Decorreram entre os dias 8 e 10 de Maio
de 2017, na Sala de Conferências da Secção Regional de Coimbra do Centro de
Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos, as VIII Jornadas Internacionais de História da Loucura, Psiquiatria e
Saúde Mental, nas quais participamos pelo quinto ano consecutivo, numa
organização da Sociedade de História
Interdisciplinar de Saúde-SHIS e colaboração (co-organização) científica e
institucional do Grupo de História e
Sociologia da Ciência e Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do
Século XX da Universidade de Coimbra-GHSCT-CEIS20, sendo de referir ainda o
apoio e as colaborações das seguintes instituições: Secção Regional do Centro da Ordem dos Farmacêuticos, Tecnimede SA, Turismo Centro Portugal e Fundação
para a Ciência e a Tecnologia – FCT. Fazem parte da Comissão Científica: Ana Leonor Pereira (Universidade de Coimbra,
Portugal); António Carreras Panchón (Universidad de Salamanca, Espanha); João
Rui Pita (Universidade de Coimbra, Portugal); José Morgado Pereira
(Universidade de Coimbra, Portugal); Juan António Rodriguez Sanchez
(Universidad de Salamanca, Espanha); Manuel Correia (Universidade de Coimbra,
Portugal); Tania Fonseca (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil);
Romero Bandeira (Universidade do Porto, Portugal). Na Comissão Organizadora há a destacar os Professores Doutores da
Universidade de Coimbra: Ana Leonor Pereira (Presidente); João Rui Pita (Secretário
científico); José Morgado Pereira e Victoria Bell.
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Os rostos de toda a dinâmica e sucesso das JIHLPSM. |
Na sequência das VII Jornadas realizadas
em 2016, as Jornadas deste ano visaram dar continuidade a temáticas anteriores
e autonomizar novos temas: A Loucura na História da Arte; A Loucura na Literatura
e no Cinema; A Loucura nas Utopias Sociais; Fontes para a História da loucura,
da psiquiatria e da saúde mental desde a Antiguidade clássica até à
actualidade; História dos sintomas desde a Antiguidade clássica até à
actualidade; Psiquiatria, neurologia, psiquiatria forense e medicina legal nos
séculos XIX-XX; Ciências farmacêuticas e Saúde mental; Direito Biomédico,
Pacientes e Saúde mental; Filosofia, psicologia, psicanálise e psiquiatria na
actualidade; Serviços de saúde mental e psiquiatria – para uma história
comparada na Europa e no Mundo; Psiquiatria e saúde mental no Serviço Nacional
de Saúde: estruturas, conjunturas e experiências singulares.
Na impossibilidade de estarmos presentes
em todas as sessões e conferências plenárias, procuraremos, na medida possível,
transmitir toda a dinâmica interdisciplinar e objectivos das temáticas
abordadas nestas Jornadas, que já vão na sua oitava edição.
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Rosário Neto Mariano e Joana Mestre Costa, estando ao centro o moderador José Morgado Pereira. |
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Joana Mestre Costa. |
A tempo de assistirmos à 2.ª Sessão,
moderada por José Morgado Pereira, começamos por ouvir Joana Mestre Costa, da
Universidade de Aveiro, Docente – ISCA-UA, Investigadora Integrada – CLLC-UA,
que trouxe ao debate «O Espaço da Literatura na construção de uma
Psicopatologia: a partir da Archipathologia
de Filipe Montalto», insigne representante dos chamados médicos-filólogos, nascido
no seio de uma família cristã nova (mais tarde, de cristão novo passou a
judeu), que deu à estampa, em 1614, uma obra alicerçada em sólidas fontes – que
faz recuar à Antiguidade Clássica e que cobrem os pontos de vista médico,
filosófico e literário. Através da Archipathologia,
ao perscrutar a essência e as causas, os sinais e as curas das afecções do
ânimo supôs auscultar os opera de
Hipócrates, de Galeno ou de Avicena, mas também os de Platão ou Aristóteles e
ainda os de Horácio ou de Ovídio; e na medida em que, na literatura, o seu
autor pôde encontrar exempla complectivos
dos testemunhos das autoridades médicas, cedeu aos vates crédito e lugar nas
discussões da especialidade. A partir da proposta de Filipe Montalto e
destacando as fontes literárias da Archipathologia,
bem como os contextos e as finalidades das sucessivas menções, Joana Mestre
Costa propôs-se explorar o espaço da literatura na construção de uma psicopatologia.
Desta magnífica comunicação retivemos: A
insânia dos amantes é um desassossego melancólico, motivado e dependente de um
imoderado amor… A bebida deve ser
vinho linfado, e mais, a embriaguez não imoderada pertence, por vezes, ao
remédio. Ou, ainda, a cura do amor
louco deve ser empreendida de imediato, antes que ele fixe raízes muito
profundamente…
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Rosário Neto Mariano. |
A segunda comunicação da 2.ª Sessão
coube a Rosário Neto Mariano, Professora Universitária da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, expressando a sua alteridade comunicativa,
irrepreensivelmente científica, nas «Representações Culturais da Alteridade
como Topos de Estranheza e/ou Patologia Mental», referindo que os estudos de
Michel Foucault e de Ervin Goffman, como outrora as teorias de Augustin Cabanès
e de Lombroso, mostram-nos, distintiva mas claramente, de que modos o lugar do
Outro, enquanto portador de determinados traços de diferenciação psicológica,
constitui, em numerosas representações culturais, um topos de estranheza e/ou patologia mental que propicia
comportamentos sociais de estigmatização, segregação e rejeição, os quais
acentuam as dificuldades de integração social e realização afectiva nos
indivíduos que configuram essa alteridade “estranha” ou “patológica” em
diversas representações culturais, da ciência à literatura e às artes em geral.
Através da sua comunicação, Rosário Neto Mariano propôs-nos, de uma forma
perfeita, um percurso analítico por algumas dessas representações culturais,
mostrando simultaneamente como certas figurações literárias do topos em questão funcionam como
verdadeiras metáforas da estigmatização sócio afectiva de certas formas de
alteridade psicológica, em diferentes comunidades humanas. Apreendemos: A Ética da Saúde Mental é masculina… A
mulher, o judeu, o artista… – O Louco.
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Bárbara del Arco Pardo. |
A 2.ª Sessão fechou com a comunicação de
Bárbara
del Arco Pardo, investigadora em formação no Departamento de Filosofia,
Lógica e Estética, da Universidade de Salamanca, trazendo à discussão «A
Loucura em Miguel de Unamuno: uma visão filosófica desde personagens literários
atravessados pelo Trágico», acaba por nos alertar para o facto de que a obra de
Unamuno se desenvolve a cavalo entre a filosofia e a literatura. Miguel Unamuno
expressa suas convicções filosóficas, não tanto através das tramas narrativas
das suas novelas e relatos, senão sobretudo mediante o retrato literário dos
seus complexos personagens. Estes aparecem sempre representados como seres com
um profundo problema interior, com um trágico conflito constante – diferente em
cada caso – que se torna o centro da sua pessoa. E esses conflitos internos são
tão intensos que sempre terminam por levar o personagem até seus próprios
limites, roçando sempre a loucura… Mediante este procedimento, Unamuno mostra como
a loucura em que terminam seus personagens não é um processo contingente, senão
algo que levavam dentro de si desde sempre: Monomanias
e não conflitos entre vários.
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Luís Timóteo Ferreira. |
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A nossa atenção à exposição de Luís Timóteo Ferreira. |
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João Rui Pita. |
Face ao adiantar da hora, passou-se de
imediato à 3.ª Sessão de apresentação de comunicações, moderada por João Rui
Pita, abrindo as “hostilidades” Luís Timóteo Ferreira, Professor do
Ensino Básico e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século
XX-CEIS20, da Universidade de Coimbra, despertando-nos para as «Imagens da
Loucura em Júlio Dinis: Valentina e Jacob Granada em Uma Flor d’Entre o Gelo (1864)», o que acabou por mostrar que a
influência de concepções alienistas na obra de Júlio Dinis ainda não está
devidamente estudada. Apesar de Gomes Coelho nunca ter exercido a clínica,
sabe-se que foi um competente aluno que a custo chegou a professor da Escola
Médico-Cirúrgica do Porto, tendo regido a 11.ª cadeira – Higiene Pública e
Medicina Legal, disciplina criada pela carta de lei de 26 de Maio de 1863 – em
substituição de José Frutuoso Aires de Gouveia Osório. Através desse artigo,
Luís Timóteo Feireira acabou por explorar a controvérsia médica e filosófica da
etiologia moral e psicológica das doenças mentais que transparece no conto Uma Flor d’Entre o Gelo, publicado em
folhetim, no Jornal do Porto, entre 29 de Novembro e 7 de Dezembro de 1964,
onde Gomes Coelho revela indícios cruciais para a compreensão alargada do
pensamento do escritor e médico.
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Altura da nossa comunicação. |
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Falando de Maria Gomes Pereira (1882-1950) |
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João Rui Pita atento à nossa dissertação sobre a «Arte e os limites da Loucura em Maria Pomba» |
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Na hora do debate: Luís Timóteo Ferreira, João Rui Pita (moderador) e nós. |
A segunda comunicação coube-nos a nós (Porfírio
Pereira da Silva), que ao abordarmos «A Arte e os limites da Loucura em
Maria Gomes Pereira (1882-1950)», acabamos por explorar o facto de Maria Gomes
Pereira ter nascido em Santa Maria de Carvoeiro, ao tempo em que pouco ou nada
se ligava à arte popular. Enquadrada numa época de baixo nível económico, assim
como martirizada pela falta de alfabetização, Maria, pobre de bens materiais e
sem qualquer tipo de ambição para além da sua realização pessoal, num mundo em
que tal comportamento cognitivo se entendia uma mania consequente do pouco
abono de siso, cedo descobriu a sua inclinação para o lado místico.
Desfazendo-se dos parcos bens de seus pais, como forma de se livrar de um
pesadelo que a consumia, depressa se tornou mendiga, deambulando pelos montes
da cercania, onde dormia na companhia de uma pomba, circunstância que levaria a
ser rebaptizada pelo povo de Maria Pomba. Não podendo comunicar doutro modo,
esculpia, burilava a pedra e a madeira, imprimia nos relevos os sentimentos
mais íntimos, nem sempre entendíveis. Era tida por quase toda a gente como uma
atrasada mental, e pelos mais tolerantes, portadora de uma certa leveza de
inteligência. Os comportamentos loucos sempre foram permitidos nas sociedades,
havendo, contudo, um sistema de normalização desses comportamentos, dominando
os corpos e as manifestações corporais, porque eram capazes de serem incluídos
dentro do campo dos excluídos, como se outra face do mundo e dos corpos fossem
necessários para justificar e dar sentido à normalidade. As teorias de Erving
Goffman (com o ‘estigma’), de Michel de Foucault (com o biopoder), e de Norbert
Elias (O processo civilizacional) contextualizam este processo de vigilância
dos corpos, de domínio do ‘anormal’, de controlo e privação da violência para
se construir a sociedade civilizada. Maria Pomba tinha tudo para ser excluída!
Sendo pobre, sem ocupação clara e reconhecida, e à margem dos comportamentos
ditos normais, era relativamente fácil construir sobre ela narrativas que
tivesse a loucura como base de definição da sua personalidade.
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Pausa para o almoço. |
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José Morgado Pereira preparando a sua "Conferência Plenária" |
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José Morgado Pereira dissertando sobre «A Psiquiatria em Portugal (1884-1924)» |
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Ana Leonor Pereira, moderadora na "Conferência Plenária" de José Morgado Pereira. |
Com intervalo para o almoço, da parte da
tarde as Jornadas iniciaram-se com a conferência plenária – tendo como
moderadora, Ana Leonor Pereira – de José Morgado Pereira, Médico
Psiquiatra e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século
XX-CEIS20, da Universidade de Coimbra, que nos fez uma pequena retrospectiva
sobre «A Psiquiatria em Portugal (1884-1924)», cujo objectivo do trabalho foi o
estudo da psiquiatria portuguesa no período da sua institucionalização,
balizada entre 1884 e 1924, datas em que se publicaram obras que marcaram a
evolução científica desta especialidade. O trabalho é influenciado pela obra de
German Berrios, que tem levado a cabo uma história conceptual, construindo uma
história cultural da psicopatologia. Destaque para a reforma de 1911 e o início
do ensino oficial da psiquiatria. Quanto aos protagonistas, na primeira fase
são dominantes Miguel Bombarda e Júlio de Matos, arautos de correntes
científicas e filosóficas oitocentistas e na segunda fase do período em análise
Egas Moniz e Sobral Cid. Da abordagem das doenças analisadas resulta uma
pluralidade evolutiva, falando-se de doenças, síndromes, sintomas e patologizações,
justificando uma perspectiva construcionista. Nas terapêuticas destaca-se a
importância central do asilo, e o tratamento moral é objecto de análise, tal
como a hidroterapia. Inicialmente muito ligada à fisiologia e à
anatomopatologia, a psiquiatria vai lentamente reconhecendo a importância duma
abordagem psicológica e depois do movimento psicodinâmico, já se vislumbrando
no final do período a atenção a formas mais diversificadas de acolhimento
institucional e uma visão biológica mais integradora. Em suma, o objectivo foi
bem claro: Estudo da Psiquiatria
Portuguesa, em termos de uma história conceptual, no período da sua
institucionalização, que entendi balizar entre 1884 e 1924,quando se publicaram
obras que marcaram a sua progressiva evolução científica, num período crucial para
o seu desenvolvimento, marcada por aparentes continuidades, em aspectos
sociais, políticos e culturais.
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Manuel Curado. |
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Manuel Curado, sob o olhar atento de Manuel Correia (moderador) |
Manuel Curado, Professor da
Universidade do Minho, abriu a 4.ª Sessão de apresentação de comunicações,
tendo como moderador Manuel Correia. O tema trazido por este ilustre professor
incidiu sobre a «Representação Literária da Loucura no Portugal Oitocentista»,
considerando tratar-se de um subsídio, tendo em conta que, no seu entender, a
história da representação literária da loucura em Portugal está por fazer.
A comunicação
teve por objectivo contribuir com esse mesmo subsídio para esse objectivo,
ocupando-se de alguns títulos da literatura oitocentista portuguesa,
nomeadamente os contos “Uma Loucura”, de Luís Filipe Leite, e “A Louca de S.
Cristóvão”, de José Maria de Andrade Ferreira; e os romances “Memórias de um
Doido”, de A. P. Lopes de Mendonça, “Cláudio”, de Júlio César Machado, “A Doida
do Candal”, de Camilo Castelo Branco, “A Filha do Jorge (Misérias Burguesas)”,
de Lino de Macedo, “Amor Divino”, de Teixeira de Queirós, e “Malucos?”, de
Alfredo Gallis. A sua proposta foi no sentido de uma categorização dos grandes
temas da representação literária da loucura, nomeadamente o corpo teórico que
subjaz à narrativa, a etiologia da condição alienada, a relação com
instituições (asilo, manicómio, hospital) e indicações clínicas (contenção, remédios).
Pena foi que não houvesse tempo para abordar todos os títulos e autores
propostos.
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M. A. Miguelez Silva. |
A segunda comunicação da 4.ª Sessão, num
trabalho de grupo dos Médicos Psiquiatras, M. A. Miguelez Silva, M.ª
J. Louzao Martinez e T. Angosto Saura; da Enfermeira
especialista em Saúde Mental, M. Piñeiro Fraga; e da Médica em
formação, A. R. dos Santos Rocha, abordou o tema de «Fernando Pessoa, os
Psiquiatras e a Loucura». O objectivo desta comunicação foi o de demonstrar que
o poeta Fernando Pessoa teve uma especial preocupação pela doença mental em
geral e pela sua possível loucura em particular. Em relação a este tema
realizou múltiplos escritos, a maioria deles sem publicar na época mas que
foram editados recentemente. Segundo M. A. Miguelez Silva, em representação do
grupo de trabalho, afirmou que na análise
destes documentos, podemos observar que teve uma relação ambivalente com a psiquiatria
e os psiquiatras da sua época. Estudamos em que se baseiam estas relações ao mesmo
tempo que investigamos as fontes dos conceitos psiquiátricos utilizados pelo poeta
na sua obra, tanto para diagnosticar as suas personagens heterónimas como para autodiagnosticar-se.
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António de Vasconcelos Nogueira. |
António de Vasconcelos Nogueira,
colaborador-investigador do Centro de Línguas, Cultura e Literaturas da
Universidade de Aveiro, debruçou-se sobre «O De Profundis de José Cardoso Pires: Exercício Metaliterário sobre a
Memória e o Autoconhecimento», sendo que a sua comunicação acabou por explorar
pistas de leitura do De Profundis: Valsa
Lenta, do autor da Balada da Praia
dos Cães, no âmbito da literatura portuguesa (questionar o género
literário, a escrita como terapia, a autonarrativa e a memória) e da Medicina
Narrativa (relato autopatográfico, biografia da doença), com aportes das
neurociências (AVC, amnésia, afasias, reabilitação neuropsicológica) e da
filosofia (o eu, a dúvida, o conhecimento de si, a condição humana). Questiona
a construção do eu associado à perda da memória e sua reabilitação, “o Outro de
mim”, e à noção do tempo, num cenário de luz e sombras, de vozes, que irrompem da
primeira à terceira pessoa do singular, na narrativa.
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Celia García Díaz. |
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Celia García Díaz e Manuel Curado. |
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M. A. Miguelez Silva, António de Vasconcelos Nogueira e Manuel Correia (moderador) |
A quarta e última comunicação da 4.ª
Sessão coube a Celia García Díaz, Médica Psiquiatra do Hospital Clínico
Universitário de Málaga. De salientar que a mesma comunicação teve a parceria
da Médica Psiquiatra do Hospital Universitário Insular de Las Palmas de Gran
Canaria, Laura López Alonso. O tema trazido a estas Jornadas teve por
base a convulsiva vida da mulher, escritora e louca, Jane Bowles, e sua relação
com os Manicómios de Málaga (1917-1973). A 4 de Maio de 1973 faleceu em Málaga
Jane Bowles, escritora nova-iorquina casada com Paul Bowles que fez parte do
movimento boémio de Greenwich Village. Sua obra foi escassa, porém intensa,
como sua vida, conhecida não só pela sua produção escrita, mas também pelo uso
de drogas e sua bissexualidade. Depois de casar-se, foi viver com seu marido
para Marrocos. Acometida por sintomas persecutórios e sua adição ao álcool,
frequentou numerosas clínicas psiquiátricas, até que, finalmente, ingressou em
Málaga, no Asilo de los Ángeles, onde foi tratada por Pedro Ortiz Ramos.
Através deste trabalho, Celia Díaz e Laura Alonso pretenderam mostrar até que
ponto a vida da escritora impregnou a sua obra, como os seus escritos
adquiriram um significado diferente se analisados desde uma perspectiva de
género e a teoria de Laing sobre a esquizofrenia e, por último, sua passagem
por várias instituições psiquiátricas malaguenhas.
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Francisco Molina Artaloytia. |
Depois de um breve intervalo para um
Coffee, por volta das 17 horas, iniciaram-se os trabalhos da 5.ª Sessão de
apresentação de comunicações, tendo como moderador Manuel Curado. Na primeira
comunicação, Francisco Molina Artaloytia, Assessor Técnico da Secretaria
Geral de Educação (Extremadura espanhola) e Professor-Tutor de Lógica, História
e Filosofia da Ciência, centrou a sua abordagem na investigação sobre a
medicina e a homossexualidade em Espanha e Portugal durante grande parte do século
XX, acabando por tentar provar que se produz com certa frequência uma “tensão”
com certos discursos activistas quando se intenta caracterizar a teoria e
práticas médicas ibéricas em relação com as existentes noutros países então “democráticos”.
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Ricardo Campos. |
A segunda comunicação coube a Ricardo
Campos, Científico-Titular do Departamento da Ciência, do Instituto de
História de Madrid (CSIC), que quase como em complemento à comunicação
anterior, abordou a «Loucura, anormalidade e homossexualidade em Espanha
(1970-1979): A Lei de Perigosidade e Reabilitação Social de 1970», com o
objectivo de analisar a visão da loucura, a anormalidade e a homossexualidade em
Espanha durante esta mesma década; dos legisladores e da psiquiatria académica,
assim como sua aplicação, em relação aos doentes mentais, os anormais e homossexuais,
considerados como sujeitos perigosos num contexto histórico de convulsões e
transformações políticas.
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Rafael Huertas. |
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Rafael Huertas, ladeado por Manuel Curado (moderador) |
Seguiu-se Rafael Huertas,
Professor-Investigador do mesmo Departamento e Instituto de História de Madrid
(CSIC), que vincularia a sua comunicação à «Psiquiatria, antipsiquiatria e
pensamento reaccionário em Espanha: Los
renglones torcidos de Dios (1979)», uma publicação de Torcuato Luca de
Tena, que teve um inegável êxito por parte do público e da crítica. Los renglones torcidos de Dios, escrita
e publicada durante os primeiros anos da Transição democrática, trata-se de uma
novela que pode considerar-se como uma fonte de interesse para apreciar o
impacto de uma nova “cultura psiquiátrica” que, a par do movimento
antipsiquiátrico e das “lutas psiquiátricas” do tardo franquismo, começava a
surgir em Espanha com força. Novidades que geraram resistências desde as
posições mais conservadoras, como as que o autor e a novela representam. Para
Rafael Huertas, esta obra de ficção foi capaz de reflectir a realidade
manicomial em Espanha dos anos setenta num contexto de profundas abordagens
culturais em torno da loucura.
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Filomena Girão. |
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Debate da 5.ª Sessão de apresentação de comunicações, moderada por Manuel Curado. |
A 5.ª Sessão de apresentação de
comunicações terminou com «O Transtorno de Personalidade Bordelina – entre a Capacidade
de Discernimento e a Doença Mental», uma interessante comunicação, tendo em
conta que o estudo foi feito por duas mulheres ligadas à advocacia, Filomena
Girão e Marta Frias Borges. Seria Filomena Girão a dar voz ao trabalho
conjunto: «A personalidade é definida pelo Diagnostic
and StatisticalManual of Mental Disorders (DSM-V) como um conjunto de
“padrões duradouros de perceber, relacionar-se e pensar, envolvendo o ambiente
ao redor e a si mesmo”. Sucede que, por vezes, o comportamento do indivíduo se
desvia acentuada e persistentemente das expectativas da sua cultura, caso em
que estaremos perante as designadas perturbações/transtornos de personalidade.
Entre os diversos tipos de perturbações da personalidade, atribuímos, na
presente reflexão, particular importância à personalidade Borderline, tomada
como o “padrão de instabilidade nas relações interpessoais, na auto-imagem e
nos afectos, com impulsividade acentuada”, que, em razão das rápidas mudanças
de humor, se apresenta como o comportamento limítrofe entre a lucidez e a
incapacidade, é que, s.m.o., reclama adequadas soluções de protecção jurídica.
Sucede que o diagnóstico de perturbação de personalidade não se afigura, por
si, suficiente para determinar a incapacidade jurídica do indivíduo, que
pressupõe “estado de anomalia psíquica”. De facto, não se traduzindo num
comportamento persistente e duradouro, mas caracterizando-se antes por uma
natural instabilidade, as perturbações de personalidade nem sempre são
susceptíveis de integrar o conceito de anomalia psíquica e, por conseguinte, de
fundamentar o recurso aos institutos de interdição ou inabilitação…» Na perspectiva
deste estudo, impõe-se, assim, uma reflexão quanto à (in)suficiência dos
institutos jurídicos da interdição e inabilitação para fazer face às
características de certas perturbações de personalidade – designadamente, da
personalidade Borderline –, que, porventura momentâneas, limitam amiúde e
enormemente a capacidade de discernimento e determinação do indivíduo.
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Jantar no Gauchão. |
O debate continuou pela noite dentro, no
jantar servido a preceito na Churrascaria Gauchão, condimentado pelos sabores e
degustação tropicais.
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David Simón Lorda. |
Logo pela manhã do dia 9 de Maio,
segundo dia das Jornadas, teve lugar a 6.ª Sessão de apresentação de
comunicações, moderada por Tiburcio Angosto Saura, iniciada por David
Simón Lorda, Médico Psiquiatra do Complexo Hospitalário de Ourense, do
qual fazem parte, ainda: Jessica Otilia Pérez Triveño, Cristina
Carcavilla Puey, Manuel Fernández de Aspe, Elisabeth
Balseiro Mazaira e María Victoria Rodríguez Noguera,
abordando as «Loucuras puérperas (Psiquiatria, Medicina e Cultura na Galiza,
1875-1975)», expondo e contextualizando os dados encontrados acerca de casos de
Loucuras puérperas (o psicosis
puerperales) na Galiza até finais do século XIX e primeiros anos do século
XX. Alguns destes casos necessitaram ser atendidos na instituição hospitalar
manicomial de Conxo, em Santiago. David Simón Lorda abordou conceitos e
nosologia das psicoses puérperas na psiquiatria, concepções populares/culturais
respeitantes a enfermidade mental no puerperal, realçando assim alguns
trabalhos científicos e antropológicos acerca das psicoses purpúreas por
autores de referência da psiquiatria galega do século XX, de que é exemplo o
Dr. Manuel Cabaleiro Goás, Ourense em 1955.
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Bruno Barreiros. |
Seguiu-se Bruno Barreiros, Investigador
Integrado (CHAM – FCSH/NOVA – UAC), que abordou a questão «Nas Fronteiras da
Razão: A noção de Alienação Mental na
Literatura Médica do Século XX», sendo que, no dizer de Bruno Barreiros, poucas
obras geraram tão diversificado debate como o Tratado Médico-Filosófico sobre a Alienação Mental de Philippe Pinel
(1745-1826), trabalho centrado na experiência clínica e administrativa do autor
nos hospitais de Bicêtre e da Salpêtrière. Obra publicada pela primeira vez em
1801, e republicada com alterações significativas em 1809, o Tratado foi considerado, após os trabalhos
seminais de Foucault, Gauchet e Swain, como o momento histórico definitivo de consagração
da reclusão e da violência enquanto princípios de tratamento da loucura e de
organização dos sistemas asilares. Visando suscitar a controvérsia, Bruno
Barreiros procurou reequacionar esta leitura e os fundamentos históricos e
epistemológicos que lhe subjazem. A sua intenção foi pois restaurar o
significado profundo da inovação pineliana quer no plano teórico-nosológico
(sistematização rigorosa do conceito de alienação mental, atenção detalhada à
história clínica do paciente), quer no plano prático, onde o autor procurou
reformar os tratamentos ministrados aos alienados, conferindo-lhes forte
impulso filantrópico e personalista.
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João Feliz. |
A terceira comunicação da 6.ª Sessão
esteve a cargo de João Feliz, Médico Interno de Psiquiatria, U. L. S. Guarda, coadjuvado
no trabalho por Pedro Sales, Médico Interno de Psiquiatria, Hospital Garcia de
Orta; Guilherme Bastos Martins e João Cardoso, Médicos Internos de
Psiquiatria no Hospital Fernandes da Fonseca e Centro Hospitalar Psiquiátrico
de Lisboa, abordando a questão de «Geel: uma Colónia de Alienados», sendo que
Geel, cidade situada na Flandres, é conhecida pela generalidade do mundo
psiquiátrico como modelo de tradição ímpar nos cuidados prestados a pessoas
acometidas por doenças mentais, desde o séc. XIII. Este modelo consiste na
distribuição de doentes mentais por famílias de acolhimento, que receberiam uma
quantia fixa pela responsabilidade do cuidado prestado. Ao longo do século XIX,
Geel é visitada por psiquiatras eminentes (Esquirol, Moreau de Tours, Falret,
Guislain) e, logo após a medicalização da Loucura e instituição do
hospital/asilo psiquiátrico como modelo de cuidado, despoleta-se a “Questão
Geel” entre alienistas proponentes e detractores do sistema praticado em Geel.
Esta questão apenas será sanada no Congresso Internacional de Psiquiatria
realizado em Antuérpia, em 1902. Em 2002, o modelo Geel é reconhecido como “melhor
prática” no relatório da OMS “Mental Health. New Understanding. New Hope”.
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Jorge Mota. |
Seguiu-se Jorge Mota, Assistente
Hospitalar de Psiquiatria (Unidade de ECT, Hospital de Magalhães Lemos, Porto)
e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Electroconvulsivoterapia, que
acaba por centrar a sua comunicação na «História da Electroconvulsivoterapia:
Do Egipto a Roma», salientando o facto que, desde que os egípcios reconheceram
a existência do fenómeno da electricidade há cinco mil anos, esta foi usada por
diversas culturas com fins terapêuticos mágicos, punitivos, ou analgésicos,
usando fontes bioeléctricas como o peixe-gato do Nilo ou a raia-torpedo. O
advento da electricidade industrial e da corrente alterna substituiu a electroterapia
de corrente contínua por uma ferramenta de investigação científica, dando
origem à faradização e às investigações neurofisiológicas que levariam à
epilepsia experimental. Do cruzamento da convulsivoterapia e da epilepsia
experimental, nasceria em 1938 em Roma a electroconvulsivoterapia que, após
décadas de abusos, sofreria em 1976 a transformação numa técnica moderna
reinventada em 2003 com as novas máquinas de micropulsos de corrente constante.
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Nuno Borja-Santos. |
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Luís Afonso Fernandes. |
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Debate da 6.ª Sessão de apresentação de comunicação, moderada por Tiburcio Angosto Saura. |
A última comunicação da 6.ª Sessão
esteve a cargo Nuno Borja-Santos, Médico, assistente graduado de psiquiatria
no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, sendo coadjuvado no trabalho de
investigação pelos Médicos internos de psiquiatria no mesmo Hospital, Guilherme
Bastos Martins, Vera Dindo e Luís Afonso Fernandes. O
tema do estudo centrou-se em «D. Duarte, primeiro psicopatologista português»,
que após uma breve nota biográfica acerca do Rei D. Duarte, reportam-se algumas
passagens da sua obra, “Leal Conselheiro”, exemplar da literatura moralista e
prática da Idade Média, dando destaque a algumas situações psico(pato)lógicas
descritas, que hoje designaríamos por síndromas, como o narcisismo (“soberba”),
o luto (“nojo”) ou a depressão (“humor merencórico”). A propósito desta, sublinha-se
o seu caso, por ele descrito, que se teria iniciado com uma fase não voluntária
de hiperactividade (motivada pela substituição temporária das funções régias do
seu pai, D. João I, que se ausentara para a conquista de Ceuta), a que se
seguiu uma outra de depressão cuja sintomatologia é traçada minuciosamente, mas
em que a indissociabilidade com que descreve os dois quadros faz não só lembrar
o actual conceito de doença bipolar, como uma tese acerca da mesma, explanada
por Koukopoulos em The Primacy of Mania.
Durante o debate, foi apontada a opinião presente de Daniel Sampaio e Lobo
Antunes que consideram D. Duarte, pelo seu lado melancólico e dupla polaridade
de humor, maníaco-depressivo.
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Tânia Sofia Ferreira. |
Depois de um pequeno intervalo para Coffee, altura em que se procedeu ao
lançamento da obra “VII Jornadas Internacionais de História da Loucura,
Psiquiatria e Saúde Mental”, seguiu-se a 7.ª Sessão de apresentação de
comunicações, moderada por Nuno Borja-Santos, abrindo com «O Tratamento Moral
em Júlio de Matos», comunicação essa apresentada por Tânia Sofia Ferreira, Mestranda
em História Contemporânea, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
que acabou por nos lembrar que no entender de Júlio de Matos, tratar o alienado
como se fosse um “homem são de espírito”, com quem seria possível estabelecer
um diálogo coerente, de modo a convencê-lo da falsidade das suas convicções,
era “tempo inutilmente gasto”. Neste âmbito, o tratamento moral, preconizado
por W. Tuke em Inglaterra e por Pinel em França, em finais do século XVIII, que
assentava no reconhecimento de um fundo de razão no alienado e, por isso, na
possibilidade de uma terapêutica assente num diálogo benévolo e persuasivo com
o doente, evitando assim os meios repressivos, não tem qualquer acolhimento por
parte do alienista português, para quem este meio terapêutico não passava de um
“capítulo falso de psiquiatria, felizmente esquecido”. Este trabalho teve como objectivo
analisar os fundamentos da rejeição e o consequente entendimento que Júlio de
Matos faz deste meio terapêutico no Manual
das Doenças Mentais (1884) e Elementos
de Psiquiatria (1911).
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Manuel Correia. |
A segunda comunicação da 7.ª Sessão foi
apresentada por Manuel Correia, Investigador do Centro de Estudos
Interdisciplinares do Seculo XX-Universidade de Coimbra-CEIS20-UC e um dos
maiores especialistas de Egas Moniz, com o «Curso de Ciências do Sistema
Nervoso no Hospital Júlio de Matos (1986): Subsídios para a História da
Psicocirurgia», revelando-nos a sessão de encerramento do “1º Curso de Ciências
do Sistema Nervoso” que decorreu no Hospital Júlio de Matos (hoje Centro
Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa) em 21 de Junho de 1986 foi dedicada à
Psicocirurgia. O registo vídeo dessa sessão foi preservado e constitui uma
fonte histórica relevante a vários títulos. Testemunha o declínio da prática de
leucotomias e lobotomias, e do desinteresse relativo a que o método foi votado;
põe em confronto as diferentes posições e atitudes existentes à época; e
documenta a intervenção de vários actores estreitamente associados à prática da
leucotomia: Barahona Fernandes, Pedro Polónio, psiquiatras que acompanharam a
génese e o declínio do método, e Martin Rodriguez, neurocirurgião do Centro
Especial Ramon y Cajal, Madrid, activo apoiante e dinamizador da prática da
Psicocirurgia. Comentando alguns aspectos específicos do conteúdo Manuel
Correia apontou a singularidade histórica deste documento.
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Jessica Otilia Pérez Triveño. |
Antes de regressarmos a Viana do
Castelo, por imperativo profissional, ainda tivemos tempo de ouvir as três comunicações
da 8.ª Sessão, moderada por Pedro Macedo, iniciada por Jessica Otilia Pérez Triveño,
fazendo parte da equipa do Médico Psiquiatra David Simón Lorda, com Cristina
Carcavilla Puey, Rosana Ortiz Soriano, Manuel Fernández de Aspe e Elisabeth
Balseiro Mazaira, com o tema «Gripe, Medicina e Psiquiatria na Galiza,
1875-1975», tendo em conta que na Galiza neste período, coincidiu com epidemias
gripais, aparecendo casos que foram diagnosticados como psicoses gripais ou pós-gripais.
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Joana Quelhas. |
Seguiu-se a comunicação de Joana
Quelhas, do Centro de Estudos de Antropologia Social, com «O outro lado
do espelho: dois Diários de Egas Moniz, 1954-1955 (Espólio de Joaquim Seabra
Dinis)», que acabam por revelar reflexões do pensador, do político, do médico,
em retirada. Para quem o conheceu através de uma obra em que também se soube
autobiografar, uma surpresa. Segundo Joana Quelhas, aqui deparamos com um homem
mais retirado, mais livre, menos comprometido lançando uma escrita para si mesmo,
crítica, um texto consciente que provavelmente será um dos seus últimos – como confessa
– e não imediatamente publicável. Uma preciosa revelação: design “o outro lado
do espelho” a esta reflexão a partir da memória crítica dum lugar livre quem
restou a cor da leitura lucida. Estes dois Cadernos, titulados como “Os meus 80
anos” e “O prémio Nobel” redigidos entre esperas de consultas, plenos de
memórias e previsões, permitem-nos destacar o registo intimista, mais livre,
por comparação a todo o anterior discurso que até então nos legara.
Por fim, a terceira e última comunicação
da 8.ª Sessão, proferida pelo Médico Psiquiatra do Hospital Vithas N.ª S.ª de
Fátima (Vigo), Tiburcio Angosto Saura, coadjuvado na investigação por M.
Piñeiro Fraga, M.ª J. Louzao Martinez e M. A.
Miguelez Silva. A comunicação andou à volta do «Pintor Laxeiro e os
Loucos Populares».
Regressamos de Coimbra cansados, mas
revigorados. Faz sentido, cada vez mais, questionar os limites da loucura, o
reconhecimento de um fundo de razão nos alienados e/ou estigmatizados,
permitindo, através do diálogo benévolo, a tolerância aos julgamentos
precipitados que nos conduzem à exclusão pela diferença de género, mesmo quando
há uma relação entre a loucura construída pela sociedade sobre um comportamento
anormal e a expressão artística, vinculando a Ética na Saúde Mental ao masculino (Rosário Neto Mariano). Obrigado
à Comissão Científica da «Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde -
SHIS» pelo incentivo e pelo repto lançado para o ano de 2018. Aumenta assim a
nossa responsabilidade, principalmente quando as próximas Jornadas vão dar
lugar a um Congresso Internacional.
Sapiens nihil facit
invitus!
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