Monday, January 23, 2017

«Memórias e afectos à janela do tempo» em Nela Martins Fernandes!...



«Insignificâncias fazem a perfeição, mas a perfeição não é uma insignificância…»

Miguel Ângelo

Acompanhamos desde a primeira hora a “vontade férrea” da Nela Martins Fernandes em passar para o papel alguns dos seus brados poéticos, sendo que esse acompanhamento se viria a transformar numa cumplicidade activa, sem dissimulações, onde a palavra “não” jamais poderia ser pronunciada pela nossa boca. Daí, a “obrigação” por vontade própria em organizar, prefaciar e apresentar as suas “memórias e afectos” à janela do seu e nosso mundo. Dissemo-lo que lá estaríamos, com ou sem bateria. E lá estivemos, incondicionalmente. Isto só foi possível porque através da susceptibilidade de comunicar sem o auxílio dos meios ordinários de comunicação, concentração intensa como forma de organizar os corpos astral e mental e de fazer deles instrumentos para a “consciência em via de desabrochamento completo”.
Estivemos lá porque, necessariamente, acreditamos usufruir da faculdade inata para o estado de vigília. A premonição assim nos o indicava. Tudo mais estava plasmado no prefácio:


Nela Martins Fernandes foi nossa companheira de escola, ao tempo em que a partilha do sonho cheirava a nostalgia. Todos nós sonhávamos acordados porque eramos forjados pela natureza na sua ordem natural, enquanto matéria-prima, substância permanente e primordial de todos os seres. O naturismo era o nosso culto, mesmo quando sabíamos da sua não existência. A personificação e a adoração das grandes forças ou dos fenómenos assustadores da natureza, aglutinavam-se na nossa própria natureza do SER, irreverente e/ou rebelde, mas doce e solidário.
Nela Martins Fernandes, mulher feminina (não feminista) emancipada, musa inspiradora e centro das atenções do Orpheu do nosso tempo, mesmo não tendo sido mordida por uma picada de serpente – não morrendo, por isso, como muitas das “Eurídices” do nosso tempo –, fez-nos descer aos infernos, porque mortos às mãos de mulheres trácias. Era o tempo em que vivíamos, no dizer de J. Evola, longe do reino da máquina, da plenitude do materialismo, do enganoso igualitarismo prosperante, da selvagem concepção economicista da vida, mas, dizemos nós, bem perto do despertar para um estado superior da consciência.
Nela Martins Fernandes, de musa inspiradora do nosso tempo de escola, atreve-se à contemporaneidade das mulheres inspiradas e poetas. «Memórias e afectos à janela do tempo», marca o início de uma caminhada por caminhos cruzados, encontros imaginários, mundos e lugares maravilhosos por ela idealizados, misturando afectos, «levando ilusões, sonhos, / abraços e beijos, (…) / medos e fobias, / esperas eufóricas, / despedidas chorosas, / num vai e vem de saudade, / risos e lágrimas, / encontros e desencontros, / amores e desamores…», remexendo baús e abrindo janelas ao estado temporal de saudade e nostalgia.


Numa escrita simples mas sentida, Nela Martins esconde-se, por vezes, na expressão alegórica, aquela a que nos é dado chamar de “metáfora prolongada ou comparação explorada na qual cada elemento do representante corresponde a um elemento do representado, ideia ou moral em geral.” – citamos Pierre Riffard. Vejamos o exemplo: «Onde andas? / Que fazes? / Curiosidade, / afinal que importa? / Há viagens irrepetíveis, / que deixam vazios indescritíveis, / partindo a alma, / esfarrapando o coração, / vandalizando a existência. / O diário fala de uma vida: / Fui muda / Fui surda / Fui cega / Fui tudo que permiti… / Fui farrapo / e escrava do nosso tempo… / Fui o que não queria: / Morri aos bocados / Temi as ameaças / Aterrorizava-me a chantagem / Fugia-me a vida… / Sobrevivi à escravidão / Gritei / Levantei a voz / Parti / SOU EU.» Não é inocente a sua escrita, aparentemente simples, como também não é ingénua a nossa constatação (firmada) da sua expressão alegórica.
Nela Fernandes não é uma mulher poeta apocalíptica, nem pretende com este seu brado poético, transformar-se num apócrifo escatológico. Antes pelo contrário. Afirmando-se ser daqui, deste mundo, diz não pertencer ao mundo de faz de conta, porque não dirige falsidades e não entende este mundo de gente abismada: «…Munidos de telemóveis sem destino / Miúdos perdidos no monte / Pais permissivos e sem autoridade / Não pertenço onde me ditem as palavras / Nunca pertenci / Não entendo a vida de aparência / Ser pobre é a minha opção / Ser rica requer-me vassalagem / Sou de outro mundo / Sou eu / SOU FELIZ.»
Assente no princípio da sabedoria como um paradoxo, mais palavras nossas serão desnecessárias para nos vergarmos à constância dos bons sentimentos em Nela Martins Fernandes. Só com bons sentimentos (mesmo na revolta) se poderá fazer poesia. Natura son facit saltus, porque entre os mais afastados seres da Natureza há outros intermediários que os relacionam.
Apesar de nos pautarmos pelo princípio estético de que a biografia de qualquer um de nós está na sua acção e obra, apenas referiremos que Nela Martins Fernandes nasceu na freguesia de Deão, concelho e distrito de Viana do Castelo, a 6 de Janeiro de 1955. Fez o Curso Geral de Administração e Comércio na antiga Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, hoje Escola Secundária de Monserrate. Sempre teve o gosto pela escrita e pela leitura. É uma amante da natureza e do desporto. «Memórias e afectos à janela do tempo» é o seu primeiro brado (poético) em letra de fôrma.
         Parabéns, e venham muitos mais!

(In, Cardeal Saraiva, Ano 107, N.º 4640, 19 de Janeiro de 2017, p. 19 - Ao correr da pena e da mente... [172])

Tuesday, January 17, 2017

III Colóquio Luso-Brasileiro de Filosofia Antiga




III Colóquio Luso-Brasileiro de Filosofia Antiga
Cura e (Des)encantamento
Programa

1º Dia: 19 de Janeiro de 2017 

Secção de Abertura
(16h00) Prof. Manuel Gama (Dir. Depart. Filosofia U. Minho), M. Curado e L. Coutinho (Orgs.)

Sessão Plenária Especial
(Moderador: Manuel Curado)
(16h30-17h15) Francesc Casadesús (U. Islas Baleares)
“La filosofía del divino Pitágoras: terapias, curaciones y prodigios”
(17h15-17h30) Debate
(17h30-17h45) Coffee break 

I Painel  
(Moderador: Luciano Coutinho)
(18h00-18h30) António de Freitas (U. Minho)
“Cura, palingenesia e apocalipse”
(18h30-19h00) Edrisi Fernandes (U. Federal do Rio Grande do Norte)
“Ganimedes, o Xamã, ou os Efeitos Curativos do Hidromel
[Ganymede the shaman, or the healing benefits of mead]”
(19h00-19h15) Debate

2º Dia: 20 de Janeiro de 2017

II Painel 
(Moderador: José Marques Fernandes)
(9h30-10h00) João Peixe (U. Minho)
“Práticas medicinais antigas no alvorecer da Idade Moderna”
(10h00-10h30) Bernd Renner (U. Brasília)
“O desencantamento da arte da cura em Cornélio Celsius”
(10h30-11h00) Luciano Coutinho (U. Federal de Uberlândia / UMinho)
“A psicologia de cura do xamanismo”
(11h00-11h15) Debate
(11h15-11h30) Coffee break

III Painel 
(Moderador: Stella Zita de Azevedo) 
(11h30-12h00) Paulo Alexandre e Castro (U. Minho)
“Do coração humano e outros milagres da natureza humana”
 (12h00-12h30) Alexandra Santos (U. Coimbra)
“O Elogio de Helena: Górgias e o encantamento através do logos”
(12h30-12h45) Debate
(12h45-14h) Almoço

IV Painel
(Moderador: Virgínia Soares Pereira)
(14h15-14h35) Paulo Alexandre Lima (U. Coimbra)
“A figura mítica de Édipo como pharmakon” 
(14h35-14h55) Tiago Cerejeira Fontes (U. Minho)
“Liber Vaccae: experiências de geração artificial ou horrendas visões de ilícita curiositas”
(14h55-15h15) Djalma M. Marques (Advogado e Professor)
“O Poder Encantatório e Curativo das Palavras e dos Sentidos”
(15h15-15h30) Debate

Sessão Plenária Especial
(Moderador: Edrisi Fernandes)
 (15h30-16h15) Crystal Addey (U. of St. Andrews)
“Dreams, Medicine and Healing in Late Antiquity: Oneiromancy (Dream Divination) in Porphyry’s Philosophy from Oracles”
(16h15-16h30) Debate
(16h30-16h50) Coffee break
(16h50-17h20) Lançamento de Livros

Cura e Encantamento: Rito, Mito e Psicologia
Luciano Coutinho & Edrisi Fernandes (Ogs.)
Apresentação: Luciano Coutinho & Edrisi Fernandes

Filosofia Antiga: Reflexões sobre a Vida Cósmica e a Vida Social
Dennys Garcia Xavier; Luciano Coutinho e Manuel Curado (Ogrs.)
Apresentação: Luciano Coutinho & Manuel Curado

V Painel 
(Moderador: Paulo Alexandre e Castro)
(17h20-17h50) Rogério Sousa (U. Coimbra)
“Conhecimento que cura: a iluminação da consciência e a sabedoria no Egipto faraónico”
(17h50-18h20) Manuel Curado (U. Minho)
“O Cesto de Papéis de Platão:
O Que Fica de Fora e Nos Salva”
(18h20- 18h45) Debate
(18h45) Encerramento dos Trabalhos

Organização
Manuel Curado (Universidade do Minho)
e Luciano Coutinho (Universidade Federal de Uberlândia, MG, e CEHUM/Uminho, lucianocoutinho1@gmail.com)
Colaboração: Paulo Alexandre e Castro (CEHUM/Uminho)

Localização
Auditório do Instituto de Letras e Ciências Humanas
Campus de Gualtar
4715-386 Braga
Portugal

Apoios
Departamento de Filosofia
e Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH) da Universidade do Minho                                                                                                                                                               
Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade da Uberlândia                                                                          
Capes – Fundação do Ministério da Educação do Brasil     

Memória de Eventos Anteriores

I. Medicina e Psicologia na Antiguidade (Braga, Universidade do Minho, 27 de Fevereiro de 2014)

II. Cosmologia
(Encontro Multitemático de Filosofia Antiga, NEFAH-UFU, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil), 26 e 27 de Novembro de 2015)

Monday, January 16, 2017

Publicado o Tomo 50 dos «Cadernos Vianenses»!...



«Os cinquenta tomos dos Cadernos Vianenses, elaborados entre 1978 e 2016 apresentam uma história refeita de novas ideias e novos factos, com capas e ilustrações que apenas a Liberdade permitiu e com estudos que fazem reflexões sobre a vida social, cultural e histórica do nosso concelho…»

José Maria Costa

Depois da nossa precipitada ausência durante cerca de dois meses, porque condicionados por contratempos físico-motores de um dos membros superiores, eis que voltamos ao saudável convívio com os nossos leitores. Marca esta “rentrée” a nossa incondicional presença na cerimónia de lançamento do Tomo 50 dos Cadernos Vianenses, publicação periódica (presentemente, anual) da Câmara Municipal de Viana do Castelo que há trinta e oito anos (1978-2016), como afirma em nota de “Apresentação” o seu director e presidente do Município, José Maria Costa, são exemplo da liberdade de expressão e da democracia. Só nesta assunção de liberdade é que publicações como estas se realizam e é também graças ao poder local eleito, que assinala neste mês os seus 40 anos, que este tipo de liberdade acontece…, manifesta convicção com a qual corroboramos e, consequentemente, subscrevemos.


Como vem sendo habitual, coube ao coordenador desta tão procurada e ansiada publicação, simultaneamente director da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, Rui A. Faria Viana, fazer a abertura e as honras da casa, espelhando através de uma análise minuciosa, cientificamente irrepreensível, todo o percurso dos Cadernos Vianenses ao longo dos 38 anos de existência, vinculado e impresso em letra de fôrma pelos 50 Tomos, centrando-se por último na análise aos conteúdos deste quinquagésimo tomo, enaltecendo a qualidade dos colaboradores, a longa e ininterrupta ligação do artista Rui Pinto aos Cadernos Vianenses, “ligação que para além de ser graciosa já se tornou afectiva”, e o reportório gráfico-científico do designer Rui Carvalho.
Apraz-nos registar as palavras de Maria José Guerreiro, vereadora do Pelouro da Cultura, expressando o incontornável papel desta publicação que já se tornou uma referência a nível nacional, principalmente quando se fala da Cultura como “o tecido que perdura e que sustenta a sociedade”; de Rui Pinto quando na sua bem vincada e indisfarçável modéstia procurou comparar o seu trabalho às prendinhas de Natal: Estamos numa época em que, curiosamente, pode aparecer uma oferta com grande papel bonito, muitas fitas, e quando abrimos aquilo não tem nada de importante lá dentro. As capas são o papel de Natal. Gostava que olhassem para o meu trabalho como o papel de embrulho. É a primeira imagem do livro. Os "Cadernos Vianenses" valem pelo seu conteúdo – disse; e, por último, as palavras do presidente do Município, José Maria Costa, que reforçariam a importância deste mesma publicação, espelhada pela qualidade dos seus colaboradores, agradecendo à Biblioteca e a toda a sua equipa a dinâmica cultural ao longo deste mandato, salientando a articulação com as redes das Bibliotecas Escolares; descodificação através do trabalho com os autores, ilustradores e poetas (Contornos da Palavra); apoio à investigação; espaço de diálogos culturais (convívio de várias expressões culturais), dando como exemplo o «À conversa com...» e «Feira do Livro»; oportunidade criada no apoio a várias edições, transformando-a num veículo da promoção do Livro, dando ênfase ao «Prémio Escolar António Manuel Couto Viana», apostando nos novos talentos, etc., conotando-a como uma “Biblioteca Activa”.
   

E porque seria fastidioso, para não dizermos incompatível com o “objecto-espaço” destes nossos apontamentos, fecar-nos-emos pelos conteúdos e autores deste quinquagésimo tomo: Cadernos Vianenses: os cinquenta tomos editados entre 1978 e 2016, da autoria de Rui A. Faria Viana, Carla Mesquita e Zita Manso (p. 13-19); Cinquenta capas e o mesmo autor: arte aplicada e criatividade de Rui Pinto (1.ª parte), da autoria de José da Cruz Lopes (p. 21-53); Anónima mas reconhecida: a fonte que dá nome aos “Cadernos Vianenses”, da autoria de Patrícia Vieira (p. 55-66); Viana da Foz de Lima no século XVI: as famílias vianesas segundo o rol de inscrição na Confraria do Nome de Jesus em 1561, da autoria de António Matos Reis (p. 71-150); Subsídios para a História do Porto de Mar de Viana: as obras de 1931/40, da autoria de Gonçalo Fagundes Meira (p. 153-165); Camilo Castelo Branco (1825-1890): entre o génio-nevropata e a loucura de seu filho Jorge, da autoria de Porfírio Pereira da Silva (p. 167-177); Viana em Camilo: o Vinho do Porto – processo de uma bestialidade ingleza (1884), da autoria de David F. Rodrigues (p. 179-193); Mosaico de habitats e flora da orla costeira minhota, da autoria de Horácio Faria (p. 195-251); O grafismo da Romaria da Nossa Senhora da Agonia na época modernista, da autoria de Marlene Isabel Miranda Azevedo e Ana Filomena Curralo (p. 253-264); O moinho de vento de Darque, da autoria de Fernando Ricardo Silva (p. 267-285); Intervenção arqueológica realizada no âmbito da requalificação da Travessa da Vitória, da autoria de Miguel Costa, Jorge Machado e Tiago Almeida (p. 287-307); Doze objectos em exposição na Casa dos Nichos, da autoria de Hugo Gomes Lopes (p. 309-333); Maria Augusta d’Alpuim: humanismo e solidariedade, da autoria de Artur Anselmo (p. 337-346); Talha religiosa de Viana do Castelo: Panorama Estético-III, da autoria de Francisco José Carneiro Fernandes (p. 351-387); Arrolamentos dos bens das igrejas, da autoria de António Maranhão Peixoto (p. 389-399). Este Tomo termina com as habituais notas sobre os colaboradores (p. 403-414).         
Para comemorar esta edição foi lançada conjuntamente com o referido Tomo uma “pen drive” com diversos índices (bibliográfico, autores, títulos, assuntos e iconográfico) que permitirá facilitar a consulta e o acesso aos conteúdos de todos os números até agora publicados. Trata-se de um trabalho técnico desenvolvido no âmbito da equipa da BMVC, liderada pelo seu director e coordenador dos Cadernos Vianenses, Rui A. Faria Viana, e que, a partir de agora, passa a ser possível consultar ou fazer download do documento em “pdf”, através da página da Biblioteca.
        NOTA MÁXIMA!