Saturday, May 18, 2013

Coimbra acolheu as «IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental»!


“Defende-se que o futuro sem consciência é uma manifestação do desejo de viver um presente sem consciência, evitando o que Lacerda denomina neurastenia e mal de viver, e o que poderíamos denominar o medo de estar acordado, o peso da liberdade ou o tédio de viver”.

Manuel Curado

Decorreram em Coimbra, nos dias 6 e 7 de Maio, na Sala Sá de Miranda (Casa Municipal da Cultura), as «IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental», numa organização da Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde – SHIS e apoio institucional do Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra-CEIS20, nas quais participamos com uma comunicação, cujas palavras-chave iam no sentido da abordagem temática da filosofia, psiquiatria, higiene social e eugenismo, e tinha por título: «Ernesto Galeão Roma (1887-1978): discípulo de Miguel Bombarda e Júlio de Matos apresentou, em 1913, uma dissertação final do Curso Médico, através de um estudo da microcefalia em quatro pacientes».

Aí estava a nossa prestação, trazendo à discussão a tese de Ernesto Roma sobre a microcefalia.

Por ser descabido tecer qualquer tipo de comentário acerca da nossa prestação, o que seria eticamente incorrecto da nossa parte, apenas nos predispomos em dizer que Ernesto Galeão Roma, natural de Viana do Castelo, fez os preparatórios para medicina na Escola Politécnica da Universidade de Lisboa e, de 1905 a 1913, na Escola Médica-Cirúrgica da capital, completou o curso médico, apresentando a dissertação final, em Junho de 1913 (completando este ano cem anos), onde abordou a problemática da microcefalia. Enquanto médico, ficaram as acções e as palavras: no campo da higiene, os médicos e os Estados têm-se ocupado do ataque da doença e dos meios como ela se protege do que propriamente do indivíduo obrigado a resistir-lhe, asseverando o valor dos ensinamentos profilácticos, firmando-se na convicção de que a higiene social é a defesa da saúde e o levantamento físico do povo pela aplicação dos meios que operam sobre as condições em que ele viva. E sem mais nos alongarmos, acrescentaríamos apenas que esta convicção advinha-lhe, por certo, da “paixão” inicial pelo estudo da mente, numa busca incessante do embrionário causativo das patologias psíquico-degenerativas. Este foi o nosso contributo!

O Médico Psiquiatra  Adrián Gramary e o Professor Doutor Manuel Curado, na altura do debate.

    Agora sim, uma pequena retrospectiva de tão peculiar e/ou extraordinário acontecimento cultural/científico: Na sequência das III Jornadas realizadas em 2012, estas «IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental» visaram dar continuidade a temáticas apresentadas e aprofundar as frentes de discussão abertas desde a primeira edição. Esta quarta edição das «Jornadas» integrou um simpósio temático sobre a história da psicanálise, incluindo a história da recepção de Freud e da psicanálise em Portugal. Este ano as JIHPSM centraram-se nos seguintes tópicos: 1. Filosofia, psicologia e psiquiatria nos séculos XIX-XX; 2. Psiquiatria e neurologia nos séculos XIX-XX; 3. Psiquiatria forense e medicina legal nos séculos XIX-XX; 4. Dispositivos assistenciais, tratamentos e terapias das doenças mentais nos séculos XIX-XX. Presidiu a Professora Doutora Ana Leonor Pereira (Faculdade de Letras; CHSCT-CEIS20 - Universidade de Coimbra), sendo secretário executivo o Professor Doutor João Rui Pita (Faculdade de Farmácia; GHSCT-CEIS20 - Universidade de Coimbra).
Intervieram nestas jornadas grandes vultos das Ciências Médicas (Psiquiatria, Psicologia e Enfermagem, incluídas), da História e da Filosofia, tais como Ricardo Branco Julião (Historiador), Ana Catarina Necho (Historiadora), Aires Gameiro (Psicólogo), José Morgado Pereira (Médico), Adrián Gramary (Psiquiatra), Paulo Archer de Carvalho, António Carreras Panchón (Professor catedrático – Psiquiatra), Maria José Louzao, A. Lapa Esteves, David Simón Lorda (Psiquiatra), Ana Paula Teixeira de Almeida Vieira Monteiro (Professora da Escola Superior de Enfermagem), Francisco Molina Artaloytia (Psiquiatra), António Barbedo de Oliveira (Médico), Carolina Gregório Álvaro (Historiadora), Denise Maria Borrega Pereira, Miguel Angel Miguélez (Psiquiatra), Sofia Nobre (Psicóloga), Artur Furet (Psiquiatra) e Rosângela Francischini (Psicóloga).

Dr. José António Alves e Prof. Doutor Manuel Curado, dois filósofos da Mente e da Universidade do Minho.

Ao deixarmos para o fim os nomes do Professor Doutor Manuel Curado «O automatismo futuro de cérebro: Sousa Martins (1843-1897 e José Lacerda (1861-1911)» e do doutorando em Filosofia, e do nosso companheiro de viagem, José António Alves «O crime e anormalidade em Edmundo Curvelo», procuramo-lo fazer, por forma a gerirmos o espaço de que dispomos nesta crónica, tendo em conta que seria impossível fazer uma retrospectiva minuciosa de todas as intervenções que, diga-se de passagem, foram todas elas magníficas. Se da boca do Professor Manuel Curado ouvimos dizer que “o Dr. Lacerda defendeu em várias publicações uma teoria da mente consciente que é merecedora de reflexão. A consciência surgiu no início do processo evolutivo mas irá desaparecer à medida que a evolução for progredindo. O futuro da evolução terá seres desprovidos de consciência e cérebros automáticos. Olhando para o presente e passado da evolução, a existência da consciência é considerada uma imperfeição. No prefácio à obra Os Neurasténicos (1895), Sousa Martins ultrapassa o que é recomendado pelo protocolo dos prefácios e critica a concepção da consciência evanescente do futuro. A presente comunicação analisa este debate intelectual e enfatiza o seu interesse perene. Defende-se que o futuro sem consciência é uma manifestação do desejo de viver um presente sem consciência, evitando o que Lacerda denomina neurastenia e mal de viver, e o que poderíamos denominar o medo de estar acordado, o peso da liberdade ou o tédio de viver”; o Dr. José António Alves, trar-nos-ia à coacção o facto de que “Edmundo Curvelo (1913-1954) foi um lógico português da primeira metade do século XX que se dedicou à elaboração de um esquema lógico capaz de representar todos os estados mentais. Curvelo denominou o objectivo do seu trabalho de logificação da psicologia. Objectivo similar perdura hoje, por exemplo, no Human Brain Project. (…) o campo ético que, no dizer de Curvelo, se constrói a partir do campo psicológico, sendo o instrumento de construção a análise lógica. O propósito é apresentar o pensamento de Curvelo a partir da sua afirmação de que o delinquente não é um criminoso, mas um anormal, um doente que se há-de tratar e curar. O argumento a explorar e criticar é o seguinte: a vida mental (“normal” e “anormal”) é totalmente transparente; é possível prever todos os comportamentos futuros; logo, o criminoso não age por si, mas por causas (doença) externas a si. Por isso o crime não implica castigo, mas porque estatisticamente anormal implica a necessidade de educação e pedagogia”. Sublimes intervenções, da área da Filosofia!
Os debates que se seguiram às comunicações, espelharam as “mais-valias” de alguns dos comunicadores, magnanimamente moderados pelos Professores da Universidade de Coimbra, Ana Leonor Pereira e João Rui Pita.

       Estamos em crer que «Labor improbus omnia vincit». Por isso, e porque o desafio nos foi lançado, para o ano lá estaremos!

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