“Quando
recebi o convite para ilustrar a poesia de Mário de Sá-Carneiro, aceitei o
desafio com a confiança de quem conhece bem o chão que pisa. Não quero com isto
dizer que foi fácil a empresa ou que de tais cuidados tirei prazer. As obras
que nos ajudam a compreender a vida raramente estendem o vocabulário até ao
contentamento”.
Tiago Manuel
Tal como afirmamos em
jeito de apelo, aquando do nosso sensitivo “devaneio crítico” a propósito das
exposições do nosso bom amigo Pintomeira, para que procurassem fazer uma visita
às duas exposições e se deixassem envolver pela mística das pessoas
interessadas em obras de arte e não apenas na ideia de arte, na altura salvaguardamos,
contudo, o nosso “acto de contrição”, pelo facto de carregarmos o “martírio” de
sermos bibliófilos, condicionante circunstancial de apenas nos ficarmos pela
ideia de arte, em detrimento do interesse em obras de arte, infelizmente, o
mesmo tem acontecido com tudo o que Tiago Manuel tem produzido e o lugar
destacado que ocupa no panorama artístico em Portugal. Apreciamos-lhe a sua vastíssima
obra, interiorizamos as suas mensagens pictóricas, mas – porque condicionados
pelas nossas “magras jornas” – temo-nos ficado apenas pela ideia de arte. E
hoje predispusemo-nos a falar dele, pelo simples facto de termos adquirido o
seu último trabalho artístico.
Para os mais
distraídos, e como tributo à nossa venerável admiração pelo artista, aqui fica
uma pequena nota biobliográfica: O Tiago Manuel nasceu em Viana do Castelo, a 1
de Agosto de 1955. Fez a sua formação artística com os mestres Aníbal Alcino e
Júlio Resende. A sua obra tem sido apresentada no país e no estrangeiro em
instituições e galerias de referência. Foi premiado várias vezes. EXPOSIÇÕES
INDIVIDUAIS: 2010 – “Sai do meu Filme”, Exposição de Desenho, Antigos Paços do
Concelho, Viana do Castelo; 2008 – Mishima, Manifesto de Lâminas, Centro
Cultural de Belém, Lisboa; 2008 - Galeria Spectrum Sotos, Saragoça; 2007 –
Galeria Palmira Suso, Lisboa; 2002 –Lugar do Desenho, Fundação Júlio Resende,
Gondomar; 2001 – Serpente, Galeria de Arte contemporânea, Porto; 2001 –
Bedeteca de Lisboa, Palácio do Contador-Mor, Lisboa; 2000 – Galeria Assírio & Alvim, Lisboa; 1998 –
Galeria Spectrum, Saragoça; 1998 – Galeria Arte Periférica, Lisboa; 1996 –
Galeria Arte Periférica, Lisboa; 1995 – Museu Municipal de Viana do Castelo;
1994 – Galeria J.M. Gomes Alves, Guimarães; 1993 – Galeria Quadrum, Lisboa;
1992 – Sede do Instituto Politécnico de Viana do Castelo; 1992 – Galeria
Spectrum, Saragoça; 1992 – Galeria Absidial, Nantes; 1991 – Galeria Quadrado
Azul, Porto; 1991 – Galeria Municipal, Famalicão; 1990 – Galeria Pedro e o
Lobo, Lisboa; 1989 – Galeria Quadrado Azul, Porto; 1989 – Galeria Orfila,
Madrid; 1989 – Galeria Matisse, Barcelona; 1986 – Salão da Cultura, Viana do
Castelo; 1986 – Círculo de Artes Plásticas, Coimbra; 1983 – Museu Nogueira da
Silva, Braga; 1983 – Galeria de Arte Moderna, S.N.B.A., Lisboa; 1982 – Salão da
Cultura, Viana do Castelo; 1980 – Salão da Cultura, Viana do Castelo; 1979 –
Salão da Cultura, Viana do Castelo; 1979 – Fundação Eng. António de Almeida,
Porto; 1978 – Salão da Cultura, Viana do Castelo (exposição promovida pelo
Instituto no âmbito da Presidência Aberta). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: 2011 –
“Tinta nos Nervos”, Banda Desenhada Portuguesa, Museu Col. Berardo, CCB,
Lisboa; 2009 – “Sonhos com Moldura”, Centro de Arte de São João da Madeira; 2008
– ARCO / Casa da Cerca, Almada; 2008 – “2008 Voltas no Carrossel” – Exposição
colectiva de ilustradores portugueses e estrangeiros, Auditório Augusto
Cabrita, Barreiro; 2007 – PRÉMIO STUART DE DESENHO DE IMPRENSA, Lisboa; 2006 –1ª
Edição do “FAROL DOS SONHOS – Encontro Internacional sobre o Livro e o
Imaginário Infantil” Cascais, 2006 – PRÉMIO STUART DE DESENHO DE IMPRENSA,
Lisboa; 2004 – PRÉMIO STUART DE DESENHO DE IMPRENSA, Lisboa; 2004 – SALÃO
LISBOA de Ilustração Portuguesa 2004, Câmara Municipal de Lisboa; 2002 – SALÃO
LISBOA de Ilustração Portuguesa 2002, Câmara Municipal de Lisboa; 2001 – SALÃO
LISBOA de Ilustração e Banda Desenhada, Câmara Municipal de Lisboa; 2000 –
SALÃO LISBOA de Ilustração e Banda Desenhada, Câmara Municipal de Lisboa; 1998 –
ARCO, Feria Internacional de Arte Contemporâneo, Madrid; 1997 – “Contra Viento
y Marea” Fotografia Ibérica Contemporânea, Ministério da Educação e Cultura de
Espanha, Escola de Belas Artes de Saragoça; 1994 – Exposição de grupo, Museu Municipal
de Viana do Castelo; 1993 – “Prémio Nacional de Pintura Júlio Resende”, Câmara
Municipal de Gondomar; 1993 – Tarazonafoto, Encontros Internacionais de
Fotografia, Tarazona; 1991 – “Prémio Nacional de Pintura Júlio Resende”, Câmara
Municipal de Gondomar; 1990 – Exposição Nacional de Desenho, “A Invenção do Lápis”,
E.S.A., Árvore, Porto; 1989 – II Exposição Nacional do pequeno formato, Árvore,
Porto; 1989 – “Le Temps du Regard”, Ministére de la Communication, des Grands
Travaux et du Bicentenaire (Villejuif, Créteil, Paris, Rennes); 1987 – III
Bienal Nacional de Desenho/ Árvore, Porto, Évora; 1986 – Exposição sobre os
Direitos Humanos (Fundação Eng. António de Almeida, Porto; Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa; e Sede dos Direitos Humanos, ONU, Genebra); 1984 – Exposição
Convívio, S.N.B.A., Lisboa; 1984 – 3ª Exposição de Artes Plásticas do Centro
Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo; 1983 – 2ª Exposição de Artes
Plásticas do Centro Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo.
Na qualidade de
ilustrador publicou nos jornais “Público”, “Expresso”, “JL –Jornal de Letras”, “Letras
& Letras”, “O Diário”, nas revistas “Colóquio/Letras” da Fundação Calouste
Gulbenkian, “LER-Círculo de Leitores” e nas editoras “Âmbar”, “ASA”, “Afrontamento”,
“Media Vaca” (Valência) e “Bertrand”, entre outras. Últimos trabalhos: “O
sangue por um fio”, livro de poesia de Sérgio Godinho, Assírio & Alvim,
Lisboa, 2009 – Cartaz para o filme “Ruínas” de Manuel Mozos, Festival INDIELISBOA,
2009. Em 2008 criou e passou a dirigir a colecção de banda desenhada “O Filme
da minha Vida”, editada pela Associação de Produção e Animação Audiovisual AO
NORTE, Viana do Castelo.
Desde 2000, para além
do “Sai do meu filme” (Calendário de Letras, Porto, 2010), Tiago Manuel já
publicou doze livros, artisticamente inspirados por sete dos seus vinte e cinco
heterónimos – Terry Morgan (“Lua Negra” e “O amor é vermelho e arde”), Murai
Toyonobu (“NAUTILUS the ship” e “Tango”), Tom Mccay (“Debaixo da Lua vive
gente” e “Os sonhos da cobra”), Tim Morris (“O Escapista” e “Mente Perversa”),
Marriette Tosel (“O armário psicótico / boas maneiras”), Tamayo Marín (“A tempo
inteiro”) e Max Tilmann (“Este céu cheio de terra” e “Já não há maçãs no paraíso”)
–, cujas obras produzidas e a produzir abrangem as seguintes áreas: ilustração
de autor, banda desenhada, humor negro, histórias infantis, romance gráfico,
diários ilustrados com fotografias e pinturas, teatro, literatura policial,
moda e cinema. Da sua publicação total resultará uma pequena biblioteca de 50
livros. Muito recentemente acaba por ser editada uma antologia poética de Mário
de Sá-Carneiro, que contém ilustrações de Tiago Manuel, numa edição de “Kalandraca
Editora Portugal, Lda.”, onde são publicados poemas escritos entre 1913 e 1916
(“O Lord”, “A Queda”, “Estátua Falsa”, “El-Rei”, “O Fantasma”, “O Recreio”,
“Pied-de-Nez”, “Apoteose”, “Ápice”, “Último Soneto”, “Salomé”, “O Resgate” e
“Fim”). Segundo o nosso ilustríssimo artista – que tanto apreciamos – Tiago
Manuel, ao ler os poemas de Mário de Sá-Carneiro, “senti que as palavras do
poeta desenhavam a minha vida direita pelas linhas tortas do mundo que conheço,
em tudo quase igual ao mundo que ele conheceu cem anos antes. A mesma dor, os
mesmos medos, as mesmas nuvens sombrias antes da catástrofe”. Filosoficamente,
percebemos perfeitamente a “dicotomia” cognitiva, não estranhando por isso que
o Tiago Manuel se assumisse como autor dos poemas e Mário de Sá-Carneiro fosse
remetido para a elaboração dos desenhos, como uma “realidade e reflexo no
espelho estilhaçado da vida. / Hoje ainda vejo o meu rosto; amanhã, só a luz tocará
a superfície onde se apagaram os meus olhos”. E termina no dizer dos outros que
Mário de Sá-Carneiro amou uma mulher e morreu, interrogando-se se haverá melhor
maneira de gastar a vida. Quiçá, a existência de alguma verosimilitude na vida
de cada um, reflexo dos nossos próprios passos. Daí, o “espelho” como forma de
“encarnarmos” o sentir dos outros: “A última ilusão foi partir espelhos –/ E
nas salas ducais, os frisos de esculturas/ Desfizeram-se em pó… Todas as
bordaduras/ Caíram de repente aos reposteiros velhos”.
Um livro excepcional, a merecer nota máxima, e que será apresentado no
próximo dia 30 de Novembro de 2012, pelas 21 horas e 30 minutos, na Livraria
Papa-Livros, Rua Miguel Bombarda (Porto), sendo que as reproduções das imagens de
Tiago Manuel ficarão aí expostas até 4 de Dezembro.
1 comment:
Um livro que quem sabe se um dia mais tarde não irei ler ;)
Post a Comment