Saturday, May 11, 2013

Em dia da Liberdade, Município de Ponte de Lima e amigos prestam justa homenagem ao poeta e escritor João Marcos!


“(…) Nesta data emblemática da nossa democracia, estamos a homenagear uma destacada figura de escritor e poeta que muito e durante muito tempo, a par de outras lutas e ideais, se bateu pela instauração da democracia, da conquista plena da liberdade – João Marcos”.

Cláudio Lima

Com palavras incisivas, conhecedoras, e verdadeiramente sentidas por todos aqueles que privaram de perto com o excelso poeta, ensaísta e escritor João Marcos [N. Rebordões Santa Maria, Ponte de Lima, 25 de Abril de 1913 – m. Lisboa, 6 de Janeiro de 2005], o poeta limiano Cláudio Lima acabaria por reforçar a sua – e nossa, porque dela partilhamos – convicção de naquele dia memorável homenagearmos um cidadão consciente e interveniente, “que desde muito jovem despertou para a contestação do regime opressivo saído da revolução de 28 de Maio de 1926, iniciada em Braga, e derrubado em 25 de Abril de 1974, nas ruas de Lisboa. Precisamente na data que ele celebrava o seu 61.º aniversário”. Numa retrospectiva, a nosso ver, poeticamente bem elaborada – porque doutro poeta se trata –, Cláudio Lima fez jus à proximidade de que dispunha em relação ao homem de Rebordões Santa Maria (Ponte de Lima) e à sua obra, descobrindo-lhe as “entranhas”, mesmo aquelas que parecem ser exclusivamente do foro íntimo: “Com efeito, se lermos atentamente os seus primeiros voos poéticos, constatamos que bem precocemente se começou a sentir uma espécie de pássaro cativo, ávido dos horizontes limpos e amplos que, após a tragédia de duas guerras mundiais, se iam vislumbrando no mundo ocidental”, para depois citar a parte final de um poema inserido na sua primeira obra, Polifonia Singela (1946), onde essa ânsia de evasão lhe persegue o espírito inconformado: Liberdade! és tão bela, tão rara, / Se te vejo assim prêso, cativo! / Mas, ó Deus! Permiti que ainda vivo, / Que ainda válido saia daqui! / Sempre – sempre! – hei-de ter na memória / Êstes dias de amarga tristeza! / Sempre – sempre! – hei-de ter em mim prêsa / Uma ideia do que eu padeci!...


Cláudio Lima falou ainda da obra de João Marcos na vertente de índole ensaística, da faceta limianista e da sua derivação poética, paulatina e progressiva, “para a reflexão aprofundada de categorias como divindade e humanidade, ser e destino, tempo e eternidade, contingência e finitude, consciência e liberdade, fé e cepticismo, etc., numa aproximação às teorias existencialistas de Heidegger, Sartre e, na sua vertente cristã, de Gabriel Marcel”. E citou exemplos dessa propensão poética-filosófica, nas obras O ser e o nada (1996), Epopeia do Homem Cósmico (2000) e Versos do Fim do Dia (2002). Por “defeito” de formação – nossa, claro! –, não resistimos à transcrição do seu poema “Manhãs de Neblina”, inserido no seu “O ser e o nada”: Neblinas envolventes das manhãs / cinzar das minhas horas saturadas / vírus dos meus tudos almas dos meus nadas / insonso escorrer nas telhas vãs / de um céu inimigo / que traz consigo / nem sol nem chuva – / venham na vossa cauda as tardes mansas / a mão sem luva / do sol que muda a face dos meus dias / se não em reversíveis esperanças / ao menos em mentidas alegrias. / E possa da verdade das lembranças / fiar-me na mentira dos meus dias. – Simplesmente, sublime!
     
  Foi justa a homenagem, como justas foram as palavras do Cláudio Lima, as quais subscrevemos inteiramente: “E passo a falar um pouco da sua qualidade de ilustre figura das letras portuguesas, ombreando com os melhores da plêiade limiana do seu tempo. Seja a cortejar as musas, seja a urdir as tramas da ficção, em todas as competências da arte literária se houve com extraordinária elegância e conformidade, merecendo generalizado aplauso de seus pares e consensual apreciação por parte da crítica”. E no campo da poesia, ouvimos atentamente o Cláudio Lima, cognitivamente, dizer: “Ora lírico e sereno na fruição dos momentos felizes, ora angustiado e tenso perante os enigmas e mistérios da existência; ora crispado e veemente ante as injustiças de que sente vítima ou testemunha, sob todos estes aspectos nós podemos admirar em João Marcos a mais perfeita construção, o mais irrepreensível trato do cânone e do idioma”. De facto, João Marcos tinha razão quando se referia a Cláudio Lima: “parece que me conhece desde criança, que sempre acompanhou passo a passo a minha vida, toda a vagabundagem do meu caminho – tanto os bons momentos como as passas do Algarve. Descobriu até o que não lhe contei textualmente, e sem fugir à verdade”. Irrepreensível análise crítica, merecidos aplausos!
Para além de termos gostado das palavras de Franclim Sousa, e sem desmerecimento para a sua profícua acção nas áreas da Cultura e da Educação em Ponte Lima, não queríamos deixar de aqui salientar a intervenção (em jeito de fecho) do presidente do Município, Victor Mendes: discurso fluente, mentalmente bem estruturado – sem esquecer o papel do poder local no desenvolvimento do país e a força da data assinalada –, agradavelmente assimilado e aplaudido!
Acabamos o dia no “Bar do Arnado”, do bom amigo José Ernesto Costa, numa excelente tertúlia cultural/gastronómica, magnamente acompanhados pelo próprio José Ernesto Costa, Franclim Castro e Sousa, Cláudio Lima e sua “alma gémea” – e quiçá, musa –, Fátima Alves.     

Para terminarmos, apenas uma frase que reflecte a sensação positiva que colhemos naquele dia, trinta e nove anos depois das portas que Abril abriu, e cem do nascimento do grande poeta e escritor João Marcos: Ditosa Terra que seus filhos memoriza!

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