Friday, August 23, 2013

Victor Hugo Mendes, apresentador da Televisão Pública de Angola (TPA), edita o seu primeiro livro!

“A tua imagem é a tua marca registada, a tua assinatura. Impacta a tua vida pessoal e profissional. Investir nela é investir em ti mesmo, o que se aprende não tem prazo…”

Victor Hugo Mendes

Estávamos longe de imaginar que um dia iriamos ser convidados para apresentar o primeiro livro – «O meu livro de pensamentos», numa edição da Anim Edições – de um jovem angolano, o conhecido apresentador da Televisão Pública de Angola (TPA), Victor Hugo Mendes. Responsabilidade acrescida pelo facto de se tratar de uma figura mediática em Angola. Tal como afirmamos no dia da apresentação em Viana do Castelo, segunda a nível nacional e internacional – sendo que a primeira foi em Lisboa –, apesar de sermos defensores da velha máxima de que a biografia de um autor ou de um artista está nas suas obras, resolvemos arriscar o contraditório, por forma a darmos a conhecer o autor e depois a sua obra, numa leitura muito pessoal, isenta de eruditismos ou presunçosas deambulações crítico/literárias, muitas vezes feitas no sentido contrário à das “boas palavras custam pouco e valem muito” (Georges Bernanos). Por isso, aqui vão algumas notas biográficas sobre o autor que um dia sonhou escrever algumas linhas e deixar, para a eternidade, os seus e/ou os nossos pensamentos (01-Um começo, p. 13): Victor Hugo Mendes, natural de Malange (Angola), onde nasceu a 4 de Novembro de 1982, é divorciado e pai de dois filhos; Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Privada de Angola (UPRA), trabalha em jornalismo televisivo e radiofónico; cresceu e viveu todo o conflito armado na sua terra natal onde, com muitas dificuldades, concluiu o Ensino Médio em Luanda; cedo abraçou a Filantropia num trabalho directo com a Igreja Católica; orador em palestras sobre vários temas para a juventude, foi convidado recentemente a discursar sobre a sua experiência como repórter, pelo Reitor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, a mais de 30 estudantes finalistas do curso de Jornalismo; é autor de 18 documentários sobre a vida e obra de alguns artistas angolanos – como Yuri da Cunha, Djeff Brown, Yola Araújo, entre outros – e sobre muitas empresas (Porto de Luanda, Ministério da Educação, Governos Provinciais, etc.); conta, ainda, com trabalhos realizados em prol da música – como a produção de um CD com temas ligados a Malange, a terra natal – e reportagens de África do Sul, Bélgica, Holanda e Namíbia.
 Bem, do Amor, do Progresso, da Harmonia, da Fraternidade e da Solidariedade –, a ponto de Teresa Guerra afirmar no prefácio que “os seus pensamentos, os seus ideais descritos, nesta obra, mostram a grandeza do seu ser e bem-querer em prol de todo o ser humano de uma sociedade” (Prefácio, p. 11). É esse o sentir e o ser de Victor Hugo Mendes, “as ideias e até convicções (e não só), que me guiaram e guindaram para o tipo de pessoa que sou – e como confirmam os escritos que vos deixo” (01. Um começo, p. 13).


       Espraiando-se por noventa e três pensamentos (ou capítulos, como queiram entender), Victor Hugo Mendes faz perpassar em «O meu livro de pensamentos», os mais variados temas e preocupações da actualidade – assentes nos pilares do
É evidente que não iremos aqui esmiuçar todo o conteúdo deste extraordinário livro, que à boa maneira Kantiana reserva “o uso da palavra pensamento à designação das faculdades que tornam possível o conhecimento elaborado”, mas sentimo-nos na obrigação de dar testemunho dessa percepção pessoal de alguém que um dia conheceu um amigo (chamado LIVRO), o qual nunca mais se separou de si, “filho não sei de quem, mas é famoso e conhecido como o mestre mudo. Amigo de todos e inimigo de quem nunca o folheou” (02. Livro, p. 15). Faz sentido a máxima – sem ser forçada a ser “imperativo categórico” – de Victor Hugo Mendes, quando nos diz que “ler um livro é como o amor que sentimos por uma mulher. Quem o prova nunca mais esquece e melhor ainda, só cresce” (02. Livro, p. 15). A verdadeira condição humana é o principal motivo de preocupação para Victor Hugo Mendes, tendo em conta que para ele “o ambiente em que somos concebidos e o meio social em que nos inserimos, determinam aquilo que somos ou podemos vir a ser” (03. O Humano, p. 16), apontando a mudança através do querer, no sentido de melhorarmos, de uma forma intrínseca à interiorização do “eu”, conservando os valores morais e cívicos, contemporaneamente em decadência; a luta pela sobrevivência iniciada logo na hora da concepção, “entre milhões de espermatozóides, termos sido o óvulo fecundado, já nos torna grandes vencedores” (04. Lutar, p. 17), surgindo o maior problema em plena vida, onde a eterna luta pela sobrevivência nos faz virar as costas à natureza, ansiando estar nos melhores lugares, sermos os melhores aqui e acolá, proeza inalcançável por muitos; a constatação do ser humano como ambicioso por natureza, qual “educação de berço”, dará sequência à educação evolutiva como “via mais segura e determinante para o desenvolvimento de uma nação” (06. Ambição em Educar, p. 19), uma das mais importantes riquezas que a sociedade precisa de ter para com os seus, apostando na formação de professores e fazendo da escola o lugar mais importante de um país sério; as inúmeras imprevisibilidades, estando “preparado para algo que não acontece do que para algo que possa, eventualmente, acontecer” (07. Imprevisibilidade, p. 21); a condição de errar, sendo que “o melhor é aquele que aceita o erro e pede desculpa a todos sem dar muitas curvas” (08. Errar, p. 22); a mentira como algo incomensurável, cuja factura poderá não ter cobertura e onde “ser um Kota mentiroso é, igualmente, penoso” (09. Mentira, p. 24); o valor dado às pessoas e a todas as coisas materiais, “muitas vezes, só quando estamos a perdê-las ou quando já as perdemos de facto” (10. O Valor, p. 25), sendo que as feridas curam, as cicatrizes demoram mais mas, bem apagadas, a vida toma outro sentido, procurando em nós o melhor exemplo a seguir; a paciência como uma das grandes virtudes; o segredo como a alma/arma do negócio, velha máxima que empurra Victor Hugo Mendes para a desmistificação da intolerância dos jovens de hoje, que não aprendem ou não querem aprender a guardar segredos, sendo que “a gente que não é gente, não se pode confiar um segredo” (12. Segredo, p. 28); as decisões difíceis de tomar, “principalmente se estiverem em jogo vidas humanas, empregos e outras coisas que nos tiram o sono já que, tememos que sejamos mal percebidos e/ou que as consequências desta decisão possam ser catastróficas” (13. Decisões, p. 30); o presente como uma incógnita de futuro, qual morte de seu pai o obrigaria a reflectir sobre a condição humana: “Aos pais e mães de toda a Angola, o meu eterno respeito e um pedido de desculpas em nome dos filhos que traem a vossa confiança” (14. O Presente, p. 33); a débil motivação dos jovens, por falta de paciência, humildade e coragem; a forte capacidade demonstrativa que as pessoas inteligentes devem ter em respeitar as menos inteligentes, sempre com a noção clara de que “os mais inteligentes precisam de saber que os menos inteligentes têm muito para nos ensinar” (17. Inteligência, p. 37), etc., etc., etc…


E como anteriormente referimos, seria uma despropositada presunção da nossa parte, tentarmos esmiuçar aqui todo um pensamento de Victor Hugo Mendes que, por certo, extravasa a mais de uma centena de páginas que ora se nos oferece neste «O meu livro de pensamentos», porque assente na noção clara de que para distinguirmos rigorosamente entre aquilo que pertence ao campo da psicologia e aquilo que pertence ao campo da lógica, teríamos que separar o pensar, por um lado, e o pensamento, por outro. Aquilo que apreendemos da leitura dos pensamentos de Victor Hugo Mendes, leva-nos a creditar o pensamento como o objecto da lógica enquanto investigação da sua estrutura, das suas relações e das suas formas independentemente dos actos psíquicos e dos conteúdos intencionais. De facto, “os pensamentos, enquanto objecto da lógica, têm uma realidade formal distinta da que têm quando constituem o objecto de uma ciência e são considerados como a forma que envolve um conteúdo que se refere a uma situação objectiva” (Mora, 1991: 305-306). É nesse sentido que nos deliciamos com as mais de nove dezenas de deambulações ou actos psíquicos que têm lugar no tempo e ao tempo de Victor Hugo Mendes: Meio, Perder, Privacidade, Assumir, Desenvolvimento, Direito, Futuro, Acredito, Caminho, Excesso, Crianças, Beleza, Perdão, Doutormania, Conduta, Ideias, Ter, Inspiração, Energia, Vencer, Amadurecimento, Atitude, Opções, Violência, Relações, Eternidade, Paixão, Amizade, Vida, Raiva, Rir, Fogo de Família, África, Saudade, Sol, Fama e Escrita – palavras escolhidas não aleatoriamente e que, só por si, constituem a expressão filosófica de quem sente que “há dias em que não consigo perceber como em mim nasce tanta inspiração para escrever, independentemente da natureza das coisas que escrevo. / Outras vezes, não consigo sequer imaginar o mínimo para escrever” (93. Escrita, p. 130). Há de facto um profundo sentido filosófico em tudo o que escreve Victor Hugo Mendes, adivinhando-se um pensador em crescente, porque preocupado e atento ao mundo que o rodeia: “Quando aprendemos a perder de verdade, constatamos que saberemos ganhar com sinceridade. Pode até demorar, mas a vitória é bem mais agradável” (91. Não ter medo do fim, p. 127) ou, a propósito da fama, “entendo que ser famoso é importante e muitos lutam por tal, mas para mim é uma mera casualidade. Eu sei que muitos são submissos porque querem uma vida que não é para eles, mas eu vivo a minha vida sem olhar para a do outro. Uns tentam ser fortes para mostrar que são inquebráveis e eu sou quebrável e por isso reconheço que sou fraco. / Uns não choram porque são egocêntricos e eu choro porque sei amar e não bloqueio a emoção entre o coração e os olhos. / Uns lêem, aceitam, mas preferem calar-se porque são meus amigos e porque eu os amo de qualquer jeito” (89. Fama, p. 125) – porque nos negamos ao silêncio, mesmo que um dia venhamos a ser amigos, diremos: SIMPLESMENTE SUBLIME!
Finalizaremos com um abraço de africanidade deste “kota muxicongo”, que teve o privilégio de ter feito parte da paisagem angolana, qual visionária similitude ou antítese vivencial com a tua “África linda. Querida e acolhedora. Sofredora e descalça, mas sempre pomposa. / África das lágrimas, da coragem e da vanguarda. / África, da esperança, da pureza e da humilhação. / África do futuro, berço da Humanidade, olhada no presente. / África, da força, do esforço e da pobreza. / África de um, de todos para uns. / África…” (82. África, p. 117).
       Nota máxima para «O meu livro de pensamentos», para Victor Hugo Mendes, e para a Anim Edições, na pessoa da escritora Helena Osório, sua mentora e editora!

Saturday, August 17, 2013

Publicado estudo sobre o espólio de Edmundo Curvelo!

“O ensino de Curvelo despertou num número significativo de estudantes o interesse pelos métodos de raciocínio típicos daquela disciplina, bem como pela sua aplicação aos problemas perenes da Filosofia, e a sua morte prematura representou sem dúvida uma grande perda para o pensamento lógico nacional”

João Branquinho

Sob a responsabilidade de MANUEL CURADO (Professor da Universidade do Minho, Auditor de Defesa Nacional, Doutoramento cum laude pela Universidade de Salamanca, Mestrado pela Universidade Nova de Lisboa, Licenciatura pela Universidade Católica Portuguesa, de Lisboa; Titular do Curso de Alta Direcção para a Administração Pública; Perito da Comissão Europeia em Ética; e é o director da revista Jornal de Ciências Cognitivas) e de JOSÉ ANTÓNIO ALVES (Licenciado em Filosofia e Mestre em Ciências Cognitivas pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa; co-organizador do livro “Escola de Braga. A Correspondência com Delfim Santos”; autor do livro “Limites da Consciência. O factor temporal da mente e a ilusão de liberdade”; desde Outubro de 2010 é doutorando em Filosofia da Mente, no Centro de Estudos Humanísticos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, com um projecto sobre a obra de Edmundo Curvelo; é Bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia do Ministério da Educação e Ciência; Bolsa com o financiamento comparticipado pelo Fundo Social Europeu e por Fundos Nacionais do MEC), e a chancela da “Imprensa da Universidade de Coimbra” (Série Documentos), acaba de ser publicado um extraordinário livro científico, «UM GÉNIO PORTUGUÊS: EDMUNDO CURVELO (1913-1954)», que nos oferece o primeiro estudo sobre o espólio de Edmundo Curvelo, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e um dos introdutores dos laboratórios psicotécnicos e psicológicos em Portugal. São assim publicados pela primeira vez manuscritos filosóficos de Curvelo, bem como a sua correspondência com grandes nomes da Cultura e da Filosofia do século XX (W. V. Quine, Alonzo Church, Stephen Kiss, Joaquim Carvalho e Delfim Santos). O livro apresenta igualmente um estudo de enquadramento da obra de Curvelo e da ciência portuguesa do século XX.


Edmundo Curvelo, de seu nome completo Edmundo de Carvalho Curvelo, nasceu em Arronches, distrito de Portalegre, a 18 de Outubro de 1913 e faleceu em Lisboa a 13 de Janeiro de 1954. Segundo Manuel Curado e José António Alves, responsáveis por esta magnífica obra, o Professor Edmundo Curvelo viveu a maior parte da sua vida em Lisboa, mas também se deslocava muito a Abrantes, cidade adoptada pela família e onde se refugiava para descansar. Em Lisboa estudou e trabalhou, como professor liceal e universitário, e desempenhou funções de técnico do Instituto de Orientação Profissional (IOP) da Universidade de Lisboa. “A sua curta vida de quarenta anos foi suficiente para deixar às gerações vindouras uma obra digna de ponderação e reflexão. O reconhecimento da originalidade e do grande valor desta obra aconteceu desde o tempo da vida de Curvelo, talvez mais da parte de especialistas estrangeiros do que da parte do público português. Os especialistas portugueses nunca deixaram de valorizar a obra de Curvelo, desde os tempos do Professor Vieira de Almeida até aos investigadores mais recentes. Este interesse constante ao longo de décadas é plenamente justificado porque o pensamento de Curvelo contribuiu para grandes avanços na filosofia e em muitas outras disciplinas, onde se destacam a lógica, a matemática e, principalmente, a psicologia. / Sendo arriscado resumir apressadamente uma obra que não se chegou a desenvolver quanto podia devido a uma morte precoce e trágica, é possível afirmar que o objectivo do pensamento filosófico de Curvelo era o de atribuir à psicologia o estatuto nobre de uma ciência com a dignidade das outras” – citamos do capítulo “I. O enigma de um filósofo rigoroso”.
Sem procurarmo-nos enredar numa análise crítica (para a qual não estamos devidamente avalisados), face à sofisticação de conteúdos científicos da obra ora apreciada, gentilmente oferecida pelos seus autores, apenas nos é dado registar que a mesma tem 406 páginas e está estruturada com sete capítulos e trinta e cinco subcapítulos: I. INTRODUÇÃO (I. O enigma de um filósofo rigoroso; II. O legado; III. Os manuscritos filosóficos; IV. Edição dos manuscritos), II. MANUSCRITOS FILOSÓFICOS (I. Amanhecer; II. A Restauração de 1640; III. A origem e o fundamento da Obrigação Moral / Imanência e transcendência do dever; IV. Máquinas e homens; V. Literatura Infantil; VI. A evolução e o indivíduo; VII. Da teoria e da prática da psicotécnica; VIII. Vamos conquistar a nossa profissão?; IX. As leis científicas e os conhecimentos científicos; X. Em presença dos factos naturais; XI. As duas portas; XII. Lições de Lógica; XIII. Anotações), III. TRADUÇÕES (XIV. A existência de objectos materiais [A.H. Basson]; XV. A existência de objectos materiais [Hao Wang]), IV. POESIA FILOSÓFICA (XVI. Caminho dos homens; XVII. Poemas dispersos), V. CORRESPONDÊNCIA (XVIII. Correspondência de Edmundo Curvelo para Noémia Cruz; XIX. Correspondência entre Edmundo Curvelo e Joaquim de Carvalho; XX. Correspondência entre Edmundo Curvelo e Delfim Santos; XXI. Correspondência com autores estrangeiros; XXII. Correspondência para Joaquim de Carvalho com referências a Edmundo Curvelo), VI. IMPRENSA (XXIII. Entrevista de Quirino Teixeira a Edmundo Curvelo; XXIV. Peço a palavra Edmundo Curvelo; XXV. Um morto ilustre; XXVI. Professor Doutor Edmundo Curvelo; XXVII. Professor Doutor Edmundo Curvelo; XXVIII. Professor Doutor Edmundo Curvelo), VII. BIBLIOGRAFIA E ESPÓLIO (XXIX. Obras publicadas em vida; XXX. Espólio e Biblioteca Pessoal; XXXI. Estudos), terminando com os agradecimentos.
Aqui fica a sugestão de leitura de mais um livro, onde faz perpassar a certeza de que o trabalho intelectual de Edmundo Curvelo parte do conhecimento da reflexão multissecular da filosofia sobre a mente humana e sobre o comportamento humano e procura “logificar” essa área de estudos, fazendo da psicologia uma ciência rigorosa e não apenas uma colecção de discursos interessantes e impressionistas: “Uma estrutura é um sistema lógico em que os símbolos são inteiramente abstractos, conforme o significado que introduzimos nesses símbolos, assim ele pertence a um ou outro sistema determinado” (Curvelo, Aula Prática XV).
       Nota máxima para este extraordinário trabalho científico, que nos proporcionam Manuel Curado e José António Alves, ilustres académicos ligados às Ciências Cognitivas!

Friday, August 09, 2013

Publicada antologia com textos inéditos do Padre Himalaya!

“Um livro é um mundo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”

Padre António Vieira

O Município de Arcos de Valdevez acaba de publicar uma obra de grande fôlego, com o título «Padre Himalaya: Antologia com textos inéditos», cuja introdução e selecção é feita pelos nossos particulares amigos Jacinto Rodrigues, Professor Catedrático Jubilado da Universidade do Porto, autor de mais de uma dúzia de livros, entre os quais “Arte Natureza e a Cidade”, 1993, “A Conspiração Solar do Padre Himalaya”, 1999 e “Sociedade e Território”, 2006, e mais de uma centena de artigos em Revistas e Jornais. Licenciou-se em Filosofia na Universidade do Porto, Certificado de Sociologia Geral, na Sorbone-Paris, Mestre em Urbanismo na Université Paris VIII, Doutor na Universidade Nova de Lisboa e Agregação na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto; e sua excelsa companheira Rosa Oliveira, Assessora Editorial, Educadora pela E.S.E. Jean Piaget de Arcozelo, sendo, para além disso, licenciada em Português-História e Pós-graduada em Estudos Portugueses Multidisciplinares na UAb.
Já há muitos anos que conhecíamos todo o empenho e acção científica do Professor Doutor Jacinto Rodrigues, em tentar descodificar percursos, projectos, pensamentos e filosofia de vida do Padre Himalaya, qual história interminável de um HOMEM cuja vida e obra foi no seu tempo “ostracizada por interesses vários, nomeadamente económicos, sociais e políticos”, tendo porém a capacidade de se tornar cada vez mais exemplar e actual para o nosso tempo. É evidente que não nos iremos debruçar sobre o conteúdo desta extraordinária publicação (875 páginas e capa dura), que ora sai a lume, mas não poderíamos deixar de despertar a curiosidade naqueles que, porventura, possam vir a estar interessados em adquirir ou a conhecer esta obra.


Assim, esta Antologia do Padre Himalaya, com textos inéditos é constituída por uma Introdução e Selecção de textos, organizada em três partes: 1. TRAÇOS FUNDAMENTAIS DUMA BIOGRAFIA, onde se pretende, em traços largos, descrever a biografia do Padre MAG Himalaya; 2. PARA UMA LEITURA CRÍTICA E UM OLHAR ACTUAL, estando a obra do Padre Himalaya inserida num contexto histórico-social, entre 1868 e 1933, encontra-se contudo, em muitos aspectos, extremamente actual, como os responsáveis pela introdução e selecção acabam por mostrar ao longo da análise crítica das patentes, das propostas sociais e das preocupações culturais. Esta actualidade expressa-se ou revela-se através dum pensamento ecosófico em que o Padre Himalaya aponta para o novo paradigma civilizacional, cada vez mais premente; 3. UMA HISTÓRIA INTERMINÁVEL, onde, com este tema, o Professor Jacinto e a Dra. Rosa, pretendem mostrar como a vida e a obra do Padre Himalaya, e como anteriormente citamos, que foi no seu tempo ostracizada por interesses vários, nomeadamente económicos, sociais e políticos, teve porém a capacidade de se tornar cada vez mais exemplar e actual para o nosso tempo. Ainda nesta parte, os responsáveis pela Introdução e Selecção, pretendem revelar como a sua obra continha, já naquele tempo, as sementes do futuro com que as gerações de hoje podem concretizar uma eco tecnologia, uma solidariedade social e uma relação harmoniosa com a natureza.
Para terminar, convém recordar que a selecção é constituída pelos principais textos, alguns deles inéditos, manuscritos e dactilografados que o Padre Himalaya escreveu sobre diferentes temas (Naturopatia, Economia, Ecosofia, Patentes), e em situações específicas (Artigos, Entrevistas, Conferências, Intervenções na Academia de Sciências de Portugal, etc.). O Professor Jacinto e a Dra. Rosa decidiram publicar também a correspondência principal que lhes pareceu mais significativa, para uma melhor compreensão da sua vida, dos seus sonhos, das suas realizações e das suas dificuldades. E vincaram bem o propósito que “não ressaltará deste trabalho a exaltação apologética e com aura de santidade, do Padre Himalaya. Será, seguramente, a imagem de um homem que, para além do seu tempo, soube abrir-se a uma humanidade, a uma sociedade mais livre e fraterna e a uma tecnologia do futuro”.
Exceptuando uma ou outra falha na qualidade de impressão, no que concerne à parte de reprodução documental, teremos em dizer que se trata de uma obra de grande referência para a região, para o país e para o mundo, dada a dimensão intelectual e científica do Padre Himalaya. Concordamos plenamente com o jornalista Nicolau Santos (Expresso), quando descreve o Padre Himalaya – e a propósito de um seu artigo que intitulou de “50 Razões Para Nos Orgulharmos de Portugal” – como uma das razões desse orgulho, “por termos neste sábio o precursor da ecologia moderna com os seus inventos de energia solar que revolucionaram o paradigma tecnocientífico, abrindo as portas para uma ecotecnologia que cada vez mais sentimos como o futuro da humanidade”.
        Estão de parabéns, o Município de Arcos de Valdevez, o Professor Doutor Jacinto Rodrigues e a Dra. Rosa Oliveira. É um grande serviço que prestam à comunidade cultural e científica da humanidade!

Friday, August 02, 2013

Romance premiado de Paula Teixeira de Queiroz, apresentado na Feira do Livro de Viana do Castelo!

“Paula Teixeira de Queiroz é uma advogada da capital que nasceu nos Arcos de Valdevez, nas franjas do Soajo e da Peneda onde o tempo acontece e passa de um modo diferente do de Lisboa. Alberga em si a vivência cosmopolita e febril da cidade e a calma serena e simples da aldeia”

Manuel Franco Pita

Há evidências que jamais poderão vir a ser explicadas, se condicionadas pela estreiteza de horizontes – visionários ou não – de muitos daqueles que olham para os outros, acomodados na sua “ego-presunção” de “fisiognomonistas”. Por termos sofrido na pele a síndrome de um desses “cardialíssimos” e/ou “ressabiados cultores de pacotilha”, que num determinado dia aventara a melhor qualidade de escrita em Miranda Rebôlo, por “imperativo comparativo” com a nossa condição de escritor metalúrgico, de rosto visível e forjado pela tempera da “ferrugem”, quando na verdade ambos se fundiam na mesma pessoa. É por isso que antes de conhecermos pessoalmente qualquer escritor ou escritora procurarmos, antes de mais, auscultar-lhe a alma criativa da imaginação. Só depois disso é que fazemos a “acostagem” ao porto de abrigo do criador(a). Assim aconteceu com Paula Teixeira de Queiroz e o seu premiado – Prémio Literário Aldónio Gomes 2013: Departamento de Línguas e Cultura da Universidade de Aveiro – romance «A Bruxa de Grade», recentemente apresentado na 33.ª Feira do Livro de Viana do Castelo, numa brilhante apreciação crítica do médico e nosso particular amigo/irmão Manuel Franco Pita.

Na mesa (da esquerda para a direita): Manuel Franco Pita (apresentador); Paula Teixeira de Queiroz (autora); Américo Carneiro (Academia de Letras e Artes - ALA); e José Lacerda e Megre (Clube dos Poetas Vivos).

Apesar de termos a vincada ideia – como parte integrante do nosso ideário – de que a biografia de um escritor é a sua obra, apraz-nos dizer, em traços simples, que Paula Teixeira de Queiroz nasceu em Arcos de Valdevez e vive em Lisboa. Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa e é advogada de profissão. Concluiu o curso de Tradução no ISLA e trabalhou na Apimprensa – Associação Portuguesa de Imprensa, em Assuntos Europeus, representando os editores de jornais e revistas em Bruxelas na EMMA (European Magazine Media Association) – e na ENPA (European Newspaper Publishers Association). Foi lobbyist no Parlamento Europeu e Comissão Europeia. Em 1996 fez o curso de Desenho com o escultor Sebastião Quintino na Sociedade Nacional de Belas Artes. Para além de ser cronista em vários jornais, publicou as seguintes obras: Contos do Destino e do Desatino (Opera Omnia, 2010); Contos de Amor e Desamor (Animedições, 2012); e, presentemente, A Bruxa de Grade (Animedições, 2013), como já anteriormente referimos, foi «Prémio Literário Aldónio Gomes» no corrente ano.
Falando agora d’A Bruxa de Grade, tomados pela consciência de uma leitura que fizemos na diagonal, com a promessa de uma leitura aturada nas férias que ora iniciamos, sentimo-la (à escritora, claro!) – fazendo nossas as palavras de Manuel Franco Pita, no dia da apresentação – como uma “pessoa sensível que é e que olha o mundo com olhos de ver e não apenas de olhar, interiorizando não apenas o indivíduo mas também a sua circunstância e o modo de ele a absorver e interagir com ela”. São assim os verdadeiros escritores: observam, interiorizam e interagem com as personagens. Daí, concordarmos com Mário Cláudio quando se referia ao facto – e talvez a propósito dos contos de Paula Teixeira de Queiroz – de se deparar “com um belíssimo conjunto de ficções, atento aos seres e enganos da vida, e de uma qualidade formal que raramente me chega às mãos”, pressupondo a anuência da qualidade de escrita desta mulher que “alberga em si a vivência cosmopolita e febril da cidade e a calma serena e simples da aldeia”; e com a interiorização de Manuel Franco Pita que no dia da apresentação nos revelaria a percepção de estarmos perante uma “novela [que] flui como um rio, mais tumultuoso que calmo, com os acontecimentos sucedendo-se, prendendo o leitor ao enredo e com as personagens a revelarem-se nas suas grandezas e misérias com a complexidade intrínseca à espécie humana. A história faz-se de personagens vivas que trilham caminhos potencialmente reais e absorventes”. E são muitos os lugares comuns aos nossos próprios passos, levando-nos a ter uma certa cumplicidade física, porque geográfica, e psicológica com as suas multifacetadas personagens, sejam elas suecas, russas, francesas, angolanos, brasileiras – qual Olinda, onde José Eduardo Agualusa, muitas vezes se inspira –, canadianas ou portuguesas. Os lugares calcorreados “obrigam-nos” a fazer parte do enredo, por nos sentirmos agentes na acção: “No ano seguinte voltou a Âncora e no outro e no outro. Davam longos passeios até à Gelfa, onde havia um forte em ruínas… Ouvia a ronca em noites de nevoeiro e acabava por adormecer com aqueles sons que perdurariam nos seus sonhos até ao ano seguinte” (p. 12); “A ansiedade traía-a, só podia ser fruto do seu estado de espírito, ali, no fim do mundo, na Gelfa, em frente à praia de Âncora. Das casas dos pescadores, de que se lembrava na sua infância, agora só existem prédios de mau gosto apenas suportáveis à noite, quando o néon das luzes do paredão as ofuscava…” (p. 14); “Galgou o caminho de areão até à estrada de asfalto, onde se sentou no abrigo à espera da camioneta para Viana. Aí apanharia a outra, do Cura, para Arcos de Valdevez, e ainda a do Salvador para Grade” (p. 19); “campo, praia, acampamentos no parque Peneda-Gerês, os espigueiros de Soajo sempre o tinham fascinado, podia ficar horas sentado na pedra quente encostado a um pilar a olhar a serra” (p. 26); “estava acampado no Mezio, na altura um paraíso: a fonte das Sete Bicas, as casas do guarda onde vendiam mel, o abrigo de pedra na casa de cima, as galinhas a cacarejar com o rafeiro atrás a soltar latidos de gozo…” (p. 28); “Muita água correu no rio da aldeia, muitas neves coroaram a Serra da Peneda” (p. 61); “Quem lhe dera ver-se já em casa, de preferência na casa da Gelfa…” (p. 227), etc., etc… Outros lugares, outras gentes e outras tantas emoções perpassam pel’A Bruxa de Grade, a ponto de Manuel Franco Pita afirmar que “nas próprias palavras da autora o tema central da «Bruxa de Grade» é o misticismo, a premonição, o não visto mas sentido”.
             

              É evidente que não é nosso objectivo retirar aos potenciais leitores de Paula Teixeira de Queiroz, o prazer da leitura desta obra, onde “personagens mundanos e rurais cruzam-se num ritmo alucinante”, tendo em conta a livre interpretação de cada um. Entendemos que o livro depois de impresso passou a ser “propriedade” dos leitores, competindo-lhes interagirem com os lugares e as personagens. Por isso, ficamo-nos por aqui. Contudo, por obrigação do nosso “consciente activo”, recomendaremos o livro e autora, num propósito de testemunho, partilha e cumplicidade!