Friday, August 19, 2016

«Correlhã: outros tempos»: a humildade com elevação!...

«A leitura deste livro conduz-nos por um percurso: os seus monumentos, a sua arte, as suas gentes, as suas relações de diálogo, de dependência e independência, as suas lutas, as suas vitórias, os seus trabalhos, as suas lendas… a sua trama na construção da sua identidade…»

Pe. Dr. José Correia Vilar

Nem sempre o que nasce de circunstâncias pomposas ostenta os predicados necessários à proposição de uma realidade verdadeira. Por “defeito” de formação habituamo-nos a olhar e a sentir a “Verdade” em dois sentidos: No primeiro caso por se tratar de uma preposição que é verdadeira diferentemente de falsa; e no segundo caso por se tratar de uma realidade que é diferentemente de aparente, ilusória, irreal, inexistente, etc. Assim acontece com os livros, com os documentos e com outras realidades físicas. Tal como os filósofos gregos, que não se ocuparam apenas da verdade como realidade, ainda continuamos a procurar a verdade face à falsidade, à ilusão e à aparência.
Mas, vamos ao que interessa, tendo em conta que este presumível “relambório cognitivo”, muito nosso, se desprendeu para uma realidade afectiva e de gratidão. Recebemos uma “despretensiosa” publicação em livro da Fábrica da Igreja de S. Tomé da Correlhã, com o título «Correlhã: outros tempos», cujos autores são Manuel da Fonte Rodrigues Alves e Amândio Amorim de Sousa Vieira. E quando dizemos “despretensiosa”, imprimimos-lhe a humildade e a modéstia latentes em seus autores com as quais estamos longe de concordar, já que as coisas que muitas vezes parecem “insignificantes” fazem a perfeição, mas a perfeição não é forçosamente uma insignificância. E se lhe imprimirmos o altruísmo (sabemo-lo com que empenho os autores se integraram à feitura desta obra), o valor das coisas que temos em mãos deixa de ser aparente, ilusória ou irreal, para se lhe acrescentarmos a elevação.


Seguindo uma cronologia bem estruturada, diríamos até cientificamente irrepreensível, «Correlhã: outros tempos» toca nos pontos essenciais ao conhecimento deste espaço geográfico, cujo passado riquíssimo deixou marcas profundas na comunidade e nas pessoas como nós – que rebuscamos e nos apaixonamos pelo património (material e imaterial) –, marcas essas que no dizer e sentir da sua Presidente da Junta de Freguesia, Fátima Oliveira, «são o testemunho legatório do passado que nos cabe conservar, interpretar e contextualizar para permitir que se aceda ao mesmo, física, espiritual e emotivamente». Pensamos que esta é uma apreciação cirurgicamente realista, verdadeira e objectiva, como o livro que ora nos chega às mãos.
Manuel da Fonte Rodrigues Alves e Amândio Amorim de Sousa Vieira, sem se aparaltarem a preceito, calçando as “tamancas” da cognição, acabam por prestar um excelente serviço à cultura e identidade regionais, muitas vezes ostracizadas por pseudo-intelectuais de “alpercatas e pingalim”, que mais não fazem, nada fazendo. De uma forma simples mas objectiva, este “livro-roteiro”, proficuamente ilustrado, leva-nos até à memória dos tempos e do tempo que está para lá dos tempos.
Através de «Correlhã: outros tempos», Manuel Alves e Amândio Vieira ajudam-nos a viajar ao tempo dos Castros; dos invasores de Roma (130/137 a.C.); da Villa Corneliana; da moeda de ouro encontrada nas Veigas da Correlhã (589); da presença dos Muçulmanos (711); da conquista da Correlhã aos mouros (910/914); da entrega da Correlhã por D. Ordonho II à Igreja de Santiago de Compostela, em troca de 500 moedas de ouro, que seu pai tinha doado a S. Tiago (915); da devastação da Villa Corneliana pelos Normandos (1024); da autorização, por parte de D. Fernando I, Rei de Leão, a povoar de novo a Correlhã (1061); da confirmação da doação da Igreja e Villa Corneliana a Santiago, por D. Fernando I (1064); de D. Teresa e D. Henrique, quando confirmam a vontade de D. Fernando I, avô de D. Teresa, e protegem os habitantes da Villa Corneliana (1097); da Correlhã e o Pio Latrocínio (1102); da Correlhã no meio das disputas entre Braga e Santiago (1110); do ano em que a Correlhã recebeu Foral das mãos do Bispo de Santiago, D. Diogo Gelmires, confirmado no mesmo ano por D. Teresa (1120); dos limites no Foral da Vila de Ponte com a Villa Corneliana (1125); da construção da Igreja Paroquial da Correlhã (1132); da referência à Ermida de Santo Abdão nas Inquirições de D. Afonso II (1220); da confirmação da Correlhã, por D. Dinis e D. Afonso IV, a Santiago (1324/1335); do fim dos 511 anos de ligação a Santiago (1426); da Correlhã, Couto da Casa de Bragança (1426); da doação da Correlhã pelo Rei D. Duarte a seu irmão D. Afonso, Conde de Barcelos (1433); da relação e vida difícil dos habitantes da Correlhã com a Casa de Bragança (1489); da Correlhã e o processo para o Foral Novo, no reinado de D. Manuel I (1511); do nascimento do Beato Francisco Pacheco (1566); da construção da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte (1695); da Capela de Santa Abdão e um zeloso Visitador (1750); da Correlhã e as Invasões Francesas (1809); da extinção do Couto, passando a Correlhã da Casa de Bragança para o Concelho de Ponte de Lima (1836); e da Correlhã como dona do seu futuro, 921 anos depois da doação a Santiago.
De realçar a extensa bibliografia (e créditos das imagens), o que vem a demonstrar a seriedade intelectual dos autores, onde despontam nomes como Alberto Sampaio, António de Magalhães, António Brandão (Frei), Adelino Tito de Morais, Alexandra Esteves, António Carvalho da Costa (Pe.), Carlos de Azeredo (Brigadeiro), Conde de Bertiandos, Conceição Norberto, Darlindo Oliveira, Figueiredo da Guerra, José Mattoso, José Rosa Araújo, João Gomes de Abreu, José Augusto Vieira, João Chrysostomo Correa Guerreiro, José de Sousa Amado, José Manuel Marques, Luiz Cardoso (Pe.), Miguel Roquedos Reys Lemos, Miguel de Lemos, Manuel Dias (Pe.), Manuel de Aguiar Barreiros (Cónego), Manuel Inácio Pestana, Pinho Leal e Rui Quintela. Acresce a recorrência ao Foral de D. Teresa, Ilustração Portuguesa, jornal “O Commercio do Lima”, “O Grande Livro dos Portugueses” e jornal “Cardeal Saraiva”.
Terminaremos com uma citação de Manuel Inácio Pestana: «…comprovação de que no Couto da Correlhã não havia pessoas vadias, nem mal procedidas, todos os seus habitantes vivendo do seu trabalho (11.01.1757).» Tal como noutros tempos, assim se mantem a “trajectória da actuação de uma notável comunidade, marcada pelos seus desejos, aspirações e anseios” – citamos Fátima Oliveira. Estamos em crer que sim.          
         Gostamos, aplaudimos e registamos com apreço!

Saturday, August 13, 2016

Apresentado o Volume V do «A Falar de Viana»!...

É sempre difícil falarmos de algo em que estejamos envolvidos, mas também não o poderíamos deixar de o fazer, já que se não o fizéssemos – desculpem-nos a redundância da conjugação verbal – funcionaria (e tem funcionado) a ostracização e a inveja, aquele tipo de homenagem que, no dizer de Puisieux, a inferioridade tributa o mérito. Sim, o Volume V, Série 2, 2016, está aí para anunciar as Festas da Senhora da Agonia: «Há cinco anos consecutivos que temos vindo a assumir a responsabilidade da coordenação desta publicação, cuja extraordinária receptividade acaba por exigir de nós uma maior entrega, rigor científico e respeito pela qualidade dos colaboradores e crescente instância dos leitores. Temos consciência desta realidade, face às inúmeras mensagens de incentivo que nos têm chegado e do aumento da procura desta publicação, quer por entidades culturais, agentes do ensino superior e secundário, quer mesmo por gente anónima. Nem sempre tem sido fácil esta árdua tarefa, já que o grau de exigência por nós definido se foi tornando cada vez mais elevado. Falar da importância do panorama histórico-cultural da nossa cidade e da própria região, com trabalhos inéditos em prosa e em poesia, numa linha não menos exigente de contribuirmos para a divulgação e até promoção da história, da antropologia, da etnografia, da arte e da religião, sem esquecermos as vertentes literária e turística, obriga-nos a uma redobrada e cuidadosa atenção para com os colaboradores e um profundo respeito pelos leitores. A Falar de Viana continua, por assim dizer, mesmo com o risco de nos tornarmos repetitivos, intimamente ligada às Festas de Nossa Senhora da Agonia, com o único propósito de reforçar um ancestral sentimento popular de exaltação e expressão de arte e fé, que pela sua dinâmica, já há muito extravasou as fronteiras da região e do país. Continuamos crentes que este número, tal como os anteriores, irá corresponder às expectativas criadas em torno desta publicação. Este é, e será, o móbil da nossa afectação» – disse-o Rui A. Faria Viana em nome dos dois, no dia da apresentação que ocorreu pelas 21h30 do dia 28 de Julho (Quinta-Feira), na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo.


Sem grandes rodeios, dado que seria incomportável fazer aqui uma retrospectiva minuciosa acerca dos conteúdos do presente volume, apenas enunciaremos os autores e os títulos, por forma a despertar o interesse dos possíveis leitores. Este volume abre com a MENSAGEM do Presidente da Comissão de Honra, Francisco Seixas da Costa. Segue-se a SAUDAÇÃO do Presidente da Comissão Executiva da Viana Festas, Francisco Sampaio.
Em MEMÓRIA, e como vem sendo habitual, abre com dois trabalhos: um de Rui A. Faria Viana (Coordenador Geral da publicação), intitulado «Os vianenses e as festas de 1916», e outro, dentro da mesma linha, numa perspectiva de memória de há cem anos, de Bernardo Silva Barbosa, «As Festas d’Agonia de 1916 descritas no Aurora do Lima».
Em REGISTO, apresenta-se um trabalho sobre “A Brigada do Minho”, publicado na – e sob a responsabilidade da redacção da revista – «Ilustração Portugueza», II Série, N.º 650, 5 de Agosto de 1918; um segundo trabalho, em português, francês, inglês e alemão, do Conde d’Aurora, publicado na revista «Sol», do Verão de 1968, com o sugestivo título “Viana da Foz do Lima”, e um “cliché de Vasques”, publicado na «Ilustração Portugueza», II Série, N.º 420, 9 de Março de 1914, p. 314, com a seguinte legenda: «As Ser.as D. Maria Francisca Machado, D. Jeronima Rosa Machado, D. Joaquina Mariana Machado, D. Elvira Severina Machado e as meninas Joana Maria Machado e Sofia Alexandrina Machado, filhas do sr. dr. Bernardino Machado, vestidas à moda do Minho».
Em ANTOLOGIA POÉTICA, é-nos revelada a inspiração poética de Carla Mesquita com “Prece a Viana do Castelo”; de Eugénio Monteverde com “Ti Manel não vem à festa”; de Euclides Rios com “Um poema é a mordoma da Senhora d’Agonia”; de Fernando Castro e Sousa com “A Saga”; de Luís Pedro Viana, pseudónimo literário e artístico de Firmino Moreira da Cunha, com “Dos Da Do” e «Medo de mim!»; de Boaventura Rodrigues Silva com “A Viana do Castelo”; e, de Francisco Carneiro Fernandes com “Viana”.
Em COLECTÂNEA, tendo sempre em conta a cronologia temática, começamos com Paulo Gomes, que nos leva a «Celebrar a Agonia com Festa»; Vasco Gonçalves, abordando o «Olhar a Romaria de Nossa Senhora d’Agonia em três tempos (três romagens ao santuário)»; Torres da Costa, focando «A Virgem Maria na poesia religiosa»; José Cruz Lopes «A paisagem vianense no cartaz contemporâneo das Festas d’Agonia 2003-2016»; Marlene Azevedo e Ana Filomena Curralo apresentam-se com o objectivo de demonstrarem o conceito de «património visual vianense» e a sua ligação com os cartazes da romaria de Nossa Senhora da Agonia; Henrique Rodrigues fala-nos da «Festa e o Artesanato: criatividade de uma designer-artista de Viana», de seu nome Conceição Trigo; Isabel Teixeira com «A Arte Popular nas Festas (Segundo quartel do século XX) A Romaria das Romarias»; Manuel Rodrigues Freitas com o «Ouro no Cancioneiro Popular»; José Rodrigues Lima com «“Arte Minho” com prémios de traje de noiva e lenços de namorados»; Porfírio Pereira da Silva (Coordenador Editorial) com «Gigantones e cabeçudos: um património vianense na escola e no artesanato»; Álvaro Campelo com «Da mortificação do corpo sadio à exibição do corpo monstruoso»; António Matos Reis com «Quando a História saiu à rua…»; Mota Leite com «As Festas da Senhora d’Agonia na memória das Gentes do Vale do Neiva»; Artur Coutinho com «A Falar de Viana»; Américo Carneiro, dentro da linha a que já nos vem habituando, proficuamente ilustrado com trabalhos da sua autoria, desta vez dedicado à figura do «1.º Conde de Viana, D. Álvaro Pires de Castro»; Artur Anselmo, com o título «Bernardino Machado, Júlio de Lemos, José Maria Rodrigues e a Academia das Ciências»; David Rodrigues com «Cláudio Basto na revista Lusitana: “Cartas de Amor populares”»; António José Barroso com «João da Rocha: um desconhecido vianense»; Manuel Inácio Rocha escreve sobre o escorço biobibliográfico acerca de «Frei Bartolomeu dos Mártires»; Maria do Sameiro Rodrigues Lima com «Arquiteto Miguel Ventura Terra: 150 Anos de História»; Sebastião Pires Ferreira com «D. Maria Olímpia Pinto da Rocha: da percepção de “5 réis de gente” à preconização de uma “Grande Senhora”»; Matias de Barros com o pequeno apontamento «Recordando Sebastião Pires, residente nas Neves e falecido a 25 de Março de 1964»; Casimiro Puga com «Figuras Afifenses: Eliseu Júlio Pereira de Lemos – “Lugar da Bandeira, Santa Cristina de Afife”»; Ricardo Simões, com o sugestivo título «O Teatro do Noroeste faz 25 anos e vai à romaria!»; António Rodrigues França Amaral com «Viana e o seu Município: ontem como hoje»; António Martins da Costa Viana, com o título «Canos da Água da Fonte [Dabade], em Areosa, para o Colégio das Chagas, em Viana»; Gonçalo Fagundes Meira com «ENVC – Momentos de Glória: A construção do navio “Lobito”»; Manuel Oliveira Martins com «Dois grandes naufrágios no início dos séculos XX e XXI»; João José Teixeira de Passos com um trabalho sobre o «Lugre Senhora das Areias e a sua arribada a Leixões»; Horácio Faria com «A bandeira bordada da Brigada do Minho, na I Guerra Mundial»; José Escaleira, com o título «Contributo para a análise do impacto da economia de guerra, em Viana do Castelo, durante o período da 2.ª Guerra Mundial»; Domingos da Calçada com «Histórias Antigas: Velharias do Mosteiro de Carvoeiro – da história à tradição e ao burlesco»; e, por fim, Reis Ribeiro com «Escola: Liberdade, justiça e diálogo».
O presente volume, e como vem sendo habitual, termina com a “Reportagem 2015”; programa da “Romaria da Sr.ª d’Agonia 2016”; publicidade; e “Índice”.
         Boas leituras!