Friday, July 05, 2013

Domingos Amaral e o romanceado “retrato da mãe de Hitler”!

“Este romance apresenta uma série de pormenores curiosos sobre a sociedade portuguesa da época, retratando o modo de vida no nosso país nos tempos de Salazar, onde as liberdades eram muito limitadas. (…) É, portanto, um bom retrato de uma época, bem cimentado numa profunda investigação por parte de Domingos Amaral, que soube passar para o papel, bem misturado com a animada ficção que criou, as informações recolhidas em arquivos e documentos”

Rui Azeredo

Normalmente não costumámos comentar livros que adquirimos, mas há circunstâncias em que essa regra é quebrada pelo “antídoto” do prazer oposto ao de Jack Gil por Luisinha (duas personagens em “o retrato da mãe de Hitler), dado que jamais poderemos suspender as nossas intenções, “com um sorriso que revela a minha vontade e ao mesmo tempo a minha pena”, porque votadas a um prazer diferente, que não nos obrigue a “esperar para depois do casamento”. A paixão pela leitura requer de nós um afago permanente. Daí, o termos esquecido os “cobres” circunstancialmente despendidos, ou surripiados ao nosso magro salário de “rapaz da cal”, sistematicamente “taxado” a preceito pelos corruptores deste país, para glosarmos o trama das paixões ou do amor que nos deixa sempre em alarme: Alarma-nos quando começa, ou quando não é correspondido; alarma-nos enquanto dura, e mesmo que seja correspondido; alarma-nos quando acaba e nos dói; e continua a alarmar-nos mesmo que tenham passado mil anos desde o dia em que terminou. Sempre gostamos de romances históricos, daqueles que exigem do escritor(a) uma permanente pesquisa aturada de informações recolhidas em arquivos e documentos.


Conhecíamos Domingos Amaral e a sua escrita através do seu blogue – onde escreve diariamente – (o diário de Domingos Amaral), do qual somos um dos seus inveterados seguidores, mas nunca tínhamos lido qualquer um dos seus oito romances. Aproveitando a sua vinda a Viana do Castelo, marcada pela iniciativa da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo «À conversa com…» – iniciativa que visa promover, em torno do livro, o diálogo e a troca de conhecimentos com escritores contemporâneos, proporcionando a oportunidade de conviver de perto com os autores e a sua obra. Pretende-se que seja um espaço de incentivo à leitura, de divulgação das obras dos autores da actualidade, de promoção da cultura e do conhecimento, e, sobretudo, de interacção entre o público leitor e os escritores –, atrevemo-nos a adquirir este seu último romance, na expectativa de o sentirmos e “roubar (-lhe) as frases”. Como bloguista que somos (muxicongo.blogspot.pt), não resistimos em partilhar a opinião de Rui Azeredo (portalivros.wordpress.com) – por dela comungarmos – a propósito deste último romance de Domingos Amaral: “A II Guerra Mundial já não estará tão presente no imaginário dos jovens de hoje em dia como o esteve num passado não muito distante. Mas, tal como aconteceu ao escritor Domingos Amaral, também no meu esteve presente; afinal, por volta dos meus dez anos, ainda só tinham passado cerca de trinta anos desde o final do conflito e agora já lá vão quase setenta anos. Por isso, esta é uma temática que continua a agradar-me, pelo que, depois da agradável surpresa que já se revelara Enquanto Salazar Dormia, foi um prazer regressar, com O Retrato da Mãe de Hitler (uma edição Casa das Letras), a este mundo, na vertente da espionagem, ainda para mais centrado em Lisboa, que por norma fica fora do roteiro da literatura relativa a este período tão importante e cativante da história. É que se em termos bélicos a guerra não passou pelo nosso país, já em termos de informação, segredos e espionagem, Portugal, e principalmente Lisboa, foi palco de importantes movimentações”. Amiúdas vezes, nosso pai Manuel Rebôlo (1933-2010), antes de nos deixar órfãos, confidenciou-nos essa emocional constatação, que magnanimamente Domingos Amaral nos acaba por “retratar”. Mais não adiantaremos, por forma a não deixarmos de aguçar o apetite a possíveis novos leitores. 


Apraz-nos dizer que Domingos Amaral é filho de Diogo Freitas do Amaral – qual maravilhosa leitura da biografia de “D. Afonso Henriques”, publicada em 2002 – e da escritora Maria Roma (Maria José Salgado Sarmento de Matos) – leituras também espelhadas em “Sorri, Francisca” (1990); “Primadona” (1994); e “De uma vez por todas” (2001) –, nasceu em Lisboa, a 12 de Outubro de 1967. É pai de quatro filhos, três raparigas e um rapaz. Formado em Economia, pela Universidade Católica Portuguesa, onde é actualmente professor da cadeira de Economia do Desporto (Sports Economics), tem também um mestrado em Relações Económicas Internacionais pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Durante muitos anos foi jornalista, primeiro no jornal “O Independente”, onde trabalhou 11 anos; tendo depois sido director das revistas “Maxmen”, durante sete anos, e “GQ”, por quatro anos. Além disso colaborou como cronista em diversos jornais e revistas, como “Diário de Notícias”, “Diário Económico”, “Grande Reportagem”, “City”, “Grazia”, “Invista”, “Fortuna”, “Correio da Manhã” e “Record”. Colaborou também com a Rádio Comercial e com a estação televisiva SIC.
Para terminarmos, e como atrás referimos, Domingos Amaral já tem oito romances publicados, todos na “Casa das Letras” (Grupo Leya): Amor à primeira vista (1998); O fanático do sushi (2000); Os Cavaleiros de São João Baptista (2004); Enquanto Salazar dormia (2006), já editado no Brasil, Polónia e Itália, cuja crítica considera “o primeiro grande romance de grande qualidade de Domingos Amaral. Escrita fluída, lição bem estudada, amores, camas e romance datado”; Já ninguém morre de amor (2008), também referenciado pela crítica como “um exemplo de um romance bem estruturado. Há uma história, uma hierarquia de histórias, a sina da família de Salvador, as mulheres dele e dos seus antepassados, merecia um final diferente, mas todos ele é um livro que demonstra que o escritor para além de saber usar as palavras tem uma capacidade de estruturar uma história e a criação dos personagens”; Quando Lisboa tremeu (2010), também editado no Brasil; Verão Quente (2012); e, finalmente, O retrato da mãe de Hitler (2013), cujo trama começa “no mesmo dia em que Hitler morreu, 30 de Abril de 1945, um coronel das SS chamado Manfred apodera-se de um valioso tesouro nazi, roubando um cofre em Munique”. À parte dos oito romances, editou igualmente o livro de crónicas Cozido à Portuguesa, e um livro sobre economia do futebol, com o título, um pouco amargurado para nós e para ele, Porque é que o FC Porto é campeão e o Benfica só ganha Taças da Liga?
         Para nós, Domingos Amaral é um escritor com nota máxima, e será sempre um nome a reter no panorama literário das novas gerações, nomeadamente quando se fala da – por vezes, exagerada e banalmente em voga – “escrita criativa”!

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