Friday, May 31, 2013

Tiago Manuel expõe em Viana do Castelo “diário de sombras”!

“Tiago Manuel é um caso singular de imaginação plástica entre o rigor do realismo e as minúcias do delírio. Escusado será dizer que estes pólos são intermutáveis. Poder-se-ia falar também num realismo minucioso e num rigor delirante. E talvez por isso eu experimente vivencialmente o paradoxo de querer e não querer usar o adjectivo «fantástico» a propósito da sua obra”.

Vasco Graça Moura

Tiago Manuel (Fotografia de Alfredo Cunha)
De 25 de Maio a 28 de Setembro de 2013, estará patente ao público, na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, uma exposição de Tiago Manuel, com o título «diário de sombras (obra gráfica editada em livros e revistas)». Apesar de já aqui termos falado do Tiago Manuel, numa das nossas anteriores crónicas, convenhamos em dizer que este ilustre e multifacetado artista plástico vianense (nascido a 1 de Agosto de 1955) expõe o seu trabalho desde 1978, tendo já estado presente em numerosas mostras colectivas em Portugal e no estrangeiro – como o Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada (em 2000, 2001, 2002 e 2004) ou a ARCO, Feria Internacional de Arte Contemporáneo (Madrid, 1998). Também expôs a título individual numerosas vezes, entre outras, na Galeria Matisse (Barcelona, 1989), na Galeria Absidial (Nantes, 1992) e no Centro Cultural de Belém (Lisboa, 2008, com Mishima, Manifesto de Lâminas). Em 1999 deu início àquela que designa a sua «maior obra conceptual». Nesse âmbito, e servindo-se de uma «galeria» de 25 autores (heterónimos por si criados), concebe trabalhos nas áreas da ilustração de autor, banda desenhada, humor negro, histórias infantis, romance gráfico, teatro, literatura policial, moda, cinema e diários ilustrados com fotografias e pinturas. Da publicação total desta obra «resultará uma pequena biblioteca de 50 livros», na qual se incluem, entre outros, os títulos Lua Negra (assinado como Terry Morgan, Assírio & Alvim, 2000), Nautilus the Ship (com o heterónimo Murai Toyonobu, Bedeteca de Lisboa, 5 volumes, 2001-2004), O Escapista (do Tim Morris, Campo de Letras, 2005) entre outros. Ilustrou obras de autores como Aquilino Ribeiro ou Sérgio Godinho e colaborou com publicações como Colóquio de Letras, Público e Ler. E estas pequenas notas, reflectem um pouco os conteúdos artísticos da exposição, ora inaugurada, do Tiago Manuel.

Abertura da Exposição «diários de sombras (obra gráfica editada em livros e revistas)» a 25 de Maio de 2013

No dia da inauguração, Tiago Manuel evidenciou, a nosso modesto ver, a sua filosofia de vida e forte personalidade de homem artista, atento a tudo o que gravita à sua volta, destituindo e abdicando de indultos ou febriologias de poder, fazendo jus às palavras de João Paulo Cotrim quando escreve que “para Tiago Manuel, como para Yukio Mishima, a natureza não se confina ao lugar de grande cenário, pano de fundo, antes entra na massa compósita das coisas, dos seres, das emoções e dos pensamentos. Na mais divina, portanto artística, das liberdades, desafiando medos e morais, compõe de um modo orgânico estranhos e, ao mesmo tempo, reconhecíveis lugares e figuras. Junta fragmentos para despertar símbolos poderosos (…)”. Goste-se ou não do Tiago Manuel, jamais alguém poderá apeá-lo do lugar de destaque – por mérito próprio, caminhante ao lado de seus mestres, Aníbal Alcino e Júlio Resende – que tem no panorama artístico-cultural nacional (e não só, porque além fronteiras). Por nos reconhecermos “douto na nossa ignorância” e na matéria, tendo em conta que outros o expressaram da melhor maneira, daí o “forragear” do sentido estético que jamais conseguiríamos exprimir pelas nossas palavras: “Tiago Manuel cria heterónimos, nada menos de 25, a que correspondem identidades e processos estilísticos diferentes, por vezes mesmo muitíssimo diferentes. Se quisermos falar de diversidade e unidade no seu caso, teremos de ver a unidade num universo extremamente complexo, mas atravessado a muitos níveis por uma espécie de vasos comunicantes, e a diversidade nos anunciados, conteúdos e respectivos modos de expressão, com recurso à fragmentação, a uma mise en page devoradora da banda desenhada e da montagem fotográfica, uma ácida ironia que percorre toda a gama de registos possíveis, do delírio ao burlesco, ao obsceno e ao grotesco” – citamos Vasco Graça Moura. De uma forma particular gostamos, também, da anuência de Tiago Manuel a Santo Agostinho, como forma de exprimir a sua filosofia de vida, plasmada no sentido contrário e inestético da posse de bens materiais que não possuíamos quando nascemos e que não levamos quando partimos. O mesmo Santo Agostinho que aventaria a ciência como o alimento da alma e quem não a possui está como que em jejum e com fome. O homem necessita então do conhecimento das coisas para ser feliz. Precisa alimentar-se do conhecimento para alcançar a felicidade, visto que para Santo Agostinho, descobrir a verdade é descobrir a felicidade. Mas aquele que descobre a verdade, busca a própria sabedoria.
Para terminarmos – e por anteriormente termos lido, pela pena de Maria José Guerreiro, que o “Tiago Manuel compromete, perturba, intriga. O seu humor ázimo e o traço implacável tornam-na única e diversa, linear e profunda, gráfica e literária. / E a sua lucidez faz-nos arder os olhos. / Mas acorda-nos” –, convenhamos em recordar que a Vereadora do Pelouro da Cultura da “Princesa do Lima”, palavras dela que delas fazemos nossas, expressaria a convicção de que a simplicidade do Tiago é uma armadura, uma forma de esconder uma enorme complexidade, uma enorme riqueza. E isso é o que a obra do Tiago nos transmite.

A acção artística e intelectual do Tiago Manuel, reflecte-se numa “Obra d’Arte” comprometida com o seu tempo. Compete-nos a nós eternizá-la. E visitando esta exposição, poderá ser o princípio da unidade necessária de forma e conteúdo, evidenciando a percepção e o entendimento artísticos, enquanto leitor/espectador que, segundo Vasco Graça Moura, “não pode ficar indiferente ao que lê e vê num universo plástico, gráfico e conceptual em metamorfose contínua”. De facto, parafraseando o mesmo Vasco Graça Moura, concordamos em dizer que “Tiago Manuel é um caso singular de imaginação plástica entre o rigor do realismo e as minúcias do delírio”.

Friday, May 24, 2013

Luís Miguel Rocha e “A Filha do Papa” deram mote a uma conversa na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo!


“Luís Miguel Rocha já nos convenceu que sabe tudo sobre Papas, como diz Jô Soares, e, mais ainda, que é um dos maiores escritores portugueses da actualidade. A Filha do Papa vem corroborar isso mesmo, com uma genialidade que nos obriga a comer as páginas do livro, antes que a falta de ar nos assalte por não termos desvendado um dos muitos nós que a sua narrativa vai criando”.

Raquel Santos Silva

À parte do privilégio de sermos amigo do Luís Miguel Rocha, o que poderia pressupor alguma suspeição sempre que nos atrevêssemos em falar da sua forma de escrever, teimamos em dizer – e abstraindo-nos dessa prerrogativa proximidade – que não nos cansaremos de afirmar, tal como Jô Soares, que estamos perante um dos maiores escritores portugueses da actualidade. A forma empolgante como escreve, numa narrativa que nos envolve de uma forma mágica do princípio ao fim de cada “thriller”, permite-nos essa ousadia, ainda que pessoal, de o colocarmos entre os melhores escritores contemporâneos, sendo que aqui, pela afirmativa, extravasamos as fronteiras deste “módulo lunar”, chamado “Portugal dos pequeninos”, onde impera a inveja e a signa maldizente dos “intelectuais de pacotilha”, que se dão ao desplante de o criticar – aplicando o “teorema da leitura em diagonal” – sem dele lerem uma linha. Mas, como um dia escreveria T. Gautier, “quem não cultiva o hábito do trabalho, contrai o vício da preguiça”, felizmente, Luís Miguel Rocha (materiam superabat opus) nunca se deixou abater pelos detractores, insignificantes em número e em “reputação intelectual”.
   
Luís Miguel Rocha autografando o livro do Director da Biblioteca Municipal, Rui A. Faria Viana.
“A Filha do Papa”, sexto livro na carreira de Luís Miguel Rocha, quarto na linha dos anteriores, onde se revela um profundo conhecedor sobre os meandros do Vaticano – “O Último Papa” (2006), “Bala Santa” (2007) e “A Mentira Sagrada” (2011) –, expressa-se na saga do fantástico e empolgante, do princípio ao fim. De facto, em “A Filha do Papa”, e como alguém escreveria, “vamos conhecendo os meandros do Vaticano, os possíveis segredos que são escondidos e todos os jogos de interesses que são feitos, em prol da beneficiação de alguém importante”. Estaremos em dizer que, mesmo plagiando a leitura de outros, por dela comungarmos, “esta é uma leitura fundamental [englobaremos aqui todos os seus livros, ligados ao Vaticano], para católicos e não católicos, porque, primeiro, temos que o encarar como um livro de ficção e, segundo, deixa-nos sempre com a dúvida: será mesmo ficção?”. É aí que reside o fascínio da criatividade literária de Luís Miguel Rocha: Até onde termina a realidade e começa a ficção? Nunca chegaremos a saber!... O que nos parece é que das mãos e da mente de Luís Miguel Rocha as insignificâncias ganham o cunho da perfeição, sem que a perfeição venha a cair nas malhas da insignificância. Nos seus livros, o mistério prende-nos do princípio ao fim. Tal como escreveria Lurdes Graça Pereira da Silva (juramos com a mão em cima d’“A Mentira Sagrada”, que não é nossa familiar), “é mesmo impossível parar de ler. Ele tem uma forma de escrita que nos envolve. Começa por ir tecendo pequenas narrativas de que não nos conseguimos desligar e, mesmo com os olhos fechados, vai-nos envolvendo nos meandros do Vaticano. / Chegamos ao fim, vemos a imagem do «tapete» final e é incrível como tudo encaixou na perfeição. Embora a história tenha terminado, nós continuamos presos na teia e perplexos. Fantástico”… Subscrevemos inteiramente!

Até que chegou a nossa vez: "Para o meu amigo Porfírio..."

Falando agora da excelente “tertúlia cultural” que tivemos na Sala Couto Viana, da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, onde nos entrosamos com o Luís Miguel Rocha e “A Filha do Papa”, ficamos a saber que consegue-se perceber como funciona o Banco do Vaticano: há gestores de contas que só eles conhecem os titulares que têm pseudónimos. Soube-se, por exemplo, há pouco tempo, que havia um pseudónimo que era “Roma” o qual correspondia a Giulio Andreotti, político democrata-cristão que ocupou o cargo de primeiro-ministro da Itália, e é desde 1991 senador vitalício da República. Segundo o Luís Miguel Rocha, soube-se deste facto “porque o gestor, o arcebispo Donato De Bonis – também referenciado no romance –, o deixou escrito no seu testamento”. No documento “ele afirmou que os fundos de milhões da conta titulada como «Roma» eram para ser entregues a Andreotti”, acrescentado que “este arcebispo geriu durante anos os milhares de milhões do Banco Vaticano”. Ficamos ainda a saber que o banco – criado em 1942, com a designação de IOR (Instituto de Operações Religiosas), onde as esmolas e contribuições de solidariedade fossem para um conjunto de contas (fundos e fundações) a usar em prol dos que precisavam, e não um paraíso fiscal puro como hoje acontece – foi uma ideia de Madre Pasqualina Lehnert, uma freira alemã que teve um “caso de amor” com Pio XII, Papa sobre o qual corre um projecto de canonização e que também é referenciado neste livro editado pela Porto Editora. “A filha do Papa” que titula o romance é “Anna”, uma das personagens da narrativa, fruto da relação entre Pasqualina e o eclesiástico italiano. Pasqualina e Pio XII conheceram-se em 1917, na Suíça, quando este era núncio apostólico em Munique e posteriormente, exerceu o mesmo cargo em Berlim. Todo o trama anda à volta de Pasqualina e Pio XII, sendo que ela foi sua confidente, amiga e amante, muitas vezes ele chamou-a à nunciatura e até lhe contou o que não devia, como os passos do Tratado de Latrão que decidiu as relações entre a Santa Sé e a Itália. Ainda segundo o bom amigo Luís Miguel Rocha, a Madre Pasqualina foi “uma das mulheres mais poderosas do Vaticano, que durou todo o papado de Pio XII (1939-1958), e sobre quem é difícil investigar”, não escondendo o fascínio sobre a freira transformada em personagem no seu novo livro.
E as revelações analíticas – sem profecias ou clarividências, que muitos lhe pretenderam atribuir – de Luís Miguel Rocha não se fizeram esperar, tendo em conta a ligação sequencial entre “O Último Papa”, “Bala Santa”, “A Sagrada Mentira” e “A Filha do Papa”: “João Paulo I meteu-se com o Banco do Vaticano acabou morto, João Paulo II meteu-se com o Banco do Vaticano sofreu um atentado e mudou completamente a sua gestão sobre o Banco a partir de 1981 e já não permitiu auditoria, nem permitiu nada (…) Bento XVI tentou que o Banco do Vaticano cumprisse todas as normas internacionais, pediu uma auditoria à Moneyval, da União Europeia, para que em todas as instituições financeiras do Vaticano não se possa lavar dinheiro, e acabou por resignar”. Daí, o próximo livro – e por promessa do autor – ter por título “A Resignação”, fechando-se assim um ciclo sobre os meandros políticos do Vaticano.

      Terminamos, tomando como nossas as palavras de Valter Hugo Mãe, outro dos escritores que tanto apreciamos, quando se refere a Luís Miguel Rocha e ao livro “A Filha do Papa”: “Um mestre de contar histórias. Exímio a mostrar cada instante e cada pormenor, como se projectasse cinema na nossa imaginação. Este livro é um vírus. Domina-nos”. Como todos os outros e o próximo, Valter Hugo Mãe!...

Saturday, May 18, 2013

Coimbra acolheu as «IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental»!


“Defende-se que o futuro sem consciência é uma manifestação do desejo de viver um presente sem consciência, evitando o que Lacerda denomina neurastenia e mal de viver, e o que poderíamos denominar o medo de estar acordado, o peso da liberdade ou o tédio de viver”.

Manuel Curado

Decorreram em Coimbra, nos dias 6 e 7 de Maio, na Sala Sá de Miranda (Casa Municipal da Cultura), as «IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental», numa organização da Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde – SHIS e apoio institucional do Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra-CEIS20, nas quais participamos com uma comunicação, cujas palavras-chave iam no sentido da abordagem temática da filosofia, psiquiatria, higiene social e eugenismo, e tinha por título: «Ernesto Galeão Roma (1887-1978): discípulo de Miguel Bombarda e Júlio de Matos apresentou, em 1913, uma dissertação final do Curso Médico, através de um estudo da microcefalia em quatro pacientes».

Aí estava a nossa prestação, trazendo à discussão a tese de Ernesto Roma sobre a microcefalia.

Por ser descabido tecer qualquer tipo de comentário acerca da nossa prestação, o que seria eticamente incorrecto da nossa parte, apenas nos predispomos em dizer que Ernesto Galeão Roma, natural de Viana do Castelo, fez os preparatórios para medicina na Escola Politécnica da Universidade de Lisboa e, de 1905 a 1913, na Escola Médica-Cirúrgica da capital, completou o curso médico, apresentando a dissertação final, em Junho de 1913 (completando este ano cem anos), onde abordou a problemática da microcefalia. Enquanto médico, ficaram as acções e as palavras: no campo da higiene, os médicos e os Estados têm-se ocupado do ataque da doença e dos meios como ela se protege do que propriamente do indivíduo obrigado a resistir-lhe, asseverando o valor dos ensinamentos profilácticos, firmando-se na convicção de que a higiene social é a defesa da saúde e o levantamento físico do povo pela aplicação dos meios que operam sobre as condições em que ele viva. E sem mais nos alongarmos, acrescentaríamos apenas que esta convicção advinha-lhe, por certo, da “paixão” inicial pelo estudo da mente, numa busca incessante do embrionário causativo das patologias psíquico-degenerativas. Este foi o nosso contributo!

O Médico Psiquiatra  Adrián Gramary e o Professor Doutor Manuel Curado, na altura do debate.

    Agora sim, uma pequena retrospectiva de tão peculiar e/ou extraordinário acontecimento cultural/científico: Na sequência das III Jornadas realizadas em 2012, estas «IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental» visaram dar continuidade a temáticas apresentadas e aprofundar as frentes de discussão abertas desde a primeira edição. Esta quarta edição das «Jornadas» integrou um simpósio temático sobre a história da psicanálise, incluindo a história da recepção de Freud e da psicanálise em Portugal. Este ano as JIHPSM centraram-se nos seguintes tópicos: 1. Filosofia, psicologia e psiquiatria nos séculos XIX-XX; 2. Psiquiatria e neurologia nos séculos XIX-XX; 3. Psiquiatria forense e medicina legal nos séculos XIX-XX; 4. Dispositivos assistenciais, tratamentos e terapias das doenças mentais nos séculos XIX-XX. Presidiu a Professora Doutora Ana Leonor Pereira (Faculdade de Letras; CHSCT-CEIS20 - Universidade de Coimbra), sendo secretário executivo o Professor Doutor João Rui Pita (Faculdade de Farmácia; GHSCT-CEIS20 - Universidade de Coimbra).
Intervieram nestas jornadas grandes vultos das Ciências Médicas (Psiquiatria, Psicologia e Enfermagem, incluídas), da História e da Filosofia, tais como Ricardo Branco Julião (Historiador), Ana Catarina Necho (Historiadora), Aires Gameiro (Psicólogo), José Morgado Pereira (Médico), Adrián Gramary (Psiquiatra), Paulo Archer de Carvalho, António Carreras Panchón (Professor catedrático – Psiquiatra), Maria José Louzao, A. Lapa Esteves, David Simón Lorda (Psiquiatra), Ana Paula Teixeira de Almeida Vieira Monteiro (Professora da Escola Superior de Enfermagem), Francisco Molina Artaloytia (Psiquiatra), António Barbedo de Oliveira (Médico), Carolina Gregório Álvaro (Historiadora), Denise Maria Borrega Pereira, Miguel Angel Miguélez (Psiquiatra), Sofia Nobre (Psicóloga), Artur Furet (Psiquiatra) e Rosângela Francischini (Psicóloga).

Dr. José António Alves e Prof. Doutor Manuel Curado, dois filósofos da Mente e da Universidade do Minho.

Ao deixarmos para o fim os nomes do Professor Doutor Manuel Curado «O automatismo futuro de cérebro: Sousa Martins (1843-1897 e José Lacerda (1861-1911)» e do doutorando em Filosofia, e do nosso companheiro de viagem, José António Alves «O crime e anormalidade em Edmundo Curvelo», procuramo-lo fazer, por forma a gerirmos o espaço de que dispomos nesta crónica, tendo em conta que seria impossível fazer uma retrospectiva minuciosa de todas as intervenções que, diga-se de passagem, foram todas elas magníficas. Se da boca do Professor Manuel Curado ouvimos dizer que “o Dr. Lacerda defendeu em várias publicações uma teoria da mente consciente que é merecedora de reflexão. A consciência surgiu no início do processo evolutivo mas irá desaparecer à medida que a evolução for progredindo. O futuro da evolução terá seres desprovidos de consciência e cérebros automáticos. Olhando para o presente e passado da evolução, a existência da consciência é considerada uma imperfeição. No prefácio à obra Os Neurasténicos (1895), Sousa Martins ultrapassa o que é recomendado pelo protocolo dos prefácios e critica a concepção da consciência evanescente do futuro. A presente comunicação analisa este debate intelectual e enfatiza o seu interesse perene. Defende-se que o futuro sem consciência é uma manifestação do desejo de viver um presente sem consciência, evitando o que Lacerda denomina neurastenia e mal de viver, e o que poderíamos denominar o medo de estar acordado, o peso da liberdade ou o tédio de viver”; o Dr. José António Alves, trar-nos-ia à coacção o facto de que “Edmundo Curvelo (1913-1954) foi um lógico português da primeira metade do século XX que se dedicou à elaboração de um esquema lógico capaz de representar todos os estados mentais. Curvelo denominou o objectivo do seu trabalho de logificação da psicologia. Objectivo similar perdura hoje, por exemplo, no Human Brain Project. (…) o campo ético que, no dizer de Curvelo, se constrói a partir do campo psicológico, sendo o instrumento de construção a análise lógica. O propósito é apresentar o pensamento de Curvelo a partir da sua afirmação de que o delinquente não é um criminoso, mas um anormal, um doente que se há-de tratar e curar. O argumento a explorar e criticar é o seguinte: a vida mental (“normal” e “anormal”) é totalmente transparente; é possível prever todos os comportamentos futuros; logo, o criminoso não age por si, mas por causas (doença) externas a si. Por isso o crime não implica castigo, mas porque estatisticamente anormal implica a necessidade de educação e pedagogia”. Sublimes intervenções, da área da Filosofia!
Os debates que se seguiram às comunicações, espelharam as “mais-valias” de alguns dos comunicadores, magnanimamente moderados pelos Professores da Universidade de Coimbra, Ana Leonor Pereira e João Rui Pita.

       Estamos em crer que «Labor improbus omnia vincit». Por isso, e porque o desafio nos foi lançado, para o ano lá estaremos!

Saturday, May 11, 2013

Em dia da Liberdade, Município de Ponte de Lima e amigos prestam justa homenagem ao poeta e escritor João Marcos!


“(…) Nesta data emblemática da nossa democracia, estamos a homenagear uma destacada figura de escritor e poeta que muito e durante muito tempo, a par de outras lutas e ideais, se bateu pela instauração da democracia, da conquista plena da liberdade – João Marcos”.

Cláudio Lima

Com palavras incisivas, conhecedoras, e verdadeiramente sentidas por todos aqueles que privaram de perto com o excelso poeta, ensaísta e escritor João Marcos [N. Rebordões Santa Maria, Ponte de Lima, 25 de Abril de 1913 – m. Lisboa, 6 de Janeiro de 2005], o poeta limiano Cláudio Lima acabaria por reforçar a sua – e nossa, porque dela partilhamos – convicção de naquele dia memorável homenagearmos um cidadão consciente e interveniente, “que desde muito jovem despertou para a contestação do regime opressivo saído da revolução de 28 de Maio de 1926, iniciada em Braga, e derrubado em 25 de Abril de 1974, nas ruas de Lisboa. Precisamente na data que ele celebrava o seu 61.º aniversário”. Numa retrospectiva, a nosso ver, poeticamente bem elaborada – porque doutro poeta se trata –, Cláudio Lima fez jus à proximidade de que dispunha em relação ao homem de Rebordões Santa Maria (Ponte de Lima) e à sua obra, descobrindo-lhe as “entranhas”, mesmo aquelas que parecem ser exclusivamente do foro íntimo: “Com efeito, se lermos atentamente os seus primeiros voos poéticos, constatamos que bem precocemente se começou a sentir uma espécie de pássaro cativo, ávido dos horizontes limpos e amplos que, após a tragédia de duas guerras mundiais, se iam vislumbrando no mundo ocidental”, para depois citar a parte final de um poema inserido na sua primeira obra, Polifonia Singela (1946), onde essa ânsia de evasão lhe persegue o espírito inconformado: Liberdade! és tão bela, tão rara, / Se te vejo assim prêso, cativo! / Mas, ó Deus! Permiti que ainda vivo, / Que ainda válido saia daqui! / Sempre – sempre! – hei-de ter na memória / Êstes dias de amarga tristeza! / Sempre – sempre! – hei-de ter em mim prêsa / Uma ideia do que eu padeci!...


Cláudio Lima falou ainda da obra de João Marcos na vertente de índole ensaística, da faceta limianista e da sua derivação poética, paulatina e progressiva, “para a reflexão aprofundada de categorias como divindade e humanidade, ser e destino, tempo e eternidade, contingência e finitude, consciência e liberdade, fé e cepticismo, etc., numa aproximação às teorias existencialistas de Heidegger, Sartre e, na sua vertente cristã, de Gabriel Marcel”. E citou exemplos dessa propensão poética-filosófica, nas obras O ser e o nada (1996), Epopeia do Homem Cósmico (2000) e Versos do Fim do Dia (2002). Por “defeito” de formação – nossa, claro! –, não resistimos à transcrição do seu poema “Manhãs de Neblina”, inserido no seu “O ser e o nada”: Neblinas envolventes das manhãs / cinzar das minhas horas saturadas / vírus dos meus tudos almas dos meus nadas / insonso escorrer nas telhas vãs / de um céu inimigo / que traz consigo / nem sol nem chuva – / venham na vossa cauda as tardes mansas / a mão sem luva / do sol que muda a face dos meus dias / se não em reversíveis esperanças / ao menos em mentidas alegrias. / E possa da verdade das lembranças / fiar-me na mentira dos meus dias. – Simplesmente, sublime!
     
  Foi justa a homenagem, como justas foram as palavras do Cláudio Lima, as quais subscrevemos inteiramente: “E passo a falar um pouco da sua qualidade de ilustre figura das letras portuguesas, ombreando com os melhores da plêiade limiana do seu tempo. Seja a cortejar as musas, seja a urdir as tramas da ficção, em todas as competências da arte literária se houve com extraordinária elegância e conformidade, merecendo generalizado aplauso de seus pares e consensual apreciação por parte da crítica”. E no campo da poesia, ouvimos atentamente o Cláudio Lima, cognitivamente, dizer: “Ora lírico e sereno na fruição dos momentos felizes, ora angustiado e tenso perante os enigmas e mistérios da existência; ora crispado e veemente ante as injustiças de que sente vítima ou testemunha, sob todos estes aspectos nós podemos admirar em João Marcos a mais perfeita construção, o mais irrepreensível trato do cânone e do idioma”. De facto, João Marcos tinha razão quando se referia a Cláudio Lima: “parece que me conhece desde criança, que sempre acompanhou passo a passo a minha vida, toda a vagabundagem do meu caminho – tanto os bons momentos como as passas do Algarve. Descobriu até o que não lhe contei textualmente, e sem fugir à verdade”. Irrepreensível análise crítica, merecidos aplausos!
Para além de termos gostado das palavras de Franclim Sousa, e sem desmerecimento para a sua profícua acção nas áreas da Cultura e da Educação em Ponte Lima, não queríamos deixar de aqui salientar a intervenção (em jeito de fecho) do presidente do Município, Victor Mendes: discurso fluente, mentalmente bem estruturado – sem esquecer o papel do poder local no desenvolvimento do país e a força da data assinalada –, agradavelmente assimilado e aplaudido!
Acabamos o dia no “Bar do Arnado”, do bom amigo José Ernesto Costa, numa excelente tertúlia cultural/gastronómica, magnamente acompanhados pelo próprio José Ernesto Costa, Franclim Castro e Sousa, Cláudio Lima e sua “alma gémea” – e quiçá, musa –, Fátima Alves.     

Para terminarmos, apenas uma frase que reflecte a sensação positiva que colhemos naquele dia, trinta e nove anos depois das portas que Abril abriu, e cem do nascimento do grande poeta e escritor João Marcos: Ditosa Terra que seus filhos memoriza!

Friday, May 03, 2013

IV Jornadas Internacionais História da Psiquiatria e Saúde Mental


         Informamos todos os nossos amigos que estiverem por Coimbra, no dia 7 de Maio (Terça-feira), que a nossa participação nas «IV Jornadas Internacionais História da Psiquiatria e Saúde Mental», terá início 11h15, integrada no grupo de quatro comunicações e debate: António Barbedo de Oliveira = (RE)LER MAGALHÃES LEMOS EM "VISITE PSYCHIATRIQUE À LA COLONIE DE GHEEL"; Carolina Gregório Álvaro = DOUTOR E LÍSIO DE MOURA: O HOMEM E O MÉDICO; Denise Maria Borrega Pereira = A DESCIDA DE LUIS CEBOLA AO INFERNO: UM RETRATO IDEOLÓGICO E CLÍNICO DA DOENÇA MENTAL NO PORTUGAL DE MEADOS DO SÉCULO XX; Porfírio Pereira da Silva = ERNESTO GALEÃO ROMA (1887-1978): DISCÍPULO DE MIGUEL BOMBARDA E JÚLIO DE MATOS APRESENTOU, EM 1913, UMA DISSERTAÇÃO FINAL DO CURSO MÉDICO, ATRAVÉS DE UM ESTUDO DA MICROCEFALIA EM QUATRO PACIENTES.

   
      Informamos ainda que o Professor Doutor Manuel Curado, apresentará a sua comunicação (O AUTOMATISMO FUTURO DO CÉREBRO: SOUSA MARTINS (1843-1897) E JOSÉ DE LACERDA (1861-1911), às 11h15 do dia 6 de Maio (Segunda-feira), e o Doutor José António Alves (O CRIME E ANORMALIDADE EM EDMUNDO CURVELO), no mesmo dia que nós (dia 7), mas às 9 horas e 30 minutos.
     Apresentarão ainda comunicações, ao longo dos dois dias: Ricardo Branco Julião (O ANTI-GALENISMO DE PINEL. OBSERVAÇÕES SOBRE A CRÍTICA A GALENO NA INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO DO TRATADO MÉDICO-FILOSÓFICO SOBRE A ALIENAÇÃO MENTAL); Ana Catarina Necho (A CRIAÇÃO DO HOSPITAL DE RILHAFOLES - O PRIMEIRO HOSPITAL DE ALIENADOS EM PORTUGAL: UMA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA MENTAL EM MEADOS DO SÉCULO XIX); Aires Gameiro (MISERICÓRDIA E MANICÓMIO CÂMARA PESTANA NA ASSISTÊNCIA AOS ALIENADOS NA MADEIRA ATÉ 1925); José Morgado Pereira (A EVOLUÇÃO DAS IDEIAS PSIQUIÁTRICAS EM ALBERTO BROCHADO); Adrián Gramary; Cláudia Lopes (HERCULANO DE SÁ FIGUEIREDO, UM ESCULTOR NO HOSPITAL CONDE FERREIRA); Adrián Gramary (O "CRIME DA QUEIMADA VIVA DE SOALHÕES" REVISITADO. IMPLICAÇÕES PSIQUIÁTRICAS); Paulo Archer de Carvalho (OS AMOS DA ALMA. O DIFÍCIL PARTO TEOLÓGICO E FILOSÓFICO DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL NO PRIMEIRO TERÇO DO SÉCULO XX); David Simón Lorda; Tatiana Bustos Cardona; Xaqueline Estévez Gil (ESPACIOS DE RECLUSION Y DE ATENCION A LA LOCURA EN LA GALICIA «EXPAÑA» DE FINALES DEL SIGLO XIX Y PRIMEROS AÑOS SIGLO XX); Ana Paula Teixeira de Almeida Vieira Monteiro (VIDAS INVISÍVEIS: DOENTES IMPUTÁVEIS PERIGOSO EM SERVIÇOS DE PSIQUIATRIA FORENSE - PERCURSOS ASSISTENCIAIS); Francisco Molina Artaloytia ("RIGOR EN OCASIONES, CARIDAD SIEMPRE, SIMPATIA NUNCA": LA HOMOSEXUALIDAD EN DISCURSOS PARADIGMÁTICOS DE LA MEDICINA FORENTE Y EL DERECHO PENAL FRANQUISTAS); Ana Paula Teixeira de Almeida Vieira Monteiro (DO ASILO AOS CUIDADOS COMUNITÁRIOS: EVOLUÇÃO DA ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA EM PORTUGAL); Miguel Angel Miguélez Silva; Maria Piñeiro Fraga; Tiburcio Angosto Saura (HISTORIA DE LOS CUIDADOS DE ENFERMERIA DESTINADOS A LOS ENFERMOS PSIQUIATRICOS DE LA CIUDAD DE VIGO: DESDE EL HOSPITAL REBULLON HASTA NUESTROS DIAS); Sofia Nobre; Maria Lapa Esteves; Florencio Vicente Castro (RESILIÊNCIA: O NOVO PARADIGMA DO AMOR À MORTE); José Cunha-Oliveira; Artur Furet; Aliete Cunha-Oliveira (PSIQUIATRIA, VIH e SIDA: UMA PERSPETIVA HISTÓRICA E CLÍNICA); Clariana Morais Tinoco Cabral; Rosângela Francischini (SAÚDE MENTAL PARA A INFÂNCIA E JUVENTUDE NO BRASIL E AS CONFERÊNCIAS NACIONAIS DE SAÚDE). Haverá, ainda, uma Conferência Plenária com António Carreras Panchón (MEDICALIZACIÓN Y PSIQUIATRIA. ENTRE EL RADICALISMO Y LA DEMANDA) e um Simpósio Temático: História da Psicanálise, com Tiburcio Angosto, Miguel Miguelez y Mª José Louzao (UN CASO FREUDIANO DE UN MANICOMIO GALLEGO EN 1927); Manuel Correia (PSICANÁLISE E PSICOCIRURGIA: A CONTAMINAÇÃO INCONSCIENTE); João-Maria Nabais (O RETRATO DE ANNA O. NA CRIAÇÃO HISTÓRICA DA PSICANÁLISE); A. Lapa Esteves; V. Prego; F. Moreira Simões ("1+1=1" OPERAÇÃO BINÁRIA E/OU CHAVE DA FELICIDADE?). A sessão de encerramento estará a cargo de Ana Leonor Pereira - Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; Investigadora e Co-Coordenadora Científica do Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do CEIS20; Presidente das Jornadas de História da Psiquiatria e Saúde Mental. 
      Apareçam, porque dá sempre tempo para tomar um cafezito e um "arrufada de Coimbra". Para além disso, nessa semana estamos em plena festa académica de Queima das Fitas pelo que há um maior movimento festivo na cidade. Abraço a todos!