneo, refeições acompanhadas ao som de uma orquestra grega – foi lá que voltamos a saborear a nostalgia do “Zorba e o Grego”, impressa na nossa memória, aquando do baptismo do nosso irmão Helder, no longínquo ano de 1969, em Terras de M’Banza Congo.
Ao fundo do pequeno Estádio “Didot”, visualizamos as primeiras construções feitas pelos portugueses que, por sinal, se destinavam à habitação social. Aqui em Portugal, face à sua arquitectura, estaríamos em julgá-las habitações de luxo. Justificam-se os cinquenta anos de atraso do nosso país!


O Hotel «Formule 1» – um dos 380 hotéis da rede “Accorhotels.com” –, onde dormimos e onde tomamos o pequeno almoço, contíguo à sede da Federação Francesa de Judo (espaço megalómano, à imagem da grandiosidade deste país gaulês), complementam a noção de desequilíbrio social, quando comparativamente com este nobre país à beira-mar plantado. A noção e inteligência empresarial também fazem prosperar e/ou engrandecer um país.
Os dois livros comprados numa feira de antiguidades – «De Gaulle», da autoria de François Mauriac (de l’Académie française), editado em 1964 por Bernard Gasset, com 350 páginas; e «Les Poètes du XIX Siècle», da autoria de J. Calvet (Agrégé des Lettres), editado em 1950 pela J. de Gigord, Éditeur, de Paris, com 744 páginas – ajudaram-nos a descortinar a desonestidade latente em muitos dos alfarrabistas do nosso país. Dez euros bastaram para adquirirmos estas duas valiosíssimas obras, enquanto que por cá já chegamos a dar cinquenta euros por uma única antologia de Poetas Portuenses do séc. XIX. Enfim, critérios diferentes de enriquecer e de viver a Cultura.
Não é por acaso que por cá, infelizmente, continua-se a “mal-dizer” a nossa condição de filhos bastardos da Europa. Até quando? Só depende da vontade dos políticos e da nossa postura, enquanto cidadãos do mundo!...

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