Friday, June 14, 2013

«Limites da Consciência» em José António Alves!

“Há aqui uma pergunta incrível que poderíamos fazer. É esta: por que razão cada um de nós não é como um sistema leitor de códigos de barras? Os nossos cérebros poderiam ser desse modo, e os nossos sentidos também. De facto, nós poderíamos ser códigos de barras com pernas, com a capacidade de andar por aí sem sentir nada, mas não confundindo as estradas, as portas, as gares das estações de comboio”.

Manuel Curado

O nosso particular amigo José António Alves, investigador no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, onde desenvolve um projecto de doutoramento sobre Edmundo Curvelo; Mestre em Ciência Cognitivas e Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa; Co-organizador do livro Escola de Braga. A Correspondência com Delfim Santos (2011); Bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Educação e Ciência (FCT), acaba de lançar o seu primeiro livro, sob a chancela da “Fronteira do Caos”, com o sugestivo título «Limites da Consciência: o meio segundo de atraso e a ilusão de liberdade», onde temos a possibilidade de constatar “a relação mente-cérebro, o desfasamento temporal da consciência e a sensação de que somos livres são alguns dos enigmas mais notáveis da ciência contemporânea”. Este livro relata as investigações clássicas de Helmholtz e de Benjamin Libet, bem como o debate actual em torno da relação mente-cérebro. É a própria editora que, em sinopse ao mesmo livro, nos questiona: “De quanto tempo precisou o Leitor para sentir consciência do livro que tem na mão? De quanto tempo precisa para compreender o significado das palavras que tem diante de si? Quando um livro lhe desperta emoções, de quanto tempo precisa para sentir essas emoções? Quando circula no meio do trânsito e vê um veículo na sua direcção, de quanto tempo precisa para desviar-se?”, levando-nos à certeza de que Limites da Consciência dá resposta a estas perguntas, tendo em conta que explora o factor temporal da mente humana e a sensação de que somos livres, dizendo “por que razão a consciência está sempre atrasada em relação às coisas que acontecem e analisa, em consequência desse atraso, a ideia polémica de que a liberdade humana é ilusória”.


A primeira apresentação pública deste extraordinário livro, esteve a cargo do Professor Doutor Manuel Curado (Universidade do Minho) – também prefaciador desta obra –, e ocorreu no pretérito dia 11 de Maio, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, Amarante, terra natal de José António Alves. Dividido em dois capítulos: I – O meio segundo de atraso (1. Fenómeno PHI; 2. Hermann Helmholtz: a velocidade dos nervos transmissores; 3. Benjamin Libet: o meio segundo de atraso; 4. Horizontes de simultaneidade; 5. De novo o Fenómeno PHI; 6. Enigmas do Tempo) e II – A ilusão de liberdade (7. A ilusão da liberdade; 8. Determinismo; 9. Daniel Dennett: o Livre-Arbítrio; 10. Vontade de poder), e fazendo nossas as palavras de Manuel Curado (de quem temos o profundo orgulho de sermos seu discípulo), este livro é “um contributo importante para se compreender um dos maiores enigmas da ciência contemporânea. Não se sabe o que faz a mente subjectiva num mundo que é constituído por átomos. A matéria não sente, não experiencia, não acredita e não imagina. Cada um de nós pode escolher na história da arte a sua estátua favorita para fazer o exercício necessário para se ter a experiência do espanto sobre a consciência humana”. E que maneira mais brilhante o autor poderia encontrar para nos chamar à coacção da fragilidade da consciência resultante do estímulo dos sentidos, quando pensamos que os mesmos nunca nos enganam: “Quando pegou no livro que tem nas mãos e o começou a ler não lhe restaram dúvidas de que, simultaneamente ao gesto de pegar no livro e o começar a ler, teve a experiência subjectiva de pegar no livro e o começar a ler. Intuitivamente propende-se a seguir a ideia de existir uma correspondência unívoca entre a estimulação física dos sentidos e a experiência consciente”. E a experiência foi muito interessante, porque estimulados pela liberdade ligada à consciência – Dennett não duvida de que a consciência humana surgiu na natureza para partilhar ideias –, enquanto fruto da evolução biológica e cultural, surgindo “em resposta a uma inovação cultural: a actividade de comunicar crenças e planos e trocar ideias (…), isto transformou muitos cérebros em mentes e a distribuição de autoria tornada possível por esta interconectividade é não somente a fonte da nossa enorme vantagem tecnológica sobre o resto da natureza como da nossa moralidade” – citando Dennett, através de José António Alves.
  

Sem querermos dissimular qualquer tipo ou pretenso “eruditismo filosófico” – qual estatuto de “aprendiz de feiticeiro” ou simples peripatético –, apenas nos apraz registar a certeza de que, se por um lado “tínhamos consciência” de que os sentidos não nos enganam “e muito menos a consciência resultante do estímulo dos sentidos”, ao lermos este livro depressa concluiríamos a fragilidade das nossas convicções. O Professor Manuel Curado, no dia do lançamento, tocaria num dos pontos fulcrais da experiência por nós vivenciada (na leitura) quando afirmou “que a viagem que o livro-bebé que agora nos reúne, Limites da Consciência: O Meio Segundo de Atraso e a Ilusão da Liberdade, começa a fazer só terminará quando não existirem pessoas interessadas nos temas que aborda. Isto é improvável. Vejamos porquê. Teríamos que imaginar com ousadia pessoas para quem já não fosse importante saber por que razão elas próprias não são como os computadores ou os electrodomésticos que têm em casa. Ao contrário destas máquinas, as pessoas sentem alguma coisa, têm emoções, têm um filme a cores a correr dentro de si. Ninguém sabe ainda por que razão somos assim. Qualquer de nós poderia ser como os tais computadores ou electrodomésticos, essas máquinas sofisticadas do nosso tempo. A diferença reside em que nós andamos por aí a sentir, a pensar e a acreditar. Nós até sentimos cócegas! E não há nenhuma máquina no mundo que consiga sentir o que quer que seja, nem uma cócega, nem uma alegria, nem um sonho!”.
Para aguçarmos o apetite aos curiosos como nós, recolectas no reconhecimento da imensidão da nossa própria ignorância, diremos como o Professor Manuel Curado: “o lançamento do livro do Dr. José António Alves não está a acontecer agora; aconteceu há uns tempitos atrás, e só uns tempitos depois é que nós tivemos consciência do lançamento do livro. Nós estamos atrasados em relação ao real, atrasados em relação ao tempo presente”… Limites da Consciência: o meio segundo de atraso e a ilusão de liberdade, uma leitura que se impõe, dado que, no dizer do ilustre prefaciador, “todos nós estamos nas páginas deste livro porque a investigação que ele acompanha ocupa-se de um problema de todos os seres humanos. Um livro sobre nós só pode ser amado do modo próprio e exclusivo em que os livros podem ser amados: sendo lidos, reflectidos, e sendo presenças constantes na nossa vida”.
        Nota máxima!

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