Friday, January 30, 2015

Debate sobre a Europa em Conferência Internacional!...

«Uma Nova Narrativa para a Europa é um projecto de envolvimento e participação dos cidadãos, a realizar no território nacional, para promover a reflexão, o debate e a proposição de ideias que alimentem uma nova narrativa para a Europa.»

Porque envolvidos no projecto «Uma Nova Narrativa para a Europa», promovido pela Representação da Comissão Europeia em Portugal, tendo como Parceiro Estratégico o Centro de Informação Europeia Jacques Delors (CIEJD/DGAE-MNE) e como como gestor a SETEPÉS, onde podemos reflectir e debater ideais culturais para a Europa de hoje e de amanhã, tão bem expressos na Declaração do Comité Cultural do mesmo projecto, de modo a podermos reajustar as prioridades no quadro da entidade política que é a Europa, à luz desses mesmos ideais, foi com o maior sentido de responsabilidade ética e/ou moral que participamos, na Conferência Internacional «Novo Renascimento e Novo Cosmopolitismo», levada a cabo na grande catedral da cultura nortenha, Casa da Música (Porto), a 23 de Janeiro último.
Maria de Aires Soares, chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal, abriu a Conferência, dando as boas-vindas a todos os participantes, congratulando-se, ao mesmo tempo, pela qualidade dos oradores convidados que se prontificaram, sem qualquer tipo de condicionalismos, a colaborar nesta mesma iniciativa.


Antes de se dar início à referida Conferência, dividida em dois painéis, foi passado um “filme-documentário”, realizado em Barcelona, Bruxelas, Copenhaga, Haia, Lisboa e Praga, onde foram ouvidos alguns dos autores do projecto “Uma Narrativa para a Europa”: Kathrin Deventer, Luísa Taveira, Olafur Eliasson, Paul Dujardin, Peter Matjasic, Sneska Quaedvlieg-Mihailovic e Tómas Seddlácek, sete cidadãos europeus que ofereceram o seu ponto de vista sobre o futuro da Europa, confiantes que o seu testemunho possa estimular o debate entre os cidadãos europeus e as instâncias que governam esta comunidade de mais de quinhentos milhões de pessoas. Para estes autores, um novo renascimento e um novo cosmopolitismo são dois ideais culturais a que aspiram e que consideram vitais para a Europa de hoje e de amanhã, apelando a que “os cidadãos façam ouvir a sua voz e participem no espaço público europeu de debate, partilhando as suas histórias e preocupações. Essas narrativas contarão a história do que significa ser europeu no século XXI”.
Evocando o período europeu dos séculos XV e XVI, em que a sociedade, a arte e a ciência abalaram a ordem estabelecida e criaram os fundamentos e a dinâmica para a actual era da Sociedade do Conhecimento, deu-se início à Conferência, com o propósito de se reflectir e debater ideais culturais, capazes de criar e sustentar a acção política no seio da Europa; incorporar soluções inovadoras que permitam à Europa ser o baluarte da sustentabilidade ambiental no mundo; e, finalmente, assegurar um sentimento de pertença entre os cidadãos europeus. Daí, tendo como relator e moderador, o Embaixador Francisco Seixas da Costa, o primeiro tema – Uma Nova Narrativa para a Europa: Como despertar um Novo Renascimento? –, contou os seguintes oradores: Peter Matjasic, ex-presidente do Fórum Europeu da Juventude (2011-2014) e Membro do Comité Cultural da Declaração “Uma Nova Narrativa para a Europa”, e Marina Costa Lobo, Professora e Investigadora em Ciência Política. Do debate neste primeiro painel, tiramos algumas conclusões que passam pela noção clara de que a Europa é marcada pelo discurso economicista, descorando o plano cultural, numa alegoria à construção do navio à feição dos ventos; falta de princípios de identidade e de natureza ética, contrário à estrutura democrática, levando a alguma desilusão, ou seja, ao aumento da insatisfação dos cidadãos com a UE; a um crescente distanciamento entre os políticos mainstream Europeus e partes substanciais da opinião pública; pressões centrífugas na UE devido a condições económicas assimétricas e políticas de austeridade; aumento considerável do poder das instituições centrais da UE (Comissão, Conselho Europeu, Euro grupos, etc.); emergência de um “dissenso constrangedor”, explicado pelo eurocepticismo político e de políticas, e da erosão do consenso sobre o qual se construiu a UE, enquanto modelo europeu de democracia; uma cidadania passiva mas insatisfeita, vítima do seu próprio sucesso. Em suma: uma Europa dirigida para eurocépticos, que induz à desconfiança e não reforça um processo solidário, e da disfuncionalidade da política agrícola comum. Há, até, uma certa clivagem, porque assente numa espécie de elitismo.


Tendo ainda como relator e moderador, o Embaixador Francisco Seixas da Costa, o segundo tema – Uma Nova Narrativa para a Europa: Pluralismo e Cosmopolitismo? –, contou com os seguintes oradores: Eduardo Paz Ferreira, Professor Catedrático e Presidente do Instituto Europeu da Faculdade de Direito de Lisboa, e Miguel Sousa Ferro, Professor em Direito da União Europeia. Das suas intervenções, tiramos algumas ilações, principalmente quando se fala do choque do terrorismo em Paris, que desencadeou paixões e ódios, levando perigosamente à exclusão de outras culturas; liberdade de expressão, liberdade de imprensa e do poder judicial; sociedade incompatível com a grande cultura europeia; narrativas dos ricos e dos poderosos, assentes na presunção, ainda que errada, de acharmos que somos um continente superior aos outros; os Mídias, como propriedade e sob pressão de determinados grupos económicos; a Europa construída pelas grandes elites e não pelas populações, levando-nos, inadvertidamente, ao desaparecimento da história; a riqueza deveria servir a humanidade e não a humanidade servir a riqueza, numa alusão clara ao Papa Francisco, perspectivando, no entender de Eduardo Paz Ferreira, a aparição do “Euro” como só servisse para criar ódios e rivalidades; e, finalmente, o discurso do fecho de fronteiras tem as suas repercussões dentro das próprias fronteiras.
       Depreendemos desta extraordinária conferência internacional, que há uma prioridade cada vez mais necessária de reflectir e debater ideais culturais para a Europa de hoje e de amanhã, negando a imagem do “bilhete-postal” que nada tem a ver com a realidade, impresso no “asfixiante economicismo” e na mortalidade por exclusão. Só assim, diremos não à Europa que nos dirige para uma desconfiança permanente!

Saturday, January 24, 2015

Publicada 2.ª edição do «retábulo da folia» de Fernando Pinheiro!...

«Uma escrita envolvente, colorida pelo pendor adjectivante e pela incorporação do falar comum, serve a preceito o universo rural das oito estórias deste Retábulo tão cheio de matizes, sortilégios e malícias, ironia, sugestividade»

José Manuel Mendes

Com esta avalista apreciação crítico-literária de José Manuel Mendes, Presidente da Associação Portuguesa de Escritores, conceituado escritor e ilustre professor da Universidade do Minho, a nossa tarefa de inveterado leitor, acrescida do circunstancial atrevimento, porque a isso ninguém nos obriga, de passar para o papel a nossa opinião, a propósito de tudo o que Fernando Pinheiro tem produzido a nível literário até hoje, apresenta-se extremamente facilitada, tendo em conta a alta qualidade do seu projecto narrativo, opinião partilhada pelo mesmo José Manuel Mendes, e com a qual comungamos incondicionalmente, quando escreve: De livro para livro, Fernando Pinheiro enriquece e aprofunda o seu projecto narrativo. A efabulação, nascida amiúde de um olhar atento ao quotidiano, desenha-se com crescente argúcia e as personagens, na sua diferenciação procedimental, densificam-se. Bebendo numa locução latina, “Ad augusta per angusta”, diremos nós.
Perguntarão os nossos leitores: porquê toda esta retórica, quando tudo se resumirá a uma, ainda que subjectiva, apreciação a mais um livro, dado à estampa, de Fernando Pinheiro? De facto, não se trata de mais um, mas da 2.ª edição do seu livro de contos «retábulo da folia», editado pela primeira vez, sob a chancela da Autores de Braga, em Fevereiro de 1994. Dez anos depois, «RETÁBULO DA FULIA» aparece com uma nova “roupagem”, títulos e conteúdos ligeiramente revistos e acrescentados à inspiração inicial, desta vez, numa muito bem cuidada edição da Calígrafo. Acresce o facto de aparecer mais um conto, em jeito de monólogo – Os maravilhosos artifícios do Pinta-Ratos que entre outras proezas admiráveis tirou lágrimas verdadeiras aos devotos de Nossa Senhora da Franqueira –, elaborado, segundo Fernando Pinheiro, a partir da reportagem realizada por José de Coelho e Luís Santos, e publicada no jornal Barcelos Popular, em 7 de Dezembro de 1996. Contudo – e dentro do nosso princípio básico, muito pessoal, de que nada se inventa quando tudo está inventado, circunstancialmente assente na percepção de que não devemos escrever o que sentimos quando os outros, anteriormente, já o fizeram por nós –, teremos em dizer que o alto quilate do projecto narrativo mantem-se: Fernando Pinheiro tem o mérito de ser, equilibradamente, vernáculo e clássico à sua maneira, em estilo, com um perfeito domínio da técnica que dá corpo e alma à arte do (belo) conto. É mais uma revelação das potencialidades literárias do autor que o leitor bem pode constatar, mesmo com um suave deste “Retábulo da Folia” (…) pinta o quadro das alegrias e tristezas de um Minho que viveu numa “estúpida obediência” mas que, mesmo sem escola, sabia transformar uma cana num “simplório artefacto” para “silvos musicais tão vibrantes”. – citamos Pedro Leitão, em apontamento crítico no JN (1994).


Pelo «Retábulo da Folia» perpassam as mais díspares e extraordinariamente bem caracterizadas personagens, tais como: o Domingos Pato, “o maior mentiroso das Terras de Aquém e Além-Cávado”, que tinha o vício de “lograr o parceiro com uma laracha e duas tretas”; o Padre Ribeiro, “entre todos o mais douto naquelas paragens”; o senhor Joãozinho da Eira, entre todos o que “não se importava nada de cair nas suas esparrelas, e muito mal ia a vida quando o Pato não tinha nenhuma patranha para seu divertimento”; o Aires Manco, “que lhe disputava a Idalina Tripa, a maior paspalhona de quantas mulheres andavam no jornal naquela casa”; o Lino da Quitéria, “sacristão e tramboleiro de Santo Amaro do Campo”; o Baganha, circunstancial homem da batuta, aquando debilidades várias em Lino da Quitéria; o senhor Luís Aleluia, músico e oleiro, contramestre da Banda Musical de Santo Amaro do Campo; o Padre Joaquim, abade de Santo Amaro do Campo; o Marechala, “famoso tocador de descantes, rusgas e tocatas, conhecido em todo o concelho, desde Balugães a Viatodos, como sendo homem de sete instrumentos”; o Padre Zé, aquele que viria a casar Venturino e Isménia, “ao fim de vinte e um anos, três meses e sete dias de namoro pegado, testemunhado por todo o povo de Parada do Monte e pelas aldeias duas léguas ao redor, que têm o fraco costume de coscuvilhar a vida alheia”, sendo padrinhos Fernando do Souto, chefe da Acção Católica, e Lurdes Campeã, “ainda aparentada à noiva e zeladora do altar-mor (naquela manhã ornamentado a gipsófila branca e cravos vermelhos), e ainda um casal da aldeia para testemunhar”; a Isaura Pontes, dita a Gaga, assim se chamava “por padecer de um pequeno distúrbio de linguagem, que pariu quatro filhos cognatos”, e o pai de seus filhos, Samuel Cachapa, “tão rapidamente entrou na história como saiu dela, pois limitou-se a emprenhar a mulher quatro vezes e a morrer logo depois com os pulmões podres e os fígados inchados”; o Patrocínio Cachapa, filho de Samuel e da Gaga, “o quarto da geração, que herdou do falecido o gosto pela água e o mau sangue”; o Padre Alberto e a Glória Catequista; o José Videira, lavrador, “da muito conhecida Casa da Presa, a mais de uma légua de distância de S. Salvador da Ribeira”; o Domingos Capador, “o mais célebre rei das tabernas de Santo Amaro e além, quando as havia nas encruzilhadas do povo. (…) um bêbedo temido pelos taberneiros, pois todos sabiam o que tinha acontecido ao mixordeiro que um dia lhe dera uma malga de vinho feito a martelo”, e a Maria Piona, levada já prenhe para o casamento por Domingos Capador; o Padre Firmino, sabedor do “episódio insólito” do nascimento do quarto filho de Domingos e Piona, “disse que o cachopo parecia o pequeno José do Egipto a ser exposto pelos irmãos aos mercadores de escravos da Palestina”; o Zé da Glória, conselheiro-mor do sinédrio da aldeia; o Jacob Manuel de Deus Pereira, “nascido, criado e casado em Santa Eulália, livre de todo o serviço militar por estrabismo divergente”; o Padre Carvalho, também ele, tal como o Padre Ribeiro, “entre todos o mais douto da freguesia”; a Rola, “uma rapariga um tanto pascácia de S. Romão, que em toda a sua vida, não foi muito mais além da sua mera, embora própria, condição biológica”; o Irineu Azeiteiro, que andava pelos lugares da aldeia a distribuir o azeite, “numa carroça com a ajuda de uma mula. Tocava numa corneta à porta dos casais, ia a uma torneira de cobre cheia de azebre, e da bilha de zinco tirava qualquer água-ruça para as almotolias”; a Ermelinda da Fonte, tanto tida por santa como por doida; o Padre Agostinho, etc., etc…. Tal como escreveria a professora Manuela Ascensão Correia, “Retábulo da Folia” é «um quadro composto por um fascinante caleidoscópio de seres que, no seu primarismo, se fundem com a terra onde nasceram, barro do mesmo barro, às vezes tão barro que parecem só matéria, mas que, por um olhar, por um gesto, por um desejo, se escapam do barro e ascendem, por um momento, à sublime sacralização humana». Essa é, também, a nossa percepção!...
           NOTA MÁXIMA!

Saturday, January 17, 2015

Alma: mundo sensível, tempo, movimento ou princípio vital?!...

«Para Heraclito o princípio consiste na própria alma, em virtude de ela ser aquela emanação quente pela qual todos os seres são criados. Trata-se, por conseguinte, de uma realidade incorpórea e em mutação contínua: conhece-se o movimento consoante mais se movimenta, sendo sua opinião (e também a de muitos outros) a circunstância de todos os seres se encontrarem em movimento…»

Aristóteles

Fazendo uma pequena pausa na “leitura contemporânea”, nomeadamente dos autores que vamos lendo – e daqueles que ainda estão por ler – semana a semana, resolvemos exercitar as nossas interrogações cognitivas de hoje, à volta do trágico acontecimento, de fim de ano, que levou à “desencarnação” do nosso (familiar) amigo/irmão Manuel António Ferreira Ribeiro (1941-2014).
   

Começaríamos esta nossa modesta “deambulação do intelecto” por Thiago Sinibaldi, principalmente quando afirma que o princípio da vida – e/ou princípio vital – é a força de que emana a vida, exprime a convicção de que a própria vida é um efeito e todo o efeito exige uma causa proporcionada. Para ele, todos os seres vivos possuem um princípio de vida, distinto da matéria organizada. Sinibaldi acha que o princípio da vida deve chamar-se alma, definindo-a, ao mesmo tempo, como um princípio de movimento ou de operação. Afirma, ainda, que o princípio da vida é o princípio de todos os movimentos ou operações imanentes dos seres vivos. Logo, o princípio da vida deve chamar-se alma – “com razão, pois, dá-se a denominação de animados aos seres que possuem a vida, e o de inanimados aos que a não possuem –. À alma deve atribuir-se todas as propriedades, que convêm ao princípio da vida”. Ao lermos Thiago Sinibaldi, constatamos assim o conceito de alma como um princípio de movimento, que pode ser visto sob dois aspectos: enquanto anima o corpo – a alma é o acto primeiro do corpo natural e organizado, capaz de produzir operações imanentes –, e, por outro lado, enquanto é princípio de operações “a alma é o princípio primeiro, pelo qual o sujeito produz operações imanentes”. Por exemplo, na Antiguidade, a alma tem um significado de vida (animação), começando por ser localizada ou implantada no sistema respiratório, sendo que o respirar não se separa do spiritus (espiritual) e a morte ocorre com o último sopro, popularizado como entregar a alma ao criador. O nascimento, como início da existência, reconhece-se pela entrada de ar nos pulmões, permitindo a nossa própria autonomia, quando antes estávamos condicionados pelo sangue e oxigénio maternos. Esta antiga visão animista definiu, assim, a alma como uma espécie de harmonia, sendo ao mesmo tempo causa e efeito. Relevante é o facto de Anaximandro de Mileto (séc. VI a. C.), sendo o primeiro a utilizar o conceito de princípio, para significar, não a água, nem os outros elementos conhecidos, mas uma determinada natureza infinita, defendeu que a alma é de natureza etérea. Anaxímenes de Mileto (séc. VII-VI a. C.), e segundo Pinharanda Gomes, “à semelhança de seu mestre, reconheceu a existência de uma única substância infinita, verdadeiro princípio, mas, em vez de a deixar indefinida, achou que devia dizer qual era, e disse ser o ar”. Outro dos factos relevantes da Antiguidade é que, por exemplo, para os estóicos existia mesmo uma «Alma do mundo», forma através da qual eles explicavam – ou procuravam explicar – a sua organização e a sua continuidade.   
Voltando ao mundo cognitivo antes de Platão, e como o já referimos em anterior apontamento, convenhamos realçar que muitas foram as especulações sobre a ideia de alma, a ponto de, face à complexidade dessas mesmas especulações, em o Fédon – no qual alguns pensadores afirmam melhor transparece a verdadeira natureza da Alma humana, juntamente com os argumentos que fundam a sua imortalidade –, o mesmo filósofo grego acabar por defender um dualismo quase radical do corpo e da alma. A alma por aspirar a libertar-se do corpo era, para ele, uma realidade essencialmente imortal e separável. Assim, a tendência da alma – sendo que a mesma, como alguém um dia afirmou, deve chamar a atenção do filósofo – era de “regressar à sua origem divina e viver, entre as ideias, no mundo inteligível”.
O mesmo Platão, por exemplo, apesar de aceitar a doutrina heraclítica – tudo está em movimento – de que os objectos sensíveis estão em constante movimento, para ele os objectos sensíveis não constituem “todas as coisas” e se afirmamos que “todas as coisas estão em perpétuo movimento”, torna-se impossível o conhecimento. É em o Teeteto que Platão fala sobre o conhecimento em si mesmo, isto é, a essência do conhecimento, sobre a dialéctica e a Anamnesis – acesso à totalidade das ideias –, sendo que esta última é a intermediária entre os dois mundos de Platão: a natureza eterna da alma humana (mundo das ideias) e a existência separada das formas (a existência do homem no mundo sensível), objectos próprios do conhecimento. Assim, Aristóteles ao assumir que as substâncias são as realidades primeiras, no sentido de que todos os outros modos de ser dependem da substância – procurando também demonstrar a existência da substância supra-sensível – acaba por tentar corrigir Platão. Segundo ele, se todas as substâncias fossem corruptíveis, nada existiria de absolutamente incorruptível.
Por outro lado, para Aristóteles, o tempo e o movimento são incorruptíveis, sendo que o primeiro não foi gerado nem se corromperá, tendo em conta o facto de que, na realidade, antes de ser gerado deveria ter existido um antes e posteriormente à destruição do mesmo deveria ter havido um depois. Assim, sendo o antes e depois apenas tempo, para este filósofo grego sempre há tempo antes e depois de qualquer começo ou fim suposto do tempo. Logo, o tempo é eterno. De igual forma podemos falar do movimento, já que o tempo é apenas uma determinação do movimento, e, ao assim se postular, o que leva Giovanni Reale, no seu livro «Introdução a Aristóteles», a concluir que no pensamento aristotélico “não há tempo sem movimento; portanto, a eternidade do primeiro postula igualmente a eternidade do segundo”. Aristóteles, ao referir-se àqueles que defendem que a alma consiste numa harmonia, harmonia essa que seria uma mistura ou uma espécie de combinação entre contrários – do mesmo modo seria o corpo uma combinação de contrários –, resultando da mesma uma proporção de elementos misturados “ou, então, na sua respectiva combinação, diversamente não podendo a alma ser nem uma coisa nem outra”. E por aqui nos ficamos…
    Amigo/irmão Manuel António Ferreira Ribeiro, onde quer que estejas, desculpa-nos esta introspecção, dado sabermos o que pensavas a respeito destas questões. Até sempre!

Friday, January 09, 2015

Publicado o Tomo 48 dos Cadernos Vianenses!...

«A promoção da cultura vianense assume-se, assim, com o objectivo primordial desta edição, que continua a fazer história no panorama editorial de Viana do Castelo, permitindo um conhecimento de inúmeros aspectos de interesse científico e histórico…»

José Maria Costa

Fundados em 1978, sob a orientação de António Dionísio Marques, Severino Costa, Maria Tereza Majer de Faria, Jaime Cepa, Maria Augusta Eça d’Alpuim, J. Baptista Gonçalves da Silva, Maria Emília Sena de Vasconcelos, Rui Pinto e Matias de Barros, os «Cadernos Vianenses» apresentavam-se como uma publicação onde seriam “tratados todos os assuntos que digam respeito às gentes de Viana do Castelo, analisando-as sob o ponto de vista etnográfico e etnológico, somática e culturalmente, tratando de desvendar as suas possíveis etnias, entendidas estas como seus caracteres noológicos; relembrando e evocando o seu passado e, assim, estudando a sua história, quer no aspecto puramente antropológico, quer nas suas manifestações culturais, as mais diversas, desde a arqueologia, a passar pelo folclore, cerâmica, trajos típicos e artesanato e a terminar na pintura, poesia e, até, actividades desportivas” – como escreveria Dionísio Marques, na altura vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo (editor da publicação), em nota introdutória ao primeiro tomo. Percorridos trinta e seis anos, eis que acaba de ser publicado o seu quadragésimo oitavo tomo, coordenado editorialmente pelo chefe de divisão de Biblioteca e Arquivo municipais, Rui A. Faria Viana (coordenador desde o tomo quarenta e quatro, 2010), e sob a direcção do presidente do município vianense, José Maria Costa.


Com significativas alterações introduzidas, precisamente a partir do tomo 44, os «Cadernos Vianenses», enquanto publicação que se assumiria como arauto do passado e do presente da região de Viana do Castelo, representam hoje, e bebendo das palavras do actual presidente do município, o repositório “das várias abordagens de problemas e de assuntos com interesse transversal para Viana do Castelo nas temáticas da cultura, da etnografia, do património quer natural quer construído”. Essa é a sensação com que ficamos ao longo destes trinta e seis anos percorridos.
O tomo 48 dos «Cadernos Vianenses» foi apresentado no passado dia 27 de Dezembro de 2014, em cerimónia pública que decorreu na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, onde estiveram presentes o presidente do município, José Maria Costa; a vereadora do pelouro da Cultura do mesmo município, Maria José Guerreiro; e o coordenador editorial da mesma publicação, Rui A. Faria Viana, que através duma bem estruturada apresentação, diríamos até minuciosa, deu a conhecer ao público presente os conteúdos deste mesmo tomo 48 dos «Cadernos Vianenses» e os seus autores, realçando a qualidade quer de uns quer de outros. Elogios de circunstância que seriam secundados, a posterior, pela vereadora e pelo presidente do município, aquando do encerramento da sessão. Dois nomes a salientar, porque referidos na sessão, no campo estético e/ou artístico: Rui Pinto, que desde o primeiro tomo tem emprestado muito da sua sensibilidade, enquanto pintor, na elaboração das capas, sendo que as mesmas, só por si só, espelham todo um percurso artístico deste ilustre vianense, e não só; e Rui Carvalho, competentíssimo designer da nossa praça, responsável pela sua apresentação gráfico-estética, desde o tomo quarenta e quatro.


Este número dos «Cadernos Vianenses», com 336 páginas, para além da habitual “Apresentação” do presidente do município, apresenta-se com quatro separadores temáticos (secções): ESTUDOS VÁRIOS – “Viana e o mar”, de Carlos Alberto da Encarnação Gomes; “Talha religiosa de Viana do Castelo: panorama estético”, de Francisco José Carneiro Fernandes; “Breve simbologia do Templo-Monumento de Santa Luzia”, de Ana Marques; “De Viana ao Porto por Esposende até ao século XX: estradas, barcas e pontes”, de Raul de Azevedo Saleiro; “Espaços ajardinados da cidade de Viana do Castelo: contributos para a sua divulgação e importância para a fruição pública”, de José da Cruz Lopes; “Primórdios do ordenamento e planeamento na orla costeira minhota”, de Horácio Faria; “Casa dos Nichos: a utilização da ilustração no seu discurso museológico”, de Hugo Gomes Lopes; FIGURAS E MEMÓRIAS – “António Alfredo Simões Viana (1922): da medicina tropical a um olhar psiquiátrico sob a criança no século XX”, de Porfírio Pereira da Silva; “A citânia de Santa Luzia e o seu espaço envolvente”, de Jorge Alexandre Viana Correia; TERRITÓRIO E CIDADES DO NORTE ATLÂNTICO IBÉRICO (comunicações resultantes do 3.º Seminário realizado em Viana do Castelo, nos dias 25 e 26 de Setembro de 2014) – “A urbanidade no litoral das rías atlánticas”, de Henrique Seoane Prado; “Estratégia Alto Minho 2020: recomendação para uma visão de mudança”, de Vânia Rosa; “Linha do Minho: uma reflexão sobre o serviço de transporte e as interdependências com o território”, de Paulo Silvestre; “A reabilitação e reinvenção dos espaços públicos. As praças como veículos de regeneração urbana”, de Manuel C. Teixeira; “A configuração de Viana do Castelo: uma perspectiva metodológica”, de David Leite Viana; terminando com CONTINUADOS – “Arrolamento dos bens das igrejas”, de António Maranhão Peixoto.
A finalizar, surgem de uma forma resumida algumas notas sobre os colaboradores, com o objectivo de uma melhor identificação de todos os que assinam trabalhos inseridos neste tomo dos «Cadernos Vianenses».
        Mais um número que se recomenda!