“A
tua imagem é a tua marca registada, a tua assinatura. Impacta a tua vida
pessoal e profissional. Investir nela é investir em ti mesmo, o que se aprende
não tem prazo…”
Victor Hugo Mendes
Estávamos longe de
imaginar que um dia iriamos ser convidados para apresentar o primeiro livro –
«O meu livro de pensamentos», numa edição da Anim Edições – de um jovem angolano, o conhecido apresentador da
Televisão Pública de Angola (TPA), Victor Hugo Mendes. Responsabilidade
acrescida pelo facto de se tratar de uma figura mediática em Angola. Tal como
afirmamos no dia da apresentação em Viana do Castelo, segunda a nível nacional
e internacional – sendo que a primeira foi em Lisboa –, apesar de sermos
defensores da velha máxima de que a biografia de um autor ou de um artista está
nas suas obras, resolvemos arriscar o contraditório, por forma a darmos a
conhecer o autor e depois a sua obra, numa leitura muito pessoal, isenta de
eruditismos ou presunçosas deambulações crítico/literárias, muitas vezes feitas
no sentido contrário à das “boas palavras custam pouco e valem muito” (Georges
Bernanos). Por isso, aqui vão algumas notas biográficas sobre o autor que um
dia sonhou escrever algumas linhas e deixar, para a eternidade, os seus e/ou os
nossos pensamentos (01-Um começo, p.
13): Victor Hugo Mendes, natural de Malange (Angola), onde nasceu a 4 de
Novembro de 1982, é divorciado e pai de dois filhos; Bacharel em Comunicação
Social pela Universidade Privada de Angola (UPRA), trabalha em jornalismo
televisivo e radiofónico; cresceu e viveu todo o conflito armado na sua terra
natal onde, com muitas dificuldades, concluiu o Ensino Médio em Luanda; cedo
abraçou a Filantropia num trabalho directo com a Igreja Católica; orador em
palestras sobre vários temas para a juventude, foi convidado recentemente a
discursar sobre a sua experiência como repórter, pelo Reitor da Faculdade de
Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, a mais de 30 estudantes
finalistas do curso de Jornalismo; é autor de 18 documentários sobre a vida e
obra de alguns artistas angolanos – como Yuri da Cunha, Djeff Brown, Yola
Araújo, entre outros – e sobre muitas empresas (Porto de Luanda, Ministério da
Educação, Governos Provinciais, etc.); conta, ainda, com trabalhos realizados
em prol da música – como a produção de um CD com temas ligados a Malange, a
terra natal – e reportagens de África do Sul, Bélgica, Holanda e Namíbia.
Bem, do Amor, do Progresso, da Harmonia,
da Fraternidade e da Solidariedade –, a ponto de Teresa
Guerra afirmar no prefácio que “os seus pensamentos, os seus ideais descritos,
nesta obra, mostram a grandeza do seu ser e bem-querer em prol de todo o ser
humano de uma sociedade” (Prefácio,
p. 11). É esse o sentir e o ser de Victor Hugo Mendes, “as ideias e até
convicções (e não só), que me guiaram e guindaram para o tipo de pessoa que sou
– e como confirmam os escritos que vos deixo” (01. Um começo, p. 13).
Espraiando-se por noventa e três pensamentos
(ou capítulos, como queiram entender), Victor Hugo Mendes faz perpassar em «O
meu livro de pensamentos», os mais variados temas e preocupações da actualidade
– assentes nos pilares do
É evidente que não
iremos aqui esmiuçar todo o conteúdo deste extraordinário livro, que à boa
maneira Kantiana reserva “o uso da palavra pensamento à designação das
faculdades que tornam possível o conhecimento elaborado”, mas sentimo-nos na
obrigação de dar testemunho dessa percepção pessoal de alguém que um dia
conheceu um amigo (chamado LIVRO), o qual nunca mais se separou de si, “filho
não sei de quem, mas é famoso e conhecido como o mestre mudo. Amigo de todos e
inimigo de quem nunca o folheou” (02. Livro,
p. 15). Faz sentido a máxima – sem ser forçada a ser “imperativo categórico” –
de Victor Hugo Mendes, quando nos diz que “ler um livro é como o amor que
sentimos por uma mulher. Quem o prova nunca mais esquece e melhor ainda, só
cresce” (02. Livro, p. 15). A
verdadeira condição humana é o principal motivo de preocupação para Victor Hugo
Mendes, tendo em conta que para ele “o ambiente em que somos concebidos e o
meio social em que nos inserimos, determinam aquilo que somos ou podemos vir a
ser” (03. O Humano, p. 16), apontando
a mudança através do querer, no sentido de melhorarmos, de uma forma intrínseca
à interiorização do “eu”, conservando os valores morais e cívicos,
contemporaneamente em decadência; a luta pela sobrevivência iniciada logo na
hora da concepção, “entre milhões de espermatozóides, termos sido o óvulo
fecundado, já nos torna grandes vencedores” (04. Lutar, p. 17), surgindo o maior problema em plena vida, onde a
eterna luta pela sobrevivência nos faz virar as costas à natureza, ansiando
estar nos melhores lugares, sermos os melhores aqui e acolá, proeza
inalcançável por muitos; a constatação do ser humano como ambicioso por
natureza, qual “educação de berço”, dará sequência à educação evolutiva como
“via mais segura e determinante para o desenvolvimento de uma nação” (06. Ambição em Educar, p. 19), uma das mais
importantes riquezas que a sociedade precisa de ter para com os seus, apostando
na formação de professores e fazendo da escola o lugar mais importante de um
país sério; as inúmeras imprevisibilidades, estando “preparado para algo que
não acontece do que para algo que possa, eventualmente, acontecer” (07. Imprevisibilidade, p. 21); a condição de
errar, sendo que “o melhor é aquele que aceita o erro e pede desculpa a todos
sem dar muitas curvas” (08. Errar, p.
22); a mentira como algo incomensurável, cuja factura poderá não ter cobertura
e onde “ser um Kota mentiroso é, igualmente, penoso” (09. Mentira, p. 24); o valor dado às pessoas e a todas as coisas
materiais, “muitas vezes, só quando estamos a perdê-las ou quando já as
perdemos de facto” (10. O Valor, p.
25), sendo que as feridas curam, as cicatrizes demoram mais mas, bem apagadas,
a vida toma outro sentido, procurando em nós o melhor exemplo a seguir; a
paciência como uma das grandes virtudes; o segredo como a alma/arma do negócio,
velha máxima que empurra Victor Hugo Mendes para a desmistificação da
intolerância dos jovens de hoje, que não aprendem ou não querem aprender a
guardar segredos, sendo que “a gente que não é gente, não se pode confiar um
segredo” (12. Segredo, p. 28); as
decisões difíceis de tomar, “principalmente se estiverem em jogo vidas humanas,
empregos e outras coisas que nos tiram o sono já que, tememos que sejamos mal
percebidos e/ou que as consequências desta decisão possam ser catastróficas”
(13. Decisões, p. 30); o presente
como uma incógnita de futuro, qual morte de seu pai o obrigaria a reflectir
sobre a condição humana: “Aos pais e mães de toda a Angola, o meu eterno
respeito e um pedido de desculpas em nome dos filhos que traem a vossa
confiança” (14. O Presente, p. 33); a
débil motivação dos jovens, por falta de paciência, humildade e coragem; a
forte capacidade demonstrativa que as pessoas inteligentes devem ter em
respeitar as menos inteligentes, sempre com a noção clara de que “os mais
inteligentes precisam de saber que os menos inteligentes têm muito para nos
ensinar” (17. Inteligência, p. 37),
etc., etc., etc…
E como anteriormente
referimos, seria uma despropositada presunção da nossa parte, tentarmos
esmiuçar aqui todo um pensamento de Victor Hugo Mendes que, por certo,
extravasa a mais de uma centena de páginas que ora se nos oferece neste «O meu
livro de pensamentos», porque assente na noção clara de que para distinguirmos
rigorosamente entre aquilo que pertence ao campo da psicologia e aquilo que
pertence ao campo da lógica, teríamos que separar o pensar, por um lado, e o
pensamento, por outro. Aquilo que apreendemos da leitura dos pensamentos de
Victor Hugo Mendes, leva-nos a creditar o pensamento como o objecto da lógica enquanto
investigação da sua estrutura, das suas relações e das suas formas
independentemente dos actos psíquicos e dos conteúdos intencionais. De facto,
“os pensamentos, enquanto objecto da lógica, têm uma realidade formal distinta
da que têm quando constituem o objecto de uma ciência e são considerados como a
forma que envolve um conteúdo que se refere a uma situação objectiva” (Mora,
1991: 305-306). É nesse sentido que nos deliciamos com as mais de nove dezenas
de deambulações ou actos psíquicos que têm lugar no tempo e ao tempo de Victor
Hugo Mendes: Meio, Perder, Privacidade, Assumir, Desenvolvimento, Direito, Futuro, Acredito, Caminho, Excesso, Crianças, Beleza, Perdão, Doutormania, Conduta, Ideias, Ter, Inspiração,
Energia, Vencer, Amadurecimento, Atitude, Opções, Violência, Relações, Eternidade, Paixão, Amizade, Vida, Raiva, Rir, Fogo
de Família, África, Saudade, Sol, Fama e Escrita – palavras
escolhidas não aleatoriamente e que, só por si, constituem a expressão
filosófica de quem sente que “há dias em que não consigo perceber como em mim
nasce tanta inspiração para escrever, independentemente da natureza das coisas
que escrevo. / Outras vezes, não consigo sequer imaginar o mínimo para
escrever” (93. Escrita, p. 130). Há
de facto um profundo sentido filosófico em tudo o que escreve Victor Hugo
Mendes, adivinhando-se um pensador em crescente, porque preocupado e atento ao
mundo que o rodeia: “Quando aprendemos a perder de verdade, constatamos que
saberemos ganhar com sinceridade. Pode até demorar, mas a vitória é bem mais
agradável” (91. Não ter medo do fim,
p. 127) ou, a propósito da fama, “entendo que ser famoso é importante e muitos
lutam por tal, mas para mim é uma mera casualidade. Eu sei que muitos são
submissos porque querem uma vida que não é para eles, mas eu vivo a minha vida
sem olhar para a do outro. Uns tentam ser fortes para mostrar que são
inquebráveis e eu sou quebrável e por isso reconheço que sou fraco. / Uns não
choram porque são egocêntricos e eu choro porque sei amar e não bloqueio a emoção
entre o coração e os olhos. / Uns lêem, aceitam, mas preferem calar-se porque
são meus amigos e porque eu os amo de qualquer jeito” (89. Fama, p. 125) – porque nos negamos ao silêncio, mesmo que um dia
venhamos a ser amigos, diremos: SIMPLESMENTE SUBLIME!
Finalizaremos com um
abraço de africanidade deste “kota muxicongo”, que teve o privilégio de ter feito
parte da paisagem angolana, qual visionária similitude ou antítese vivencial
com a tua “África linda. Querida e acolhedora. Sofredora e descalça, mas sempre
pomposa. / África das lágrimas, da coragem e da vanguarda. / África, da
esperança, da pureza e da humilhação. / África do futuro, berço da Humanidade,
olhada no presente. / África, da força, do esforço e da pobreza. / África de
um, de todos para uns. / África…” (82. África,
p. 117).
Nota máxima para «O meu livro de pensamentos», para Victor Hugo Mendes,
e para a Anim Edições, na pessoa da
escritora Helena Osório, sua mentora e editora!
No comments:
Post a Comment