Friday, November 29, 2013

“Nas Janelas da Minha Alma” em Francisco Carneiro Fernandes!...

“Talvez seja a Poesia – enquanto Partilha – palavra-chave, para sabermos ser contemporâneos, com as asas possíveis da Liberdade!”

Francisco Carneiro Fernandes

Foi com o maior orgulho e satisfação que fizemos a apresentação pública do mais recente trabalho em poesia (Janelas da Minha Alma) do nosso bom amigo e velho companheiro das lides laborais e literárias Francisco Carneiro Fernandes, ilustre geógrafo, escritor e poeta vianense, nascido em 1953, no lugar mater da nossa “Princesa do Lima”, Santa Maria Maior.
Como fizemos questão de salientar no dia do lançamento (23 de Novembro), «Nas Janelas da Minha Alma» (Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editora), as palavras amoldam-se ao dizer e praticar em Francisco Carneiro Fernandes: “Talvez seja a Poesia – enquanto Partilha – palavra-chave, para sabermos ser contemporâneos, com as asas possíveis da Liberdade!”, palavras essas que se ajustam (Partilha e Liberdade), também, ao nosso “estádio terráqueo” ou civilizacional: a nossa relação com os outros, condimentada pelo direito à Liberdade de cada um, a verdadeira expressão política que Agostinho da Silva reconhece como «um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou o intimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma luta de que a não interessam nem dificuldades nem extensão». E «Nas Janelas da Minha Alma», vai precisamente nesse sentido.
Já uma vez aprendemos com o seu excelso pai, o inesquecível Filipe Fernandes, que não é poeta quem quer, sendo necessário para o ser, a sensibilidade para apreender, observar, sentir e criticar, mesmo que as vezes o façamos de maneira irónica, subtil, outras de forma satírica e causticante. Senão, vejamos o que Francisco Carneiro Fernandes partilha connosco, em jeito de nota introdutória ao «Nas Janelas da Minha Alma», citando Oscar Niemeyer: «O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein». Desenganem-se aqueles que procuram “curvas de carácter” na poesia de Francisco Carneiro Fernandes, dado que aqui «há limas e limões em verdes tons / fora das convenções. / E laranjas / no parapeito das mansardas!» e onde «é urgente Ser Poeta / na partilha da mensagem: / plasmando / teares abandonados / políticas de terra queimada / veios das redes cortados / estaleiros sem fábrica / alfaias / engolidas pelas máquinas e pelos medos!...», quiçá irradiado pelo espírito luminoso de seu pai: «Pai, hoje fazes anos!... Bem sabias / quão sérios eram, tristes e tão breves / esses dias… Por isso, colorias, num rol de filhos, cânticos alegres!» e seu ascendente «Mendes Carneiro, voz esclarecida / em tanta justa causa social: / do Belo, do Amor, do Bem da Vida, / Pátria de Avô e Neto fraternal…».


Neste maravilhoso livro de poesia há memórias e eternidades comuns a cada um de nós, trazidas do MAR – qual poética das caravelas e silêncio das estrelas, se abrirá ao luar da serra! –, poema com que abre o «idílio montanha acima / partilhar o disco de vinil, / do verde pinho, da luz infinda / a ver o mar / no jardim do teu olhar…»; desafios possibilitados pela viajem (ou forma de viajar) para além dos espelhos, aprendendo a regressar à luz solar; esotéricas aberturas de janelas ao luar (memória do tempo que está para nos tempos em Inez dos Anjos Hortel), maravilhoso soneto arrancado ao sótão da sua alma de criança: «Já passaram cem anos, minha Avó! / O fruto do Amor, que foi meu Pai, / a Luz do vosso olhar, por estar só…»; melodias crepusculares em fim de tarde: «Piano, balada-sonata / de embalo e delicadeza. E a chuva forte a anunciar / variações de ouro e prata / em chama acesa»; rasgar de papéis da memória, quebrando um bisel do espelho, enquanto sonha acordado: «É a mocidade que passa / através da vidraça… / Leva no peito a viola / e a guitarra em pensamento»; olhar atento àquilo que o aflige, mesmo enquanto geógrafo: «País rectangular só tem nariz… / Morre o pulmão das aldeias, / sangra o coração das cidades / e o fígado nas tabernas! / É urgente Geografia / da paisagem humanizada…»; falar mais do que muito ser humano «por fora pintado, vazio por dentro!»; respirar dentro de si «flor que não mente / a do silvado / sem flor mas sempre verde…»; sopro de incompletude no coração da humanidade; Pomba Branca «a canção de embalar que tu cantavas (…) é mar do teu olhar!»; dia de Aniversário, presente e passado, restando «um fio de azeite / no aparador da Saudade!...»; Rainha da Paz em manto de linho alvo, azul-escuro do mar profundo, roxo da compaixão no declinar da tarde, Rosário às nossas preces no mês de Maio; Magia de Criança, sendo «contemporâneo / da existência já vivida e por viver».
Na poesia de Francisco Carneiro Fernandes há ainda relógios indiferentes ao bater da hora; carruagens do tempo; penumbras e silêncios com asas da liberdade: «E guardo, / para sempre, / a imagem da tua voz ausente… / Silêncios e pausas, / em linhas abertas / nas Janelas da Minha Alma!»; agridoces nostalgias; poemas como cerejas; sorriso das palavras; espelhos e janelas; essências da existência terrena; sorrisos campestres; sem-abrigo: «Mais sensato que o novo-rico / de umbigo metido pra dentro / a gastar a tripa forra / o que não lhe pertence, / depositaste quase tudo no fiel proprietário / depois de pedires uma bebida quente»; o Manel da Praça: «O filósofo da juventude não era ele / era muita gente e não era ninguém!» (bela definição, que para ser sentido e fazer sentido, o poema terá que ser lido na íntegra); a Feira da sua infância, quais recordações trazidas até nós através deste extraordinário poeta memorialista: «Na feira da minha infância / a noite irradia clara… / E contagia o comércio de bairro / com conta, peso e medida, / que apurava nesse dia a vida / duma semana de trabalho!»; a bicicleta que já foi moderna «e fazia escola, quando a malta partilhava quartos de hora, / aprendendo a subir os degraus da vida / na cidade ou na aldeia mais remota»; os brinquedos, qual avião azul, escondido algures no sótão, ou na cave, que «de vez em quando sai do armário / e acorda-me a voar…», etc., etc.    
Como corolário deste nosso modesto contributo/partilha, tomaremos como nossas as palavras do escritor e poeta Fernando Melim, em prefácio ao livro «Olhares», de Francisco Carneiro Fernandes: «A linha mestra da Poesia mergulha fundo nas raízes da saudade. Também este poeta, esta poesia, se enleiam no espaço imenso, feito de dias e de permutas, de sonhos e de esperanças, de alegrias e de medos, que se escoam por entre os dedos, de mansinho, como um punhado de areia limpa e seca». De facto, o poeta Francisco Carneiro Fernandes continua a mergulhar fundo nas raízes da saudade em «instantes irrepetíveis, / eternidades por descobrir… / A imensidão dos possíveis!».
         Nas Janelas da Minha Alma, um livro de poesia com nota máxima!

Saturday, November 23, 2013

Caiu o pano da opereta trágico-cómica «Mas afinal quem és tu, ó Dona Maria da Fonte?»...

“Abençoada Maria, a da Fonte, que me levou de Lisboa até à bela cidade de Viana do Castelo e ao Centro Dramático de Viana, onde tive a felicidade de conhecer e trabalhar com um belíssimo naipe de actores e técnicos”

Fernando Gomes
(Escritor e encenador)

Elenco com Fernando Gomes
Foi há cerca de cinco anos (2008) que no palco do Teatro Municipal Sá de Miranda nasceu «Mas afinal quem és tu, ó Dona Maria da Fonte?», uma opereta trágico-cómica escrita e encenada por Fernando Gomes, que – e parafraseando o mesmo autor – depressa se transformaria num enorme êxito, “dando a conhecer ao público, através de divertidas personagens brilhantemente criadas pelos actores, um pouco da nossa história”, revisitada há bem pouco tempo pelo escritor Orlando Ferreira Barros, com a publicação de uma Peça de Teatro da sua autoria, «A Honra Inacabada do Capitão Melquíades», qual decalque da guerra civil da Patuleia e da Maria da Fonte, onde os revoltosos cercaram o Forte de Santiago da Barra (conhecido entre o povo por “castelo”). Dois cenários, mas a mesma rainha… Dona Maria II.
Com a promessa por cumprir à nossa particular amiga e grande actriz Elisabete Pinto, actual directora do Centro Dramático de Viana (CDV), lá arranjamos um pouco do nosso tempo para assistirmos à citada opereta trágico-cómica que, cinco anos depois, pela mente e mestria de Fernando Gomes, voltou ao mesmo palco e com o mesmo elenco. A explicação para esta necessária e tão esperada “reposição” vem-nos da própria direcção do CDV: «Mas afinal quem és tu, ó Dona Maria da Fonte? marcou um ponto de viragem na companhia, na sua estreia em 2008. Hoje, no momento em que a companhia mais depende do público, faz todo o sentido repor neste ano de 2013 (o primeiro em 21 anos sem subsídio do Estado) esta opereta trágico-cómica de Fernando Gomes. / Cinco anos depois, esperamos que este possa ser um novo ponto de viragem. Queremos continuar a contribuir para esbater as barreiras geográficas e relacionais entre o público e o teatro. / Os nossos agradecimentos vão para toda a equipa que voltou a pôr esta Maria da Fonte de pé; para os nossos mecenas, patrocinadores, voluntários e cooperantes. E para a Câmara Municipal de Viana do Castelo, cuja visão de cultura é responsável por ainda estarmos aqui (…)».

Início do 2.º Acto

«Mas afinal quem és tu, ó Dona Maria da Fonte?» esteve em cena no palco do Teatro Municipal Sá de Miranda, de 27 de Setembro a 16 de Novembro de 2013. E porque, aliado ao facto de sermos leigos na matéria, nada termos acrescentar ao que foi dito e escrito (porquê inventar?), tomamos como nossas as palavras do escritor Orlando Ferreira Barros, um dos pioneiros do Teatro em Viana, do (pouco) antes e pós-Abril: «Como amante do teatro e dramaturgo consola-me que o Sá de Miranda tenha vindo a ter uma notável assistência – houve sessões esgotadas – com o público de pé a bater palmas no final do espectáculo. É muito gratificante para os actores e para os técnicos (estes foram chamados ao palco e muito bem), muito bom para o teatro, sabendo que este está na linha final das opções dos portugueses. A lusa gente prefere ficar em casa a ver futebóis [coincidência ou não, no dia em que fomos ver esta opereta, jogava a selecção nacional] e os meandros psicológicos, densos e enigmáticos (nem as peças de Shakespeare) da Casa dos Segredos». Quais bem conseguidos clichés e/ou bem caracterizadas personagens – a velha vergada ao peso dos anos de lenço na manga; o marido esquecido por conveniência, andando ao ritmo do pisar das uvas, mas sempre atrás da “lasca”; o gago; o bobo; o padre, qual fracassada missão de “alcoviteiro”; o médico; as permanentes enxaquecas da rainha; a Maria (Rapaz) de “pelo na venta”, com entrada triunfal de cigarro na boca, etc., etc. –, nos aliviariam das pressões negativas do quotidiano (causa-efeito de hemialgias causadas por uma ditadura disfarça de democracia) e dos subsequentes malefícios impostos à Cultura (o primeiro em 21 anos sem subsídio do Estado – citamos desabafo do CDV), fazendo-nos rir a bom rir.

Caiu o pano de «Mas afinal quem és tu, ó  Dona Maria da Fonte?»

Para que não nos venhamos a esquecer de toda esta maravilhosa “estirpe” de artistas, colaboradores, técnicos e auxiliares de palco, aqui fica a nossa singela homenagem, memorizando-os, pela importância e desempenho de cada um: INTÉRPRETES: Ana Perfeito, Elisabete Pinto, Ricardo Simões, Sílvia Santos, Tanya Ruivo, Tiago Fernandes e Vítor Nunes; DIRECÇÃO MUSICAL: José Prata; DESENHO E LUZ: Rui Gonçalves; CENÁRIO E FIGURINOS: Alice Assal; CONSTRUÇÃO CENOGRÁFICA: Porfírio Barbosa e Narciso Afonso; APOIO GUARDA-ROUPA: D. Agulha; CABELEIREIRO: Pentearte; DESIGN GRÁFICO: Rui Carvalho; OPERAÇÃO DE LUZ: Nuno Almeida; OPERAÇÃO DE SOM: Narciso Afonso; CONTRA-REGRA: Porfírio Barbosa e Ricardo Magalhães; TÉCNICA OFICIAL DE CONTAS: Ana Paula Antunes; DIRECÇÃO TÉCNICA TMSM: Rui Gonçalves; TÉCNICOS DE PALCO: Daniel Carreiras e Ricardo Magalhães; TÉCNICO DE SOM: Filipe Silva; TÉCNICO DE LUZ: Nuno Almeida; CHEFE DE FRENTE DE CASA: Ana Sofia Ricardo: OPERADORES DE BILHETEIRA: Maria do Carmo Pinho e Gorete Carreiras; ASSISTENTES DE SALA: Íris Santos, João Gomes, Rui Pereira, Bruno Sampaio, Diogo Ferreira, Patrícia Morais e Ana Silva; LIMPEZA E MANUTENÇÃO: Felicidade Carvalho e Rosalina Baeta.
Porque reconhecemos o Teatro como – alguém diria – um lugar condensado da vivência das ambiguidades e paradoxos, onde as coisas são tomadas em mais de uma forma ou sentido, a modos de despertar sentimentos no público, terminaremos com uma máxima do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860): Não ir ao teatro é como fazer a toilette sem espelho. Pensem nisso… No dia 6 de Dezembro, dia de Aniversário (22.º) do Centro Dramático de Viana, assistir-se-á à estreia d’A Casa do Rio, 115.ª Produção do CDV.
       Viva o Teatro! Viva, VIANA NO SEU MELHOR!

Friday, November 15, 2013

Manuel Curado e José António Alves organizam «Obras Completas» de Edmundo Curvelo!

“Uma das maiores originalidades da obra de Curvelo é a sua estima pela divulgação de qualidade através de artigos para o grande público sobre descobertas científicas de vanguarda”

Os Organizadores

Apesar de muito pouco haver a dizer, nomeadamente quando se tratam de “obras completas”, deste ou daquele autor, tendo em conta o cariz funcional/consultivo das mesmas, não poderíamos resistir à tentação de deambularmos um pouco pela magnífica organização das «Obras Completas» de Edmundo Curvelo (1913-1954), publicadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, num único volume de mil trezentas e cinquenta e seis (1356) páginas, sob batuta “científica-intelectual” dos nossos grandes amigos e ilustres académicos Manuel Curado e José António Alves, dois especialistas deste prestigiado filósofo português da primeira metade do século XX, que deixou para sempre marcas profundas na história do pensamento português, devido à originalidade dos assuntos abordados e a um estilo claro e inovador.


Para além de ficarmos surpreendidos com a gentil oferta, sentimo-nos extremamente lisonjeados pelo preceito e imerecida consideração, pois (esta mesma publicação) trata-se de um extraordinário contributo para a divulgação da vocação filosófica de Edmundo Curvelo, que – apesar dos seus parcos quarenta anos de existência – procurando um modo rigoroso para expressar os argumentos filosóficos, soube aplicar a Lógica Simbólica à Psicologia e à reflexão que a Ética faz sobre o comportamento humano. Segundo Edmundo Curvelo, a jovem ciência da Psicologia e a velha filosofia da Ética só teriam estatuto científico na medida em que organizassem os seus conceitos de modo racional, pois que, para este ilustre arronchense (Alentejo), toda a ciência verdadeira deve ser uma construção lógica. Para o editor, esta obra de Lógica é tanto mais notável quanto se sabe que este ramo comum à Filosofia, à Matemática e à Ciência da Computação não teve muitos cultores no pensamento português contemporâneo. Curvelo apresenta-se assim como o continuador do legado original de grandes filósofos portugueses do passado, como Pedro Hispano e João de S. Tomás.
Este precioso volume – porque não classificá-lo à boa maneira de Pacheco Pereira, «DINAMITE INTELECTUAL» – das «Obras Completas» de Edmundo Curvelo, dá-nos a conhecer o seu pensamento científico e filosófico, em dois capítulos: I – OBRAS: Introdução à Lógica; Fundamentos Lógicos da Psicologia; Relações Lógicas, Psicológicas e Sociais da Ética; Tombam ídolos dos altares; Os Princípios da Logificação da Psicologia; Multiplicidades Lógicas Discretas; Sobre os Fundamentos da Lógica (Complementaridade e Valência); Principia Logicalia I (Noções e sistemas da lógica elementar encarados de ponto de vista superior); Principia Logicalia II (Estruturas lógicas); Quaestiones Logicales I (Do substantivo, do adjectivo e, em geral, da lógica e da gramática); Quaestiones Logicales II (Sur l’invariance logique); Prefácio à História do Neo-Realismo Americano; Quaestiones Logicales III (Pour la théorie des systèmes logiques de transformation duale);  Quaestiones Logicales IV (Problemática filosófica da probabilidade); Opuscula Psychologica I (Da teoria e da prática da psicotécnica); Opuscula Psychologica II (Fundamentação epistemológica da psicologia); Opuscula Psychologica III (Teoria dos factores); e II – VARIA: O Liceu de Passos Manuel; A Bomba Atómica, a Tabuada e o mais que adiante se verá (Com desenhos de Noémia Curvelo); O Resto da Bomba Atómica (Com desenhos de Noémia Curvelo); Dois professores e uma história a meia voz (Com desenhos de Noémia Curvelo); Filósofos e Cientistas I; Filósofos e Cientistas II; Os Paradoxos de Mestre Xis (Com desenho de Noémia Curvelo); Recensão a “Methods of Logic” de Willard V. O. Quine; Recensão a “Logical Foundations of Probability” de Rudolf Carnap; Conhecimento Científico; Vamos conquistar a nossa profissão?; Máquinas e Homens. Os organizadores desta magnífica obra(s), Manuel Curado e José António Alves, terminam com um bem elaborado “Índice Onomástico”, onde são referenciados cerca de três centenas e meia de pensadores e/ou filósofos.

José António Alves e Manuel Curado, dois especialistas de Edmundo Curvelo

Terminaremos dizendo que MANUEL CURADO é professor da Universidade do Minho, Auditor de Defesa Nacional, titular do Curso de Alta Direcção para a Administração Pública, doutor cum laude pela Universidade de Salamanca, mestre pela Universidade Nova de Lisboa e licenciado pela Universidade Católica Portuguesa. É autor de vários livros, nomeadamente, As Viríadas do Doutor Samuda (Coimbra, 2013), Um Génio Português: Edmundo Curvelo (Coimbra, 2013), Porquê Deus, Se Temos a Ciência? (Porto, 2009), Cartas Italianas de Verney (Lisboa, 2008), Pessoas Transparentes: Questões Actuais da Bioética (Coimbra, 2008), Luz Misteriosa: A Consciência no Mundo Físico (Famalicão, 2007) e O Mito da Tradução Automática (Braga, 2000). É Cavaleiro da Ordem Patriarcal da Santa Cruz de Jerusalém; e JOSÉ ANTÓNIO ALVES é investigador na Universidade do Minho, onde desenvolve um projecto sobre Edmundo Curvelo. É mestre em Ciências Cognitivas pela Universidade Católica Portuguesa. É autor do livro que já aqui falamos, Limites da Consciência: O Meio Segundo de Atraso e a Ilusão da Liberdade (Porto, 2013), co-autor do livro, também aqui referido numa das nossas crónicas, Um Génio Português: Edmundo Curvelo (Coimbra, 2013) e co-editor do livro Escola de Braga: A Correspondência com Delfim Santos (Braga, 2011). É actualmente bolseiro da “Fundação para a Ciência e a Tecnologia” do Ministério da Educação e Ciência.
        Nota máxima para os organizadores das «Obras Completas de Edmundo Curvelo» e para a Fundação Calouste Gulbenkian, que se tem preocupado em criar “um lugar próprio reservado aos testemunhos válidos da singularidade e da autenticidade da nossa cultura, seja qual for o quadrante onde se localizem”. Bem-haja quem assim age! 

Friday, November 08, 2013

António Maranhão Peixoto apresenta retrospectiva sobre “Carreço de outrora e de agora”!

“Carreço, verdejante rincão prendado pelo Atlântico e pela Serra de Santa Luzia, situado a cerca de seis quilómetros da sede do município, é uma localidade que nas últimas décadas tem trilhado um caminho de progresso e afirmação permanente da sua identidade”

Joaquim Viana da Rocha

António Maranhão Peixoto, ex-Chefe de Divisão do Arquivo Municipal de Viana do Castelo e actual Vice-Presidente do Município de Esposende, distrito de Braga, acaba de nos contemplar com um interessante livro sobre «Carreço de outrora e de agora», que acaba por reproduzir todo o percurso e acção de Joaquim Viana da Rocha, a liderar a autarquia de Carreço desde 1986, e que nas últimas eleições ficou impedido de concorrer por ter atingido o limite de mandatos: “Carreço de outrora e de agora é mais um contributo deste órgão autárquico para a consolidação do conhecimento sobre a nossa terra. Proporciona novas abordagens e novas leituras, com conceitos inovadores ao nível informacional, com revelações e sedimentação do trabalho de tantos que permanecem no público anonimato e se dedicam com apreço e enlevo ao desenvolvimento contínuo deste seu torrão natal ou residencial” – assim se explica Joaquim Viana da Rocha em jeito de mensagem de abertura deste mesmo livro.


Propondo-se, segundo a óptica do autarca, como sendo um “paginar do tempo mais recente, com enfoque na vigente democracia”, este livro, para além da mensagem de abertura, faz-nos perpassar por uma ANTOLOGIA, onde António Maranhão Peixoto aborda as Memórias Paroquiais de 1758, reproduz textos de José Augusto Vieira (O Minho Pittoresco), Raul Brandão (Os Pescadores), António da Silva (Carreço no passado e no presente, In «A Aurora do Lima»), António Maranhão Peixoto (Carreço, In «Dicionário Enciclopédico das Freguesias», 1.º Volume) e António Manuel Couto Viana (Lenda do Monte da Dor); pela IDENTIDADE, onde são reproduzidos mapas de delimitações, descrição do brasão, bandeira e selo branco (Diário da República – III Série, n.º 267, 18-11-1995) e toponímia; pela DINÂMICA AUTÁRQUICA a partir de Maio de 1974, apresentando-nos uma retrospectiva das eleições para a Assembleia de Freguesia e consequente composição da mesa, publicação de boletins informativos, Regimento da Assembleia de Freguesia (31 Artigos), Junta de Freguesia, Relatório de Actividades e Contas e Regulamento do Controlo Interno; pelo PLANEAMENTO TERRITORIAL E URBANISMO, com desenvolvimento detalhado sobre a ocupação do território e humanização do espaço, desde 1527; pelo EQUIPAMENTO SOCIAL, onde se fala das escolas, parques de estacionamento, áreas ajardinadas, melhoramentos na rede viária, abrigos de passageiros, parques infantis, sanitários públicos, passadiços de apoio às áreas balneares, alargamento do cemitério, construção da Sede da Junta de Freguesia, Centro de Dia e Apoio Domiciliário e Centro Social; pela QUALIDADE DE VIDA, onde são abordados os bens essenciais como a água e sua distribuição ao domicílio, a energia eléctrica, saneamento básico, melhoramento das infra-estruturas e rede viária, melhoramentos de cuidados de saúde, adjudicação da construção do edifício da Escola Pré-Primária e remodelação da Escola Primária; pelo PATRIMÓNIO onde (para além da Igreja Paroquial), com base na Lei de Separação entre a Igreja e o Estado, datada de 20 de Abril de 1911, e através de um “Livro de Arrolamento dos Bens da Igreja” (AMVC), os bens como as capelas (S. Paio, S. Pedro, Senhor do Bonfim, Bom Sucesso, Senhora da Conceição, S. Sebastião e Mortuária), cruzeiros, alminhas, moinhos, Estação, Farol e Forte do Paçô, são descritos de uma forma meticulosa; pelo ASSOCIATIVISMO, onde se reproduz o forte pendor nesta área, bem vincado na centenária Sociedade de Instrução e Recreio de Carreço (SIRC), no alegre dinamismo do Rancho Regional das Lavradeiras e do Grupo Folclórico e Cultural de Danças e Cantares; e, finalmente, pelo AMBIENTE, que passa pela qualificação da zona balnear, ajustada a um Plano de Ordenamento da Orla Costeira e o aproveitamento dos recursos naturais, nomeadamente através da Energia Eólica, etc., etc.,… De uma forma particular, gostamos da apresentação, se tivermos em conta a nossa percepção estética.

António Maranhão Peixoto
Para terminarmos, convenhamos em dizer que António Maranhão Peixoto (N. 1963) é natural de S. Bartolomeu do Mar (Esposende), licenciou-se em História (1986) e obteve a pós-graduação em Ciências Documentais (1988), opção de Arquivo, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Tem uma grande experiência de escrita de História, com a divulgação de fontes, quer nos Cadernos Vianenses, quer em edições autónomas, onde se destacam estudos sobre cartografia e antleteriática local. Dirigiu o Arquivo Geral da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia entre 1989 e 1991, após que passou para a Biblioteca Municipal de Esposende, entre 1991 e 1992, e daí para o Arquivo Municipal de Viana do Castelo. A sua competência induziu-o a funções de formador, e coordenador, desde Fevereiro de 1997, da Comissão Permanente da Secção de Arquivos Municipais da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas. É de momento, para além do já citado cargo no Município de Esposende, também docente convidado da Universidade Católica Portuguesa.
        Aqui fica mais uma sugestão de leitura e até para a semana!

Friday, November 01, 2013

«Arroz de Palma» de Francisco Azevedo, lançado oficialmente em Viana do Castelo!

“Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema – principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência”

Francisco Azevedo

No pretérito dia 25 de Outubro (Sexta-feira), tendo como cenário a Sala Couto Viana, da Biblioteca Pública Municipal de Viana do Castelo, foi lançado oficialmente em Portugal o primeiro romance (Arroz de Palma) do escritor, dramaturgo, guionista cinematográfico, poeta e ex-diplomata brasileiro (com ancestralidade vianense) Francisco Azevedo, nascido na cidade do Rio de Janeiro, a 23 de Fevereiro de 1951. Com duas irmãs mais velhas e dois irmãos mais novos, é o terceiro dos cinco filhos de Orlando Azevedo e Maria do Carmo Vellozo Azevedo.  Segundo Francisco Azevedo, por meio de amoroso acerto familiar e pela generosidade de seus pais, foi criado e formado por sua avó materna. Para ele, “uma bênção, uma dádiva: nosso quotidiano, nossas conversas intermináveis, nossos medos confessados, nossa cumplicidade. Ela e sua sabedoria, sua paciência, seu senso de justiça. Eu e meus questionamentos, minhas inquietações, minhas opiniões radicais. Em 1966, viajamos pela Europa. Quatro meses de muito aprendizado e belas descobertas. Moramos juntos desde que nasci até o dia de sua morte, em 26 de Janeiro de 1974. Em Novembro do mesmo ano, já como diplomata, saí do Rio de Janeiro para viver em Brasília e depois no exterior. Quis, assim, o destino, que minha avó se despedisse de mim antes que eu a deixasse. Em sua súbita partida, vi novamente uma bênção, uma dádiva” – citamos. Em síntese – e por forma a não nos alongarmos em demasia pela sua biobibliografia, que no dia da apresentação, seria muito bem explanada pelo director da Biblioteca e nosso particular amigo, Rui A. Faria Viana –, diremos que para além de livros e peças de teatro, Francisco Azevedo já escreveu para mais de 250 produções, incluindo roteiros de longa e curta-metragem, documentários premiados e anúncios para televisão, acrescendo ao facto do nosso orgulho, enquanto vianenses, do mesmo ter a sua ancestralidade na terra que nos viu nascer: «Sim, sou eu mesmo, António. O filho mais velho de José Custódio e Maria Romana. Meus pais nasceram em Viana do Castelo, norte de Portugal. E lá se casaram, em 11 de Julho de 1908, debaixo de abençoada chuva de arroz…». E assim, o arroz é um dos protagonistas deste maravilhoso romance, que nos pretende (de uma forma bem conseguida) retratar a imigração portuguesa no Brasil, no séc. XX, com a incidência sobre a saga de uma família vianense em busca de um futuro melhor.

Mesa de «À Conversa com... Francisco Azevedo»: Luís Miguel Rocha, Francisco Azevedo e Rui A. Faria Viana.

De facto, o arroz percorre todo romance: «Mas Tia Palma permanece ali, os olhos fixos no arroz espalhado pelo adro da igreja. Para ela, aquele extenso croché branco e granulado não é exemplo de desperdício, mas de generosidade. Trabalho colectivo feito à mão. Prova concreta de que o bruto e insensível ser humano, mesmo que por alguns instantes, também conhece a delicadeza e a poesia. Entusiasmada, se põe a juntar todo o arroz. Não deixa sobre as pedras um só grão…» – levando a que a Tia Palma passasse a ser a segunda protagonista do romance. Daí, ARROZ DE PALMA exprimir o sentido da família como um prato de complexa elaboração, quando a mesma Tia Palma se alegra com os 12 quilos de arroz recolhidos no adro da igreja e os oferece como prenda de casamento a seu irmão José Custódio e à sua querida cunhada Maria Romana. No cartão, com inteligência e má caligrafia, escreve: «Este arroz – plantado na terra, caído do céu como o maná do deserto e colhido da pedra – é símbolo de fertilidade e eterno amor. Esta é a minha bênção. / Palma. / Viana do Castelo, em 11 de Julho de 1908». Mesmo que José Custódio achasse absurdo o presente, o mesmo os acompanharia até ao epílogo das histórias deste romance, condimentadas com “uns poucos retratos e receitas [cronologicamente firmadas de 1908 a 2008] caseiras”: «Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete».


Não sendo nosso propósito minuciar todo o trama deste magnífico romance – seria uma propositada “traição” ao autor e aos seus eventuais leitores –, apenas queremos realçar alguns dos aspectos – bem vincados pelo bom amigo e extraordinário escritor/vaticanista Luís Miguel Rocha, na qualidade de apresentador da obra –, que passam pelo peculiar sentido de humor (tal como o arroz – Mamãe não se intimida. É verdade atrás de outra. O arroz trazido para o Brasil no oratório… –, percorre todo romance) de Francisco Azevedo e da sua expressividade sentida de humanista, quiçá fruto da sua experiência diplomática: «Acredito no diálogo. Sempre acreditei. Mesmo no mais duro, no mais áspero, ponho a minha fé. Na busca sincera do entendimento ou do convencimento, admiro as falas de cada um. A palavra certa no momento exacto, o xeque-mate. Ou o discurso equivocado, mas cheio de verdadeira paixão. O falar pausado ou o desmedir a voz. O adicionar o choro, o recorrer ao berro…». Para Francisco Azevedo, até o chutar de um balde poderá fazer parte do diálogo, permitindo, às vezes, que a “conversa vá adiante”. Glosamos com as alegorias, quais receitas onde a qualidade da panela pouco importa – «…fazer uma família exige coragem, devoção e paciência…» –, degustando cozinhados, por vezes poético-eróticos: «Isabel promete que, depois do banho, faz uma comidinha gostosa com o que veio da fazenda. Daí toma a coragem e encontra os lençóis, arruma a cama. Isso sim lhe parece romântico. Não o colchão à mostra e nós dois, roupa do corpo, estirados nele de qualquer maneira a nos desabotoarmos, precoces e atabalhoados, sem nenhum mistério, sem um mínimo cuidado. Que poesia? Ela pede resposta. Que poesia? Instinto, desejo, paixão incontida, pode ser. Mas poesia?! Onde?!…» ou filosofando à volta dos sagrados rituais: «Quero distância de religiões, mas respeito rituais. Influência de Tia Palma, admito. Meu café da manhã é sagrado. O ritual é sempre o mesmo: a hora, a xícara, o pôr o leite primeiro, o escurece-lo depois no ponto certo, o abrir o pão, o tirar o miolo…», etc., etc… Neste romance “o sangue português bate forte” e “feijão com arroz e café com leite são combinações perfeitas”. Bem, fiquemos por aqui. Compete aos eventuais – futuros – leitores experimentarem e interpretarem os truques, os segredos, o imprevisível em Arroz de Palma.  
            Um livro e um autor a reter. Nota máxima para os dois!