“O
ensino de Curvelo despertou num número significativo de estudantes o interesse
pelos métodos de raciocínio típicos daquela disciplina, bem como pela sua
aplicação aos problemas perenes da Filosofia, e a sua morte prematura
representou sem dúvida uma grande perda para o pensamento lógico nacional”
João Branquinho
Sob a responsabilidade
de MANUEL CURADO (Professor da Universidade do Minho, Auditor de Defesa Nacional,
Doutoramento cum laude pela
Universidade de Salamanca, Mestrado pela Universidade Nova de Lisboa,
Licenciatura pela Universidade Católica Portuguesa, de Lisboa; Titular do Curso
de Alta Direcção para a Administração Pública; Perito da Comissão Europeia em
Ética; e é o director da revista Jornal de Ciências Cognitivas) e de JOSÉ
ANTÓNIO ALVES (Licenciado em Filosofia e Mestre em Ciências Cognitivas pela
Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa; co-organizador do
livro “Escola de Braga. A Correspondência com Delfim Santos”; autor do livro “Limites
da Consciência. O factor temporal da mente e a ilusão de liberdade”; desde
Outubro de 2010 é doutorando em Filosofia da Mente, no Centro de Estudos
Humanísticos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do
Minho, com um projecto sobre a obra de Edmundo Curvelo; é Bolseiro da Fundação
para a Ciência e Tecnologia do Ministério da Educação e Ciência; Bolsa com o
financiamento comparticipado pelo Fundo Social Europeu e por Fundos Nacionais
do MEC), e a chancela da “Imprensa da Universidade de Coimbra” (Série
Documentos), acaba de ser publicado um extraordinário livro científico, «UM
GÉNIO PORTUGUÊS: EDMUNDO CURVELO (1913-1954)», que nos oferece o primeiro
estudo sobre o espólio de Edmundo Curvelo, professor da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa e um dos introdutores dos laboratórios psicotécnicos e
psicológicos em Portugal. São assim publicados pela primeira vez manuscritos
filosóficos de Curvelo, bem como a sua correspondência com grandes nomes da
Cultura e da Filosofia do século XX (W. V. Quine, Alonzo Church, Stephen Kiss,
Joaquim Carvalho e Delfim Santos). O livro apresenta igualmente um estudo de
enquadramento da obra de Curvelo e da ciência portuguesa do século XX.
Edmundo Curvelo, de seu
nome completo Edmundo de Carvalho Curvelo, nasceu em Arronches, distrito de
Portalegre, a 18 de Outubro de 1913 e faleceu em Lisboa a 13 de Janeiro de
1954. Segundo Manuel Curado e José António Alves, responsáveis por esta
magnífica obra, o Professor Edmundo Curvelo viveu a maior parte da sua vida em
Lisboa, mas também se deslocava muito a Abrantes, cidade adoptada pela família
e onde se refugiava para descansar. Em Lisboa estudou e trabalhou, como
professor liceal e universitário, e desempenhou funções de técnico do Instituto
de Orientação Profissional (IOP) da Universidade de Lisboa. “A sua curta vida
de quarenta anos foi suficiente para deixar às gerações vindouras uma obra
digna de ponderação e reflexão. O reconhecimento da originalidade e do grande
valor desta obra aconteceu desde o tempo da vida de Curvelo, talvez mais da
parte de especialistas estrangeiros do que da parte do público português. Os
especialistas portugueses nunca deixaram de valorizar a obra de Curvelo, desde
os tempos do Professor Vieira de Almeida até aos investigadores mais recentes.
Este interesse constante ao longo de décadas é plenamente justificado porque o
pensamento de Curvelo contribuiu para grandes avanços na filosofia e em muitas
outras disciplinas, onde se destacam a lógica, a matemática e, principalmente,
a psicologia. / Sendo arriscado resumir apressadamente uma obra que não se
chegou a desenvolver quanto podia devido a uma morte precoce e trágica, é
possível afirmar que o objectivo do pensamento filosófico de Curvelo era o de
atribuir à psicologia o estatuto nobre de uma ciência com a dignidade das
outras” – citamos do capítulo “I. O enigma de um filósofo rigoroso”.
Sem procurarmo-nos enredar
numa análise crítica (para a qual não estamos devidamente avalisados), face à
sofisticação de conteúdos científicos da obra ora apreciada, gentilmente
oferecida pelos seus autores, apenas nos é dado registar que a mesma tem 406
páginas e está estruturada com sete capítulos e trinta e cinco subcapítulos: I. INTRODUÇÃO (I. O enigma de um
filósofo rigoroso; II. O legado; III. Os manuscritos filosóficos; IV. Edição
dos manuscritos), II. MANUSCRITOS
FILOSÓFICOS (I. Amanhecer; II. A Restauração de 1640; III. A origem e o
fundamento da Obrigação Moral / Imanência e transcendência do dever; IV.
Máquinas e homens; V. Literatura Infantil; VI. A evolução e o indivíduo; VII.
Da teoria e da prática da psicotécnica; VIII. Vamos conquistar a nossa
profissão?; IX. As leis científicas e os conhecimentos científicos; X. Em
presença dos factos naturais; XI. As duas portas; XII. Lições de Lógica; XIII.
Anotações), III. TRADUÇÕES (XIV. A
existência de objectos materiais [A.H. Basson]; XV. A existência de objectos
materiais [Hao Wang]), IV. POESIA
FILOSÓFICA (XVI. Caminho dos homens; XVII. Poemas dispersos), V. CORRESPONDÊNCIA (XVIII.
Correspondência de Edmundo Curvelo para Noémia Cruz; XIX. Correspondência entre
Edmundo Curvelo e Joaquim de Carvalho; XX. Correspondência entre Edmundo
Curvelo e Delfim Santos; XXI. Correspondência com autores estrangeiros; XXII. Correspondência
para Joaquim de Carvalho com referências a Edmundo Curvelo), VI. IMPRENSA (XXIII. Entrevista de
Quirino Teixeira a Edmundo Curvelo; XXIV. Peço a palavra Edmundo Curvelo; XXV.
Um morto ilustre; XXVI. Professor Doutor Edmundo Curvelo; XXVII. Professor
Doutor Edmundo Curvelo; XXVIII. Professor Doutor Edmundo Curvelo), VII. BIBLIOGRAFIA E ESPÓLIO (XXIX.
Obras publicadas em vida; XXX. Espólio e Biblioteca Pessoal; XXXI. Estudos),
terminando com os agradecimentos.
Aqui fica a sugestão de
leitura de mais um livro, onde faz perpassar a certeza de que o trabalho
intelectual de Edmundo Curvelo parte do conhecimento da reflexão multissecular
da filosofia sobre a mente humana e sobre o comportamento humano e procura
“logificar” essa área de estudos, fazendo da psicologia uma ciência rigorosa e
não apenas uma colecção de discursos interessantes e impressionistas: “Uma
estrutura é um sistema lógico em que os símbolos são inteiramente abstractos,
conforme o significado que introduzimos nesses símbolos, assim ele pertence a
um ou outro sistema determinado” (Curvelo, Aula Prática XV).
Nota máxima para este extraordinário trabalho científico, que nos
proporcionam Manuel Curado e José António Alves, ilustres académicos ligados às
Ciências Cognitivas!
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