Tuesday, March 29, 2016

Das «Curiosidades do Vaticano» ao anunciado Prémio Literário Luís Miguel Rocha!...

«Luís Miguel Rocha prezava particularmente o contacto com os leitores e raramente recusava um convite para uma apresentação, uma palestra, uma sessão com o público. Respeitava cada opinião, cada comentário e fazia questão de responder a todas as perguntas sobre os seus livros e sobre o que se passava “para lá dos altos muros do Vaticano”…»

Nota do editor (Porto Editora)

Apesar da nossa aparente instabilidade cognitiva, de umas semanas a esta parte, sempre fomos acondicionando algumas energias para pudermos recordar o Luís Miguel Rocha, nas datas precisas do seu espaço temporal (1976-2015), porque sempre creditamos as nossas capacidades cognitivas de viajar no tempo, tornando-o intemporal.
O Luís Miguel (da Silva) Rocha, apesar de ter nascido na Maternidade Júlio Dinis, da cidade Invicta, em 14 de Fevereiro de 1976, veio para Mazarefes (Viana do Castelo) com apenas quinze dias de vida. Frequentou a escola primária local, sendo a sua professora a dona Maria Augusta Paulino, de quem guardava as mais gratas recordações. Depois passou dois anos lectivos na Frei Bartolomeu dos Mártires e três anos no Monte da Ola. Completou o secundário (Humanidades) no antigo Liceu de Viana, na altura, já denominado de Escola Secundária de Santa Maria Maior.
Aos 16 anos escreveu o primeiro capítulo daquele que viria a ser, anos mais tarde, o livro “Um País Encantado”. Aos 20 anos, Luís Miguel Rocha, estreou-se profissionalmente como operador de câmara numa produtora que assegurava a transmissão das missas dominicais na TVI, mas sempre garantiu que não foi esta experiência que lhe fez interessar tanto pelas conspirações religiosas que trata nos teus thrillers. Depois rumou a Londres onde exerceu funções como guionista, tradutor e, por fim, iniciou-se na actividade literária. Como a escrita foi sempre a sua paixão, decidiu recuperar 40 páginas que, como atrás referimos, havia produzido, depois de ter lido “Memorial do Convento”, de José Saramago, autor que tanto admirava e continua a admirar, agora que ambos estão na mesma dimensão extra-sensorial: A essência de um povo espremida com mãos de mestre, numa narração cruel, porém divertida, irónica, porém verdadeira, elegante, porém realista. Uma voz portuguesa que vai, com certeza, dar que falar. – escreveu Bernard Cornwell, um dos mais importantes escritores britânicos da actualidade, em 14 de Julho de 2005. Infelizmente, este seu romance passou praticamente despercebido.


Mas o seu sucesso internacional chegou, em 2006, com «O ÚLTIMO PAPA» que percorreu o mundo e o tornou no primeiro escritor português a ser bestseller do prestigiado Top do New York Times. Este thriller foca-se na estranha morte do Papa João Paulo I – o “Papa do Sorriso” –, morte envolta em mistério desde o primeiro minuto e o Vaticano nunca fez nada para clarear, sendo que o mesmo Papa, supostamente, terá sido assassinado porque iria substituir membros da Cúria Romana, que estavam envolvidos em negócios de lavagem de dinheiro, com a Loja Maçónica italiana P2 e outros órgãos internacionais, como a CIA. Partindo das evidências documentais sobre os estranhos acontecimentos que ocorreram na noite do falecimento do Papa, Luís Miguel Rocha, mescla ficção e realidade – como a lista de nomes que estava com João Paulo I antes de ele ser assassinado e que a personagem Sarah pretendeu desvendar o que havia por trás dela e qual a relação dessas pessoas com a morte do pontífice. Histórias paralelas se entrelaçam e trazem à luz muito do que ficou escondido nos porões do Vaticano.
Em 2007, seguiu-se o livro «BALA SANTA», onde se nos coloca várias interrogações: Que acontecimentos estiveram por detrás da tentativa de assassinato ao Papa na praça do Vaticano em 1981? Quem é, e o que sabia verdadeiramente o turco que disparou contra João Paulo II? Que forças ocultas gerem os destinos da igreja católica e conseguem nomear e destronar Papas, ocultando impunemente as suas acções? Em suma, o trama envolve uma jornalista internacional, um ex-militar português, um muçulmano que vê a Virgem Maria, um padre muito pouco ortodoxo que trabalha directamente sob as ordens do sumo-pontífice, vários agentes dos serviços secretos mais influentes do mundo e muitos outros personagens dos quatro cantos do globo, envolvem-se numa busca pela verdade e descobrem que ela nem sempre é útil. Pelo menos não o foi para João Paulo II. Em «BALA SANTA», as dúvidas sobre os factos se misturam com as respostas oferecidas pela sua imaginação (se é que se pode chamar imaginação). O resultado é uma trama hipnotizante, que faz pensar: será esta apenas uma obra de ficção?
E para quem achava que a polémica acabava por aqui, em 2011, é editado «A MENTIRA SAGRADA», numa edição da “Porto Editora”, sendo que através deste seu romance pretendeu perpassar a história de Jesus, numa perspectiva histórica e não religiosa, baseada num manuscrito antigo, de um particular que lhe facultou o acesso: Será que Jesus foi mesmo crucificado? Terá tudo acontecido como a Bíblia descreve? Na noite da sua eleição para o Trono de São Pedro, o Papa Bento XVI, como todos os seus antecessores, tem de ler um documento antigo que esconde o segredo mais bem guardado da História – a Mentira Sagrada. Em Londres, um Evangelho misterioso na posse de um milionário israelita contém informações sobre esse segredo. Se cair nas mãos erradas pode revelar ao mundo uma verdade chocante. Rafael, um agente do Vaticano, é enviado para investigar o Evangelho e descobre algo que pode abalar não só a sua fé mas também os pilares da Igreja Católica. Com estes livros (BALA SANTA e A MENTIRA SAGRADA), Luís Miguel Rocha liderou também as tabelas de vendas no Reino Unido. Pelo meio, em 2009, republicou o primeiro livro com o título que sempre idealizou, chamado «A VIRGEM», na editora Mill Books, projecto que optou por criar, em 2008, mas que por circunstâncias várias não vingou.
 Em 2013, surge com «A FILHA DO PAPA», sexto livro na sua carreira, quarto na linha dos anteriores, onde se revela um profundo conhecedor sobre os meandros do Vaticano, lugar-comum onde se expressou na saga do fantástico e empolgante (como fazia questão de salientar), do princípio ao fim. De facto, em “A FILHA DO PAPA”, ficamos a conhecer os meandros do Vaticano, os possíveis segredos que são escondidos e todos os jogos de interesses que são feitos, em prol da beneficiação de alguém importante. É aí que reside o fascínio da sua criatividade literária: Até onde termina a realidade e começa a ficção? Nunca chegaremos a saber!... O que nos parece é que das suas mãos e da sua mente as insignificâncias ganham o cunho da perfeição, sem que a perfeição venha a cair nas malhas da insignificância. Daí, os seus livros, o mistério prende-nos do princípio ao fim. Daí, o próximo livro – e por sua promessa – ter por título «A RESIGNAÇÃO» – ele estará por aí –, seguimos-lhe os passos mas perdemos-lhe o rasto, fechando-se assim um ciclo sobre os meandros políticos do Vaticano. Para já, ficamos com as «CURIOSIDADES DO VATICANO» e, por proposta do Município de Viana do Castelo, na pessoa do seu presidente, José Maria Costa, anunciado o «Prémio Literário Luís Miguel Rocha», que, por certo, contará com o apoio da Porto Editora.
         QUANTUM MUTATUS AB ILLO!

Thursday, March 10, 2016

Desencarnou o jornalista e enófilo José António Salvador!...

«O jornalista e especialista em vinhos José António Salvador morreu domingo, 31 de Janeiro, na sequência de problemas cardíacos. Salvador trabalhou em diversos jornais, na SIC e foi, até há poucos meses, colaborador da VISÃO. Durante vários meses chegou a estar internado, em Paris e em Lisboa, e estava actualmente à espera de um transplante de coração. Recentemente, voltou a ser internado com alguns problemas de saúde, identificados após uma consulta de rotina. Viria a falecer vítima de paragem cardíaca.…»

Visão, 1.02.2016 às 12h19

Há pessoas que passam pela nossa vida e que nos marcam profundamente, mormente quando falamos pela força do carácter, sentido ético e expressão viva de um acto permanente de humildade, só visível nos “maiores e mais bem formados intelectualmente”, e solidariedade para com os outros. Uma dessas pessoas era, precisamente, José António Salvador, jornalista apaixonado pela enofilia e a obra de Zeca Afonso. Foi «Zeca Afonso – Livra-te do Medo», sua última obra, que nos levaria a estabelecer a ponte da amizade, ao ponto de termos feito a sua apresentação em Viana do Castelo (acto referido, à data, em anterior crónica), e que mereceu da parte do José Salvador um imerecido autógrafo, pecadoramente elogioso: «Para o Porfírio Silva com um abraço de gratidão pelo modo como apresentou este livro… (ass.)». Foi para nós extremamente gratificante este encontro, em Abril de 2014. Comemorava-se os 50 Anos da «Grândola, vila morena» (1964-2014).
        

Sem mais rodeios, vamos ao que interessa: José António Salvador nasceu em Espinho em 1947, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde integrou a Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra durante a crise estudantil de 1969. Jornalista a partir deste ano iniciou a sua actividade profissional no «Comércio do Porto». Foi também colaborador do jornal «A Voz Portucalense, órgão da Diocese do Porto, fundado por D. António Ferreira Gomes, após o seu regresso do exílio em 1969.
Integrou sucessivamente as redacções dos jornais «Diário de Lisboa» (1976/75), «República» (1975), «Gazeta da Semana» (1976/77), «Nô Pintcha» (Guiné-Bissau – 1977/78), «Diário Popular» (1978/1988 com interregnos nos países lusófonos), «Voz di Povo» (Cabo Verde – 1984), agência de noticias ANOP (também na Guiné-Bissau, 1985/86) e «O Jornal» (1988/1992) antes de ingressar na SIC. Foi também colaborador da BBC (a partir da Guiné-Bissau para o serviço de África daquela estação britânica, enquanto dirigiu a ANOP em Bissau) e do semanário «Expresso», onde iniciou as suas crónicas semanais de vinho (1980). Actualmente publicava na revista «Visão» uma crónica semanal sobre vinhos desde 2001.
No «Diário Popular» dedicou-se sobretudo à temática cultural, tendo coordenado o suplemento literário daquele vespertino lisboeta. Neste período entrevistou José Saramago, João Hogan, Júlio Pomar, António Ramos Rosa, Luiza Neto Jorge, José Afonso, José Mário Branco e Fausto, entre outros.
Em 1992, foi fundador da SIC, onde durante dois anos programou a informação. Desenvolveu posteriormente a cobertura jornalística de temas culturais até 2002, período durante o qual entrevistou Paula Rego, Costa Pinheiro, Graça Morais, René Bértholo, João Vieira, Jorge Martins, Siza Vieira, Júlio Resende, João Cutileiro, João Botelho, Vitorino, Janita Salomé, Sérgio Godinho, Camané, Cruzeiro Seixas, Sá Nogueira, Eugénio de Andrade, Germano Almeida, Urbano Tavares Rodrigues, Alice Vieira, Cláudio Torres, José Manuel Rodrigues, Eduardo Gageiro, José Maria Soares Franco, João Portugal Ramos, António Agrellos e outros. Durante esta década, assinou também quatro grandes reportagens/documentários, em 1994, sobre o Verão quente («À lei da bomba – do 25 de Abril à rede bombista», esta reportagem em parceria com Celestino Amaral), sobre as FP 25 de Abril – à lei da bomba»), sobre a PIDE-DGS (PIDE-DGS, policia sem lei») e «11 de Março – a matança da Páscoa». Durante este período ainda sobressaem os seus roteiros etno-gastronómicos e de vinhos emitidos semanalmente na SIC desde 1994 a Novembro de 2002, realizou mais de duas centenas de roteiros semanais sobre gastronomia e vinhos emitidos às sextas-feiras, com a rubrica «Roteiros de fim-de-semana».
Em 2003 realizou uma série de 50 roteiros de Portugal para a RTP sobre vinhos, gastronomia e património nacionais, transmitidos nos quatro canais da televisão pública (RTP Internacional, RTP África, RTP N e RTP 2) entre 2003 e 2006.
Na literatura de vinhos e gastronomia publicou também 13 roteiros anuais dos vinhos portugueses (de 1991 a 2003 inclusive) sob o título «Roteiros dos vinhos portugueses», e quatro «Roteiros gastronómicos» (2002 a 2003).
A editora Terramar publicou em 1993 o «Roteiro de vinhos da Bairrada». O jornal Público editou e distribuiu «Os 100 melhores vinhos portugueses» de 1997 a 2000 e o Jornal de Noticias publicou em 2005 o seu livro «16 castas portuguesas». Além disso escreveu três álbuns sobre vinhos portugueses «O livro dos vinhos», (com fotografias de Luís Ramos) da editora Fragmentos, Lisboa, 1989; «Os grandes vinhos portugueses», editora Livros Cotovia, Lisboa, 1987 e «Os autores dos grandes vinhos portugueses», edições Afrontamentos, Porto 2003.
Publicou o livro «Livra-te do medo – Estórias & andanças do Zeca Afonso», edição Regra do Jogo, Lisboa, 1984; «Zeca Afonso – O rosto da utopia», edições Afrontamento, 4ª edição, Porto, 2006; «Cabo Verde – Viagem pela história das ilhas», com Germano Almeida (texto) e José A. Salvador (fotos), Editorial Caminho, Lisboa, 2004; «Portugal, vinhos, cultura e tradição, obra em seis volumes, edição Circulo de Leitores, Lisboa, 2006-7; «Douro, rio de patrimónios, edição CTT, Lisboa, 2012 e «Zeca Afonso – Livra-te do Medo» - 1964-2014 - 50 anos Grândola.    
O Clube de Imprensa distinguiu-o por duas vezes, em 1987 e 1991, com o 1º Prémio Viagem pelas reportagens «Tejo, por este rio a cima» e «Cabo Verde, o sonho das ilhas», publicadas respectivamente no «Expresso» e em «O Jornal».
A Academia Portuguesa de Gastronomia atribuiu-lhe o Prémio Cultural e Literatura Gastronómica 2004 pelo conjunto da sua obra na área dos vinhos e da gastronomia.
O José António Salvador desencarnou em 31 de Janeiro de 2016, realizando-se o seu funeral na terça-feira, 2 de Fevereiro, às 13 horas, saindo da Igreja de S. João de Deus, à Praça de Londres, em Lisboa (onde o seu féretro esteve em câmara-ardente), para o Cemitério dos Olivais.
Descansa em paz, bom Amigo José A. Salvador.
         ATÉ SEMPRE!