Sunday, January 31, 2016

À conversa com António Mega Ferreira!...

«Um livro, um filme, uma ópera. Nos contos de António Mega Ferreira é possível identificar uma constelação afectiva, um universo literário e cultural que passa das obras dos outros para a sua. Na verdade, o escritor e ensaísta concebe até as suas histórias curtas, justamente pela dimensão, como um diálogo intertextual, uma conversa que mantém com a criação alheia. Às vezes, chegam a ser formas de continuar o que ficou suspenso, interrompido, nas mãos do leitor. Muitos dos seus contos alimentam-se dessa curiosidade sobre o “depois do fim”. São sequelas de enredos, revisitações de lugares, dúvidas acerca de personagens. Mas não só. Noutros casos, revelam-se obsessões, memórias, lentas elaborações que, com o tempo, se impuseram na página…»

JL (Ano XXXV, N.º 1165, p. 11)

ANTÓNIO MEGA FERREIRA, escritor, gestor e jornalista, nascido em Lisboa a 25 de Março de 1949, esteve em Viana do Castelo, na noite de 22 de Janeiro de 2016, no «À conversa com…», habitual iniciativa mensal da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, onde se pretende promover, em torno do livro, o diálogo e a troca de conhecimentos com escritores contemporâneos, proporcionando a oportunidade de conviver de perto com os autores e a sua obra.  
Este excepcional escritor/conviva (culturalmente bem formado e de um humor refinado), frequentou o Liceu Normal de Pedro Nunes, licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e estudou Comunicação Social, na Universidade de Manchester. Iniciou-se no jornalismo em 1968 no Comércio do Funchal, exercendo como profissional a partir de 1975, no Jornal Novo, Expresso, ANOP e RTP, onde chefiou a redacção do 2º canal e foi apresentador do Informação/2. Autor e apresentador de programas de televisão, foi ainda redactor de O Jornal e chefe de redacção do JL (Jornal de letras, artes e ideias). Entre 1986 e 1988, António Mega Ferreira assumiu a direcção editorial do Círculo de Leitores, e fundou e foi o primeiro director da revista Ler. Membro da Comissão dos Descobrimentos a partir de 1988, fundou a revista Oceanos e dirigiu a campanha de promoção de Lisboa como cidade candidata à Exposição Internacional de 1998. Foi comissário executivo da Expo’98, Oceanário de Lisboa e Pavilhão Atlântico. Foi também presidente do Conselho de Administração da Parque Expo entre 1999 e 2002, e da Fundação Centro Cultural de Belém, entre 2006 e 2012.


Dirigiu a representação de Portugal como “País-Tema” da Feira do Livro de Frankfurt de 1997, e, desde 1986, cronista regular em diversas publicações, entre as quais se destacam: Diário de Notícias, O Independente, Expresso, Diário Económico, Visão, Egoísta e Público. Actualmente, António Mega Ferreira desempenha as funções de director executivo da AMEC/Metropolitana.
A 9 de Junho de 1998 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e, em 2002, recebeu o Grande Prémio Camilo Castelo Branco pela recolha de contos «A expressão dos afectos». Traduziu livros de Annie Kriegel, Mishima, Cendrars, Stendhal, Unamuno, Perec e Robert Louis Stevenson.
Iniciou a sua carreira literária em 1984, tendo publicado mais de três dezenas de obras, no âmbito da ficção, poesia, ensaio e crónicas, sendo que, da sua extensa bibliografia, destacamos: “Graça Morais, Linhas da Terra” (ensaio), 1984; “O Heliventilador de Resende” (ficção), 1985; “Fernando Pessoa, o Comércio e a Publicidade” (ensaio e antologia), 1985; “As Caixas Chinesas” (ficção), 1988; “As Palavras Difíceis” (ficção), 1991; “Os Princípios do Fim” (poesia), 1992; “Os Nomes de Europa” (ensaio), 1994; “A Borboleta de Nabokov” (crónicas), 2000; “A Expressão dos Afectos” (ficção), 3ª edição, 2001; “Amor” (Novela), 2003; “A Blusa Romena”, (romance), 2008; “Lisboa Song”, (ficção), 2010; “Roma – Exercícios de Reconhecimento”, 2010; “Macedo, uma biografia da infâmia” (biografia), 2011; “Cartas de Casanova – Lisboa 1757”, 2013; “O essencial sobre Marcel Proust”, 2013; e “Hotel Locarno”, 2015, livro que serviu de mote para dois dedos de conversa.


Tal como se pode ler em sinopse, “da solidão sem esperança do xerife de Rio Bravo à busca sem horizonte num lugar qualquer do Alentejo, treze contos em que se contam desencontros e incompreensões, como os quartos fechados de um hotel romano, sem portas de comunicação uns com os outros. Um conferencista que se precipita na memória de um nome amado, um cadete da marinha que faz da dissimulação o seu livre-trânsito para a liberdade, um diplomata incapaz de resistir ao perfume de uma baiana e de tolerar o aroma de um fruto tropical, uma criança que nunca será capaz de perdoar ao pai uma recusa que lhe nega a possibilidade de ser sujeito da História, são outras tantas almas desiludidas e errantes que se acolhem à sombra protectora do Hotel Locarno. De passagem. Rumo a outro hotel qualquer”. De facto, se à partida o nome do hotel nada tivesse a ver com o conteúdo e cronologia dos acontecimentos, António Mega Ferreira, ao alegoricamente colocar-lhe quartos fechados sem portas de comunicação uns com os outros, acaba por lhe imprimir vida e comunicação, através de vontades e afectos, tarefas quotidianas, solidão, peso da ausência, formas de nunca ter chegado a chegar, frieza absurda da dor na partida, curiosidades que satisfazem-se, e, depois de saciadas, acomodam-se “à ideia feita que a revelação nos oferece”.
António Mega Ferreira não gosta do cliché de que a culpa é das mulheres, sempre que se fala de comportamentos e traições. Por isso, dá voz a Zerlina, sem fingimentos ou surpresa de se tornar subitamente prisioneira de todos os sentimentos contraditórios: culpa, desejo, remorso ou curiosidade. Ao rejeitar Don Giovanni, Zerlina acaba por exercer a sua própria liberdade. Há em Hotel Locarno, por exemplo, uma presença afectiva de Marcel Proust; intemporalidades; e cheiros, como, circunstancialmente, é o caso do fruto tropical “Jenipapo”, causa-efeito do perfume perturbante, emanado da mulata Rosália para o pobre cônsul Ilídio Mendes: “O perfume concentrado do jenipapo invadiu tudo, o seu desejo insatisfeito e a sua decepção, a sua raiva e a consciência do seu descalabro. Ilídio Mendes só teve tempo para se debruçar sobre o lava-louça: como quem expulsa uma tensão longamente suportada, esvaziou o estômago sem aliviar a alma”. Há ainda tempo para falar da República e do “tio João, que era um monárquico indefectível”; de uma “teoria da leitura”; da visão de D. Quixote no Palacete Hotel de Madrid; e da razão pela qual alguém deixou que a porta se fechasse atrás de si, permitindo a contraposição de que “qualquer lugar é bom para começar a procurar”.
Um livro com uma diversidade de registos, onde nem mesmo os quartos sem portas de comunicação conseguem impedir de encerrar o livro da adolescência.
Uma conversa interessante, bem-humorada, de portas escancaradas.
         Gostamos, e isso nos basta! 

Friday, January 22, 2016

João Vaz de Carvalho expõe em Viana do Castelo!...

«O João Vaz de Carvalho mostrou-me os narigudos inspiradores e perscrutadores que se cruzam comigo nesta dimensão terrena, que se apresentam sinceros e límpidos nos gestos quotidianos…»

Maria José Guerreiro

João Vaz de Carvalho, nascido em Fundão (1958), desde cedo revelou grande interesse pelas artes visuais. Autodidacta, é na cidade de Coimbra, no início da década de oitenta que começa a trabalhar em desenho, pintura e cerâmica na oficina do mestre Vasco Berardo. Já em Lisboa, a partir de 1987 dedica-se em exclusivamente à pintura e logo depois também à ilustração. Obtém em 1988 a primeira encomenda de ilustração para a revista Marie Claire. O humor e o nonsense são essenciais, sendo a construção dos desenhos uma das etapas que considera mais empolgantes do seu processo de trabalho. Vive e trabalha na Parede. Realizou dezenas de exposições em colaboração com inúmeras galerias e participou em vários projectos e feiras de arte contemporânea. Trabalha regularmente com a Galeria Trema – Arte Contemporânea. Na qualidade de ilustrador, colaborou com a maior parte dos títulos da imprensa portuguesa e ilustra livros para os mais novos tanto em Portugal como no estrangeiro. Entre os prémios recebidos destacam-se: 1.º Prémio Ilustrarte 2005, Bienal Internacional de Ilustração para a Infância; 2 Diplomas dos Prémios Visual 2008, Espanha; 45rd The Golden Pen of Belgrade Award 2009, Sérvia; 1.º Prémio da Crítica do Calendario Duemila 2011, Cremona, Itália; 1.º Prémio de Caricatura World Press Cartoon 2011, Sintra; Award of Excellence of Communication Arts 2012, EUA; Prémio Winner da Criative Quarterly 2012, EUA; Prémio Runner-Up da Criative Quarterly 2012, EUA.


Mais ou menos sugestionados por estas breves notas acerca de um dos mais conceituados artistas de artes visuais, João Vaz de Carvalho, bem vincadas no painel da Exposição da sua autoria, «ver com o desejo», onde se procura fazer uma abordagem, ainda que concisa, à sua obra gráfica editada em livros, jornais, revistas e objectos (entre os quais destacamos porcelanas da “Vista Alegre”); e nas palavras de abertura de Rui A. Faria Viana, responsável pelo projecto a que deu o nome de «Exposição de Obra Gráfica», cujo tema, e sem temermos ser repetitivos, é a obra de um artista convidado, de reconhecido valor, publicada em livros, jornais e revistas por editoras e instituições nacionais e estrangeiras. Rui A. Faria Viana, fez questão de recordar que a primeira exposição aconteceu em Maio de 2013, com «diários de sombras» de Tiago Manuel, circunstancialmente director artístico e coordenador do mesmo projecto; seguindo-se a exposição «domador de imagens» de João Fazenda em Janeiro de 2014; em Julho de 2014, com «desenhos atrás do espelho» de André Carrilho; em Janeiro de 2015, com «história natural com parafusos» de Luís Manuel Gaspar; e, em Julho do mesmo ano, com Cristina Valadas e a exposição designada «vida desenhada à mão», congratulando-se “por se tratar de um projecto de exposições coerente e consistente que tem perdurado no tempo e que espero venha a continuar a trazer a Viana do Castelo os artistas mais significativos da ilustração portuguesa”, lembrando e agradecendo, ao mesmo tempo, todo o empenho do pintor Tiago Manuel, na direcção artística e coordenação de todo o trabalho e na concepção dos catálogos, que se têm revelado, também, autênticas obras de arte. Ao todo, entre 2013 e 2015, passaram pela Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, cinco conceituados artistas de artes visuais.


Agora, com João Vaz de Carvalho e a «ver com o desejo», abre-se o ano de 2016 da melhor forma. Inaugurada no pretérito sábado, 16 de Janeiro do corrente ano, esta exposição estará patente ao público até ao dia 9 de Julho de 2016.
Tiago Manuel, começou por falar deste projecto ligado às artes visuais (e não só) como o único interessante em Viana do Castelo, manifestando o apreço e a preocupação do Município vianense, em trazer até nós estes artistas que passam ao lado, só porque estão por trás de obras magníficas, considerando, ao mesmo tempo, João Vaz de Carvalho como o primeiro artista que trazia a Viana do Castelo, escultor da fantasia, onde há uma espécie de alegria de vida, em detrimento do humor negro. Recordando uma das máximas do seu mestre Júlio Rezende, quando um dia afirmou que “até para fingir que não se sabe é preciso saber-se muito…”, acabou por realçar a qualidade artística de João Vaz de Carvalho: “bússolas que nos reorientam para o essencial” ou “heterónimos de Fernando Pessoa, simbolizados por cadeiras”.
Maria José Guerreiro, vereadora do Pelouro da Cultura, orientou a sua referência estética para o “fingimento da criação”, apreciando o humor fantasiado de João Vaz de Carvalho, tendo em conta que – fazendo nossas, suas palavras – o humor é que nos salva a capacidade de olharmos para nós e percebermos a nossa finitude: «Estamos lá todos, na nossa finitude e grandeza, na nossa ambição e medo, na coragem quotidianamente construída e reconstruída. Estamos lá todos. Sem excepção. Obrigado, João!» – citamos.
Segundo Ju Godinho e Eduardo Filipe, curadores da ILUSTRARTE, “o mais fascinante dos mundos paralelos (que nunca se encontram com o nosso, a não ser no infinito) é a ténue possibilidade de existirem. E contudo, as únicas provas que temos da sua existência são aquelas que nos são trazidas pelos raros que descobriram as raras passagens de lá para cá. / O João Vaz de Carvalho pertence a esse grupo. Há muito que visita periodicamente um desses mundos paralelos…”. Essa foi a nossa sensação, partilhada quer pelo fingimento da criação ou quer mesmo pelo humor fantasiado, onde “os personagens, apanhados em flagrante, sabem bem de onde vêm e para onde vão”. Por isso, estivemos lá e atrevemo-nos a recomendar uma visita demorada a esta magnífica exposição.         
         Nota máxima!

Sunday, January 17, 2016

Apresentação do livro «Baliza trágica de um naufrágio», na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Braga, Portugal

Um apelo, com algum sentido lógico, à participação de todos os nossos amigos e amigas, sem excepção (mesmo para aqueles que fazem o favor de serem menos um pouco), na cerimónia de apresentação da nossa deambulação trágico-literária «Baliza Trágica de Um Naufrágio», um olhar sobre o Mar, uma reflexão universal para o futuro, através de conjunturas passadas e presentes, desmistificando sensibilidades, idealismos, transformações sociais e culturais. A cerimónia terá lugar na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Braga, Portugal, no dia 30 de Janeiro (sábado) pelas 15h30, sendo que a apresentação estará a cargo do Professor Doutor Manuel Curado, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho. Sem que seja necessariamente obrigatório comprar o livro, apareçam para dois dedos de conversa e um abraço fraterno. Obrigado a todos e todas!


Friday, January 15, 2016

Arcos de Valdevez: a terra e o foral manuelino!...

«No âmbito do programa de comemorações dos 500 anos dos Forais de Arcos de Valdevez, o Município assumiu a responsabilidade de perpetuar, na actualidade e no futuro, as memórias históricas e documentos desta nossa Terra e de um dos períodos mais importantes da História arcuense e da nação portuguesa…»

João Manuel Esteves

Contando com o rigor científico de Paula Pinto Costa e António Matos Reis, o Município de Arcos de Valdevez, no âmbito do programa de comemorações dos 500 anos dos Forais arcuenses, publicou, em Outubro de 2015, «Arcos de Valdevez: A terra e o foral manuelino (texto e contextos)». Segundo o presidente deste mesmo município, é no contexto dos 500 anos de história a olhar para o Futuro, e ao abrigo do vasto conjunto programático que se estende até Novembro de 2016, que surge este extraordinário (adjectivação da nossa lavra) volume, completando um outro importante documento editado em Outubro de 2014, dedicado ao Foral do Soajo, então elaborado por Paula Pinto Costa.
Com a publicação deste segundo volume completa-se assim uma colecção de elevada importância histórica, não só para Arcos de Valdevez, mas também para a região e para o país. Só assim se compreenderá a mais-valia do texto e contextos, enquanto propósito de se tornar num documento essencial para a compreensão – no dizer do seu presidente, João Manuel Esteves, – do passado arcuense e uma viagem pela nossa História e dos nossos antepassados, cuja evocação dos seus feitos, das suas leis, dos seus costumes e ritmos de vida, parecem novamente no nosso presente, construindo as bases da nossa essência cultural identitária, que, tal como na centúria de quinhentos, é de um povo empreendedor, que enfrenta os desafios com confiança, esperança e vontade de querer o melhor para a sua Terra… – citamos, acrescentando-lhe, apenas, a região e o país.


Constituem este magnífico (aqui, a adjectivação vai no sentido estético) volume, três capítulos: I – TERRAS, MUNICÍPIOS E FORAIS (p. 7-27), com texto de António Matos Reis, agilizando um percurso histórico por – 1. Terras, enquanto “circunscrições territoriais, mais ou menos vastas, em que estava dividido o território, para fins administrativos e sobretudo para efeitos de defesa e, em geral, de organização militar”; 2. Julgados, a partir do momento e quando “os problemas da defesa passaram para segundo plano e as funções de administração da justiça adquiriram uma certa autonomia”, passando a ter uma grande importância os julgados; 3. Municípios ou concelhos, enquanto comunidades locais dotadas de autonomia; 4. Forais, documentos que têm “como função o dar início ou levar à organização de uma nova comunidade” e, noutras circunstâncias, “reconhecer e confirmar oficialmente uma comunidade já existente”; 5. Mudanças dos tempos, explicação para o desenvolvimento económico e social de todo território, com a criação dos municípios, estando-lhe inerente a consolidação e a defesa das fronteiras; 6. A urgência de uma reforma, com a elaboração de legislação geral destinada a ser aplicada por igual em todo o território; 7. A dinâmica do reinado de D. Manuel I, com a criação de uma comissão especial, por forma a elaborar novos forais e cobrança das taxas devidas pela sua elaboração; 8. Processo de elaboração dos forais manuelinos, que passaria por várias etapas e obedecer a vários requisitos; 9. Os forais e a reforma administrativa, no fundo, a explicação sobre outorga dos forais novos e a publicação de leis gerais e vários Regimentos; 10. O processo de outorga, em análise (acompanhado de um bem elaborado gráfico), entre 1500 e 1520, período em que foram outorgados à volta de quinhentos forais novos; 11. O foral manuelino de Valdevez, explicação meticulosa sobre o processo conducente à elaboração do Foral Manuelino de Valdevez.
II – A TERRA E O CONCELHO DE VALDEVEZ (p. 29-44), também com texto de António Matos Reis, apontamento que complementa o primeiro capítulo, através das seguintes abordagens: 1. O legado da antiguidade; 2. Os tempos obscuros; 3. O emergir de uma “terra”; 4. Os donatários; 5. Novos tempos; 6. O domínio de Leonel de Lima; 7. Transformações da economia local, com incidência em três vertentes: 7.1. A feira, 7.2. Caminhos e pontes, e 7.3. A praça e a capela; 8. A população; 9. O município do “foral novo”, tratando-se de “um caso singular, o de uma terra que recebe um foral que define ou confirma a sua identidade municipal depois do foral manuelino, ao contrário do que sucedeu com a maioria dos municípios portugueses”.
III – O FORAL MANUELINO: TEXTO E CONTEXTOS (p. 45-83), meticulosamente elaborado por Paula Pinto Costa, ilustrado por bem elaborados gráficos e tabelas, abordando cinco pontos: 1. Propriedade, sendo que “o foral dos Arcos de Valdevez dá a conhecer uma estrutura de propriedade e de articulação de diversas instâncias de poder que são reflexo da longa história desta terra minhota”; 2. Senhorio e instituições, espelhados no registo do foral manuelino de Valdevez, onde se encontram importantes informações, contextualizando a época, titulares e o interesse que o rei D. Manuel devotou a estas terras; 3. Rendimentos e indicadores de produção, onde se analisa produtos e obrigações, aferição dos produtos (pesos, medidas e preços), periodicidade e procedimentos relacionados com os pagamentos, direitos reais; 4. Pessoas: interesses e formas de afirmação, com destaque para o estudo dos vizinhos, homens-bons, camponeses e indigentes, somando-se “os apaniguados do senhor da terra”, os membros do clero e os religiosos, oficiais (do rei, do senhor, do concelho) e os foreiros; 5. O impacto do foral manuelino, onde nos é revelado o processo de elaboração de um foral novo e a sua complexidade, sendo que “o processo de elaboração de um foral novo contava com a recolha de informação através de inquirições”.  
Seguem-se quatro documentos, que passam pela reprodução fac-simile da versão original do foral de Valdevez – Arquivo do Museu-Biblioteca da Fundação da Casa de Bragança, Vila Viçosa, BDM Ms XXXIV – (p. 89-174), com transcrição (p. 175-223) da versão original, por António Matos Reis; reprodução fac-simile do registo do foral de Valdevez – Torre do Tombo, Leitura Nova, Livro dos Forais Novos de Entre Douro e Minho, fls. 77-86 – (p. 227-248), com transcrição do registo (p. 249-282), por Paula Pinto Costa; Transcrição, por António Matos Reis, do documento em que D. Manuel concede o título de vila e concelho a Arcos de Valdevez (p. 283); e, por fim, transcrição, também por António Matos Reis, do documento em cujo Corregedor de Entre Douro e Minho, no cumprimento do mandato régio que ordenou o recenseamento das cidades, vilas e lugares da comarca, regista o número de habitantes (chefes de família) do concelho de Valdevez e das respectivas freguesias (p. 284-287).
E como não podia deixar de ser, fazendo jus aos requisitos e rigor científico dos prestigiados historiadores/investigadores, este magnífico volume, termina com fontes documentais e bibliografia, e um bem elaborado glossário, por António Matos Reis.
Um livro que se recomenda.
         Nota máxima!

Wednesday, January 13, 2016

Editado e apresentado o Tomo 49 dos «Cadernos Vianenses»!...



«Os “Cadernos Vianenses” são já uma referência cultural incontornável do Município de Viana do Castelo. Esta edição reúne um conjunto significativo de textos de diversos especialistas mas versa também diversos aspectos da sociedade vianense…»

José Maria Costa

No dia 29 de Dezembro de 2015, realizou-se, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, a sessão de lançamento do Tomo 49 (2015) dos Cadernos Vianenses, brilhantemente apresentado pelo seu coordenador e Chefe de Divisão de Biblioteca e Arquivo Municipais, Rui A. Faria Viana, cujos conteúdos, para além da “Apresentação” do Presidente do Município (p. 9-11) e das “Notas sobre os colaboradores” (p. 387-398), passam por quatro secções.


A saber, sem que nos debrucemos de uma forma minuciosa pelos conteúdos: NO V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO BEATO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES: Sebastião Pires Ferreira – Beato Bartolomeu dos Mártires: estímulo para uma acção social cultural mundial (p. 15-37); António Matos Reis – Itinerários entre Portugal e Itália: A viagem de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires (p. 39-77); David F. Rodrigues – Frei Bartolomeu dos Mártires em dois romances de Camilo (p. 79-91).
ESTUDOS VÁRIOS: Manuel António Fernandes Moreira – Os Coutos Medievais do Baixo-Lima (p. 95-118); Carlos Alberto da Encarnação Gomes – Viana e o Mar: uma família de vianenses (p. 121-133); Henrique Rodrigues – História da Indústria em Viana do Castelo no século de oitocentos (p. 135-181); José da Cruz Lopes, Manuel Rivas Gulías e Rui J. Branco Cavaleiro – Os Bairros do Modernismo Urbano no Planeamento Urbanístico e na Organização dos Equipamentos Sociais da cidade de Viana do Castelo (1911-1974) (p. 183-207); Maria Isabel da Cunha Teixeira – Da Cultura Popular Vianense na década de 30/40 do século XX (p. 209-223); Gonçalo Fagundes Meira – Notas sobre o Teatro em Areosa (p. 225-237); Marisa Cardoso Magalhães – O Calcolítico e a Idade do Bronze na Bacia do Rio Neiva, Nw de Portugal (p. 239-252); Fernando Ricardo Silva – O Cemitério na Igreja de Darque: um contributo para o seu estudo (p. 255-292); Jorge Machado, Miguel Costa e Tiago Almeida – Intervenção arqueológica no âmbito do projecto de reabilitação da Igreja de Santo António (p. 295-317); Patrício Rocha – Igreja de Santo António: História do processo de estabilização estrutural (p. 319-327).
FIGURAS E MEMÓRIAS: António Pimenta de Castro – O General Pimenta de Castro: um militar republicano, no contexto da Primeira República e da Primeira Guerra Mundial (p. 331-351).
CONTINUADOS: Francisco José Carneiro Fernandes – Talha Religiosa de Viana do Castelo: Panorama Estético-II (p. 355-371); António Maranhão Peixoto – Arrolamento dos bens das igrejas (p. 373-382).


De realçar o excelente trabalho de design-gráfico de Rui Carvalho e a do artista plástico Rui Pinto, que há 37 anos vem a dar corpo às capas dos quarenta e nove números desta imprescindível publicação (o que constitui, só por si, a história do percurso artístico desta ilustre figura vianense), abordando assuntos relacionados com as gentes de Viana do Castelo, e como se podia ler em nota introdutória ao primeiro tomo (1978), analisando-as sob o ponto de vista etnográfico e etnológico, somática e culturalmente, tratando de desvendar as suas possíveis etnias, entendidas estas como seus caracteres noológicos; relembrando e evocando o seu passado e, assim, estudando a sua história, quer no aspecto puramente antropológico, quer nas suas manifestações culturais, etc., etc.. Como enfatizaria a Vereadora do Pelouro da Cultura, Maria José Guerreiro, esta publicação municipal, é bem demonstrativa do enorme carinho e apreço que os colaboradores têm vindo a demostrar ao longo de todos estes anos, com os seus preciosos trabalhos, marcadamente pautados pelo rigor científico, para que tenhamos um pedaço da nossa terra e da nossa gente.
A fechar, o Presidente do Município, José Maria Costa, reiterou as palavras de Rui A. Faria Viana e de Maria José Guerreiro, acrescentando a mais-valia desta publicação pela sua procura, assente na forma e conteúdo dos textos, nos vários domínios, em face da forma graciosa e abnegada com que os colaboradores se entregam, emprestando-lhe um cunho de elevado nível cultural. E deixou um repto para o Tomo 50 (2016): A participação dos vianenses na I Guerra Mundial.
        Nota máxima!