Saturday, June 22, 2013

«Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos» pela pena e visão de Mário Leitão!

“Tratando-se de uma obra sobre o que nós naqueles tempos chamávamos «Lagoas de Bertiandos» e sobre a sua biodiversidade, ela constitui também uma história de vida, não só do seu Autor; mas também de todos aqueles que com ele puderam partilhar a descoberta da riqueza de um Paraíso único que felizmente e também por ele, atempadamente se protegeu”.

António Manuel Lemos Dias Rebelo

Falar desta obra, esteticamente pautada por uma magnífica apresentação – exprimindo-nos única e exclusivamente pela máxima de David Hume quando um dia afirmou que “o padrão de gosto emerge da natureza dos seres humanos” –, transformou-se para nós num autêntico “delirium-tremens”, já que a nossa paixão pelas coisas da natureza, apenas se reflecte no escol do reconhecimento da “vastidão da nossa ignorância”… no assunto versado, claro! Apesar de sentirmos essa “debilidade”, em matéria consequencial de termos de recorrer à “audi alteram partem”, jamais alguém poderá tirar-nos a convicção de passarmos de critérios “comuns” para um “padrão” de gosto pessoal. Daí, começarmos por agradecer ao Dr. Mário Leitão a amável oferta, com imerecida deferência autografada, e expressarmos como primeira impressão o plano estético, tendo em conta o impacto emocional. De uma forma geral, gostamos.
Apesar de há mais de três décadas trazermos às costas da nossa “amadora condição de ambientalista”, a luta inglória de vermos o berço ribeirinho da nossa ancestralidade limiana, classificada como “Área Protegida da Zona Húmida da Veiga de S. Simão”, é evidente que não nos iremos debruçar sobre o aspecto científico da obra ora trazida a lume, por nos acharmos intrusos em “seara alheia”, em termos de conhecimentos. Contudo, não queríamos deixar de salientar a forma irrepreensível como foi estruturada, em termos de conteúdos, a primeira parte do livro «Aspectos da biodiversidade na APPLBSPA»: Introdução esclarecedora; O que é a biodiversidade, definida em 1989 pelo Fundo Mundial para a Natureza, esclarecendo o conceito de Zonas Húmidas como “sistemas naturais complexos caracterizados por propriedades biológicas, ecológicas, hidrológicas e científicas únicas, que proporcionam uma gama de valores e serviços à população local e à Humanidade como um todo”; Fauna riquíssima, reproduzindo O esplendor dos insectos (moscas e mosquitos; abelhas e vespas; aranhas; gafanhotos, grilos e louva-a-deus; borboletas; coleópteros; caracóis e lesmas); A graciosa frieza dos répteis; os Mamíferos (ouriço-cacheiro; esquilo; gineta; lontra; toupeira-cega); O fascinante mundo das aves, percorrendo a variadíssima avifauna (cartaxo; gaio; poupa; pombo-torcaz; pombo-doméstico; bico-de-lacre; cia; pintarroxo; melro; pintassilgo; pato-real; galeirão; galinha-de-água; lavandisca-de-alvéola-branca, cinzenta e amarela; chapim-rabilongo, real e azul; dom-fafe; tordo-pinto; lugre; pisco-ferreiro ou rabirruivo; milheirinha ou chamariz; gralha-de-nuca-cinzenta; pega; rola-turca e brava; toutinegra-de-cabeça-preta e barrete; guarda-rios ou martim-pescador; pisco-de-peito-ruivo; pardal-comum; garça-real e branca; açor; bufo-real; águia-de-asa-redonda; maçarico-real; cegonha-branca; gralha-de-nuca-cinzenta; verdilhão; pardal-doméstico), e que fazendo fé na diversidade, estaremos perante um caso único a nível europeu e, quiçá, mundial, terminando com uma descrição curiosa dos ninhos; a Visão, olfacto e outros sensores; Mimetismo, truques e camuflagem; Cópulas (preferimos a designação “acasalamento e reprodução”), que nos leva a compreender a que se deve a extraordinária capacidade adaptativa de certos animais; Outras Espécies; e, por fim, a descrição da Flora exuberante (topismos e sobrevivência; paraíso de plantas medicinais; fungos, cogumelos, líquenes e musgos; esporos, sementes e frutos; flores silvestres), por certo com a imprescindível e sapiente colaboração do nosso particular amigo, de longa data, João Gonçalves da Costa.
             

Para terminarmos, gostaríamos apenas de fazer um pequeno reparo/sugestão, sempre dentro de um espírito construtivo de opinião, ainda que subjectiva, sendo que, segundo Gadamer, “o juízo estético e a produção artística andam de mão dada”: Achamos exagerado conter quatro prefácios, e que a obra – e por forma exclusa em se afirmar “enquanto a história associativa desses rapazes não é escrita, presto-lhes aqui a minha admiração, não podendo esconder o orgulho que tenho em ter feito parte do Grupo” – deveria começar por contar a história do GEICE (Grupo de Estudo e Investigação das Ciências Experimentais) – citando das suas palavras, “é que essa associação cultural-científica nunca teria nascido se não fosse a generosidade de seis jovens limianos (António Mário Lopes Leitão, António Manuel Lemos Dias Rebelo, António Manuel Portela Vilas Boas, Valdemar dos Santos Fernandes, Avelino Jorge Guimarães de Sousa e Castro e Francisco Guilherme de Castro Mendes Gomes) que se uniram num projecto ímpar de ocupação dos tempos livres, o qual teve grande impacto local, regional e nacional, entre 1975 e 1985” –, perpassando pelo seu estado actual (… o quê a nível científico?) e o porquê de ter saído de Ponte de Lima; do papel subsequente do Clube de Vela de Viana e da Associação Amigos do Mar; do incentivo inicial do então Presidente da Câmara, Francisco de Abreu de Lima – Sinto-me quase cúmplice do entusiasmo (mas não do resultado) que animou o António Mário –; do processo oficialmente desencadeado pelo Município de Ponte de Lima, presidido por Daniel Campelo –, por ter conseguido obter junto do Ministro José Sócrates a publicação do Decreto-regulamentar n.º 19/2000, de 11 de Dezembro, o qual consagra a existência jurídica da APPLBSPA (perpetuada a memória, em marco levantado junto à entrada do Centro de Interpretação Ambiental: HOMENAGEM AOS QUE ACREDITARAM / TRIBUTO AOS QUE FIZERAM) –, e depois, sim, como corolário desse pioneirismo na criação do Parque Biológico de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, a publicação da Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos. Aí, por certo que, a nosso modesto ver, e sem desprimor para o Lions Clube de Ponte de Lima, o Município de Ponte de Lima “sentir-se-ia na obrigação” – ou a isso seria obrigado – de editar esta obra.
À parte deste nosso reparo/sugestão estrutural, gostamos da obra e das “palavras últimas” de Mário Leitão, num sinal de préstimo e/ou reconhecimento aos “Bardos” deste rio que nos viu nascer: “Se fosse poeta saberia cantar as maravilhosas aventuras que o Criador me tem permitido viver! / Seria uma bênção acrescida partilhar convosco, sob o melodioso poder dos versos, a recordação de belos dias de emoção nos céus do Minho, nos recantos selvagens do vale do Lima e no silêncio submerso do mar de Viana. / Enquanto não descubro a veia poética, deixo-vos estas 535 fotografias e os nomes de 54 pessoas, entre muitas outras, que partilharam comigo o sonho de criar uma Área Protegida”.
         Estamos-lhe gratos por isso!

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