Friday, January 18, 2013

As boas intenções de Abebe Selassie e o nosso desgoverno…


“Os portugueses fizeram sacrifícios tremendos, com o aumento do desemprego, com o impacto no rendimento disponível. Temos consciência disso. Também me impressiona o diálogo social, com os parceiros sociais, no Parlamento”.

Abebe Selassie

O etíope Abebe Aemro Selassie, licenciado pela “London School of Economics”, director adjunto do Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) e chefe da missão da mesma instituição financeira internacional em Portugal, integrada na “Troika” – Abebe Selassie, do Fundo Monetário Internacional (FMI); Rasmus Ruffer, do Banco Central Europeu (BCE); e Jurgen Kroger, da Comissão Europeia (CE) –, tem-se desdobrado em canseiras, ideias e boas intenções para tentar resolver a situação económica de Portugal. Recordaríamos, ainda, que este “ilustre” economista – apesar de ter feito parte do governo do seu país (Etiópia), nunca conseguiu resolver o problema da fome e da miséria que tem grassado por aquelas bandas –, é aquilo que nós costumamos designar na gíria popular por “vendedor de banha de cobra”, tentando demonstrar “folha de serviço” que possa justificar o seu principesco ordenado (que varia entre os 13.994 e os 18.188 euros por mês) e de cada vez que se desloca a Portugal, tem direito a segurança paga pelo Estado português e desloca-se em carro de alta cilindrada. Falamos deste e não dos outros, porque é da sua “viva voz” que ouvimos, ostensivamente, os mais rasgados elogios aos nossos governantes, nomeadamente ao ministro Vítor Gaspar, e o sentimos orgulhoso nas suas variadíssimas previsões que, para mau grado dos injustiçados, têm redundado em autênticas falácias.
Apesar de Vítor Gaspar estar rotulado por Abede Selassie como “um ministro muito impressionante” lá vai dizendo que o trabalho de Portugal ainda não está completo, tendo espicaçado as nossas debilidades – quiçá psicossomáticas – ao anunciar que ainda existe margem para tornar a despesa pública mais eficiente. Com falácias atrás de falácias, ouvimo-lo vociferar que os ordenados em Portugal continuam demasiado “rígidos e altos”, e que isso impede que o desemprego baixe, quando uns meses antes admitira que a austeridade no nosso país poderia ter que abrandar se continuassem os problemas de execução orçamental, sobretudo devido à fraca receita. Chegou mesmo a vaticinar que o desempenho orçamental com as exportações estava a gerar menos impostos que a procura interna, o que implicaria eventualmente uma menor dose de ajustamento em 2012. Para este “estapafúrdio” economista, talvez numa ardilosa forma de fugir aos fracassos das suas periclitantes previsões e/ou deslustradas intenções “neoliberais”, fazendo – ou procurando fazer – dos portugueses “pacóvios”, acaba por constatar que o desemprego em Portugal também é mais elevado do que o previsto no programa da “Troika”. Di-lo com a mesma lata de “cabecinha pensadora” que o dinheiro emprestado a Portugal pela “troika” é muito barato, sugerindo que é chegada a hora das reformas “inteligentes” e que os portugueses devem escolher o seu futuro. E o nosso governo de cocaras, obedece cegamente ao prenúncio do “submarino” posto ao nosso serviço, para gaudio do grande capital, Vítor Gaspar. Só não percebe quem não quer… Se cair Vítor Gaspar, cai também o Governo!

Crédito: Adaptado de (http://imagens9.publico.pt/imagens.aspx/731039?tp=UH&db=IMAGENS)

Outro factor preocupante é constatarmos a permanente linguagem de “cobrador de impostos” em Abede Selassie, quando se aventa – articulando com a voz monocórdica de Vítor Gaspar – a urgência da definição do modelo social que melhor serve os portugueses, tendo sempre em conta “o tecido produtivo e no sentido de corrigir os desequilíbrios que levaram o país à situação de insustentabilidade financeira”. Selassie chega mesmo a sentenciar que “se quiserem ter um grande estado providência em Portugal, tudo bem, mas têm de saber como pagar por ele”. E as medidas não se fazem esperar… mais impostos, mais desemprego e mais cortes nos salários e reformas. O estado social para esta gente resume-se à preocupação da “racionalização do sector público ao nível salarial e do emprego, bem como pela reforma do sistema de pensões”. Daí estranharmos as letras garrafais “acopladas” a muitas das manchetes dos órgãos de comunicação sensacionalistas do nosso país: «O chefe da missão do FMI para Portugal rejeita um novo aumento de impostos como solução ideal para os problemas da economia portuguesa». Em Dezembro de 2012, qual iluminado palestrante a convite da Ordem dos Economistas, Abede Selassie apresentou dez ideias sobre a economia portuguesa, ideias essas que passam pela reestruturação da banca. Segundo ele “os bancos precisam de mudar o seu modelo de negócios se quiserem evitar mais um ciclo de elevada alavancagem”, acrescentando que os custos das operações dos bancos são elevados e é “muito importante a redução de custos” para melhorar as condições de financiamento dos bancos e do próprio país. Vai daí, e mesmo quando Selassie afirma que “é muito claro que o mecanismo de transmissão monetária não está a funcionar como devia”, vaticinando que isto “é algo que precisa de mudanças de política da zona euro”, o governo português injecta milhões na banca e vive acautelando possíveis incompetências, mascarando-as com as obrigações do “memorando da troika” e as conjunturas negativas internacionais.
Teremos que dar razão a Fernanda Cachão (Correio da Manhã) quando comutou a expressão “equilíbrio certo” de Selassie ao eufemismo em voga aqui há uns anos que borrava de modernidade a realidade nascida no retorno de 1960 – aos bairros clandestinos, chamaram-lhes “bairros de génese ilegal”. Para esta jornalista, o “equilíbrio certo” de Salassie é assim a moderna facilidade de se pensar que a competitividade das empresas só pode montar quem trabalha. No meio de todas estas “tretas” e fracassos das políticas económicas que nos impõem, Abebe Selassie ainda tem a lata de reconhecer – dizendo-o – que o abrandamento da actividade económica da Zona Euro “não tem ajudado Portugal de todo” e tem sido mais penalizador do desempenho ao abrigo do programa de ajuda externa do que se esperava há “um ano, um ano e meio”. Depois há quem se escandalize com o sarcasmo de Miguel Esteves Cardoso: “Para menos dinheiro não se pode ter princípios. O mal do português é ter princípios a mais. Como tem mais medo de passar por parvo do que passar mal, é incapaz de pagar mais por uma coisa perto dele do que pagar menos num lugar que fica mais longe”. Temos que lhe dar razão, pois já vai sendo tempo de sacrificar os nossos princípios e as nossas peneiras, pois, estas últimas, saem bastante caras.
Voltando a Abede Selassie, já que o mesmo, em tempos, rejeitaria a hipótese de um novo aumento de impostos como solução ideal para os problemas da economia portuguesa, estranhamos a pronta resposta ao relatório pedido pelo Governo, onde o FMI propõe reduções adicionais de funcionários e de salários no Estado, o aumento das taxas moderadoras, a dispensa de 50 mil professores e um corte em todas as pensões, com vista à redução de oitocentos milhões já este ano e um corte permanente na despesa de quatro mil milhões de euros a partir de 2014. Até nos dá um “travo” na língua ao falar em tais números. O documento refere ainda, e contrariando os apanágios de Paulo Portas quando deambulava pela oposição, que os polícias, os militares e os professores continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade, que os médicos têm salários excessivamente elevados (principalmente devido ao pagamento de horas extraordinárias), os magistrados beneficiam de um regime especial que aumenta as pensões dos juízes em linha com salários e o sistema de protecção social, que diz ser “demasiado dispendioso, injusto e especialmente para os mais jovens”, defendendo que o “subsídio de desemprego continua demasiado longo e elevado”. Quanto às benesses e mordomias dos políticos, nem uma palavra…
Admitindo que se instalou um “nervoso miudinho” perante as anunciadas medidas de austeridade, vem o Governo, pela voz do seu primeiro, anunciar aos “quatro-ventos” que o relatório do FMI não é “a Bíblia do Governo”, apelando – ainda que demagogicamente – a um debate nacional o mais alargado possível sobre a redução da despesa pública e a reforma do Estado, louvando a voz activa do seu secretário de Estado adjunto, Carlos Moedas (vale a pena ver e ouvir as suas magníficas intervenções ao tempo do governo de Sócrates, para ver que a “bota não dá com a perdigota”), quando disse, e muito bem, que o relatório do FMI está muito bem feito, que contém informação muito relevante. Mas qual? – perguntamos nós.
Por último, ficamos a saber também que o Governo português, por forma a apaziguar “o formigueiro no carreiro”, recusa cortes de salários e avança com despedimentos, demonstrando claramente uma extraordinária vocação para a velha técnica de “vendedores de tapetes”.
Quanto a Abede Selassie, porque não enceta uma saga para salvar o seu país natal. Com todo este “arcaboiço” economicista, por certo que viríamos a Etiópia como uma grande potência mundial. A não ser que os polícias, os militares e os professores continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade etíope, tirando visibilidade política aos bem-intencionados mentores das sociedades equilibradas pelo capitalismo selvagem, profeticamente anunciado por Karl Marx.

Estaremos em dizer que com gente desta “laia”, jamais alcançaremos a “salus populi”!...

2 comments:

MARIA DA FONTE said...

Li entusiasticamente o texto e partilho da mesma opinião: temos que sacrificar os princípios.
Um bem haja ao seu autor.

Porfírio Pereira da Silva said...

Muito obrigado pela convergência de opinião. Grato por se fazer seguidora do nosso blogue.