Friday, May 30, 2014

V Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental!...

“Já ninguém tem dúvidas, hoje em dia, que o diagnóstico precoce é o factor primordial na prevenção da deficiência mental”.

António Alfredo Simões Viana

Pelo segundo ano consecutivo, sob “égide” da Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde (SHIS) e colaboração científica e institucional do Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra, participamos nas Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental, realizadas em Coimbra, nos dias 5 e 6 de Maio último, jornadas essas que, há cinco anos a esta parte, visam dar continuidade a temáticas apresentadas e aprofundar as frentes de discussão abertas desde a primeira edição. Este ano, as mesmas articularam-se com um simpósio temático comemorativo do centenário do médico psiquiatra Joaquim Seabra-Dinis (1914-2014) e também com o Seminário sobre Direito, Neurociências e Psiquiatria.
E porque seria incomportável falar aqui de todos os participantes nas referidas Jornadas – por onde passaram, entre outros, Kamilla Dantas Matias, Maria Miguel Brenha, Ana Catarina Necho, Nuno Borja-Santos, Miguel Palma, Bruno Trancas, Pedro Macedo, Filipa Veríssimo, David Simón Lorda, Emilio González Fernández, Tatiana Bustos Cardona, María Victoria Rodríguez Noguera, Mónica Minoshka Moreira Martínez, Miguel Angel Miguélez Silva, María Piñeiro Fraga, María José Louzao Martinez, Vanessa Cerqueira Pujales, Tiburcio Angosto Saura, Inês Pinto da Cruz, Manuel Correia, Maria Gabriela Marinho, Adrián Gramary, Sara Repolho, Manuel Viegas Abreu, Paulo Archer de Carvalho –, apenas iremos fazer uma pequena síntese das comunicações da área da Filosofia, porque enquadradas na vertente da Mente e da Cognição: a nossa; as do Professor Doutor Manuel Curado, dado que foram duas; e a do Mestre José António Alves.

5.ª Sessão de apresentação de comunicações e debate - Da esquerda para a direita: Professor Doutor Manuel Curado, Porfírio Silva, Doutora Inês Pinto da Cruz e Professor Doutor João Rui Pita (moderador) 

A nossa comunicação, trouxe à coacção “António Alfredo Simões Viana: da Medicina Tropical a um olharuto psiquiátrico sob a criança no século XX”, médico psiquiatra nascido em Viana do Castelo (1922), reconhecido Especialista de Psiquiatria e Medicina Tropical, que teve um papel importantíssimo nas áreas das Medicinas Tropical e Sanitária, mas seria na área da Psiquiatria que mais se destacaria, sobretudo pelo seu olhar psiquiátrico sob a criança. Defensor do diagnóstico precoce como factor primordial na prevenção da deficiência mental, desejava que as histórias clínicas dos recém-nascidos fossem completas e revelassem, deste modo, “dados concretos a quem recorra a elas em busca de antecedentes vinculados às primeiras horas de vida de crianças que posteriormente apresentem problemas psíquicos, motores ou sensoriais”. Várias foram as suas intervenções em jornadas e congressos, abordando temas como a “simulação e dissimulação de transtornos mentais” e “a confusão mental e o seu tratamento”, gravitando na certeza de que a deficiência mental era considerada como um dos problemas mais preocupantes, dadas as suas múltiplas implicações quer na saúde, quer na educação ou no bem-estar de uma nação.
Por seu lado, o Professor Doutor Manuel Curado, começou por abordar “a vida como loucura: os erasmistas da cultura psiquiátrica portuguesa”, dizendo que Sebastian Brant e Erasmo de Roterdão autoraram elogios célebres da loucura. É conhecido o trabalho que Foucault dedicou a estes dois autores. Menos conhecida é a rica tradição dos erasmistas portugueses que se dedicaram a denunciar a vida humana como uma manifestação de loucura. A comunicação deste ilustre docente da Universidade do Minho, propôs-se inventariar esses vultos que já não estão no horizonte dos debates contemporâneos sobre o alcance da ciência médica da mente humana anómala. Em particular, foi analisado o Contra a Loucura do humanista Aires Barbosa, bem como a influência que exerceu em vários autores portugueses até ao século XIX. A comunicação terminou com uma reflexão sobre o valor perene, não susceptível de ser acantonado a uma época histórica, desta tradição erasmista. Acrescentou ainda que algumas perplexidades epistemológicas sobre a ciência psiquiátrica têm antecedentes nesta tradição, nomeadamente a delimitação de normal e anormal, e o problema momentoso do sentido da ciência mental como um todo. A sua segunda comunicação foi para falar dos “semiloucos de José Saavedra”, de seu nome completo José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra, que defendeu na Universidade de Coimbra uma tese de doutoramento em Medicina com o título sugestivo de «Os Semi-Loucos na Psichiatria, na Sociedade, nas Lettras» (1922). Apesar de ter abandonado a docência universitária quatro anos depois, seguindo a carreira de médico militar, este trabalho merece ser relido e enquadrado na história da Psiquiatria portuguesa do primeiro quartel do século XX. A comunicação do Professor Manuel Curado propôs-se, por conseguinte, uma leitura desta obra que viu nela a continuação da influência do paradigma oitocentista da degenerescência. Em particular, reflectiu-se sobre o perigo de alargamento excessivo da área de actuação da Psiquiatria, contribuindo esta para assuntos que ainda preocupam os filósofos da Medicina, como o paternalismo médico e a medicalização excessiva da sociedade.

Mestre José António Alves apresentando a sua comunicação sobre M. Serras Pereira

Por último, o bom amigo e doutorando da Universidade do Minho, José António Alves abordou “a Psicologia Experimental segundo M. Serras Pereira”, sendo que o mesmo Manuel Serras Pereira é uma figura esquecida, mas que merece um lugar na história da psicologia em Portugal. Aluno e depois professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, aí apresentou três trabalhos sobre Psicologia e aí leccionou Psicologia Geral e Psicologia Experimental nos anos lectivos de 1923-24 e 1924-25. Os trabalhos apresentados foram os seguintes: em 1920, a tese de licenciatura com o título Da possibilidade do método científico em Psicologia; em 1923, a tese de doutoramento intitulada A tese escolástica do composto humano; e, em 1925, a dissertação para concurso com o título A função da análise quantitativa em psicologia experimental. A tese de doutoramento terá sido inclusive a primeira em Psicologia a ser desenvolvida nas Universidades portuguesas. A referida comunicação propôs-se apresentar, a partir das três obras referidas, o pensamento psicológico de Manuel Serras Pereira e enquadrá-lo no âmbito da História da Psiquiatria em Portugal.
          Para terminar, diremos que as mesmas Jornadas contaram com a Professora Doutora Ana Leonor Pereira (FLUC-CEIS20), Professor Doutor João Rui Pita (FFUC-CEIS20) e Dr. José Morgado Pereira (CEIS20) na Comissão Organizadora.

Thursday, May 29, 2014

Louis Althusser e a «Defesa da Tese de Amiens»

“É provável que haja quem ache chocante que eu não resigne ao silêncio depois do acto que cometi, e depois também da declaração de inimputabilidade que o sancionou e da qual, segundo o modo de dizer espontâneo, beneficiei”

Louis Althusser‏

É evidente que não iremos falar da loucura em Althuser, qual “L’Avenir dure longtemps” soçobra no impensável e no trágico com o assassinato de sua mulher Hélène, mas d’A Defesa da Tese de Amiens, texto extraído da obra «Posições» de Louis Althusser (1918-1990) – autor francês criador de uma variante do marxismo, e que na linha de Gramsci cria as categorias de aparelho ideológico e aparelho repressivo do Estado –, obra essa que, como se pode ler em sinopse, reagrupa vários artigos importantes que marcaram a sua evolução entre 1964 e 1975. O texto, ora em análise, “Defesa da Tese de Amiens”, reproduz o essencial da argumentação com que, em Junho de 1975, Louis Althusser defendeu os seus trabalhos num Doutoramento de Estado na Universidade de Amiens. De facto, é assim que inicia o referido texto – numa espécie de introdução –, onde procura fazer uma pequena retrospectiva sobre a filosofia e a política, nomeadamente dos autores do séc. XVIII, como uma propedêutica – segundo ele – necessária à compreensão do pensamento de Marx. Sendo já, na altura, comunista, tentaria a partir dali também ser marxista, ou seja, depreendendo-se das suas palavras, procuraria compreender o que quer dizer marxismo.
 

Numa espécie de autobiografia intelectual – deambulando pelos pensamentos de Immanuel Kant, Thomas Hobbes, Maquiavel, Hegel, Espinosa, John Locke, Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau –, Louis Althusser acaba por se quedar no pensamento de Marx: Tomo como prova, além de toda a história da filosofia, o próprio Marx, que só se definiu apoiando-se em Hegel, para dele se demarcar. E penso ter seguido, de longe, o seu exemplo, autorizando-me a passar por Espinosa para compreender porquê Marx teve que passar por Hegel (p. 132). E este será o ponto de partida para as três vias (“selvagens”) de abordagem aos seus ensaios, que, segundo Louis Althusser, os atravessam e se cruzam: A «última instância…» – Partindo do pressuposto que a parte exprime o todo e só se compreende as partes em função do “todo estruturado”, Althusser começa por nos apresentar um “todo” sobredeterminado com níveis e instâncias relativamente autónomas. Apresenta mesmo a sociedade na metáfora dum edifício, cujos andares assentam, segundo a lógica do edifício, sobre a base (p.140). A base é que define o todo do edifício; a base é a economia. Discorrendo através dum processo histórico sem sujeito e sem fim ou fins, que irá culminar num processo da ideologia, o mesmo filósofo francês afirma que na configuração social há – diferente da lógica dialéctica: certamente, Hegel não procurou a dialéctica após a rejeição da Origem e do Sujeito (p. 144) – “todos parciais”, sem prioridade de um centro. A nível económico opera-se a rejeição da unicausalidade económica da história e das lutas sociais atribuindo-se a instâncias, abrindo assim espaço à dialéctica de cariz estrutural, porque definida através das determinações e subdeterminações. Renova-se assim a explicação dos processos sociais, superando os extremismos de se imputar, invariavelmente, a causa económica a todos os acontecimentos sociais e políticos: o tópico marxista designa o lugar onde nos devemos bater, porque é nele que se luta, para transformar o mundo. Mas este lugar não é um ponto, nem é fixo, é um sistema articulado de posições orientadas pela determinação em última instância (p. 148); Sobre o processo de conhecimento – Passando ao processo de conhecimento, Louis Althusser apresenta alguns argumentos, não para construir uma «teoria do conhecimento», mas para pôr em questão algumas evidências cegas, com que uma certa filosofia marxista se julga muitas vezes protegida dos adversários (p. 156). Inspirando-se em Marx, que empregava várias vezes o conceito de «produção» de conhecimentos, a tese central de Althusser vai no sentido da ideia do conhecimento como produção, que ao ser levado à letra sugere um processo, um processo sem sujeito. Por outro lado, ao pretender alcançar a distinção das Três Generalidades: a primeira desempenhando o papel de matéria-prima teórica; a segunda de instrumento de trabalho teórico; e a terceira o concreto-de-pensamento ou conhecimento, sendo que no final do processo – resultante do concreto-de-pensamento, da totalidade-de-pensamento – chega ao conhecimento do concreto-real, do objecto real: o processo do conhecimento acrescenta a cada passo ao real o seu próprio conhecimento, mas a cada passo o real o reabsorve (p. 159); e, finalmente, Marx e o humanismo teórico – A principal tese de Althusser é o anti-humanismo teórico que consiste em afirmar a primazia da luta de classes e criticar a individualidade como produto da ideologia burguesa. Tal como afirmara Marx: «Uma sociedade não é composta por indivíduos». O homem é uma pura abstracção. O homem não tem qualquer eficácia em termos de conhecimento, dado que é considerado como agente de produção, não é mais que isso para o modo de produção capitalista, ou seja, um simples «portador de funções», completamente anónimo, intermutável, uma vez que pode ser lançado à rua, se é operário (p. 166). Assim, o motor da história é a luta de classes, de forma a auxiliar a classe operária a fazer a revolução, e a suprimir ulteriormente, no termo do comunismo, a luta de classes e as próprias classes (p.170).
           Não admira, pois, que o pensamento de Althusser tenha influenciado os meios intelectuais universitários, na década de setenta, marcados pela geração do Maio 68, da qual muitos hoje detêm o poder político e económico, e meteram o marxismo na gaveta. Mais grave é que alguns estão hoje em partidos ultraliberais, não tendo qualquer eficácia em termos de conhecimento e dispensam a ética, como quem “limpa o cú a meninos”. São simples portadores de funções!

Friday, May 23, 2014

José A. Salvador edita a mais completa obra sobre Zeca Afonso!...

“Luz própria que, nas novas gerações, parece mudar a percepção da sua figura. Sem lhe alterar, porém, a essência da mensagem. Assim como se, num mundo composto de mudança, tomando sempre novas qualidades, continuamente nele se fossem vendo novidades, criadoras de novas esperanças, para recorrer, contrariando-lhe o pessimismo, ao nosso poeta maior”.

Adelino Gomes

Foi com o maior orgulho que, no passado dia 30 de Abril, resolvemos aceitar a imerecida tarefa de apresentar o mais recente livro do jornalista José A. Salvador, no Salão Nobre do Sport Clube Vianense. Na altura dissemos que falar de Liberdade e Fraternidade, dois condimentos necessários a uma verdadeira revolução cognitiva, forma única de nos livrarmos do medo, é falar, inevitavelmente, de ZECA AFONSO. E era de Zeca Afonso, nas comemorações dos quarenta anos das “PORTAS QUE ABRIL ABRIU» e dos cinquenta de «GRÂNDOLA, VILA MORENA», através de José António Salvador, precisamente na noite em que se nos abriram portas para as «CANTIGAS DE MAIO», sendo que no dia seguinte era Dia Mundial dos Trabalhadores, que «Um velho soluço / Traz-me o teu anexo / Priva-me dos braços / Quebra-me a infância / Livra-me do medo (…).», qual poema escrito por Zeca Afonso, em 1973, aquando da sua prisão em Caxias, na clausura forçada da PIDE-DGS, inspiraria o título para o terceiro livro a seu respeito [depois de Livra-te do medo – Estórias & andanças do Zeca Afonso (1984) e Zeca Afonso: O rosto da utopia (1994)] pela pena acutilante, cirúrgica e aturada do insigne jornalista e enófilo português José António Salvador, nascido em Espinho em 1947, onde fez a instrução primária. Depois de completar os estudos secundários no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, período durante o qual conheceu Zeca Afonso e integrou a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra durante a crise estudantil de 1969. Iniciou a sua actividade profissional como jornalista em O Comércio do Porto nesse mesmo ano, para integrar, sucessivamente, as redacções dos jornais Diário de Lisboa (1970-75), República (1975), Gazeta da Semana (1976-77), Nô Pintcha (Guiné-Bissau, 1977-78), Diário Popular (1978-88, com interregnos nos países lusófonos). Foi também colaborador do jornal A Voz Portucalente, órgão da Diocese do Porto, fundado por D. António Ferreira Gomes, após o seu regresso do exílio em 1969. E porque seria incomportável esmiuçarmos aqui todo o seu vastíssimo curriculum, apraz-nos apenas registar o facto de que, em 1992, foi fundador da SIC, onde durante dois anos programou a informação, desenvolveu diversas coberturas jornalísticas e entrevistou, ao longo da sua vida profissional, em jornais e na SIC, grandes vultos da Cultura, das Letras, da Música e das Artes. Resta-nos acrescentar que o Clube de Imprensa distinguiu-o por duas vezes, em 1987 e 1991, com o 1.º Prémio Viagem pelas reportagens «Tejo, por este rio acima» e «Cabo Verde, o sonho das ilhas», publicadas, respectivamente, no Expresso e em O Jornal. A Academia Portuguesa de Gastronomia atribuiu-lhe o Prémio Cultura e Literatura Gastronómica 2004 pelo conjunto da sua obra na área dos vinhos e da gastronomia.


Estas pequenas notas biobibliográficas de José A. Salvador eram quase como um necessário “imperativo categórico”, sem que para isso seja necessariamente kantiano, face ao conteúdo, à partilha e à cumplicidade deste magnífico livro, esteticamente perfeito, em boa hora editado pela Porto Editora, diríamos, a mais completa obra até hoje escrita de homenagem ao nosso grande Zeca Afonso, aquele que soube chamar a si «a reserva inesgotável de Alegrias, a raiva dos oprimidos, a bondade de um homem simples com quem, às portas de Arroiolos, me embebedara um dia de sol e serra», e que, como faz questão de salientar a editora, principalmente pelo papel do cantor em todo o processo revolucionário, em Portugal, quer antes, quer após a queda do regime de Salazar: «foi indiscutivelmente uma das grandes vozes da Revolução de Abril. “Grândola, Vila Morena” é um tema que, ainda hoje, procura ser instrumento de intervenção».
De facto, este extraordinário trabalho de José Salvador, com Carta de Resposta em jeito de prefácio do Jornalista Adelino Gomes (pela terceira vez que o faz), tem o condão de reavivar certos traços de personalidade e mesmo certos dados de Zeca Afonso, aparentemente irrelevantes, que ganharam, com o passar dos anos, uma luz própria que se impõe a quem revisita a sua vida e a sua obra. Contrariando o aviso à navegação de José Salvador, que nos alerta para o facto de não esperarmos encontrar um livro emocionalmente asséptico, afectivamente distanciado ou politicamente neutral, sempre lhe conseguimos percepcionar uma informação objectiva, mesmo que “condicionada” pela amizade pessoal, aprofundada durante meses de convívio regular que com ele manteve em 1983: «Se achares que o que eu digo não tem interesse, não faças o livro» – disse-o na altura Zeca Afonso, com a mesma mestria do contraditório, que nós utilizamos para reforçar, de uma forma mais modesta – do sapateiro que não quer ir além da chinela –, a nossa convicção de estarmos perante um trabalho sério, cientificamente sério, porque lhe percepcionamos a tal “informação objectiva” revelada através de uma verdadeira “clarividência objectiva”. Esta é uma obra de leitura obrigatória para quem preza a Liberdade, à boa maneira de “Tomadas da Bastilha”, em Coimbra de 1968.
É evidente que não iremos discorrer de uma forma minuciosa acerca das cerca de trezentas páginas deste «Zeca Afonso: Livra-te do Medo», dado que o fizemos na altura da apresentação, mas não seria “bom-tom” da nossa parte se não nos referíssemos a esta magnífica obra como ricamente preenchida com uma grande entrevista, proficuamente ilustrada com excelentes fotografias e vários documentos de que são exemplo, entre outros, “Autos de Interrogatório” da PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado] e mais tarde da DGS [Direcção Geral de Segurança], com “Ordem de Internamento”, articulados com confidencialidades para a Secretaria de Estado da Informação e Turismo. Aludiremos ainda, agora sim para terminar, o facto de estarmos perante uma biografia inédita, de viva voz, com a maior Voz da Liberdade em Portugal, magnanimamente elaborada – porque cientificamente irrepreensível – por José António Salvador.
Por nós, pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (dado que foi na qualidade de ex-trabalhador, por exigência do autor, que tivemos que apresentar o livro), pela Liberdade (sem castração), pela Fraternidade, pela Revolução Cognitiva, o Zeca Afonso está hoje e sempre entre nós. De facto, A CANTIGA É UMA ARMA, que incomodou e continua a incomodar. Em nome do Zeca, O QUE FAZ FALTA É ACORDAR A MALTA!
        NOTA MÁXIMA!

Saturday, May 17, 2014

Cláudio Lima publica biobibliografia de João Marcos!...

“João Marcos é um português de Ponte de Lima. E essa fatalidade marcou-o profundamente. A sua terra natal reflectia, então, um típico ambiente minhoto na sua ruralidade e arcaísmo, votada a uma agricultura de penosa subsistência”.

Cláudio Lima

Pelo segundo ano consecutivo, comemoramos o 25 de Abril em Ponte de Lima, porque muitos são os motivos que nos aproximam daquela maravilhosa terra, acrescendo o facto de aí possuirmos muitos amigos que nos respeitam, prestando-se a uma cumplicidade e/ou lealdade assoberbadas e transparentes.
Alguns deles, infelizmente já desaparecidos, possuem o condão de nos iluminar – onde quer que estejam – a vida muitas vezes “cheia de vazios”, como um dia o espelharia o Poeta João Marcos (1913-2005) em «Versos do Fim do Dia». E foi precisamente João Marcos que nos fez comemorar o 25 de Abril, por duas vezes (2013 e 2014), em Ponte de Lima, com a impreterível conivência do grande poeta limiano Cláudio Lima, o maior e mais avalizado estudioso da vida e obra do excelso Poeta dos «Colonizados» e da «Epopeia Cósmica».


Se no ano passado comemoramos o centenário do seu nascimento (1913-2013), numa justa homenagem promovida pelo Município de Ponte de Lima, complementada por uma exposição na Biblioteca Municipal local, uma romagem ao Jazigo onde repousa o seu féretro, em Rebordões de Santa Maria, e o descerramento de um “marco” assinalando uma rua com o seu nome – onde Cláudio Lima nos brindou com o elogio de circunstância –; este ano voltamos a Ponte de Lima para assistirmos ao lançamento do magnífico (pelo conteúdo, permitindo-nos, contudo, algumas pequenas reservas quanto à estética – achamos que se poderia ir bem mais longe… Pressentimos alguma contensão de despesas) livro de Cláudio Lima «João Marcos: Biografia e Bibliografia», magnanimamente apresentado pelo nosso bom amigo Professor Doutor David Rodrigues, o mais “credenciado” camiliano dos camilianos no Alto Minho, e em boa hora editado pelo Município de Ponte de Lima: “Do romance à poesia, passando pelo ensaio e pela investigação histórica, nas obras sobre o Conde da Barca e sobre o Cardeal Saraiva, João Marcos legou-nos uma vastíssima obra, sendo hoje muito difícil reunir a colecção completa dos seus títulos, considerando-se alguns autênticas obras raras disputadas por coleccionadores e alfarrabistas” – escreveu o Presidente do Município, Eng.º Victor Mendes, em jeito de nota introdutória. Tal como diria o apresentador, e com o qual comungamos das palavras, o relato possível da vida de João Marcos e uma análise crítica, seguida de uma «antologia», da sua obra editada é o que encontramos neste livro do escritor e poeta Cláudio Lima (pseudónimo literário de Manuel da Silva Alves), natural de Calvelo e residente na cidade dos arcebispos, que além de uma obra considerável de natureza poética e literária, tem dedicado à temática limiana uma boa parte da sua actividade.


Sem nos alvorarmos em pressupostas presunções crítico-literárias, o que só por si seria um contraditório às sábias palavras do apresentador, dado que o que está dito, dito está, diremos que “João Marcos: Biografia e bibliografia é um livro bem escrito e bem estruturado, obra de um escritor sobre a vida e a obra de outro escritor. Recomenda-se, por isso, a sua leitura a quantos se interessam (e devemos ser todos nós) pelos valores culturais e seus agentes. Sem, todavia, cair em visões bairristas, redutoras por natureza, muito mais em se tratando de literatura. Mesmo quando se trata de homens e artistas sobre os quais não incidem os agressivos holofotes do marketing, porque independentes, sem filiações em escolas ou correntes, afastados dos grandes centros, suportando a edição dos seus livros ou em editoras de província ou de reduzida projecção nacional e, por isso, marginais ou marginalizadas. Uma questão de resistência por ser e estar, com dignidade, dados os conhecidos maus tempos que nos cercam” – citamos David Rodrigues, e isso basta.
Estão de parabéns o Município de Ponte de Lima, o autor, o apresentador e o “biobibliografado”, com quem tivemos o prazer de privar de perto e de quem guardamos uma profunda e eterna saudade, aquele João Marcos que sempre tentou “dos braços fazer asas / com ramos e penas de aves / rasar por cima das casas / espraiar-me em voos suaves / subir mais alto, mais alto, / sem tremer, sem sobressalto, / sempre mais alto e mais alto”, eternamente mais alto.
Pena foi que a sessão de lançamento não tivesse sido autónoma, para que as pessoas pudessem conversar, durante ou no fim, com o autor, sobre o biografado e a sua obra, bem como sobre o biógrafo e sua obra. Assim, o que ficou foi o resto... “Cereja no topo do bolo” foi, sem dúvida, a extraordinária dissertação (sem rede) sobre Liberdade e Cidadania, do bom amigo e ilustre Reitor da Universidade Fernando Pessoa e, simultaneamente, Presidente da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, Professor Doutor Salvato Trigo.

         Nota máxima!

Saturday, May 03, 2014

V Jornadas Internacionais História da Psiquiatria e Saúde Mental

Decorrem, na cidade de Coimbra, nos dias 5 e 6 de Maio de 2014, as “V Jornadas Internacionais da História da Psiquiatria e Saúde Mental”, numa organização da «Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde – SHIS», com o apoio e colaboração científica e institucional do Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra — GHSCT-CEIS20, cujos coordenadores são os Professores Doutores João Rui Pita e Ana Leonor Pereira, e que visam dar continuidade a temáticas apresentadas e aprofundar as frentes de discussão abertas desde a primeira edição. Esta quinta edição das Jornadas articula-se com um simpósio temático comemorativo do centenário do médico psiquiatra Joaquim Seabra-Dinis (1914-2014), vida, obra e circunstância histórica.

PROGRAMA

Dia 5 de Maio de 2014

10H00 — Sessão de abertura

10h15 — 1ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

Kamilla Dantas Matias — A LOUCURA NA STULTIFERA NAVIS DE BOSCH

Maria Miguel Brenha — LOUIS WAIN: PSIQUIATRIA E ARTE

11h15 — Intervalo

11h30 — 2ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

Ana Catarina Necho — EMERGÊNCIA DA PSIQUIATRIA EUROPEIA NO SÉCULO XIX: A ALIENAÇÃO MENTAL – PERCEPÇÕES E PRÁTICAS ASSISTENCIAIS

Nuno Borja-Santos; Miguel Palma; Bruno Trancas — A EVOLUÇÃO DOS DIAGNÓSTICOS NA PSIQUIATRIA PORTUGUESA DO SÉCULO XIX

13h00 — Almoço livre

14h30 — 3ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

Manuel Curado — A VIDA COMO LOUCURA: OS ERAMISTAS DA CULTURA PSIQUIÁTRICA PORTUGUESA

Maria Miguel Brenha — A EXPERIÊNCIA MÍSTICA: LOUCURA OU SANTIDADE?

Pedro Macedo; Filipa Veríssimo — BRUXARIA E DOENÇA MENTAL NA REGIÃO DO BARROSO

16h00 — Intervalo

16h15 — Tempo para discussão dos posters

16h30 — 4ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

David Simón Lorda; Emilio González Fernández; Tatiana Bustos Cardona; María Victoria Rodríguez Noguera; Mónica Minoshka Moreira Martínez — LOCURA, GUERRA CIVIL y REPRESIÓN POLÍTICA EN GALICIA (1936-1939)

Miguel Angel Miguélez Silva; María Piñeiro Fraga; María José Louzao Martínez; Vanessa Cerqueira Pujales; Tiburcio Angosto Saura — UMA VISÃO HOLISTICA DA
PATOLOGIA GERAL: A PSICOPATOLOGIA DE ROBERTO NÓVOA SANTOS

17h30 — Apresentação da obra de Manuel Correia, Egas Moniz no seu labirinto. Obra
editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra, colecção Ciências e Culturas.

18h00 — Lançamento da obra IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e
Saúde Mental



Dia 6 de Maio de 2014

10h00 — 5ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

Inês Pinto da Cruz — UM CASO DE IDIOTIA EXAMINADO PELO CONSELHO MÉDICO-LEGAL DE COIMBRA (1913)

Porfírio Pereira da Silva — ANTÓNIO ALFREDO SIMÕES VIANA (1922): DA MEDICINA TROPICAL A UM OLHAR PSIQUIÁTRICO SOB A CRIANÇA NO SÉCULO XX

Manuel Curado — OS SEMI-LOUCOS DE JOSÉ SAAVEDRA

11h15 intervalo

11h30 — Tempo para discussão dos posters

12h00 — 6ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

Manuel Correia — IDEAÇÃO PSIQUIÁTRICA DO RETORNO: “SINTONIZAÇÃO REGRESSIVA” E “REGRESSO À INFÂNCIA”, − A PROPÓSITO DA PSICOCIRURGIA

Maria Gabriela S.M.C. Marinho — ANTONIO CARLOS PACHECO E SILVA E A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PSIQUIATRIA EM SÃO PAULO. REDES, ATORES E CONTEXTOS.
(1925-1974)

13h00 — Almoço livre

14h30 — Sessão de apresentação da obra de Daniela Arbex, «Holocausto Brasileiro», comentada pela autora (Evento realizado com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil / Fundação Biblioteca Nacional)

15h30 — Intervalo

15h45 — 6ª Sessão de apresentação de comunicações e debate

Adrian Gramary — O CRIME DA QUEIMADA-VIVA DE SOALHÃES REVISITADO: REFLEXÕES PSIQUIÁTRICO-FORENSES

José António Alves — A PSICOLOGIA EXPERIMENTAL SEGUNDO M. SERRAS PEREIRA

Rui Xavier Vieira — THE HISTORY OF THE CONCEPT OF GENDER IDENTITY DISORDER

17h00 — Conferência de encerramento


Paulo Archer de Carvalho — TODOS SOMOS ANORMAIS. UM EXCURSO SOBRE “NORMAL, ANORMAL E PATOLÓGICO” DE SÍLVIO DE LIMA (1946)