Friday, November 13, 2015

Flores e memórias afectivas no “à conversa com” Afonso Cruz!...

«Um verdadeiro escritor, tão original quanto profundo, cujos livros maravilham o leitor, forçando-o a desencaminhar-se das certezas correntes e a abrir-se a novas realidades»

Miguel Real

À conversa com… é uma iniciativa da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, que visa promover, em torno do livro, o diálogo e a troca de conhecimentos com escritores contemporâneos, proporcionando a oportunidade de conviver de perto com os autores e a sua obra. Com esta iniciativa, que embrionariamente remonta a Outubro de 2009, cujo primeiro convidado foi o escritor angolano Luandino Vieira, pretende-se que seja um espaço de incentivo à leitura, de divulgação das obras dos autores da actualidade, de promoção da cultura e do conhecimento, e, sobretudo, de interacção entre o público leitor e os escritores.
Através desta mesma iniciativa, a noite de 6 de Novembro, Sexta-feira, foi ricamente preenchida com o escritor, ilustrador, cineasta e músico AFONSO CRUZ, servindo de mote para dois dedos de conversa o seu último livro «FLORES».


Abstraindo-nos do lado multifacetado de Afonso Cruz, nomeadamente no que toca às suas lides enquanto ilustrador, cineasta e músico, dado ser incomportável neste “ao correr da pena e da mente” esmiuçar todo o seu vastíssimo “curriculum”, teremos em dizer, principalmente para os mais distraídos, que Afonso Cruz, nascido em 1971 na Figueira da Foz, mudou-se ainda criança para Lisboa e, percebendo que tinha “jeito” para desenho estudou no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira e na Escola de Belas Superior de Belas Artes de Lisboa. Actualmente vive com a sua família num monte alentejano onde, além de manter uma horta e um pequeno olival, fabrica a cerveja que bebe. Mas, a vida de Afonso Cruz nem sempre foi assim. Antes de decidir trocar Lisboa pelo sossegado Alentejo, vivia, literalmente, para viajar. Fazia filmes de animação e, com o dinheiro que ganhava, ia correr o mundo.
Publicou, até à data, treze livros de ficção: A Carne de Deus (Bertrand), em 2008, um thriller satírico e psicadélico; Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal Editores), em 2009, um engenhoso e divertido exercício borgesiano com o qual venceu o “Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco”, e Os Livros que Devoraram o Meu Pai (Editorial Caminho), em 2010, livro infanto-juvenil vencedor do “Prémio Literário Maria Rosa Colaço” de 2009. A este livro seguiram-se, também em 2010, A Boneca de Kokoschka (Quetzal Editores) – “Prémio da União Europeia para a Literatura” – e A Contradição Humana (Editorial Caminho), vencedor do “Prémio Autores 2011 SPA/RTP”, escolhido para a exposição White Ravens 2011, menção especial do “Prémio Nacional de Ilustração”, Lista de Honra do IBBY (International Board on Books for Young People) e “Prémio Ler/Booktailors” na categoria Melhor Ilustração Original. Em 2011 publicou o livro O Pintor Debaixo do Lava-Loiças (Editorial Caminho) e em 2012 Enciclopédia da Estória Universal – Recolha de Alexandria (Quetzal Editores) e Jesus Cristo Bebia Cerveja (Alfaguara, “Prémio Time Out – Melhor Livro do Ano”, finalista dos prémios “Fernando Namora” e “Grande Prémio de Romance e Novela APE”). Em 2013 saíram os livros Enciclopédia da Estória Universal – Arquivos de Dresner (Quetzal Editores), O Livro do Ano (Alfaguara), O Cultivo de Flores de Plástico (Alfaguara), Assim, Mas Sem Ser Assim (Editorial Caminho) e Para Onde Vão os Guarda-Chuvas (Prémio Autores para Melhor ficção narrativa, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores em 2014). Em 2014 foram publicados os livros Os Pássaros – dos Poemas Voam Mais Alto (APCC) e Capital (Pato Lógico). Neste ano de 2015 lançou o romance Flores (Companhia das Letras) e o livro infantil Barafunda (Caminho), em colaboração com Marta Bernardes e José Cardoso.
Os seus livros estão publicados em vários países.


Segundo a crítica, através do livro Flores, Afonso Cruz opta por uma rara narração na primeira pessoa (só presente em Os livros que devoraram o meu pai) e por um registo totalmente diferente de Mar, 3º volume da Enciclopédia da Estória Universal, editado em Novembro de 2014. A génese de Flores está em A boneca de Kokoschka (Prémio da União Europeia para a Literatura). É a partir de uma ideia mencionada nesse livro que o romance é construído. E de semelhante forma a Para onde vão os guarda-chuvas, Afonso Cruz utiliza histórias reais para construir um universo ficcional.


Nesta maravilhosa noite de “à conversa com” Afonso Cruz, evidenciou-se a perca de memórias afectivas e da necessidade de arranjarmos alguém que nos ajude a recuperar a memória. Se perdermos a memória o que resta de nós? A coexistência de quem nos ama e de quem não gosta de nós, tendo em conta que somos seres muito contraditórios; recordações de momentos especiais e não de rotinas; momentos fora das rotinas (mundo repetitivo), que nos levam a falarem de nós; “rotina da estupidez”, como forma de repetir comportamentos, sendo que a rotina acaba por definir o nosso carácter; conhecer bem o nosso corpo e não acontecer, dado os outros terem uma perspectiva mais ampla de nós próprios; erro de perspectiva, mostrando as pessoas de vários ângulos, acabando por destorcer a realidade. As vivências do quotidiano é que nos levam à escrita e à criatividade.
Afonso Cruz evidenciou ainda a sua empatia para com Platão, quando procurou falar do problema social em relação às virtudes, sendo que as mesmas têm que funcionar em simultâneo. Daí, a nossa moral continuar a ser medieval. Continuamos a cometer os mesmos erros e as mesmas atrocidades.
Obrigado, pela noite maravilhosa que nos proporcionaram.
         Há noites assim!

No comments: