“Nos
lagos e lagoas reina uma contínua interacção entre a matéria inorgânica, os
vegetais e as algas produtoras de substâncias nutritivas, os animais herbívoros
e carnívoros e os microrganismos que decompõem as substâncias inorgânicas. Os
seres vivos de uma região formam juntamente com o ambiente que os rodeia, um
conjunto natural que é o ecossistema”.
Fernando Aldeia
José Ernesto Costa autografando |
Sempre respondemos ao
chamamento ou apelo de quem gostamos. Em Ponte de Lima, felizmente, são muitos
os que conseguem atrair-nos para as mais diversificadas iniciativas, porque há
uma saudável cumplicidade cultural à boa maneira hegeliana, onde a cultura é um
processo histórico no decurso do qual o homem aprende a dominar a realidade e
onde não pode contentar-se com o já existente, sendo sempre obrigado a imprimir
a sua marca no mundo através da sua actividade, movimento que reflecte o
progresso da consciência. É assim que sentimos – sem rotulações
político-partidárias ou supostas colagens ao poder instituído, dado que há boas
e más pessoas em todo o lado – o pulsar das gentes limianas, para as quais a
cultura é a realização da natureza humana e não do abandono desta. Associado ao
facto de que a nossa noção de cultura assenta no princípio mais básico (sem ser
banal) do “conjunto de conhecimentos e práticas aprendidos e ensinados, por
contraste com o que é inato”, nunca deixamos de responder a esses apelos
culturais, vindos das terras de António Feijó. Nesse sentido, não poderíamos
deixar de estar presentes na sessão de lançamento do último trabalho literário
do bom amigo/poeta e ilustre memorialista limiano, José Ernesto Costa, que
decorreu no pretérito dia 15 de Dezembro, no Auditório do Centro de
Interpretação Ambiental da Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro
de Arcos, aprazível local que faz jus à deambulação poética do José Ernesto
Costa, com o seu «…olhar sobre as…» mesmas Lagoas. Tal como nós, para além do seu
“limianismo” e paixão memorialista, José Ernesto Costa também levou com o
“aroma tropical pela tromba”. É essa dicotómica cumplicidade, difícil de
explicar, que nos aproxima cada vez mais um do outro: “Esta dádiva da Mãe
Natureza, deve ser preservada por todos nós, até ao fim das nossas vidas” –
concordamos plenamente!
A nosso modesto ver, «O
nosso olhar sobre as Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos» de José Ernesto
Costa, apresenta-se assim como um testemunho real que reflecte o progresso da
consciência humana, sem pretensões a qualquer tratado científico – sabemo-lo
que nisso o José Ernesto é bastante sério –, tendo apenas em mente a obrigação
de imprimir a sua marca poética no mundo através da sua actividade intelectual
plasmada no (como anteriormente dissemos) movimento que reflecte o progresso da
própria consciência. Deliciamo-nos com as excelentes fotografias do Manuel
Varela e Délio Costa (seu filho), e a prosa poética de José Ernesto Costa, onde
“é difícil resistir a tão bela paisagem sem distinguirmos sons nem melodias
neste inconfundível espaço das lagoas”, com “imagens que nos seduzem num mundo
possível”. Este espaço, importante para a conservação da natureza e da
biodiversidade, acaba por seduzir qualquer pessoa conscienciosa do seu papel na
sociedade cada vez mais globalizada, indiferente e/ou adversa à coabitação
homem/natureza. Neste livro encontramos uma envolvência profunda – como
escreveria Fernando Aldeia no prefácio – da alma e coração. De facto, aquele
local transmite-nos um ambiente aprazível e incomparável, sensação cognitiva
que José Ernesto Costa, Manuel Varela e Délio Costa, magnificamente nos
souberam transmitir. Concordamos com as palavras do autor quando afirma que
“preservar um espaço assim verdejante e paradisíaco é por certo a grande
ambição do Município. Sensibilizar as populações visitantes para esta riqueza
natural é um dever de todos os limianos”, confessando, ao mesmo tempo, a
impossibilidade de descrever na sua totalidade, toda a riqueza e diversidade assinaláveis
de espécies de fauna e flora, o que acaba por fazer denotar, mais uma vez, uma
confessa e verdadeira seriedade intelectual: “O meu olhar pelo interior das
lagoas, despertou em mim uma procura interminada da flora e fauna. Desse nosso
olhar pelo paraíso, destacamos o possível, ficando muito aquém do existente”.
Temos que ter consciência que se trata apenas de olhar diferente de tantos
outros, mas que se presta, a custo zero para o município, à divulgação da
riqueza e qualidade ambiental desta “mui nobre” vila limiana. Um dia, quando o
mundo globalizado despertar para a realidade da natureza humana – reconhecendo
a falibilidade dos números, qual capitalismo selvagem –, todas estas incursões
literárias do José Ernesto Costa (e de outros tantos que por aí gravitam, bebendo
da água do Lethes), serão lembradas como o garante para o desenvolvimento
sustentado da nossa região: “Uma riqueza cuja qualidade ambiental se deve
estimular e ajudar na promoção daquele património natural, dado o grande
potencial que congrega para o desenvolvimento da actividade turística. Um
património natural que nos enche a todos de um enorme orgulho” – citamos
Fernando Aldeia.
Obrigado José Ernesto Costa por este excelente trabalho literário, do
qual gostamos bastante e que vivamente recomendamos. Apenas um senão – numa
sugestão crítica/construtiva, que por certo aceitarás –, o final do livro
deveria conter as fotos e umas pequenas notas biográficas do Manuel Varela e do
Délio Costa!
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