“Os
portugueses fizeram sacrifícios tremendos, com o aumento do desemprego, com o
impacto no rendimento disponível. Temos consciência disso. Também me impressiona
o diálogo social, com os parceiros sociais, no Parlamento”.
Abebe Selassie
O etíope Abebe Aemro Selassie,
licenciado pela “London School of Economics”, director adjunto do Departamento
Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) e chefe da missão da mesma
instituição financeira internacional em Portugal, integrada na “Troika” – Abebe
Selassie, do Fundo Monetário Internacional (FMI); Rasmus Ruffer, do Banco
Central Europeu (BCE); e Jurgen Kroger, da Comissão Europeia (CE) –, tem-se
desdobrado em canseiras, ideias e boas intenções para tentar resolver a
situação económica de Portugal. Recordaríamos, ainda, que este “ilustre”
economista – apesar de ter feito parte do governo do seu país (Etiópia), nunca
conseguiu resolver o problema da fome e da miséria que tem grassado por aquelas
bandas –, é aquilo que nós costumamos designar na gíria popular por “vendedor
de banha de cobra”, tentando demonstrar “folha de serviço” que possa justificar
o seu principesco ordenado (que varia entre os 13.994 e os 18.188 euros por mês)
e de cada vez que se desloca a Portugal, tem direito a segurança paga pelo
Estado português e desloca-se em carro de alta cilindrada. Falamos deste e não
dos outros, porque é da sua “viva voz” que ouvimos, ostensivamente, os mais
rasgados elogios aos nossos governantes, nomeadamente ao ministro Vítor Gaspar,
e o sentimos orgulhoso nas suas variadíssimas previsões que, para mau grado dos
injustiçados, têm redundado em autênticas falácias.
Apesar de Vítor Gaspar
estar rotulado por Abede Selassie como “um ministro muito impressionante” lá
vai dizendo que o trabalho de Portugal ainda não está completo, tendo
espicaçado as nossas debilidades – quiçá psicossomáticas – ao anunciar que
ainda existe margem para tornar a despesa pública mais eficiente. Com falácias
atrás de falácias, ouvimo-lo vociferar que os ordenados em Portugal continuam
demasiado “rígidos e altos”, e que isso impede que o desemprego baixe, quando
uns meses antes admitira que a austeridade no nosso país poderia ter que
abrandar se continuassem os problemas de execução orçamental, sobretudo devido
à fraca receita. Chegou mesmo a vaticinar que o desempenho orçamental com as
exportações estava a gerar menos impostos que a procura interna, o que
implicaria eventualmente uma menor dose de ajustamento em 2012. Para este
“estapafúrdio” economista, talvez numa ardilosa forma de fugir aos fracassos
das suas periclitantes previsões e/ou deslustradas intenções “neoliberais”,
fazendo – ou procurando fazer – dos portugueses “pacóvios”, acaba por constatar
que o desemprego em Portugal também é mais elevado do que o previsto no
programa da “Troika”. Di-lo com a mesma lata de “cabecinha pensadora” que o
dinheiro emprestado a Portugal pela “troika” é muito barato, sugerindo que é
chegada a hora das reformas “inteligentes” e que os portugueses devem escolher
o seu futuro. E o nosso governo de cocaras, obedece cegamente ao prenúncio do “submarino”
posto ao nosso serviço, para gaudio do grande capital, Vítor Gaspar. Só não
percebe quem não quer… Se cair Vítor Gaspar, cai também o Governo!
Crédito: Adaptado de (http://imagens9.publico.pt/imagens.aspx/731039?tp=UH&db=IMAGENS) |
Outro factor
preocupante é constatarmos a permanente linguagem de “cobrador de impostos” em
Abede Selassie, quando se aventa – articulando com a voz monocórdica de Vítor
Gaspar – a urgência da definição do modelo social que melhor serve os
portugueses, tendo sempre em conta “o tecido produtivo e no sentido de corrigir
os desequilíbrios que levaram o país à situação de insustentabilidade
financeira”. Selassie chega mesmo a sentenciar que “se quiserem ter um grande
estado providência em Portugal, tudo bem, mas têm de saber como pagar por ele”.
E as medidas não se fazem esperar… mais impostos, mais desemprego e mais cortes
nos salários e reformas. O estado social para esta gente resume-se à
preocupação da “racionalização do sector público ao nível salarial e do
emprego, bem como pela reforma do sistema de pensões”. Daí estranharmos as
letras garrafais “acopladas” a muitas das manchetes dos órgãos de comunicação
sensacionalistas do nosso país: «O chefe
da missão do FMI para Portugal rejeita um novo aumento de impostos como solução
ideal para os problemas da economia portuguesa». Em Dezembro de 2012, qual
iluminado palestrante a convite da Ordem dos Economistas, Abede Selassie
apresentou dez ideias sobre a economia portuguesa, ideias essas que passam pela
reestruturação da banca. Segundo ele “os bancos precisam de mudar o seu modelo
de negócios se quiserem evitar mais um ciclo de elevada alavancagem”,
acrescentando que os custos das operações dos bancos são elevados e é “muito
importante a redução de custos” para melhorar as condições de financiamento dos
bancos e do próprio país. Vai daí, e mesmo quando Selassie afirma que “é muito
claro que o mecanismo de transmissão monetária não está a funcionar como
devia”, vaticinando que isto “é algo que precisa de mudanças de política da
zona euro”, o governo português injecta milhões na banca e vive acautelando
possíveis incompetências, mascarando-as com as obrigações do “memorando da
troika” e as conjunturas negativas internacionais.
Teremos que dar razão a
Fernanda Cachão (Correio da Manhã) quando comutou a expressão “equilíbrio
certo” de Selassie ao eufemismo em voga aqui há uns anos que borrava de
modernidade a realidade nascida no retorno de 1960 – aos bairros clandestinos,
chamaram-lhes “bairros de génese ilegal”. Para esta jornalista, o “equilíbrio
certo” de Salassie é assim a moderna facilidade de se pensar que a
competitividade das empresas só pode montar quem trabalha. No meio de todas
estas “tretas” e fracassos das políticas económicas que nos impõem, Abebe
Selassie ainda tem a lata de reconhecer – dizendo-o – que o abrandamento da
actividade económica da Zona Euro “não tem ajudado Portugal de todo” e tem sido
mais penalizador do desempenho ao abrigo do programa de ajuda externa do que se
esperava há “um ano, um ano e meio”. Depois há quem se escandalize com o
sarcasmo de Miguel Esteves Cardoso: “Para menos dinheiro não se pode ter
princípios. O mal do português é ter princípios a mais. Como tem mais medo de
passar por parvo do que passar mal, é incapaz de pagar mais por uma coisa perto
dele do que pagar menos num lugar que fica mais longe”. Temos que lhe dar
razão, pois já vai sendo tempo de sacrificar os nossos princípios e as nossas
peneiras, pois, estas últimas, saem bastante caras.
Voltando a Abede
Selassie, já que o mesmo, em tempos, rejeitaria a hipótese de um novo aumento
de impostos como solução ideal para os problemas da economia portuguesa,
estranhamos a pronta resposta ao relatório pedido pelo Governo, onde o FMI
propõe reduções adicionais de funcionários e de salários no Estado, o aumento
das taxas moderadoras, a dispensa de 50 mil professores e um corte em todas as
pensões, com vista à redução de oitocentos milhões já este ano e um corte
permanente na despesa de quatro mil milhões de euros a partir de 2014. Até nos
dá um “travo” na língua ao falar em tais números. O documento refere ainda, e
contrariando os apanágios de Paulo Portas quando deambulava pela oposição, que
os polícias, os militares e os professores continuam a ser um grupo
privilegiado na sociedade, que os médicos têm salários excessivamente elevados
(principalmente devido ao pagamento de horas extraordinárias), os magistrados
beneficiam de um regime especial que aumenta as pensões dos juízes em linha com
salários e o sistema de protecção social, que diz ser “demasiado dispendioso,
injusto e especialmente para os mais jovens”, defendendo que o “subsídio de
desemprego continua demasiado longo e elevado”. Quanto às benesses e mordomias
dos políticos, nem uma palavra…
Admitindo que se
instalou um “nervoso miudinho” perante as anunciadas medidas de austeridade,
vem o Governo, pela voz do seu primeiro, anunciar aos “quatro-ventos” que o
relatório do FMI não é “a Bíblia do Governo”, apelando – ainda que
demagogicamente – a um debate nacional o mais alargado possível sobre a redução
da despesa pública e a reforma do Estado, louvando a voz activa do seu
secretário de Estado adjunto, Carlos Moedas (vale a pena ver e ouvir as suas
magníficas intervenções ao tempo do governo de Sócrates, para ver que a “bota
não dá com a perdigota”), quando disse, e muito bem, que o relatório do FMI
está muito bem feito, que contém informação muito relevante. Mas qual? –
perguntamos nós.
Por último, ficamos a
saber também que o Governo português, por forma a apaziguar “o formigueiro no
carreiro”, recusa cortes de salários e avança com despedimentos, demonstrando
claramente uma extraordinária vocação para a velha técnica de “vendedores de
tapetes”.
Quanto a Abede Selassie,
porque não enceta uma saga para salvar o seu país natal. Com todo este
“arcaboiço” economicista, por certo que viríamos a Etiópia como uma grande
potência mundial. A não ser que os polícias, os militares e os professores
continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade etíope, tirando visibilidade
política aos bem-intencionados mentores das sociedades equilibradas pelo
capitalismo selvagem, profeticamente anunciado por Karl Marx.
Estaremos em dizer que com gente desta “laia”, jamais alcançaremos a
“salus populi”!...
2 comments:
Li entusiasticamente o texto e partilho da mesma opinião: temos que sacrificar os princípios.
Um bem haja ao seu autor.
Muito obrigado pela convergência de opinião. Grato por se fazer seguidora do nosso blogue.
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