Friday, September 12, 2014

Pintomeira expõe fotografia (somewhere) em Viana do Castelo!...

Somewhere é um álbum de fotografias sobre objectos, um álbum que nos dá a ver composições de objectos, dispostos ordenadamente numa tela, pela mão de um pintor. Trata-se de composições conceptuais, com uma figura de mulher, erotizada, de um modo geral, nus os pés, pernas, braços e ombros, uma figura de longos cabelos, cintilantes…”.

Moisés de Lemos Martins
(Professor da Universidade do Minho)

Depois de termos participado, em 26 de Julho do corrente ano, no «XI Sarau Cultural 2014 PINTOMEIRA» – apesar de nenhuma forma de vida ser por si só totalmente boa, estes maravilhosos encontros permitem-nos reconhecer, e parafraseando Sydney Harris, que a própria vida é a arte de misturar ingredientes em proporções toleráveis, tornando-a melhor – que teve lugar Terreiro das Artes, Estrada de Santiago, Deocriste (Terra de nossos ancestrais), Viana do Castelo, onde assistimos a uma extraordinária conferência do Professor Doutor Mariano Gago, perpassando pela música, poesia, escultura e pintura, forma positiva de contrariarmos o mundo friamente calculista em que vivemos, não podíamos deixar de assistir, no pretérito dia 5 de Setembro, a convite da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, à inauguração da Exposição “Pintomeira Somewhere”, que estará patente ao público, na Galeria desta instituição, até ao dia 5 de Outubro. Era um compromisso obrigatório, pelo facto de não termos podido estar presentes em Braga, aquando a mesma aí esteve patente.
E porque já por várias vezes aqui nos referimos a Pintomeira, enquanto um dos artistas, a par de outros (ainda que muito pucos), da nossa preferência, não nos iremos debruçar sobre o seu riquíssimo percurso no campo das artes, mas expressar, única e exclusivamente, as nossas impressões acerca desta exposição que, como ele faz questão de salientar, marca uma consequente transição da pintura para a fotografia.
Como se pode depreender pelo catálogo, interpretação com a qual corroboramos, SOMEWHERE é, agora, o título escolhido para um trabalho produzido no Estúdio de PINTOMEIRA, com modelos agenciados. A escolha de modelo, neste caso feminino, para o sujeito central deste trabalho fotográfico, foi determinada pelo facto de, na sua pintura, a figura humana ser, na maior parte das vezes, também, o seu elemento principal. Assim, como atrás referimos, a transição da pintura para a fotografia foi consistente e consequente, produzindo, numa e noutra, um trabalho figurativo que está presente em quase toda a sua obra. Estas fotografias, tal como acontece nos seus últimos trabalhos de pintura sobre tela, como é o caso “Interiores – Exteriores” (motivo de uma das nossas anteriores crónicas), têm, também, alguns elementos (influências) das artes gráficas, do design, da publicidade e da pop art.


Esta exposição, composta de quarenta e quatro fotografias, fazem parte trinta e uma a preto e branco e treze a cores. Colaboraram, neste trabalho, quatro modelos agenciadas: Claudia Monteiro, Filipa Vilaça, Rebecca Jager e Angela Silva, e duas modelos não agenciadas: Patrícia Alves e Madalena Magalhães. Como dados técnicos podemos acrescentar que no Estúdio, foram utilizados um fundo branco e um fundo preto; flashes com softboxes octagonais e rectangulares, sombrinhas, beauty dish e reflectores na iluminação; câmara DSLR com sensor de formato FX de 36,3 megapixels e objectivas zoom 24-70mm f/2.8G ED e 28-300mm f/3.5-5.6G ED VR e a prime AFS 50mm f/1.8G. Na edição e pós processamento foram utilizados diversos programas (software).
Levando à letra o título da exposição, em qualquer lugar (somewhere), o que mais (what else) nos impressiona, e aí teremos de concordar com o Professor Moisés Martins, é que “a figura feminina não é distinta dos objectos que compõem o quadro fotográfico, ou pictórico, tanto faz, seja sofás em exposição numa vitrina, caixotes do lixo, ou malas de viagem, seja embalagens de iogurte, escadotes ou bancos de escritório, estendedores de roupa ou baldes de limpeza. Hidrata-se na tela com estes objectos do quotidiano, mistura-se neles, em poses de puro deleite, por vezes não convencionais, numa ligação erótica, dando a ver a publicidade como uma arte que se alimenta do sex-appeal dos objectos e que o reactiva em permanência”. Acrescendo a tudo isto, de facto, a legendagem, em inglês, de muitas das fotografias [então o que? (so what?), deixe ser (let it be), quem se importa (who cares), não importa (never mind), tão longe (so far away), frágil (fragile), sonhadora (dreamily), profundamente (deeply), ir para ele (go for it), sentindo tão cinza (feeling so grey), evidentemente (evidently), altamente (highly), para onde ir (nowhere to go), o que quer (whatever), de jeito nenhum (no way), indo a lugar nenhum (going nowhere), apenas me diga (just tell me), preto no branco (black n white), simplesmente (simply), definitivamente (definitely), positivamente (positively), absolutamente (absolutely), azul sentido (feeling blue), azul verdade (true blue), acho que não (I guess not), dá-me um tempo (give me a break), adivinhem (guess what)], não se cinge à funcionalidade instrumental, mas à abertura do nosso sentido estético-interpretativo, numa abordagem filosófica e sociológica muito pessoal, pensando sempre, tal como para alguns filósofos, que o valor da arte está necessariamente ligado ao prazer ou à satisfação, porque, argumentam, dizer que uma obra é boa é o mesmo que dizer que é agradável ou aprazível. A «agradabilidade» defendida por David Hume, por exemplo: “Procurar a verdadeira beleza, ou a verdadeira deformidade, é uma investigação infrutífera, como seria procurar o verdadeiro doce ou o verdadeiro amargo”, encontra eco nesta SOMEWHERE.
 Gostamos muitíssimo, e isso nos basta para acusarmos a nossa fruição com a Arte de Pintomeira. Transpondo as interrogações Guida Loureiro para afirmações, diremos que Pintomeira desnuda a luz, o tempo, o carácter, a objectiva do ser e do acontecer. E sendo no feminino, a emoção é ainda maior.       
          NOTA MÁXIMA!

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