Monday, October 19, 2015

O caciquismo e «Os Predadores» em Vítor Matos!...

«São predadores de si mesmos nas guerras internas dos partidos. Os maiores engolem os mais pequenos nesta cadeia alimentar que vai do topo até à base…»

Vítor Matos

Tendo em conta que nunca fomos dados à moleza de nos deixarmos influenciar pelos “objectores de consciência”, presença diária nas programações de “lixo não reciclável” da TV, colocamos a nossa exigência de leitura, observação e reflexão, em algo que possua alguma credibilidade científica e intelectual. Não temos por hábito de beber em fontes de águas inquinadas, o que equivale dizer que retemperamos a mente com palavras e letras desparasitadas.
Depois de terem ficado para trás seis livros de leitura aturada, devidamente por nós anotada e comentada – a saber: «Mudar» de Pedro Passos Coelho; «Portugal na hora da verdade: como vencer a crise nacional» e «Reformar sem medo: um independente no Governo de Portugal» de Álvaro Santos Pereira; «E agora? A crise do Euro – As Falsas Reformas – O futuro de Portugal» de Pedro Adão e Silva; «Da corrupção à crise: Que fazer?» e «Janela do Futuro» de Paulo Morais –, concentramos a nossa atenção, desta vez, no livro «Os Predadores», do jornalista de política na revista “Sábado”, Vítor Matos, onde procura dar-nos a conhecer, numa investigação jornalística independente, tudo o que os políticos fazem para conquistar o poder e como os grandes partidos põem em perigo a democracia em Portugal.


Embora todas as investigações possam ter alguma carga de subjectividade, o que nos obriga a precavermo-nos de uma possível influência e/ou manipulação objectiva, não descoramos a nossa imparcialidade de análise aos conteúdos, que ora se apresentam neste livro, no dizer do autor, como “um impulso jornalístico de revelar as lógicas de funcionamento dos dois grandes partidos de poder em Portugal”, deixando de fora a pequena clonagem (PP) que deu forma e consistência à desarticulada Coligação de direita, mas tão bem tratada no último livro de Álvaro Santos Pereira, «Reformar Sem Medo»: Sei bem que uma das razões que motivou muitos dos ataques de que fui alvo ao longo de dois anos de governação prende-se certamente com a independência do Ministro e dos Secretários de Estado. Os lóbis nunca tiveram a minha simpatia. Os aparelhistas partidários também não. No meu Ministério os lóbis ficaram à porta. E os aparelhistas nunca encontraram na nossa equipa quem lhes desse ouvidos (p. 223). Daí, a sua demissão, para dar lugar a um dos aparelhistas, sem que ficasse à porta das Portas: Saí de Berlim convencido de que era muito provável que Paulo Portas reivindicasse para si o Ministério da Economia, não só porque essa era uma ambição sua desde o primeiro dia, mas também porque era preciso desviar as atenções sobre o dano que tinha sido causado ao país… (p. 330). Mais palavras serão desnecessárias acrescentar, para não entendermos a ausência de um dos predadores, nesta investigação jornalística que se diz independente         
Voltando à vaca-fria d’Os Predadores, sem que estejam à espera que venhamos a esmiuçar todo o seu conteúdo, damos-lhe o aval de alguma credibilidade da nossa parte, tendo em conta o nosso permanente alerta, em anteriores crónicas, para as chapeladas, manipulações e outras vigarices que os políticos fazem para conquistar o poder. De facto, tem razão o autor, quando afirma que “não vale a pena procurar culpados, porque não há inocentes. Quem faz política tem de jogar segundo as regras do jogo. E as regras são estas. Quem não as aceitar sai fora, é expelido como um corpo estranho. Quem fica tem de hipotecar alguma coisa pelo caminho”.
Já António José d’Almeida, aquele que viria a ser Presidente da República, escrevera em 1910, na revista Alma Nacional, que «o caciquismo não é um acessório do regime. É o próprio regime. Ou pelo menos está para o regime como o coração está para o organismo que bate: é o aparelho distribuidor da energia e da acção». E este cardápio de requisitos (os votos não têm dono, mas têm trela), sempre actual e eficaz, também se estende às regiões e às autarquias.
Nas últimas eleições legislativas deu para perceber – palavras com as quais corroboramos – que “a luta política é uma espécie de guerra e se as eleições são batalhas entre opostos, os lugares no Estado são os despojos a que o vencedor tem direito”. Se é que houve vencedor nas últimas legislativas. A dicotómica divisão (Esquerda/Direita), nomeadamente dos votos com trela, fez-nos reler a velha alegoria d’A MONTANHA PARIU UM RATO. Entretanto, o regime do caciquismo vai oxigenando a falta de ar dos predadores. Até quando? Não se sabe.
       A procissão ainda vai no adro! 

Saturday, October 17, 2015

LANÇAMENTO DO LIVRO «BALIZA TRÁGICA DE UM NAUFRÁGIO»

No princípio, criamos os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; E o nosso espírito se movia sobre a face das águas. E dissemos: Haja luz. E houve luz. E vimos que era boa a luz; e fizemos separação entre a luz e as trevas. E chamamos à luz Dia; e às trevas chamamos Noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro. (Desconstrução genesíaca da nossa expansão sobre as águas e o naufrágio...). E começa a fazer-se luz!



       

No dia 30 de Outubro, esperamos por vós.
Estão todos convidados!

Friday, October 09, 2015

Exposição de escultura e fotografia “in memoriam” de José Dantas!...

«Durante anos atravessou a vida com as esculturas às costas, num saco de vagabundo ou de poeta, mostrando-as em qualquer parte onde houvesse alguém para ver, nos sítios que eram seus…»

Vítor Silva Barros

Apesar de não termos conhecido pessoalmente o artista limiano José Manuel Dantas de Melo (1 de Julho de 1948 – 13 de Fevereiro de 1975), vulgo Zé Micamé, dado o seu prematuro passamento, sempre ouvimos da boca daqueles que lhe eram mais próximos que “a sua compleição física, aliada a um temperamento rebelde, faziam dele um líder que todos aceitavam”. E, para além disso, tinha a elevada particularidade de, ainda que autodidacta, ser Artista.


Dado o facto de não o termos conhecido pessoalmente, e por forma a interiorizarmos o dicotómico “objecto ético-estético”, servimo-nos de um pequeno apontamento que, circunstancialmente, abrilhanta o pequeno prospecto (catálogo) da magnífica exposição que tem estado patente na Torre da Cadeia Velha, Ponte de Lima, de 4 de Setembro até 2 de Outubro: …Gostava dos pequenos, dos mais desprotegidos, das crianças, dos mendigos e até dos animais. / Não tinha medo de nada. Tratava o rio, as ruas e praças por tu, enfrentava a “Vaca Cordas” como se o touro fosse um bezerro. / Crescemos a admirar esse misto de generosidade e destemor. A liberdade que sempre sonhou tinha expressão na permanente inquietação. Lugares fechados e rigores de mestres não o faziam feliz. / O caminho que escolheu iluminou os melhores anos da sua curta existência. A arte e a liberdade chegaram quase ao mesmo tempo. / Na escultura pôde expressar o que lhe ia na alma e por lá encontrou formas de comunicar até aí impossíveis. Depois veio a fotografia. / Retratou tudo o que gostava e mais o que necessitava para sobreviver. Deixou a marca do seu enorme talento nos retratos que fazia. As crianças, os desfavorecidos da sorte e os animais voltam a preencher a sua vida. O que guardava da infância e dos primeiros anos da adolescência vem povoar a sua expressão artística. / Não viveu muito tempo. A vida mede-se, mas o talento não tem limites e é aqui que reencontramos o nosso amigo e todos voltamos a partilhar as inquietudes e os anseios de uma geração que o Zé personificou à perfeição… – descrição precisa e objectiva, facilitou em muito o nosso percurso estético-emocional, pela magnífica exposição.


Sem que tenhamos a soberba presunção de nos alvorarmos em “objectores de consciência” ou “críticos de arte”, tomamos a liberdade – assente no princípio de que o juízo estético e a produção artística andam de mão dada – de apreciarmos a Arte do Zé Micamé, com a consciência plena de que para se apreciar uma obra de arte não precisamos de trazer connosco seja o que for da vida, qualquer conhecimento das suas ideias e assuntos, qualquer familiaridade com as suas emoções. A criatividade do artista precisa sempre de público e, como um dia escreveria H. Gadamer, para o público, a arte criativa oferece «a experiência que melhor cumpre o ideal de um deleite “livre” e desinteressado». Foi desta forma livre e desinteressada que nos achamos no “direito” de percorrer “o elemento figurativo” em Zé Micamé, levando como único conhecimento relevante, e exigível, que o observador precisa de ter: sentido da forma, da cor e do espaço tridimensional.
Tomando como nossas as palavras de L. Tolstoi, quando afirma, escrevendo, que “os artistas são pessoas inspiradas por uma experiência de profunda emoção e usam a sua aptidão com palavras, ou desenho, ou música, ou mármore, ou movimento, para dar corpo a essa emoção numa obra de arte. A marca do sucesso nesse esforço é o estímulo da mesma emoção no seu público”. Se lhe subtrairmos o mármore e lhe acrescentarmos a madeira, o transbordar espontâneo de um poderoso sentimento emocional, esteve bem patente naquela magnífica exposição “in memoriam” de Zé Micamé. Tudo magnífico!


Não queríamos terminar esta nossa modesta opinião sem referirmos o extraordinário e irrepreensível trabalho de investigação, levado a cabo ao longo de mais de dois anos a esta parte, pela Dra. Catarina Lima, que de uma forma altruísta (só as pessoas bem formadas ética e intelectualmente, são portadoras desta humildade e princípio moral), procurou rodear-se dos apoios necessários, por forma a lhe dar um cunho institucional. Daí, o timbre da Associação «Comunidade Artística Limiana» como pano de fundo de um querer e sensibilidade pessoal: A Associação Cultural CAL agradece a todas as pessoas e entidades que possibilitaram esta homenagem ao artista, através da cedência de peças, fotografias, instalações, material de apoio, testemunhos e outros suportes que beneficiaram a exposição. Ainda um especial agradecimento à família e amigos do artista pelo apoio na realização do evento.


Sábado, 26 de Setembro de 2015, espaço-convívio deambulando por terras de António Feijó e Cardeal Saraiva, na companhia de Amândio Sousa Vieira, um dos mais ilustres limianistas que mais admiramos e respeitamos, viajando até ao âmago de Zé Micamé, o primeiro a usar calças de ganga quando os outros usavam de terylene, cuja obra revela, de facto, “uma elevada qualidade de alguém muito atento à realidade e às desigualdades sociais do seu tempo”. Enalteça-se quem assim viveu e deu testemunho do seu SER. Tal como nos confidenciara Amândio Sousa Vieira, afirmação com a qual corroboramos, esta exposição foi “um momento alto de cultura que muito dignifica Ponte de Lima”. Algo do melhor que se fez nesta área, nos últimos anos em Ponte de Lima, diremos nós.
NOTA MÁXIMA!