“Este
romance apresenta uma série de pormenores curiosos sobre a sociedade portuguesa
da época, retratando o modo de vida no nosso país nos tempos de Salazar, onde
as liberdades eram muito limitadas. (…) É, portanto, um bom retrato de uma
época, bem cimentado numa profunda investigação por parte de Domingos Amaral,
que soube passar para o papel, bem misturado com a animada ficção que criou, as
informações recolhidas em arquivos e documentos”
Rui Azeredo
Normalmente não costumámos
comentar livros que adquirimos, mas há circunstâncias em que essa regra é
quebrada pelo “antídoto” do prazer oposto ao de Jack Gil por Luisinha (duas personagens em “o retrato da mãe de Hitler), dado que jamais poderemos
suspender as nossas intenções, “com um sorriso que revela a minha vontade e ao
mesmo tempo a minha pena”, porque votadas a um prazer diferente, que não nos
obrigue a “esperar para depois do casamento”. A paixão pela leitura requer de
nós um afago permanente. Daí, o termos esquecido os “cobres”
circunstancialmente despendidos, ou surripiados ao nosso magro salário de
“rapaz da cal”, sistematicamente “taxado” a preceito pelos corruptores deste
país, para glosarmos o trama das paixões ou do amor que nos deixa sempre em
alarme: Alarma-nos quando começa, ou
quando não é correspondido; alarma-nos enquanto dura, e mesmo que seja
correspondido; alarma-nos quando acaba e nos dói; e continua a alarmar-nos
mesmo que tenham passado mil anos desde o dia em que terminou. Sempre
gostamos de romances históricos, daqueles que exigem do escritor(a) uma
permanente pesquisa aturada de informações recolhidas em arquivos e documentos.
Conhecíamos Domingos
Amaral e a sua escrita através do seu blogue – onde escreve diariamente – (o diário de Domingos Amaral), do qual
somos um dos seus inveterados seguidores, mas nunca tínhamos lido qualquer um
dos seus oito romances. Aproveitando a sua vinda a Viana do Castelo, marcada
pela iniciativa da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo «À conversa com…» –
iniciativa que visa promover, em torno do livro, o diálogo e a troca de
conhecimentos com escritores contemporâneos, proporcionando a oportunidade de
conviver de perto com os autores e a sua obra. Pretende-se que seja um espaço
de incentivo à leitura, de divulgação das obras dos autores da actualidade, de
promoção da cultura e do conhecimento, e, sobretudo, de interacção entre o
público leitor e os escritores –, atrevemo-nos a adquirir este seu último romance,
na expectativa de o sentirmos e “roubar (-lhe) as frases”. Como bloguista que
somos (muxicongo.blogspot.pt), não resistimos em partilhar a opinião de Rui
Azeredo (portalivros.wordpress.com) – por dela comungarmos – a propósito deste
último romance de Domingos Amaral: “A II Guerra Mundial já não estará tão
presente no imaginário dos jovens de hoje em dia como o esteve num passado não
muito distante. Mas, tal como aconteceu ao escritor Domingos Amaral, também no
meu esteve presente; afinal, por volta dos meus dez anos, ainda só tinham
passado cerca de trinta anos desde o final do conflito e agora já lá vão quase
setenta anos. Por isso, esta é uma temática que continua a agradar-me, pelo
que, depois da agradável surpresa que já se revelara Enquanto Salazar Dormia, foi um prazer regressar, com O Retrato da Mãe de Hitler (uma edição
Casa das Letras), a este mundo, na vertente da espionagem, ainda para mais
centrado em Lisboa, que por norma fica fora do roteiro da literatura relativa a
este período tão importante e cativante da história. É que se em termos bélicos
a guerra não passou pelo nosso país, já em termos de informação, segredos e
espionagem, Portugal, e principalmente Lisboa, foi palco de importantes
movimentações”. Amiúdas vezes, nosso pai Manuel Rebôlo (1933-2010), antes de
nos deixar órfãos, confidenciou-nos essa emocional constatação, que
magnanimamente Domingos Amaral nos acaba por “retratar”. Mais não adiantaremos,
por forma a não deixarmos de aguçar o apetite a possíveis novos leitores.
Apraz-nos dizer que
Domingos Amaral é filho de Diogo Freitas do Amaral – qual maravilhosa leitura
da biografia de “D. Afonso Henriques”, publicada em 2002 – e da escritora Maria
Roma (Maria José Salgado Sarmento de Matos) – leituras também espelhadas em “Sorri,
Francisca” (1990); “Primadona” (1994); e “De uma vez por todas” (2001) –,
nasceu em Lisboa, a 12 de Outubro de 1967. É pai de quatro filhos, três raparigas e um rapaz. Formado em
Economia, pela Universidade Católica Portuguesa, onde é actualmente professor
da cadeira de Economia do Desporto (Sports
Economics), tem também um mestrado em Relações Económicas Internacionais
pela Universidade de Columbia, em
Nova Iorque. Durante muitos anos foi jornalista, primeiro no jornal “O
Independente”, onde trabalhou 11 anos; tendo depois sido director das revistas “Maxmen”,
durante sete anos, e “GQ”, por quatro anos. Além disso colaborou como cronista
em diversos jornais e revistas, como “Diário de Notícias”, “Diário Económico”, “Grande
Reportagem”, “City”, “Grazia”, “Invista”, “Fortuna”, “Correio da Manhã” e “Record”.
Colaborou também com a Rádio Comercial
e com a estação televisiva SIC.
Para terminarmos, e
como atrás referimos, Domingos Amaral já tem oito romances publicados, todos na
“Casa das Letras” (Grupo Leya): Amor à
primeira vista (1998); O fanático do
sushi (2000); Os Cavaleiros de São
João Baptista (2004); Enquanto
Salazar dormia (2006), já editado no Brasil, Polónia e Itália, cuja crítica
considera “o primeiro grande romance de grande qualidade de Domingos Amaral.
Escrita fluída, lição bem estudada, amores, camas e romance datado”; Já ninguém morre de amor (2008), também
referenciado pela crítica como “um exemplo de um romance bem estruturado. Há
uma história, uma hierarquia de histórias, a sina da família de Salvador, as
mulheres dele e dos seus antepassados, merecia um final diferente, mas todos
ele é um livro que demonstra que o escritor para além de saber usar as palavras
tem uma capacidade de estruturar uma história e a criação dos personagens”; Quando Lisboa tremeu (2010), também
editado no Brasil; Verão Quente
(2012); e, finalmente, O retrato da mãe
de Hitler (2013), cujo trama começa “no mesmo dia em que Hitler morreu, 30
de Abril de 1945, um coronel das SS chamado Manfred apodera-se de um valioso
tesouro nazi, roubando um cofre em Munique”. À parte dos oito romances, editou
igualmente o livro de crónicas Cozido à
Portuguesa, e um livro sobre economia do futebol, com o título, um pouco amargurado
para nós e para ele, Porque é que o FC
Porto é campeão e o Benfica só ganha Taças da Liga?
Para nós, Domingos Amaral é um escritor com nota máxima, e será sempre um
nome a reter no panorama literário das novas gerações, nomeadamente quando se
fala da – por vezes, exagerada e banalmente em voga – “escrita criativa”!
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