“Somewhere é um álbum de fotografias
sobre objectos, um álbum que nos dá a ver composições de objectos, dispostos
ordenadamente numa tela, pela mão de um pintor. Trata-se de composições
conceptuais, com uma figura de mulher, erotizada, de um modo geral, nus os pés,
pernas, braços e ombros, uma figura de longos cabelos, cintilantes…”.
Moisés de Lemos Martins
(Professor da Universidade do
Minho)
Depois de termos
participado, em 26 de Julho do corrente ano, no «XI Sarau Cultural 2014
PINTOMEIRA» – apesar de nenhuma forma de vida ser por si só totalmente boa,
estes maravilhosos encontros permitem-nos reconhecer, e parafraseando Sydney
Harris, que a própria vida é a arte de misturar ingredientes em proporções
toleráveis, tornando-a melhor – que teve lugar Terreiro das Artes, Estrada de
Santiago, Deocriste (Terra de nossos ancestrais), Viana do Castelo, onde
assistimos a uma extraordinária conferência do Professor Doutor Mariano Gago,
perpassando pela música, poesia, escultura e pintura, forma positiva de
contrariarmos o mundo friamente calculista em que vivemos, não podíamos deixar
de assistir, no pretérito dia 5 de Setembro, a convite da Santa Casa da
Misericórdia de Viana do Castelo, à inauguração da Exposição “Pintomeira
Somewhere”, que estará patente ao público, na Galeria desta instituição, até ao
dia 5 de Outubro. Era um compromisso obrigatório, pelo facto de não termos
podido estar presentes em Braga, aquando a mesma aí esteve patente.
E porque já por várias
vezes aqui nos referimos a Pintomeira, enquanto um dos artistas, a par de
outros (ainda que muito pucos), da nossa preferência, não nos iremos debruçar
sobre o seu riquíssimo percurso no campo das artes, mas expressar, única e
exclusivamente, as nossas impressões acerca desta exposição que, como ele faz
questão de salientar, marca uma consequente transição da pintura para a
fotografia.
Como se pode depreender
pelo catálogo, interpretação com a qual corroboramos, SOMEWHERE é, agora, o
título escolhido para um trabalho produzido no Estúdio de PINTOMEIRA, com modelos
agenciados. A escolha de modelo, neste caso feminino, para o sujeito central
deste trabalho fotográfico, foi determinada pelo facto de, na sua pintura, a
figura humana ser, na maior parte das vezes, também, o seu elemento principal.
Assim, como atrás referimos, a transição da pintura para a fotografia foi consistente
e consequente, produzindo, numa e noutra, um trabalho figurativo que está
presente em quase toda a sua obra. Estas fotografias, tal como acontece nos
seus últimos trabalhos de pintura sobre tela, como é o caso “Interiores –
Exteriores” (motivo de uma das nossas anteriores crónicas), têm, também, alguns
elementos (influências) das artes gráficas, do design, da publicidade e da pop
art.
Esta exposição,
composta de quarenta e quatro fotografias, fazem parte trinta e uma a preto e
branco e treze a cores. Colaboraram, neste trabalho, quatro modelos agenciadas:
Claudia Monteiro, Filipa Vilaça, Rebecca Jager e Angela Silva, e duas modelos
não agenciadas: Patrícia Alves e Madalena Magalhães. Como dados técnicos
podemos acrescentar que no Estúdio, foram utilizados um fundo branco e um fundo
preto; flashes com softboxes octagonais e rectangulares, sombrinhas, beauty
dish e reflectores na iluminação; câmara DSLR com sensor de formato FX de 36,3
megapixels e objectivas zoom 24-70mm f/2.8G ED e 28-300mm f/3.5-5.6G ED VR e a
prime AFS 50mm f/1.8G. Na edição e pós processamento foram utilizados diversos
programas (software).
Levando à letra o
título da exposição, em qualquer lugar (somewhere), o que mais (what else) nos
impressiona, e aí teremos de concordar com o Professor Moisés Martins, é que “a
figura feminina não é distinta dos objectos que compõem o quadro fotográfico,
ou pictórico, tanto faz, seja sofás em exposição numa vitrina, caixotes do
lixo, ou malas de viagem, seja embalagens de iogurte, escadotes ou bancos de
escritório, estendedores de roupa ou baldes de limpeza. Hidrata-se na tela com
estes objectos do quotidiano, mistura-se neles, em poses de puro deleite, por
vezes não convencionais, numa ligação erótica, dando a ver a publicidade como
uma arte que se alimenta do sex-appeal dos objectos e que o reactiva em
permanência”. Acrescendo a tudo isto, de facto, a legendagem, em inglês, de
muitas das fotografias [então o que? (so what?), deixe ser (let it be), quem se
importa (who cares), não importa (never mind), tão longe (so far away), frágil
(fragile), sonhadora (dreamily), profundamente (deeply), ir para ele (go for
it), sentindo tão cinza (feeling so grey), evidentemente (evidently), altamente
(highly), para onde ir (nowhere to go), o que quer (whatever), de jeito nenhum
(no way), indo a lugar nenhum (going nowhere), apenas me diga (just tell me),
preto no branco (black n white), simplesmente (simply), definitivamente
(definitely), positivamente (positively), absolutamente (absolutely), azul
sentido (feeling blue), azul verdade (true blue), acho que não (I guess not),
dá-me um tempo (give me a break), adivinhem (guess what)], não se cinge à
funcionalidade instrumental, mas à abertura do nosso sentido
estético-interpretativo, numa abordagem filosófica e sociológica muito pessoal,
pensando sempre, tal como para alguns filósofos, que o valor da arte está
necessariamente ligado ao prazer ou à satisfação, porque, argumentam, dizer que
uma obra é boa é o mesmo que dizer que é agradável ou aprazível. A
«agradabilidade» defendida por David Hume, por exemplo: “Procurar a verdadeira
beleza, ou a verdadeira deformidade, é uma investigação infrutífera, como seria
procurar o verdadeiro doce ou o verdadeiro amargo”, encontra eco nesta
SOMEWHERE.
Gostamos muitíssimo, e isso nos basta para
acusarmos a nossa fruição com a Arte de Pintomeira. Transpondo as interrogações
Guida Loureiro para afirmações, diremos que Pintomeira desnuda a luz, o tempo,
o carácter, a objectiva do ser e do acontecer. E sendo no feminino, a emoção é
ainda maior.
NOTA MÁXIMA!
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