Sunday, April 08, 2007

Haja alguém que saiba orar!...

Sabe que a primeira obrigação de um católico consciente é não chamar Deus para questões a que não é chamado. E sobretudo não misturar fé e religião com política, o que é uma verdadeira obscenidade”.
Ribeiro e Castro (In «Sábado» n.º 151 – 22 a 28 de Março de 2007)

Habituados que vamos ficando ao grande exercício da abstracção, por forma a cultivarmos uma prática coerente de raciocínio – sem que nos deixemos envolver pelos juízos analíticos e/ou sintéticos em Kant – tomaremos como princípio básico do uso da “razão” para, serenamente, melhor entendermos os delírios de uma grande parte dos por nós já aqui baptizados de “forjadores de consciências”. Infelizmente, este tipo de gente formula o seu deambular por um conjunto de frases feitas, aspergidas aqui e acolá, sempre com o sentido de acreditarem naquilo que estão longe de porem em prática.
Agora, alguém nos vem lançar “areia para os olhos”, obrigando-nos a repensar a nossa condição de seres humanos, limitadora de relações mesmo com o próprio Deus: Sabe que a primeira obrigação de um católico consciente é não chamar Deus para questões a que não é chamado. Mas que Deus – para aqueles que acreditam – é este que é arredado do todo? Será que os erros cometidos por nós ficam branqueados moralmente, só porque Ele não é para aqui chamado? Ser católico “paredes dentro” limita o campo de manobra exterior, como se o nosso espírito legislador obrigasse ao acantonamento de um SER desautorizado. Para esta “boa gente”, basta cumprir os rituais, “bem parecer” e engalanar a consciência com o “hábito” e o “pandeiro”. Deus não é para aqui chamado e, ponto final!...

Nós, face às nossas convicções – e ao contrário dos decorrentes adaptadores de éticas morais –, transportamos o pensamento dos nossos “mestres” para todo o lado, e nunca descartamos o apelo à energia sensitiva (e/ou intelectiva) de algo que está para lá das correntes de circunstância. Nunca precisamos de apalpar para acreditar. Ser católico e limitar as “responsabilidades” de Deus, isso sim, é que é uma verdadeira obscenidade. Qual é o problema de misturar a fé e religião com política? A não ser que se queira fazer jus às profecias: Então, se alguém vos disser: Aqui está o Messias ou: Ei-lo ali, não acrediteis (Lc. 17, 23; Mt. 24, 23), pois surgirão falsos Messias e falsos profetas que farão sinais e prodígios, afim de enganarem, se possível, até os eleitos (Dt. 13, 1). Vós, portanto, acautelai-vos: de tudo vos preveni.
Qualquer sujeito – lembrar-nos-emos sempre da relação necessária entre o sujeito e o objecto, para haver conhecimento – que quer ser católico acantonado na Igreja e democrata no parlamento, dificilmente conseguirá a fusão da tripartida – fé, religião e política – especulação, para se alvorar no papel de um “democrata cristão”.
É tempo de “confesso”, tempo de “remissão dos pecados”. Deus, a existir, mesmo que não tivesse sido para ali chamado, ouviu os insultos e sentiu a violência, em sede de democracia cristã (?): pois surgirão falsos Messias e falsos profetas que farão sinais e prodígios. Sinais e prodígios assim, só servirão para aumentar a nossa indignação.
Haja alguém que saiba orar!...

Da origem das espécies à redefinição de individualidade!...

“O individuo nunca pode ser sacrificado em nome do colectivo, muito pelo contrário, o colectivo tem o dever de maximizar as condições de possibilidade para desenvolvimento e exercício de autonomia dos seus membros”.
Marta Nunes da Costa

Depois da aula aberta com Dra. Idalina Correia, a propósito da «Ética Evolucionista» em Charles Darwin, onde “especulamos” não sobre a origem das espécies, mas sobre a sua evolução – uma evolução que implica uma ramificação –, adquirindo, ao mesmo tempo, a noção de que os seres vivos brotam naturalmente da terra para a vida, eis que somos confrontados com a redefinição de individualidade depois de Kant, Adorno e Foucault. O desafio partiu da Professora Marta Nunes da Costa, doutorada na New School For Social Research, em Nova Iorque, cuja preocupação pessoal (?) assenta na articulação da teoria com a prática. Interiormente, apreendemos e aplaudimos tal nuance com algum entusiasmo. E, de tal jornada, tendo em conta a riqueza da discussão e o espaço deambulatório destas nossas “impressões” – noção exigível em termos de conteúdo – extraímos algumas noções que pensamos merecer alguma reflexão individual sobre o individualismo, logo que deduziríamos das palavras de Marta Nunes da Costa que Ser um indivíduo significa ser autónomo, auto-legislador, governado por uma atitude crítica permanente, através do qual o sujeito define a sua esfera privada e se dá o objectivo e dever de desenvolver as suas potencialidades, reforçando assim um sentido de responsabilidade perante si próprio e perante os outros. Ficamos a saber também que o ideal de autonomia foi, no século XX, transformado e reduzido a uma ideologia de “individualismo”. Para além do significado inerente à autonomia, e parafraseando a Professora Marta Nunes da Costa, Ser um indivíduo significa, também, ser capaz de se libertar de pressões sociais ou rótulos de múltiplas ordens.

Agarrados à “consciência do eu”, onde, circunstancialmente, somos confrontados com prescrições e/ou martirizantes especulações dos outros – muitas vezes revestidas de dissimulado regabofo –, quando seria de esperar uma consciência moral e/ou sócio-política, na medida em que a prática crítica se repercute a nível da transformação que ocorre sobre cada sujeito e o seu ambiente (citamos das palavras desta ilustre catedrática), ouvimos atentamente o pressuposto de que a dignidade e integridade física e moral – de um indivíduo – deve ser visto como um fim em si mesmo.
Foi um excelente debate, debate esse onde não hipotecamos a existência de individualidade, antes pelo contrário, através da profícua e fortificante discussão (interessantes as intervenções dos professores João Cardoso Rosas e José Manuel Curado) jamais olvidaríamos a conceptualização proposta pela Professora Marta Nunes da Costa, que resulta da convicção de que individualidade é um fenómeno e conceito distinto, merecendo por isso um espaço diferenciado no discurso teórico, não podendo ser de alguma forma subsumido nos conceitos de subjectividade, individualismo e identidade. Pena é que alguns detentores do “poder político” se auto-excluam da discussão do valor político da INDIVIDUALIDADE, sendo que a mesma deve ocupar um papel central nos chamados discursos liberais e democráticos, assim como nos sistemas de práticas e processos de democratização. Quando assim não acontece, por certo que tal facto se deve, no dizer desta ilustre catedrática, a certos padrões culturais e religiosos que comprometem o sucesso das democracias contemporâneas.
Até quando? Não sabemos!...

As promessas, a ética e o egoísmo ético!...

“O egoísmo ético afirma que uma pessoa deve fazer o que é de facto em seu próprio interesse a longo prazo. Sanciona o egoísmo, mas não sanciona a parvoíce”.
James Rachels

Se calhar, não estamos preparados para suportar tanto demagogia, tanta dissimulação e tanta hipocrisia. Tal como afirmaria James Rachels, “independentemente de como nos comportamos, o egoísmo ético afirma que o nosso único dever é fazer melhor para nós mesmos”. Daí, compreendermos o lema e/ou princípio básico de certos políticos que, envoltos em exteriorizadas apetências, vivem sistematicamente de promessas, por forma a sancionarem os seus interesses a longo prazo, como garantia de manutenção do encoberto egoísmo, a que aprenderam a denominar de ético. As promessas funcionam como articulação desse indisfarçável egoísmo, propagado no culto da imagem pessoal, quase sempre conseguida às “cavalitas” de gente anónima, descartável e fortemente punida, quando inoportuna... para eles, claro!...
As promessas são um fenómeno da incompetência, da mercadoria sem qualidade – a melhor publicidade de um produto advém da sua qualidade e não do culto da imagem, quando a sabemos fora do prazo, deteriorada ou defeituosa no fabrico – e da desmesurada ambição dos predadores, eticamente egoístas. Infelizmente, o humanismo é uma palavra arredada do vocabulário desta gente que consegui o poder à custa dos feridos na guerra e nem um “cão” será concedido para lhes lamber as feridas. As bem intencionadas (?) promessas, involucradas no não ao aumento dos impostos e das portagens (– Meu filho, quando fores ocupar o cargo de primeiro m..., pensa nos mais pobres!) é apenas uma “gota no oceano” da bem engendrada dissimulação de quem soube sancionar o egoísmo – porque ético à boa maneira da política sem ética –, mas não a parvoíce. E, os pacóvios somos nós?!...
Em resposta ao descontentamento responde-se com o problema do “défice”. Aqueles que outrora crucificaram – em bem estruturadas e “falantes” crónicas aliadas aos “puxões de orelhas” do Presidente da República, Jorge Sampaio – a ministra Manuela Ferreira Leite pela sua “obsessão do défice”, são os mesmos que ora nos poupam no raciocínio de uma crise anunciada, deleitando-nos em promessas de bonança, depois da tempestade. A moralidade da morte misericordiosa esta aí, para “dar e vender”. O egoísmo ético deu lugar à parvoíce.
E há já quem apele ao regresso de Salazar, aquele que um dia se aventurou em dizer, cumprindo: No dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó!...

As responsabilidades da crise do país!...

“Além disso, noto que esta capacidade de imaginar que está em mim, enquanto difere da de conceber não é requerida pela minha essência, isto é, pela essência do meu espírito, porque, dado que me faltasse, eu permaneceria, ainda assim, o mesmo que ora sou”.
Descartes

Já lá vão trinta e dois anos que – pelo domínio de uma democracia disfarçada, bem ao jeito da satírica ou denominada “república das bananas” – nos vamos orgulhando, envergonhadamente, de uma libertação aparente das mordaças e das algemas. Digamos, em abono da verdade, que, apesar de nos sentirmos vacinados contra a síndrome da política de pacotilha, a revolta íntima tem sido, infelizmente, uma “voz” destabilizadora do nosso próprio subconsciente. Tínhamos prometido que não falaríamos mais de política, por forma a mantermos a serenidade mental – a tal substância que Descartes contrapõe à material –, mas a permissão dos dislates perpetrados por (in)consciências, ética e moralmente mal formadas, têm-nos levado à indignação.

Desde os 18 anos de idade – altura em que vimos e sentimos as portas que Abril abriu e vivenciamos pela acção muitas das conquistas laborais e não só, por melhores condições de vida – que ouvimos falar, governo a governo, de crises anunciadas; “tangas” indisfarçáveis; desempregos permanentes; doenças incuráveis, face à crise financeira na saúde; reformas impraticáveis, condimentadas pelo “buraco” na Segurança Social; justiça inoperante, onde até já se crucificam polícias e se poupam os ladrões; e, bla..., bla..., bla..., blaaaaa... (apreendemos de muitos dos discursos justificativos para a “incompetência” dos nobres fazedores de paraísos, dos tempos que correm).
Fora dos lugares comuns do poder – ou, melhor dito, enquanto a ele não chegaram –, esses ilustres fazedores de paraísos desferem cobras e lagartos contra os que ocupam tais “penachados cadeirões”. Mas, eis que chegados ao lamaçal que tanto renegavam, logo se desdobram em moralizantes discursos do terapêutico – porque necessário – sofrimento para alcançar a graça, a felicidade e a subsequente estabilidade que, nos seus mentecaptos propósitos, será sempre financeira. A emocional é para os outros. Sim, os outros que fortalecem as suas estabilidades financeiras. Pode ser que venhamos a perceber tal dinâmica, quando – e se – nos permitirem usufruir tal estatuto. A emoção e/ou a emotividade são, por rotulagem, panóplia de quem trabalha e “vota” para a construção desses mesmos poderes. Infelizmente, apenas servimos, ou vamos servindo, de tapete vermelho para tão semblante repasto.
Trinta e dois anos depois, finalmente, percepcionamos, por nos fazerem crer, o facto dos políticos estarem ilibados das responsabilidades (des)governativas e que, para mal dos nossos pecados, tal carga negativa de desgoverno passou a ser imputada a quem trabalha, contrariando a pura razão do nosso irmão e inspirado vate brasileiro Vinicius de Moraes: Uma esperança sincera / Cresceu no seu coração / E dentro da tarde mansa / Agitou-se a razão / De um homem pobre e esquecido / Razão porém que fizera / Em operário construído / O operário em construção.
Até quando democracias assim condimentadas? Não sabemos!...

«Feiras Novas: 1826-2006», obra monumental de Amândio de Sousa Vieira!...

“Diante dos nossos olhos move-se assim um período histórico de quase dois séculos, não apenas o do evento, o do acontecimento rápido, mas o desse tempo longo que capta a vida profunda”.
Luís Dantas

Ficamos completamente fascinados com a obra monumental que nos veio parar às mãos, amavelmente oferecida por seu autor, o nosso particular amigo /irmão Amândio de Sousa Vieira. Só quem tem uma sensibilidade apuradíssima de artista, poderá conceber tal preciosidade. Se, tal como um dia afirmou Walter Firmo «a função de uma fotografia é sobretudo educar, levando ao espectador algo de novo: o acto de ver uma fotografia será sempre do conhecimento», somos forçados à subsequente interrogação quanto ao conhecimento de quem produz a imagem – a que chamam fotografia – na sua originalidade embrionária.


«Feiras Novas: 1826-2006», última obra de Amândio de Sousa Vieira, é um diamante lapidado, porque sabemos da sua delicada mestria no tratamento de documentos, na manipulação dos produtos que irão dar vida a carunchosas e/ou desmaiadas memórias impressas; do paternal carinho emprestado às partículas desarticuladas da imagem real; e, do brilho dos seus olhos quando vêem desempoeiradas as próprias memórias. Pela condição genética – assumidamente genética, porque com alma –, sendo que as terras limianas são a sua “pátria”, Amândio de Sousa Vieira acaba de prestar, ao distrito e quiçá ao país, um inestimável serviço cultural, serviço esse que competiria a quem tem obrigação para tal e não o faz ou, sorrateiramente, se vai cobrindo com o dinamismo intelectual dos outros. Infelizmente, o mesmo acontece com todos os outros escritores limianos – e não só –, sendo que alguns Amândio de Sousa Vieira, inteligentemente, acaba por os inserir na sua obra. Pela pertinência bibliográfica, passamos a citar: Abel Baptista, Alberto do Vale Loureiro, Alberto Madeira Miranda, Alexandre Reigada, Amândio de Sousa Dantas, Aníbal Marinho, Aníbal Rocha, António Amorim, António Coelho de Sousa Machado, António Manuel Couto Viana, António Feijó, António Nobre, António Porto-Além, António Vieira Lisboa, Pe. Artur Coutinho, Augusto de Castro e Sousa, Pe. Carlindo Vieira, Carlos Lima Magalhães (Menã), D. Carlos Martins Pinheiro, Carlos Passos, Casimiro Pereira Alves, Cláudio Lima, Conde d’Aurora, Conde da Freiria, Daniel Campelo, Delfim Guimarães, Delfim Magalhães, Eduardo de Castro e Sousa, Ermelinda Mendes, Faria de Morais, Fernando Augusto de Vasconcelos Calheiros de Barros, Fernando da Silva Pereira, Francisco Bernardino, Francisco Sampaio, Franclim Castro Sousa, Gaspar Pacheco Maia, Humberto Lopes, João Barros, João Carlos Gonçalves, João Dantas Guerra, João Gomes d’Abreu, João Marcos, João Verde, Jaime Ferreri, José António Cunha, José Carlos Magalhães Loureiro, José Castilho, José Guerra dos Santos de Matos, José Maria Cerqueira, José Rosa Araújo, José Sousa Vieira, José Velho Caldas, Júlio de Lemos, Luís de Sousa Dantas (autor do prefácio), Luís Forjaz Trigueiros, Madalena Vieira Martins, Pe. Manuel Dias, Maria Cândida Brandão, Maria João Vieira, Maria Manuela Couto Viana, Mário Freire, Miguel de Lemos, Pai-Paulino, Pedro da Silva, Pedro Vitorino, Ribeiro da Silva, Rodrigo Veloso, Rosária Sá Coutinho, Rui Quintela, Severino Costa, Susana Espadilha, Teófilo Carneiro, Ulisses Duarte e Victor Castilho. Tal como um dia escreveu Fernando da Silva Pereira: Para Amândio Vieira, as Feiras Novas têm uma componente humana única. Nas festas de Ponte de Lima, “é que, em rapaz, via os cavalinhos”, e, um dia, fotografou “um menino, cansado da romaria, a dormir em cima do chapéu do pai”, Amândio de Sousa Vieira escreve sentimentos e emoções com a imagem. Que forma bela de amar a sua terra!...
Se não soubéssemos do seu apego à vida e a Ponte de Lima, o que nos faz antever uma produção cultural cada vez mais elevada, estaríamos em dizer que nada mais de tão magnificente será produzido em Ponte de Lima, daqui para o futuro.
«Feiras Novas: 1826-2006», uma obra com nota máxima!

Impressões de uma visita a Paris!...

“C’est que la France, si elle n’est plus la grande nation, demeure l’irremplaçable nation, et que servir la france, c’est servir le monde”.
Charles De Gaulle

Cidade Luz, cidade que não pára – basta percorrer as artérias junto às “Rue de la Huchette” e “Rue de la Harpe”, em Saint-Michel –, capital do pensamento, um pequeno mundo dentro do mundo, são algumas das impressões que apreendemos nos quatro dias que passamos na cidade de Paris. Por qualquer canto se respira cultura de uma forma ordenada, eficaz e, consequentemente, objectiva. Os filhos da nossa terra têm consciência disso e facilmente se inserem na dinâmica desta extraordinária metrópole.
Visitamos o Museu de Louvre, onde sentimos o poder e a magia da Pirâmide de Vidro (causa e efeito de uma extraordinária energia universal), essa grande obra do arquitecto sino-americano, I. M. Pei (1981), que permite aos visitantes contemplar toda a extraordinária e majestosa arquitectura dos edifícios históricos que a cercam, infelizmente vilipendiada e adulteradamente visionada em pseudo-códigos Da Vinci; o obelisco (com cerca de 3200 anos) arrancado às portas de Luxor, hoje reclamado o seu regresso pelos egípcios, face à exigência e consciência do património “roubado” à sua ancestral nação; o Arco de Triunfo (Arc de Triomphe du Corrousel), erguido em 1806 e decorado com os cavalos saqueados de São Marcos, Veneza; o monumento ao libertador Charles De Gaulle: “c’est que la France, si elle n’est plus la grande nation, demeure l’irremplaçable nation, et que servir la france c’est servir le monde” (servir a França é servir o mundo); algumas das 50 fontes de água potável mandadas erigir por Richard Wallace; o Moulin Rouge por fora, na sua luminosidade; as nocturnas visões do Panteão (Panthhéon), onde jazem as maiores figuras da nação francesa, e da Notre-Dame (com esperança de um dia visionarmos, de dia, os pormenores das suas gárgulas, rosáceas, arcobotantes, galerias, portal da Virgem e torres – com destaque para a torre-agulha, desenhada por Viollet-le-Duc e que se ergue a uma altura de 90 metros), memória lendária do corcunda e da formosíssima Esmeralda, esplendorosa obra cuja primeira pedra seria colocada pelo Papa Alexandre III, em 1163, e onde se reflectem as inspirações dos grandes arquitectos góticos e medievais, cuja conclusão seria em 1330 – tinha 130 metros de comprido e ostentava colunas, um grande transepto, coro e torres de 69 metros; algumas das mais de uma dezena de pontes do Sena, esse mitológico rio que a famosa cantora francesa de cabaré Mistinguett dizia ser “uma loira bonita de olhos risonhos”; os monumentos a Theophile Roussel e ao grande Imperador romano César, etc., etc. Não deu para mais, mas prometemos lá voltar!
Impressionamo-nos com a iniciativa «Pari Roller», onde mais de 20.000 patinadores, todas as sextas-feiras (e que sexta-feira nocturna, bem vivida), percorrem várias artérias principais de Paris; os artistas de rua, com os seus rodopiantes dançarinos “break-dance”, ilusionistas e maravilhosos tocadores de guitarra clássica, por nós apreciados na “rue de La Harpe” – tendo como cenário de fundo uma das «Achat de Bibliotheques a Domicile» –; os famosos restaurantes de todas as nacionalidades, com o prazer redobrado de termos partido pratos à boa moda grega, no Restaurante «Le Meteora», especialista em “grecques” e marisco do Mediterrâneo, refeições acompanhadas ao som de uma orquestra grega – foi lá que voltamos a saborear a nostalgia do “Zorba e o Grego”, impressa na nossa memória, aquando do baptismo do nosso irmão Helder, no longínquo ano de 1969, em Terras de M’Banza Congo.
Ao fundo do pequeno Estádio “Didot”, visualizamos as primeiras construções feitas pelos portugueses que, por sinal, se destinavam à habitação social. Aqui em Portugal, face à sua arquitectura, estaríamos em julgá-las habitações de luxo. Justificam-se os cinquenta anos de atraso do nosso país!


O Hotel «Formule 1» – um dos 380 hotéis da rede “Accorhotels.com” –, onde dormimos e onde tomamos o pequeno almoço, contíguo à sede da Federação Francesa de Judo (espaço megalómano, à imagem da grandiosidade deste país gaulês), complementam a noção de desequilíbrio social, quando comparativamente com este nobre país à beira-mar plantado. A noção e inteligência empresarial também fazem prosperar e/ou engrandecer um país.
Os dois livros comprados numa feira de antiguidades – «De Gaulle», da autoria de François Mauriac (de l’Académie française), editado em 1964 por Bernard Gasset, com 350 páginas; e «Les Poètes du XIX Siècle», da autoria de J. Calvet (Agrégé des Lettres), editado em 1950 pela J. de Gigord, Éditeur, de Paris, com 744 páginas – ajudaram-nos a descortinar a desonestidade latente em muitos dos alfarrabistas do nosso país. Dez euros bastaram para adquirirmos estas duas valiosíssimas obras, enquanto que por cá já chegamos a dar cinquenta euros por uma única antologia de Poetas Portuenses do séc. XIX. Enfim, critérios diferentes de enriquecer e de viver a Cultura.
Não é por acaso que por cá, infelizmente, continua-se a “mal-dizer” a nossa condição de filhos bastardos da Europa. Até quando? Só depende da vontade dos políticos e da nossa postura, enquanto cidadãos do mundo!...