“Em Viana e a pesca do bacalhau, a escrita
manifesta a mesma índole que o autor revelara no seu trabalho anterior Pilotos da Barra de Viana do Castelo,
obra publicada em 2010, que tivemos também o grato prazer de prefaciar e que se
encontra esgotada…”
José Carlos de Magalhães Loureiro
Conhecemos o Comandante
Manuel de Oliveira Martins desde os anos oitenta, do século e milénio passados,
altura em que a convergência laboral, ligada às árduas tarefas do mar, nos
aproximou de uma forma afectiva. Jamais poderemos esquecer essa sã camaradagem,
sedimentada ao longo das duas décadas que trabalhamos na empresa (ENVC), que dava
corpo a um projecto (hoje em dia à deriva, asfixiado por incompetências
várias), em cujo Mar se apresentava como um extraordinário recurso de
desenvolvimento da nossa região, quando passamos a lidar bem de perto, por
inerência das nossas funções no Serviço de Docas, com o bom amigo Manuel
Martins, na altura Piloto do Porto de Mar de Viana do Castelo. Tal como um dia
escrevemos em “Retratos de Memória”, publicado em 18 de Agosto de 2004, no “A
Aurora do Lima”, o Sr. Martins (como carinhosamente o tratávamos e continuamos
a tratar) apesar de ter nascido em Cavião, Castelões, Vale de Cambra, a 10 de
Dezembro de 1947, traz o mar e as gentes de Viana no coração. É evidente que
não é nosso propósito debruçarmo-nos sobre o riquíssimo percurso académico e
profissional deste (ora) ilustre vianense, pelo simples facto de o termos feito
nesse “Retratos de Memória (XXXV)”, mas trazermos ao conhecimento dos nossos
leitores a magnífica obra da sua autoria, intitulada «VIANA E A PESCA DO
BACALHAU», em boa hora editada pelo Centro de Estudos Regionais (CER), Colecção
CER/Seiva, com design de Rui de Carvalho, edição apoiada pelo Município de
Viana do Castelo, “AGILIMA” e “TINITA: Transportes e Reboques Marítimos, S.
A.”, cujo autor dedica a todos aqueles que andaram na pesca do bacalhau e aos
seus familiares. Tal como afirma José Carlos de Magalhães Loureiro, Historiador
e Presidente da Junta Directiva do CER, em prefácio à mesma obra: “Ao longo de
todo o livro, os homens são compelidos à comparência. Fala-se de máquinas, de
instituições e de empresas, nunca como entidades vácuas e frias, mas como
espaços moldados pela acção dos homens. Neles eleva as qualidades,
reconhece-lhes as fraquezas, sobressai a luta pela vida e distingue o que os
dignifica”. Diremos nós, fazendo fé naquilo que conhecemos e estudamos da
região, esta é a verdadeira forma de fazer História, longe dos decalques
sucessivos, insipientes plágios e (in)disfarçáveis “eruditismos bacocos”, tanto
em voga cá pelo nosso burgo.
A longínqua – porque
desde muito novo – paixão do Sr. Manuel Martins pelo mar, facto que o estimulou
a seguir a carreira de Oficial da Marinha Mercante, até terminar a carreira
como Chefe de Departamento de Pilotagem do Porto de Viana do Castelo, por
altura da merecida aposentação, em 31 de Maio de 2001, levou-o a permanecer
atento aos desígnios dessa mesma paixão: “Quando jovem, sentava-me numa pedra
na quebrada dum monte virado para ocidente, donde divisava o mar em dias
límpidos e perdia a noção do tempo olhando o horizonte longínquo”. E os «PILOTOS
DA BARRA DE VIANA DO CASTELO», seu primeiro livro, também editado pelo CER, em
2010, era o prenúncio de que o Sr. Martins não se deixaria ficar por ali. O seu
testemunho é bem claro e elucidativo: “ Tive o privilégio de ainda conhecer
todos os tipos de artes de pesca praticados na pesca do bacalhau. Fiquei com
uma noção exacta da dimensão do esforço que cabe a cada homem, tendo por isso
um enorme apreço, sem distinção, por todos aqueles que passaram por esta
modalidade. / Depois de um longo período, de mais de vinte anos, em que fui
mero espectador, vendo os navios partir e chegar, mas comungando das mesmas
tristezas e alegrias da partida e da chegada, volta para uma nova campanha –
para mim, a mais difícil –, transmitir como se viveu e conviveu com a pesca do
bacalhau em Viana do Castelo”. Daí, a segunda obra de grande fôlego «VIANA E A
PESCA DO BACALHAU», sair a lume em Agosto do corrente ano, em ano de Agonia,
cujo Mar invade ruas da cidade no cortejo e noutras iniciativas culturais.
Preenchida por seis
capítulos – para além do prefácio, introdução e conclusão –, esta obra aborda a
parte histórica da Idade Média ao séc. XX, com as primeiras navegações para o
Noroeste Atlântico, a acção de João Álvares Fagundes, o procurar da supremacia
das rotas pesqueiras, a importância do sal, a dependência do estrangeiro, a
retoma da pesca do bacalhau depois de 200 anos de inactividade (Cap. I); das
Empresas dedicadas à pesca do bacalhau a operar em Viana do Castelo, no Séc. XX
– a parceria de pescarias de Viana –, com análise estatística dos accionistas
da Parceria de Pescarias de Viana, a Seca do Bacalhau, os primeiros resultados
em 1914, a Companhia Marítima de Transportes e Pesca, a Nova Sociedade de
Pescarias de Viana, a Empresa Estrela de Portugal, a Parceria de Navegação e
Pesca – A Caminhense, a Empresa de Pesca de Viana, Lda. (Cap. II); os Navios de
Linha, os Navios de Arrasto Clássico, os Navios de Arrasto pela Popa, e a
importância dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo na Pesca do Bacalhau
(Cap. III); a Assistência em Terra e no Mar, as Casas dos Pescadores, a Junta
Central das Casas dos Pescadores, o Centro dos Pescadores de St. John’s, a Casa
dos Pescadores em Viana do Castelo, as Escolas de Pesca, o Navio Hospital Gil
Eanes (Cap. IV); Personalidades e outros Factos e Memórias da Pesca (Cap. V);
Depoimentos Etno-Biográficos, com testemunhos de vinte e quatro intervenientes
activos nessa “epopeia” do “fiel amigo” (Cap. VI). Teremos de concordar com o
prefaciador desta (como anteriormente dissemos) magnífica obra, quando escreve
que “a identificação do país com o bacalhau resulta de um longo processo
histórico, onde confluem factores políticos, sociais e culturais.
Presentemente, o consumo do bacalhau em Portugal coloca-nos na dianteira
mundial…”.
Conscientemente e com o
rigor científico exigível à transparência descritível desta realidade humana e
geográfica, Manuel de Oliveira Martins acaba de prestar um grande serviço à
História da nossa região, do país e da universalidade desse mar imenso que os
portugueses souberam desmistificar, vencendo medos e “adamastor(es)”, qual
trova do amor Lusíada de Manuel Alegre: “Meu amor é marinheiro / quando suas
mãos me despem / é como se o vento abrisse / as janelas do meu corpo”.
Nota máxima para esta magnífica obra e para o seu autor!
2 comments:
Obrigado amigo,um abraço.
Eu me lembro quando eu era criança eu morava em Pinheiros. E todo fim de semana fomos pescar com meu avô. Passamos todo o fin de semana de pesca, eu gostava de passar o tempo com o meu avô.
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