Monday, February 27, 2006

O pessimismo como arma de arremesso!...

“As leis são como as teias de aranha – caem nelas os pequenos insectos; os grandes atravessam-nas”.

Anacarse

Peremptoriamente, estamos condenados à síndrome da má interpretação. É nas ocasiões de “mau tempero” – principalmente, nas que nos falta o “gindungo” e/ou o “dendém” – que, circunstancialmente, somos levados a questionar a nossa forma “selvagem” de interpretar o mundo que nos rodeia. Tendo em conta as palavras de Miguel Ângelo (não nos cansamos de trautear e incorporar a forma de «Ser Selvagem»), sentimento presencial e sentido, na voz dos «Resistência», de que «mais do que a um país, / que a uma família, / ou geração... / Mais que a um passado, / que a uma história, / ou tradição... Tu pertences a ti, não és de ninguém...», abraçamos o “puro anarquismo” de Agostinho da Silva, defensor da Idade do Espírito Santo, da liberdade do homem e da alquimia interior... Enquanto escrevíamos estas palavras, apoquentavam-nos outras tantas palavras, ditas ao acaso – ou quiçá, mastigadas a propósito de “esmos” condicionalismos – e ouvíamos, serenamente: «Mais que a um patrão, / que a uma rotina, / ou profissão... / Mais que a um partido, / que a uma equipa, / ou religião... Tu pertences a ti, não és de ninguém...».
O nosso “pessimismo” foi hoje – hermenêutica(mente) – condenado, sumariamente, como malfeitora “vuku”, contaminadora da suposta estabilidade emocional dos “acomodados”: Lukembu, irmão!... Lukembu!...
Há quem queira ver a sociedade feita “cor-de-rosa” (e aqui, tal como nos diria Ximindelo – o “irmão-negro” mordido pela mosca tsé-tsé: Apetece-nos cuspir na sopa!), independentemente e apesar do tempo adiado; das mentiras políticas, do espaço asfixiante preenchido pelos cães de fila, da “treta” da retoma... Trinta e dois anos depois de Abril?!...
Só porque referiram o nosso irmão Agostinho da Silva como optimista (em antítese ao nosso “pessimismo contaminador”) – verdadeiramente optimista, dado que, para o ser, não significa ser acomodado –, recorda-lo-emos na resposta dada ao nosso outro irmão, Victor Mendanha, aquando dos diálogos filosóficos e alquímicos:
– E, agora, o que fazer para mudar o sistema?
– Temos de produzir bastante fruta e deixarmos de utilizar os cães, esperando o dia em que a banca internacional desapareça sem prejudicar ninguém. Nem os funcionários do balcão nem a nós, os que temos de lá ir com letras, cheques ou qualquer outro papel dessa espécie.
Assim são os nossos, abanando o fogo da “kanjica”, mesmo quando nos falta o tempero de óleo de palma, ou deixamos queimar o feijão e o milho!...

Sunday, February 19, 2006

Os “refilões” e os “acomodados”!...

“Estamos sempre dispostos a acreditar naqueles que não conhecemos, pela simples razão de que esses ainda não tiveram oportunidade de nos enganar”.

Samuel Johson

Nunca nos passaria pela cabeça ouvirmos um dia da boca dum astuto e “imaculado político” que a nossa voz reivindicativa – no sentido lato da sobrevivência humana, sendo que o êxito não é uma dádiva, mas sim uma conquista (Marden) – seria rotulada de «refilão». Não é preciso muito esforço para perceber o sentimento etognóstico de tais vociferadoras vozes, acomodadas ao princípio da subalternização da consciência, como quem compra “batatas” para delas fazer “fécula”. A atitude e a conduta dos “desamordaçados” cria-lhes um nervoso miudinho, a ponto de se emularem no auto-martírio, permitindo-se, ao mesmo tempo, em reclamarem qualidades de competência, sagacidade e lealdade que não possuem, mas que fazem questão de ostentar ou proclamar aos sete ventos. Como «refilões» que somos alimentamos e permitimos a “saga dos acomodados”, serenamente, em levadas de flanqueados e desonestos procedimentos, tal como aquilo que nos disseram às escuras possa ser dito à luz do dia, bebendo na inspiração das sagradas escrituras: Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma. Não se vendem dois passarinhos por um asse? E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai! Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados! Não temais, pois valeis muito mais do que os passarinhos (São Mateus 10:28-31). Assim é a nossa dignidade, ferida, mas não morta. Apesar das dificuldades, dos trilhos sinuosos, dos macambúzios “guardiões do templo”, tudo faremos por nossos filhos, sem cairmos na daltónica tentação da mãe-coruja.


Pena é que aqueles que deveriam acreditar em nós, por forma a lhes mostrarmos a nossa capacidade, firmeza e lealdade – porque requer alguma «essência do intelecto» – se deixem levar por pressupostos, ressabiados azedumes e estratagemas dos periclitantes homens de “ideais vários”, “incompetências disfarçadas” pela admoestação e “folclore do pandeiro”. Pena é que assim aconteça: os “refilões” a alimentarem os “acomodados”, quase como uma articulação divergente entre o “bem” e o “mal”... Tão só porque quem “refila” se torna incómodo!
Os “acomodados”, sem trabalho e sem darem a cara – ao tempo das desventuras ideológicas e minorias destroçadas – vivem da necessidade de se mostrarem antagónicos à simbólica e expressiva linguagem do Pe. Manuel Bernardes, que um dia viu o homem como um comediante no trabalho; hóspede na estalagem; candeia exposta ao vento; fábula de calamidade; padecente caminhando para o suplício. E assim, serenamente, às costas dos “refilões”. Em tempo de “mar chão”. Infelizmente, a senilidade do homem “acomodado” é circunstancial, propositada e oportunista. O tempo o dirá!

Thursday, February 02, 2006

«Faróis», «Diários Remendados» e os presentes sacrifícios!...

“Mesmo que tenhas dez mil plantações, só podes comer uma tigela de arroz por dia; ainda que a tua habitação tenha mil quartos, nem de dois metros quadrados precisas para passar a noite”.

Provérbio Chinês

Confessamos a nossa presente apatia por certas causas “nobres” da política (?). E se por razão do tempo, nascemos em tempo desconexo ao velho provérbio chinês, onde uns tantos usufruem, na sua totalidade, das plantações e das tigelas, só mesmo os brados de quem connosco partilha das plantações e das tigelas nos podem aliviar de ditas disfunções apáticas, ocasionalmente trazidas a tempo e a modos de pessoalizáveis “odiosidades”. Hoje, imprimimos o nosso sentir da cósmica leitura do livro do nosso grande amigo Luís Darocha, com o nome literário de Páris Couto (apelidos tomados de seus ascendentes), «O farol das estrelas cadentes», editado pela «Afrontamento», em Novembro de 2004. É por necessidade sensitiva que, tal como Páris Couto, numa dessas noites raras, feita de euforias várias, quando o céu está mais nítido e mais próximo – sejam elas invernais ou estivais, primaveris ou outonais –, tudo o que por lá anda, nos parece ao alcance das nossas mãos. Mas, circunstancialmente, tudo é feito de enganos!

No preciso momento em que acabáramos de ler «O farol das estrelas cadetes» de Páris Couto, recebemos a bem difundida notícia de que Pedro Santana Lopes – que, tal como nós, tem 49 primaveras –, se havia “reformado” com a módica quantia de 3.170 euros (635.534$28, pelo dinheiro da nossa identidade), em tempos de contenção, sacrifícios e afins. Nada nos move contra Santa Lopes, e se o citamos aqui, apenas, e tão só o fazemos porque – sendo figura mediática – serviu de bode expiatório a centenas e centenas de casos semelhantes por esse país fora (abrangendo todos os partidos políticos), até mesmo em espaços físicos bem perto de nós... Tudo isto quando o Sr. Primeiro-Ministro nos diz que temos de trabalhar até ao 65 anos de idade, perfazendo cerca de 48 anos de trabalho, sem duplos ou triplicados benesses... Valeu-nos a leitura e o sonho de Páris Couto para descomprimir: Ouviu-se então uma espécie de lamento, por meio do concerto de ralos, corujas, rãs, mochos e muitos outros bichos que de noite dão asas às suas qualidades. Há muito boa gente que tem medo dessas sonâncias nocturnas, mas eles, por estarem com [...], não mostraram receio.
O bom amigo Luís Darocha, nascido em 1945 e a viver (e a trabalhar) em Paris desde 1969, filho de Alberto Couto e neto de João da Rocha (O Frei), esteve cá por altura da Expo-Feira do Livro de Viana do Castelo e expôs na Galeria Barca d’Artes e nos Antigos Paços do Concelho, quadros e desenhos de formas e épocas diferentes, os quais tinham como ponto comum elementos ligados à leitura: É na plena implicação na Arte que nos libertamos de todo instinto de conservação da espécie e nos envolvemos o momento contemporâneo. Aqui e agora. Então pode acontecer que o tempo se torne livre, elástico, indefinido, para não dizer infinito – citamos Luís Darocha. E deixou-nos um “Farol”, visionário das “Estrelas Cadentes”, inspirado no mar de Carreço, de Viana e do Mundo. Faróis como este não constam dos livros, porque visível em noites habitadas pela luz intensa da Via Láctea. Enquanto isso, os sonhadores continuam a pagar a crise, com sacrifícios!

Wednesday, February 01, 2006

Desertificação das Cidades

“Com menos de dez habitantes, o Rossio, em Lisboa, é cada vez mais uma praça pública de ninguém, resultado da ocupação pelo comércio de quase todos os andares dos moradores ao longo dos anos”.

Agência «Lusa»

A desertificação das pequenas e grandes cidades!...

Quando devíamos estar a debater o gravíssimo problema da desertificação das pequenas e grandes cidades, eis que a preocupação dos agentes comerciais vai no sentido de apontarem o dedo à proliferação das grandes superfícies. Embora faça sentido, essa preocupação tem sido, também dissimulada alguma apatia ao fenómeno da cidade desabitada para que se venha a justificar o injustificável. Já uma vez o escrevemos (1991) que a vila de Ponte de Lima faz repensar Viana, não apontando, na altura, os factores circunstanciais que levariam a tal “afirmativo despautério” do nosso subconsciente. De facto, ao fim de semana, a vila de António Feijó, de Norton de Matos e do Cardeal Saraiva continua a fervilhar de gente, dando sinais de uma inter-relação afectiva entre o comércio e o cidadão. Em terras de Ponte, sempre houve a preocupação de combater a desertificação, por forma a se estabelecer essa inter-relação. Os estabelecimentos de restauração – e similares – entendem e cultivam esta ancestral prática (quase familiar) de, no mesmo local do comércio, se reservar o primeiro andar ou divisões confinantes ao rés-do-chão, para habitação.


Pegou a moda de nas pequenas e grandes cidades transformarem todos os espaços disponíveis e habitáveis, em grandes centros comerciais, onde proliferam, de uma forma desordenada – face ao desequilíbrio de forças –, agências bancárias, “prontos-a-vestir” e outras tantas superficialidades, que em nada são convidativas à permanência ou à afectividade do cidadão, já que os residentes há muito que se transferiram para os arredores da cidade, sendo as suas anteriores residências transformadas em escritórios de advogados, laboratórios e outras coisas tais... Queixam-se os comerciantes e queixam-se os cidadãos. Em Viana, por exemplo, já foi normalidade viver sobre o tecto ou paredes-meias com um qualquer estabelecimento comercial, cujos proprietários se queixam, hoje, dessa desenfreada desertificação. Associado a este desânimo vem a insegurança. Deixou-se de ouvir este ou aquele pequeno barulho e o alarme quando dispara, já os “amigos do alheio” estão a fazer contas à vida, bem longe do centro nevrálgico dos malogrados “visitados”. Ninguém ouviu, ou se ouviram disfarçam sorrateiramente e dizem-se “moradores noutro bairro”. Ir ao café era morar ali ao lado!
Ponte de Lima tem sido para nós ponto de encontro, no terreiro ou no pátio, a fervilhar de gente. Bem ao centro da Vila, muitos são os nossos amigos que moram por cima de agências bancárias, cafés ou “prontos-a-ventir”. Uma simbiose perfeita, quando se reflecte nas consequências de decisões irreflectidas. O lucro de hoje, muitas vezes é o prejuízo de amanhã!
Vivemos um tempo em que as grandes superfícies começam a proliferar nos arredores das cidades, bem perto das actuais residências dos cidadãos. Será que ainda não deram por isso?