“Luís
Miguel Rocha já nos convenceu que sabe
tudo sobre Papas, como diz Jô Soares, e, mais ainda, que é um dos maiores
escritores portugueses da actualidade. A
Filha do Papa vem corroborar isso mesmo, com uma genialidade que nos obriga
a comer as páginas do livro, antes que a falta de ar nos assalte por não termos
desvendado um dos muitos nós que a sua narrativa vai criando”.
Raquel Santos Silva
À parte do privilégio
de sermos amigo do Luís Miguel Rocha, o que poderia pressupor alguma suspeição
sempre que nos atrevêssemos em falar da sua forma de escrever, teimamos em
dizer – e abstraindo-nos dessa prerrogativa proximidade – que não nos
cansaremos de afirmar, tal como Jô Soares, que estamos perante um dos maiores
escritores portugueses da actualidade. A forma empolgante como escreve, numa
narrativa que nos envolve de uma forma mágica do princípio ao fim de cada “thriller”,
permite-nos essa ousadia, ainda que pessoal, de o colocarmos entre os melhores
escritores contemporâneos, sendo que aqui, pela afirmativa, extravasamos as
fronteiras deste “módulo lunar”, chamado “Portugal dos pequeninos”, onde impera
a inveja e a signa maldizente dos “intelectuais de pacotilha”, que se dão ao
desplante de o criticar – aplicando o “teorema da leitura em diagonal” – sem
dele lerem uma linha. Mas, como um dia escreveria T. Gautier, “quem não cultiva
o hábito do trabalho, contrai o vício da preguiça”, felizmente, Luís Miguel
Rocha (materiam superabat opus) nunca
se deixou abater pelos detractores, insignificantes em número e em “reputação
intelectual”.
Luís Miguel Rocha autografando o livro do Director da Biblioteca Municipal, Rui A. Faria Viana. |
“A Filha do Papa”,
sexto livro na carreira de Luís Miguel Rocha, quarto na linha dos anteriores,
onde se revela um profundo conhecedor sobre os meandros do Vaticano – “O Último
Papa” (2006), “Bala Santa” (2007) e “A Mentira Sagrada” (2011) –, expressa-se na
saga do fantástico e empolgante, do princípio ao fim. De facto, em “A Filha do
Papa”, e como alguém escreveria, “vamos conhecendo os meandros do Vaticano, os
possíveis segredos que são escondidos e todos os jogos de interesses que são
feitos, em prol da beneficiação de alguém importante”. Estaremos em dizer que,
mesmo plagiando a leitura de outros, por dela comungarmos, “esta é uma leitura
fundamental [englobaremos aqui todos os seus livros, ligados ao Vaticano], para
católicos e não católicos, porque, primeiro, temos que o encarar como um livro
de ficção e, segundo, deixa-nos sempre com a dúvida: será mesmo ficção?”. É aí
que reside o fascínio da criatividade literária de Luís Miguel Rocha: Até onde termina
a realidade e começa a ficção? Nunca chegaremos a saber!... O que nos parece é
que das mãos e da mente de Luís Miguel Rocha as insignificâncias ganham o cunho
da perfeição, sem que a perfeição venha a cair nas malhas da insignificância.
Nos seus livros, o mistério prende-nos do princípio ao fim. Tal como escreveria
Lurdes Graça Pereira da Silva (juramos com a mão em cima d’“A Mentira Sagrada”,
que não é nossa familiar), “é mesmo impossível parar de ler. Ele tem uma forma
de escrita que nos envolve. Começa por ir tecendo pequenas narrativas de que
não nos conseguimos desligar e, mesmo com os olhos fechados, vai-nos envolvendo
nos meandros do Vaticano. / Chegamos ao fim, vemos a imagem do «tapete» final e
é incrível como tudo encaixou na perfeição. Embora a história tenha terminado,
nós continuamos presos na teia e perplexos. Fantástico”… Subscrevemos
inteiramente!
Até que chegou a nossa vez: "Para o meu amigo Porfírio..." |
Falando agora da excelente
“tertúlia cultural” que tivemos na Sala Couto Viana, da Biblioteca Municipal de
Viana do Castelo, onde nos entrosamos com o Luís Miguel Rocha e “A Filha do
Papa”, ficamos a saber que consegue-se perceber como funciona o Banco do
Vaticano: há gestores de contas que só eles conhecem os titulares que têm
pseudónimos. Soube-se, por exemplo, há pouco tempo, que havia um pseudónimo que
era “Roma” o qual correspondia a Giulio Andreotti, político democrata-cristão
que ocupou o cargo de primeiro-ministro da Itália, e é desde 1991 senador
vitalício da República. Segundo o Luís Miguel Rocha, soube-se deste facto
“porque o gestor, o arcebispo Donato De Bonis – também referenciado no romance
–, o deixou escrito no seu testamento”. No documento “ele afirmou que os fundos
de milhões da conta titulada como «Roma» eram para ser entregues a Andreotti”,
acrescentado que “este arcebispo geriu durante anos os milhares de milhões do
Banco Vaticano”. Ficamos ainda a saber que o banco – criado em 1942, com a
designação de IOR (Instituto de Operações Religiosas), onde as esmolas e
contribuições de solidariedade fossem para um conjunto de contas (fundos e
fundações) a usar em prol dos que precisavam, e não um paraíso fiscal puro como
hoje acontece – foi uma ideia de Madre Pasqualina Lehnert, uma freira alemã que
teve um “caso de amor” com Pio XII, Papa sobre o qual corre um projecto de
canonização e que também é referenciado neste livro editado pela Porto Editora.
“A filha do Papa” que titula o romance é “Anna”, uma das personagens da
narrativa, fruto da relação entre Pasqualina e o eclesiástico italiano. Pasqualina
e Pio XII conheceram-se em 1917, na Suíça, quando este era núncio apostólico em
Munique e posteriormente, exerceu o mesmo cargo em Berlim. Todo o trama anda à
volta de Pasqualina e Pio XII, sendo que ela foi sua confidente, amiga e
amante, muitas vezes ele chamou-a à nunciatura e até lhe contou o que não
devia, como os passos do Tratado de Latrão que decidiu as relações entre a
Santa Sé e a Itália. Ainda segundo o bom amigo Luís Miguel Rocha, a Madre
Pasqualina foi “uma das mulheres mais poderosas do Vaticano, que durou todo o
papado de Pio XII (1939-1958), e sobre quem é difícil investigar”, não escondendo
o fascínio sobre a freira transformada em personagem no seu novo livro.
E as revelações
analíticas – sem profecias ou clarividências, que muitos lhe pretenderam
atribuir – de Luís Miguel Rocha não se fizeram esperar, tendo em conta a
ligação sequencial entre “O Último Papa”, “Bala Santa”, “A Sagrada Mentira” e
“A Filha do Papa”: “João Paulo I meteu-se com o Banco do Vaticano acabou morto,
João Paulo II meteu-se com o Banco do Vaticano sofreu um atentado e mudou
completamente a sua gestão sobre o Banco a partir de 1981 e já não permitiu
auditoria, nem permitiu nada (…) Bento XVI tentou que o Banco do Vaticano
cumprisse todas as normas internacionais, pediu uma auditoria à Moneyval, da
União Europeia, para que em todas as instituições financeiras do Vaticano não
se possa lavar dinheiro, e acabou por resignar”. Daí, o próximo livro – e por
promessa do autor – ter por título “A Resignação”, fechando-se assim um ciclo
sobre os meandros políticos do Vaticano.
Terminamos, tomando como nossas as palavras de Valter Hugo Mãe, outro
dos escritores que tanto apreciamos, quando se refere a Luís Miguel Rocha e ao livro
“A Filha do Papa”: “Um mestre de contar histórias. Exímio a mostrar cada
instante e cada pormenor, como se projectasse cinema na nossa imaginação. Este
livro é um vírus. Domina-nos”. Como todos os outros e o próximo, Valter Hugo
Mãe!...
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