“Tratando-se
de uma obra sobre o que nós naqueles tempos chamávamos «Lagoas de Bertiandos» e
sobre a sua biodiversidade, ela constitui também uma história de vida, não só
do seu Autor; mas também de todos aqueles que com ele puderam partilhar a
descoberta da riqueza de um Paraíso único que felizmente e também por ele,
atempadamente se protegeu”.
António Manuel Lemos Dias Rebelo
Falar desta obra,
esteticamente pautada por uma magnífica apresentação – exprimindo-nos única e
exclusivamente pela máxima de David Hume quando um dia afirmou que “o padrão de
gosto emerge da natureza dos seres humanos” –, transformou-se para nós num
autêntico “delirium-tremens”, já que a nossa paixão pelas coisas da natureza,
apenas se reflecte no escol do reconhecimento da “vastidão da nossa ignorância”…
no assunto versado, claro! Apesar de sentirmos essa “debilidade”, em matéria consequencial
de termos de recorrer à “audi alteram partem”, jamais alguém poderá tirar-nos a
convicção de passarmos de critérios “comuns” para um “padrão” de gosto pessoal.
Daí, começarmos por agradecer ao Dr. Mário Leitão a amável oferta, com
imerecida deferência autografada, e expressarmos como primeira impressão o
plano estético, tendo em conta o impacto emocional. De uma forma geral,
gostamos.
Apesar de há mais de
três décadas trazermos às costas da nossa “amadora condição de ambientalista”,
a luta inglória de vermos o berço ribeirinho da nossa ancestralidade limiana,
classificada como “Área Protegida da Zona Húmida da Veiga de S. Simão”, é
evidente que não nos iremos debruçar sobre o aspecto científico da obra ora
trazida a lume, por nos acharmos intrusos em “seara alheia”, em termos de
conhecimentos. Contudo, não queríamos deixar de salientar a forma
irrepreensível como foi estruturada, em termos de conteúdos, a primeira parte
do livro «Aspectos da biodiversidade na APPLBSPA»: Introdução esclarecedora;
O
que é a biodiversidade, definida em 1989 pelo Fundo Mundial para a
Natureza, esclarecendo o conceito de Zonas Húmidas como “sistemas naturais
complexos caracterizados por propriedades biológicas, ecológicas, hidrológicas
e científicas únicas, que proporcionam uma gama de valores e serviços à
população local e à Humanidade como um todo”; Fauna riquíssima,
reproduzindo O esplendor dos insectos (moscas e mosquitos; abelhas e vespas;
aranhas; gafanhotos, grilos e louva-a-deus; borboletas; coleópteros; caracóis e
lesmas); A graciosa frieza dos répteis; os Mamíferos
(ouriço-cacheiro; esquilo; gineta; lontra; toupeira-cega); O fascinante mundo das aves,
percorrendo a variadíssima avifauna (cartaxo; gaio; poupa; pombo-torcaz;
pombo-doméstico; bico-de-lacre; cia; pintarroxo; melro; pintassilgo; pato-real;
galeirão; galinha-de-água; lavandisca-de-alvéola-branca, cinzenta e amarela;
chapim-rabilongo, real e azul; dom-fafe; tordo-pinto; lugre; pisco-ferreiro ou
rabirruivo; milheirinha ou chamariz; gralha-de-nuca-cinzenta; pega; rola-turca
e brava; toutinegra-de-cabeça-preta e barrete; guarda-rios ou martim-pescador;
pisco-de-peito-ruivo; pardal-comum; garça-real e branca; açor; bufo-real;
águia-de-asa-redonda; maçarico-real; cegonha-branca; gralha-de-nuca-cinzenta;
verdilhão; pardal-doméstico), e que fazendo fé na diversidade, estaremos
perante um caso único a nível europeu e, quiçá, mundial, terminando com uma
descrição curiosa dos ninhos; a Visão, olfacto e outros sensores; Mimetismo,
truques e camuflagem; Cópulas (preferimos a designação “acasalamento
e reprodução”), que nos leva a compreender a que se deve a extraordinária
capacidade adaptativa de certos animais; Outras Espécies; e, por fim, a
descrição da Flora exuberante (topismos e sobrevivência; paraíso de plantas
medicinais; fungos, cogumelos, líquenes e musgos; esporos, sementes e frutos;
flores silvestres), por certo com a imprescindível e sapiente colaboração do
nosso particular amigo, de longa data, João Gonçalves da Costa.
Para terminarmos,
gostaríamos apenas de fazer um pequeno reparo/sugestão, sempre dentro de um
espírito construtivo de opinião, ainda que subjectiva, sendo que, segundo
Gadamer, “o juízo estético e a produção artística andam de mão dada”: Achamos exagerado
conter quatro prefácios, e que a obra – e por forma exclusa em se afirmar
“enquanto a história associativa desses rapazes não é escrita, presto-lhes aqui
a minha admiração, não podendo esconder o orgulho que tenho em ter feito parte
do Grupo” – deveria começar por contar a história do GEICE (Grupo de Estudo e
Investigação das Ciências Experimentais) – citando das suas palavras, “é que
essa associação cultural-científica nunca teria nascido se não fosse a
generosidade de seis jovens limianos (António Mário Lopes Leitão, António
Manuel Lemos Dias Rebelo, António Manuel Portela Vilas Boas, Valdemar dos
Santos Fernandes, Avelino Jorge Guimarães de Sousa e Castro e Francisco
Guilherme de Castro Mendes Gomes) que se uniram num projecto ímpar de ocupação
dos tempos livres, o qual teve grande impacto local, regional e nacional, entre
1975 e 1985” –, perpassando pelo seu estado actual (… o quê a nível
científico?) e o porquê de ter saído de Ponte de Lima; do papel subsequente do
Clube de Vela de Viana e da Associação Amigos do Mar; do incentivo inicial do
então Presidente da Câmara, Francisco de Abreu de Lima – Sinto-me quase cúmplice do entusiasmo (mas não do resultado) que animou
o António Mário –; do processo oficialmente desencadeado pelo Município de
Ponte de Lima, presidido por Daniel Campelo –, por ter conseguido obter junto do Ministro José Sócrates a publicação
do Decreto-regulamentar n.º 19/2000, de 11 de Dezembro, o qual consagra a
existência jurídica da APPLBSPA (perpetuada a memória, em marco levantado
junto à entrada do Centro de Interpretação Ambiental: HOMENAGEM AOS QUE
ACREDITARAM / TRIBUTO AOS QUE FIZERAM) –, e depois, sim, como corolário desse
pioneirismo na criação do Parque Biológico de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, a
publicação da Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos. Aí, por
certo que, a nosso modesto ver, e sem desprimor para o Lions Clube de Ponte de
Lima, o Município de Ponte de Lima “sentir-se-ia na obrigação” – ou a isso seria
obrigado – de editar esta obra.
À parte deste nosso
reparo/sugestão estrutural, gostamos da obra e das “palavras últimas” de Mário
Leitão, num sinal de préstimo e/ou reconhecimento aos “Bardos” deste rio que
nos viu nascer: “Se fosse poeta saberia cantar as maravilhosas aventuras que o
Criador me tem permitido viver! / Seria uma bênção acrescida partilhar
convosco, sob o melodioso poder dos versos, a recordação de belos dias de
emoção nos céus do Minho, nos recantos selvagens do vale do Lima e no silêncio
submerso do mar de Viana. / Enquanto não descubro a veia poética, deixo-vos
estas 535 fotografias e os nomes de 54 pessoas, entre muitas outras, que
partilharam comigo o sonho de criar uma Área Protegida”.
Estamos-lhe gratos por isso!
1 comment:
O nome Vitor Pereira de Morais Lima Diz-lhe alguma coisa? Tenho ideia que foi um dos membros que ajudou na criação do GEICE. Pode confirmar por favor?
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