Saturday, July 19, 2014

José Ribas Fernandes volta a reunir antigos colegas e professores da “Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo”!...

“Para nós, que nos educamos no culto do respeito pelo homem, têm muito valor os simples encontros que se transformam, por vezes, em festas maravilhosas”.

Saint-Exupery

Para comemorarmos a nossa centésima (100) crónica «ao correr da pena e da mente…», nada melhor que a pura coincidência de nesse mesmo fim-de-semana, mais concretamente, no sábado, 12 de Julho de 2014, se realizar o IV Encontro de antigos colegas e professores do – também hoje professor – José Ribas Fernandes, com assento escolástico na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo (EICVC), hoje Escola Secundária de Monserrate, cujas raízes remontam à Escola de Desenho Industrial de Viana do Castelo, passando por Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, tendo, em 1979, passado a designar-se pelo nome como é conhecida actualmente.


Tendo como lema «Que sou eu sem os outros?», título de uma mensagem recuperada e trazida pela Professora Rosa Figueiredo, inspirada em Phil Bosman: «Sem os outros, a vida, o amor e a felicidade não passam de utopias. Estamos todos interligados por uma infinidade de fios. Uma vida depende doutra e nenhuma se desenvolve sem as outras», este quarto encontro começou com uma visita guiada à referida Escola, pelos professores Bouça Morais e Vitorino, hoje com entrada pela Avenida do Atlântico, depois de obras de reestruturação e ampliação, proporcionando novas polivalências e ofertas opcionais.


A brilhante, porque irrepreensível, intervenção caracterizou-se pela construção de novos edifícios na nova frente de escola onde se instalam os espaços administrativos, espaços sociais, a nova biblioteca e o novo espaço desportivo, tendo-se procedido à remodelação dos edifícios existentes, garantido a satisfação das atuais exigências de conforto, segurança e acessibilidade. O bloco oficinal existente foi remodelado, introduzindo novas valências como os laboratórios de ciências e salas TIC e de artes. Relativamente às instalações desportivas, procedeu-se à requalificação do ginásio existente e à construção de instalações desportivas de apoio (balneários, vestiários e espaços de apoio). Os espaços exteriores da escola foram remodelados, nomeadamente zonas de lazer e desportivas.


O quarto convívio culminaria com um jantar num dos restaurantes sito nas proximidades da Princesa do Lima – qual delicioso bacalhau regado com vinho ao gosto de cada um, exceptuando-se os motores movidos a água, por imperativo das “mazelas cinquentando” –, tendo respondido à chamada os alunos Adélio Lima da Cruz, Domingos Carvalhido da Ponte, Ilídio de Jesus Reina de Morais, José Maria Riba Fernandes, Porfírio Pereira da Silva, Guterres Fernandes Brás, Carlos Martins da Silva Araújo, José Lima Damião, Adriano de Passos Gonçalves Pires, António Casa Nova Ramos, Luís Gabriel Baptista Lima, José Augusto da Silva Portela, Fernando Couto Alves, Fernando Lei Monteiro da Rocha, Victor Manuel Esteves Montes Pinto, Manuel Alberto A. de Passos Fernandes, José Fernando Ferreira da Costa, João Paulo da Rocha Carvalhido, Mário Américo Franco Alves; e os professores Bouça Morais, Pedro Vasconcelos, Franklim Carvalho e Rosa Figueiredo, sendo que esta última ofereceu a todos os presentes o poema completo de Phil Bosman, extraído do seu livro Felicidade, o qual acabaríamos por ter a ousadia de o ler. Todos acabaram por reconhecer que «a vida vive-se com os outros. / Viver com os outros significa / que tenho que partilhar tudo com eles. / Nada lhes pode acontecer por minha culpa. / Tenho que os aceitar, / acolher, querer». E a nossa amizade, que perdura há mais de quarenta anos, só pode desenvolver-se com a ajuda de todos, porque tivemos professores eticamente bem formados e possuidores de uma profunda cumplicidade para com os alunos.
         Daí, para o ano, voltarmos a acender uma vela, em vez de amaldiçoarmos a escuridão, porque, como diria Helen Keller, «a única treva sem luz é a noite da ignorância e da insensibilidade». 

Friday, July 11, 2014

500 Anos dos Forais da Terra da Nóbrega e de Lindoso!...

“Um bem-haja ao Agrupamento de Escolas, ao seu Director, professores, alunos e demais profissionais de ensino envolvidos nesta celebração, por serem parceiros fundamentais em muitos momentos da nossa história colectiva”.

António Vassalo Abreu

Para assinalar os 500 anos (1513-2013) da outorga do Foral da Terra da Nóbrega, o Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca, com o patrocínio do Município local, dinamizou, ao longo da semana de 21 a 25 de Outubro de 2013, um conjunto de actividades abertas à comunidade, que passou por uma exposição “Terra da Nóbrega: uma viagem no tempo…”, organizada pela Biblioteca Escolar em articulação com o Grupo de Artes Visuais; apresentado um documentário com o mesmo nome, da autoria de Pedro Cerqueira e de Luís Arezes, e a gravura “500 anos do Foral da Terra da Nóbrega”, de Emanuel Cruz; e promovido um colóquio com o Doutor António Matos Reis, subordinado ao tema «Forais manuelinos da Terra da Nóbrega e de Lindoso», tema que viria a dar corpo ao livro «500 anos dos Forais da Terra da Nóbrega e de Lindoso», dado à estampa em Maio do presente ano, e que às nossas mãos chegou, numa gentil, ainda que imerecida, oferta do maior especialista da Época Medieval do Alto Minho, nosso particular amigo Doutor António Matos Reis.


Tal como escreve Carlos Alberto Martins de Sousa Louro, Director do Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca, “a publicação deste livro é a homenagem ao Concelho, às pessoas e às instituições de Ponte da Barca. É a forma que encontramos para todos felicitar. Partilhando informação. Esperançados que também ela possa ser o princípio de novos conhecimentos. Que ajude a explicar este mundo que integramos”. Palavras sensatas, revestidas de alguma humildade, mas que representam muito mais do que uma simples iniciativa comemorativa: Com a publicação desta obra, desejamos proporcionar um contributo à valorização da História e da Identidade locais, recuperando um passado multissecular, de notável grandeza, construído por gente de nobres valores e de princípios sagrados, que soube lançar os fundamentos das origens e também projectar com solidez o futuro de uma Terra – assim se pode ler em Nota de Abertura, assinada pela Escola Básica e Secundária de Ponte da Barca. Com iniciativas desta natureza é assim que nasce a consciência evolutiva de cada região, da comunidade, do indivíduo ou da memória colectiva, embrionária do conceito socrático, quando afirma que “a maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser”. Quem trabalha assim, fá-lo pelo ser, sem o parecer.
Esta obra dos «500 anos dos Forais da Terra da Nóbrega e de Lindoso», numa edição conjunta do Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca e do Município de Ponte da Barca, com fotografia de Pedro Cerqueira, conta na apresentação com textos de Carlos Louro e António Vassalo Abreu, por nós já atrás referidos, seguindo-se a Nota de Abertura; dois textos de Luís Arezes: “A Terra da Nóbrega na Viragem de Quinhentos”, onde ressaltam temáticas histórico-religiosas da origem e limites, as 32 freguesias, os “ecos” da Capital do Reino, a erecção da Paróquia de S. João Baptista de Ponte da Barca, D. Manuel e(m) Ponte da Barca, os mosteiros de S. Salvador de Bravães e de S. Martinho de Castro, Santa Maria Virgem de Vila Nova de Muía: um cavalo e uma mula, os castelos da Nóbrega e de Lindoso, terra de heróis de poderosos conselheiros do rei, a Dinastia dos Magalhães, Fernão de Magalhães, a maioridade da Terra da Nóbrega na viragem de Quinhentos, terminando com algumas fantasias… ou narrativas pitorescas – e “Terra da Nóbrega: uma viagem no tempo”; um pequeno texto de Emanuel Cruz «Gravura “500 anos do Foral da Terra da Nóbrega”, onde é explicada a linguagem artística do referido documento régio; e, finalmente, o bom amigo e ilustre medievalista António Matos Reis com a explicação aturada d’“Os Forais Manuelinos da Terra da Nóbrega e de Lindoso”, cientificamente irrepreensível, como, aliás, nos vem habituando, perpassando historicamente por cinco capítulos: 1. Terras, municípios, julgados e forais, 2. Os forais manuelinos, 3. O foral novo da Terra da Nóbrega: 3.1 – Quadro histórico e geográfico, 3.2 – Conteúdo do foral, 4. O Foral Manuelino de Lindoso, 5. Tabela de portagens, acabando por transcrever os dois forais, fielmente reproduzidos também em fotografia.
Tal como podemos ler em António Matos Reis: “No foral manuelino da Terra da Nóbrega não está incluída a freguesia de Lindoso, que é a mais extensa do actual concelho, embora a maior parte do seu território corresponda a uma zona de montanha. A ancestralidade do povoamento deste local é testemunhada pela existência de uma ara romana dedicada a Hérculos, e por outros achados arqueológicos. / A importância de Lindoso advém da sua localização numa área de fronteira, junto de uma das vias de passagem, que acompanhava o curso do rio Lima…”, assim ficamos a entender melhor, em linhas gerais, as origens das freguesias, também estudadas num outro seu apontamento, publicado na Revista de Administração Local, n.º 255, Maio-Junho 2013, p. 297-307: A sobrevivência e o desenvolvimento das comunidades locais constituem os pilares da verdadeira democracia, e a freguesia é o primeiro órgão de que dispõe o cidadão para participar na vida pública e zelar desse modo pelos interesses da comunidade a que pertence (p. 307). Pena é que as arrelvadas deambulações do Miguel, se tenha esquivado à leitura dos especialistas na matéria, e se firmasse, única e exclusivamente, na pertença ou erudita sapiência de equivalências várias…
Esteticamente perfeito, «500 anos dos Forais da Terra da Nóbrega e de Lindoso», uma leitura que, obrigatoriamente, se recomenda. Nesta magnífica obra, os ventos da História correm à feição do Tempo. Mesmo do tempo que está para lá dos tempos, porque Memória e Identidade do Povo.

NOTA MÁXIMA!       

Friday, July 04, 2014

Livre Arbítrio ou Liberdade?!...

“Uma vez que a liberdade de acção é a liberdade de fazer aquilo que queremos fazer, o livre arbítrio é a liberdade de querer o que queremos querer”.

Susan Wolf

O conceito de Livre Arbítrio ou Liberdade, apesar da sua complexidade, é sempre um tema que nos induz à possibilidade de autodeterminação e de escolha. Mas, se tomarmos em conta essa mesma complexidade – considerada em si e na sua própria história –, logo constataremos dificuldades de vária ordem. Tendo em vista o lado do sujeito, entendê-la-emos como, já atrás referimos, possibilidade de autodeterminação e de escolha, acto voluntário, espontaneidade, indeterminação, ausência de interferência, liberdade de impedimentos, realização de necessidades, direcção prática para uma meta, propriedade de todos ou alguns actos psicológicos, ideal de maturidade, autonomia sapiencial e ética, razão de ser da própria moralidade – citamos Joaquim de Sousa Teixeira. No entanto, pelo lado do objecto, o conceito de Liberdade apresenta-se-nos privada ou pessoal, pública, política, moral e social. Isto se tivermos em conta a liberdade de acção, de ideias, de pensamento, de circulação, de comércio, de palavra, de culto, de associação, etc. Com estas e outras designações, a Liberdade prende-se, entre outros, com os conceitos de livre arbítrio, razão, acto, autonomia, vontade, “boa vontade”, consciência moral, dever, determinação, determinismo, indeterminismo, indiferença, compatibilismo e incompatibilismo, responsabilidade moral, etc.


No seu carácter histórico e/ou antropológico, a Liberdade pode aplicar-se analogicamente ao mundo animal. Contudo, dada a vida animal não passar de uma sucessão de comportamentos (reage), e só a vida humana se apresentar como actividade ritmada (age), a ideia de Liberdade só ganha significado quando aplicada ao homem. A propósito de tudo isto – e tendo em conta a diferença entre o agir e o reagir –, Joaquim de Sousa Teixeira, alega que muitas são as questões antropológicas que se colocam: Foi o homem sempre livre? Quando e por que é que se deu o «salto» para a racionalidade e liberdade fundamentais como hoje as entendemos? Na caminhada ascensional da Humanidade para a Liberdade, como é que se interligam os fenómenos mutantes fisiológicos e ambientais? Assim, e tendo em conta este raciocínio, tornar-se-á impossível falar de humanidade sem uma racionalidade e liberdade radicais. Por isso é que, nos tempos que correm, e ainda segundo Joaquim de Sousa Teixeira, “a liberdade na sua essência e como valor, sobretudo pelas necessárias implicações metafísicas que acarreta, não pode ser abordada por métodos positivos de verificação”.
Apesar de já Aristóteles ter admitido que todos os «seres físicos» têm uma espontaneidade real, pois contêm em si o princípio dos seus actos, sem o pressuposto da racionalidade não se pode falar de vontade e de liberdade, mas de impulso ou apetite animal e de espontaneidade decorrente de uma natureza. Abordando o conceito de liberdade pelo lado da racionalidade, facilmente seremos levados a afirmações como a de que o homem é tanto mais livre quanto mais responsável for. Esta e outra afirmações desta natureza – e tal como afirmara São Tomás de Aquino: “a raiz última da Liberdade é a razão”, só fazem sentido quando pertencentes ao plano ético, moral e mesmo político.
Até chegarmos à contemporaneidade, muitos foram os que se debruçaram sobre o conceito de Liberdade e de que são exemplo, entre outros, Santo Agostinho; René Descartes – Se eu conhecesse sempre o que é verdadeiro e bom, … seria inteiramente livre, sem ser, jamais, indiferente; Leibniz – Qualquer substância tem perfeita espontaneidade, que se torna liberdade nas substâncias inteligentes; Espinosa; Auguste Comte – A verdadeira liberdade consiste em fazer prevalecer as boas inclinações sobre as más; Immanuel Kant; Henri Bergson; Jean-Paul Sartre – A liberdade não tem essência; ao contrário, é ela que constitui a base de todas as essências. A liberdade apresenta-se-nos, assim, tão difícil de definir, constituindo no entanto, para cada um de nós uma experiência e/ou uma representação tão familiar quanto indiscutível.
Se tomarmos em linha de conta que ser livre, por exemplo, significa não ser impedido de fazer o que se quer ou dizer sem receio o que se pensa; a ausência de qualquer coacção externa; somos confrontados com o seu sentido original. Segundo Élisabeth Clément [et al.], por exemplo, os estóicos esforçaram-se por pensar a liberdade independentemente de qualquer condição exterior. A concepção estóica orienta, desta forma, a reflexão teórica numa direcção nova e fecunda, a ponto de toda a filosofia clássica afirmar a liberdade como a independência interior e a capacidade moral de se determinar seguindo unicamente os conselhos da razão e da inteligência não revelada pela paixão. Hoje, coloca-se outras tantas interrogações adicionais de modo a que a nossa liberdade “obedece” ao princípio da lei da causalidade, que rege todos os fenómenos, supressora de qualquer indeterminação, ou seja, da ciência experimental segundo o qual existem relações necessárias entre os fenómenos, de tal forma que cada fenómeno é rigorosamente condicionado pelos que o precedem ou acompanham (Determinismo) – Assim, os exemplos tipo Frankfurt têm a importante função de «afastar» o «debate» de considerações acerca da relação entre determinismo causal e possibilidades alternativas. O que agora se torna importante é considerar se o determinismo causal na sequência efectiva pode com plausibilidade ser visto como eliminando «directamente» a responsabilidade moral, independentemente de considerações relativas às possibilidades alternativas – citamos John Martin Fischer; ou, antes pelo contrário, a liberdade é estabelecida pela vontade humana (Indeterminismo), e de que é exemplo, essa «vontade de poder» que Nietzsche afirmaria. É precisamente nesse sentido, e perante muitas das interrogações colocadas, que um dia nos propusemos a estabelecer um “confronto saudável” entre a noção da «liberdade da vontade e o conceito de pessoa» em Harry G. Frankfurt e «a sanidade mental e a metafísica da responsabilidade» em Susan Wolf. E acreditem que a viagem até à contemporaneidade, através destes dois autores de gerações diferentes, foi uma experiência maravilhosa.
        Para terminarmos, uma questão fica no ar: Será que a liberdade de fazer é o mesmo que a liberdade de querer?