“Em
termos de Astrologia Hermética, o neófito João Marcos apresentou-se, novamente,
ao Serviço, sob o signo da Constelação de Taurus, do primeiro decanato (25 de
Abril). Como não somos perito em Cartomancia, vamos usar dos nossos
conhecimentos bibliográficos e culturais para caracterizar este nosso Taurino
Irmão, nato e criado na Beira-Lima”.
João Gonçalves da Costa
No passado dia 6 de
Janeiro de 2013 fez oito anos que desencarnou João Marcos, o grande poeta
limiano da universalidade cósmica: “Eu canto deste canto do Universo / o canto
da galáxia onde estou. / Procuro ouvir dos sóis e do Céu terso / resposta ao
meu problema de quem sou”. Face à nossa amizade (não deixava de nos procurar,
sempre que vinha a este “Lima enfeitiçado / pela vila feiticeira / que remoça a
cada instante / e baila de feira em feira / para o rio enamorado”), e tão só
por isso, em vida tivemos o grato prazer e privilégio de apresentar – numa
imerecida tarefa – o seu brado poético “Balaio de camarinhas”, com prefácio de
António Manuel Couto Viana, em cerimónia pública na Torre da Cadeia Velha
(Ponte de Lima), em Agosto de 2001, cujo florilégio contou ainda com a presença
de Cláudio Lima (Maçã p’ra dois, apresentado por Virgílio Alberto Vieira) e de José
Ernesto Costa (Cheio do Rio Lima – Janeiro de 2001, apresentado por Franclim Castro
Sousa). Na altura, aludindo à responsabilidade acrescida – para a qual não nos
sentíamos devidamente dimensionados –, definimos João Marcos como o “sempre
jovem e poeta” e, tal como acontecera em “Epopeia do Homem Cósmico”, a obra que
ora apresentava realçava também o plano transcendente. E isso era evidente nos
títulos que plasmava nas suas obras, como um “balaio cheio de palavras e um
camarinho, repleto de saudade, nostalgia e retorno”. Para nós, João Marcos
tinha o “tempo” – em benefício do ser – e sabia amar, para depois dar um
sentido ao universo, não esquecendo a mulher, a eterna amada dos poetas: “quando
Deus fez a mulher / era hora de inspiração”. A última vez que estivemos com
João Marcos foi quando o acompanhamos à sua última morada – emparceirados por,
entre outros, Alberto do Vale Loureiro, Álvaro Castro, Amândio Sousa Vieira,
Cláudio Lima, Daniel Campelo, Fernando Aldeia, Florinda Costa, Franclim Castro
Sousa, José Ernesto Costa, José Sousa Vieira, Lídia Aleixo, Maria Cândida
Brandão, Maria Conceição Campos e Teresa Alves –, o espaço físico da sua Terra
Natal, onde “trazem-me os dedos do vento / de mal contadas distâncias / as
nostalgias difusas / sepultas num tempo informe. / E em fundo de pinhal verde /
em face às verdes parreiras / agitam verdes perdidos / no espaço de espinho e
rosas / morrendo em tempo insepulto”. Nesse dia, ouvimo-lo bradar: “Quero uma
casa no céu / suspensa de alguma estrela / e que tenha uma janela / para o
terraço que é o céu. / Suspensa de alguma estrela / fora do mundo que é meu”. Felizmente
que João Marcos sempre a tivera!
Anos mais tarde, em
homenagem póstuma a João Marcos, João Gonçalves da Costa lançou, em 25 de Abril
de 2009, uma obra intitulada “João Marcos: vida e obra de um grande pensador da
Beira Lima”, numa edição do jornal Cardeal Saraiva, que no passado dia 15 de
Fevereiro completou cento e três anos de existência. É um livro diferente para
pessoas diferentes, como diferente era João Marcos nesta vida terrena: “num
documento que publicamos, em nome do próprio homenageado, que julgamos inédito,
está patente o seu alto espírito de Aventura
Terrestre e Epopeia Cósmica, na linha de alguns poemas que nos deixou. Por
isso, devemos ser gratos para com aqueles que, tendo, embora, nascido em terras
aparentemente atrasadas, dão-nos uma inusitada lição, não só de civismo e
patriotismo, mas também, uma visão cósmica e uma profunda ânsia de conexão
espiritual com a nossa Consciência
Cósmica” – citamos João Gonçalves da Costa, limiano de Anais, Ponte de
Lima, onde nasceu em Junho de 1934, profundo conhecedor das Gentes e dos
Sítios, por onde tem viajado, desde há muito, muito tempo – como imagem móvel
da eternidade –, onde aprendeu que a competição nem sempre é o melhor Caminho.
Daí, preferir a partilha!
João (Marcos) Gonçalves
Ribeiro (1913-2005) natural de Rebordões (Santa Maria), Ponte de Lima, possui
uma vasta e importante obra literária, que se distribui por vários ramos e
temas: Poesia, Romance, Novela, Crítica Literária e Artística, Análise
Política; Intervenção Política e Sociológica, Literatura de Viagens, Defesa dos
Valores da Natureza, etc. Segundo João Gonçalves da Costa, “cabe-nos, também,
dar corpo aos seus Ideais, exemplos de bairrismo; ligação efectiva de amor ao
torrão natal, ao Karma regional e nacional. Para além do seu labor literário, é
de destacar o seu Amor à Terra Natal e a força anímica com que ele se deslocava,
no seu vetusto Volkswagen, que já
conhecia, de cor, os caminhos para Beira-Lima, sem nunca deixar mal o seu
companheiro”. E João da Costa não deixa de agradecer ao José Ernesto Costa,
“pelo convite e entusiasmo com que me envolveu neste movimento cívico e
cultural, em Memória do Poeta e Escritor João Marcos, nascido a 25 de Abril, em
Rebordões (Santa Maria)”. Também, há cerca de duas décadas a essa parte, havia
sido o José Ernesto que nos tinha apresentado o poeta que deslizava “sob
estrelas entre veigas e pomares / um Lima de magias faz-se areal no meu peito /
sou feito e contrafeito / de pressas e vagares / em marcha sem sentido para um
rumo sem regresso / um rio sai de mim a toda hora / em mim nasce uma fonte a
cada instante”.
Na altura, aquando da
saída deste maravilhoso livro – embora de difícil leitura para o comum dos
mortais – de João Gonçalves da Costa, não podemos estar presentes (nem a ele
aludirmos) porque, tal como houvera acontecido com Lobsang Rampa: “algum tempo
mais tarde, as visões começaram a desvanecer-se. Gradualmente, a minha
consciência, tanto astral como física, abandonou-me. Mais tarde ainda comecei a
ficar desagradavelmente cônscio de sentir frio – o frio de jazer sobre uma laje
na escuridão gelada de um túmulo. O meu cérebro sentia dedos tateantes de
pensamento. Está voltando para nós. Aqui
estamos! Minutos passados e uma luminosidade vaga aproximou-se. Lamparinas
de manteiga. Os três velhos abades. Passaste
a prova, meu filho. Aqui jazeste durante três dias. Agora viste. Morreste e
tornaste a viver”. Foi assim que nos sentimos quando, “cognitivamente”,
passamos por situação semelhante de 2008 a 2011, sem que tivéssemos dado pelo
tempo!
Para terminarmos, e
sabendo nós que outro dos grandes vates limianos (Cláudio Lima) há muito vem
estudando a profícua e multifacetada obra de João Marcos (e de quem era um
especial confidente), pensamos que já vai sendo tempo de perpetuarmos – de uma
forma física, que bem poderá passar também pela edificação de um monumento – a
memória deste grande POETA limiano, que teve a coragem de reconhecer que criava
“a palavra para a transformar em amor infinito / mas a palavra se verga e
contorce num doloroso grito” – simplesmente sublime. No ano em que se comemora
o centenário do nascimento de João Marcos (25 de Abril), pensem nesta nossa
sugestão, para a qual dispensaremos (se assim o entenderem) o nosso “precioso
tempo”.
Haja vontade!
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