«São predadores de si mesmos nas guerras
internas dos partidos. Os maiores engolem os mais pequenos nesta cadeia
alimentar que vai do topo até à base…»
Vítor Matos
Tendo em conta que
nunca fomos dados à moleza de nos deixarmos influenciar pelos “objectores de
consciência”, presença diária nas programações de “lixo não reciclável” da TV,
colocamos a nossa exigência de leitura, observação e reflexão, em algo que possua
alguma credibilidade científica e intelectual. Não temos por hábito de beber em
fontes de águas inquinadas, o que equivale dizer que retemperamos a mente com
palavras e letras desparasitadas.
Depois de terem ficado
para trás seis livros de leitura aturada, devidamente por nós anotada e
comentada – a saber: «Mudar» de Pedro Passos Coelho; «Portugal na hora da
verdade: como vencer a crise nacional» e «Reformar sem medo: um independente no
Governo de Portugal» de Álvaro Santos Pereira; «E agora? A crise do Euro – As Falsas
Reformas – O futuro de Portugal» de Pedro Adão e Silva; «Da corrupção à crise:
Que fazer?» e «Janela do Futuro» de Paulo Morais –, concentramos a nossa
atenção, desta vez, no livro «Os Predadores», do jornalista de política na
revista “Sábado”, Vítor Matos, onde procura dar-nos a conhecer, numa
investigação jornalística independente, tudo o que os políticos fazem para
conquistar o poder e como os grandes partidos põem em perigo a democracia em
Portugal.
Embora todas as
investigações possam ter alguma carga de subjectividade, o que nos obriga a
precavermo-nos de uma possível influência e/ou manipulação objectiva, não
descoramos a nossa imparcialidade de análise aos conteúdos, que ora se
apresentam neste livro, no dizer do autor, como “um impulso jornalístico de
revelar as lógicas de funcionamento dos dois grandes partidos de poder em
Portugal”, deixando de fora a pequena clonagem (PP) que deu forma e
consistência à desarticulada Coligação de direita, mas tão bem tratada no
último livro de Álvaro Santos Pereira, «Reformar Sem Medo»: Sei bem que uma das razões que motivou
muitos dos ataques de que fui alvo ao longo de dois anos de governação
prende-se certamente com a independência do Ministro e dos Secretários de
Estado. Os lóbis nunca tiveram a minha simpatia. Os aparelhistas partidários
também não. No meu Ministério os lóbis ficaram à porta. E os aparelhistas nunca
encontraram na nossa equipa quem lhes desse ouvidos (p. 223). Daí, a sua
demissão, para dar lugar a um dos aparelhistas, sem que ficasse à porta das
Portas: Saí de Berlim convencido de que
era muito provável que Paulo Portas reivindicasse para si o Ministério da
Economia, não só porque essa era uma ambição sua desde o primeiro dia, mas
também porque era preciso desviar as atenções sobre o dano que tinha sido
causado ao país… (p. 330). Mais palavras serão desnecessárias acrescentar,
para não entendermos a ausência de um dos predadores, nesta investigação
jornalística que se diz independente
Voltando à vaca-fria d’Os Predadores, sem que estejam à espera
que venhamos a esmiuçar todo o seu conteúdo, damos-lhe o aval de alguma
credibilidade da nossa parte, tendo em conta o nosso permanente alerta, em
anteriores crónicas, para as chapeladas, manipulações e outras vigarices que os
políticos fazem para conquistar o poder. De facto, tem razão o autor, quando
afirma que “não vale a pena procurar culpados, porque não há inocentes. Quem
faz política tem de jogar segundo as regras do jogo. E as regras são estas.
Quem não as aceitar sai fora, é expelido como um corpo estranho. Quem fica tem
de hipotecar alguma coisa pelo caminho”.
Já António José
d’Almeida, aquele que viria a ser Presidente da República, escrevera em 1910,
na revista Alma Nacional, que «o
caciquismo não é um acessório do regime. É o próprio regime. Ou pelo menos está
para o regime como o coração está para o organismo que bate: é o aparelho
distribuidor da energia e da acção». E este cardápio de requisitos (os votos
não têm dono, mas têm trela), sempre actual e eficaz, também se estende às
regiões e às autarquias.
Nas últimas eleições
legislativas deu para perceber – palavras com as quais corroboramos – que “a
luta política é uma espécie de guerra e se as eleições são batalhas entre
opostos, os lugares no Estado são os despojos a que o vencedor tem direito”. Se
é que houve vencedor nas últimas legislativas. A dicotómica divisão
(Esquerda/Direita), nomeadamente dos votos com trela, fez-nos reler a velha
alegoria d’A MONTANHA PARIU UM RATO. Entretanto, o regime do caciquismo vai oxigenando
a falta de ar dos predadores. Até quando? Não se sabe.
A procissão ainda vai no adro!
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