«O
homem nunca poderá vir a ultrapassara sua “verdadeira essência”. Bem pode
imaginar, por meio da fantasia, indivíduos de uma outra espécie supostamente
superior, mas nunca poderá abstrair do seu género, da sua essência…»
Ludwig Feuerbach
Tal como
escrevemos há oito anos, por altura no 98.º Aniversário do jornal CARDEAL
SARAIVA, e por acharmos que as anacrónicas circunstâncias em nada mudaram ao
longo deste oito anos – com passagem pelo centenário em 2010 –, voltaremos a
repetirmo-nos pela afirmação de que, inevitavelmente, o homem é o responsável
pelas transformações físicas dos espaços onde gravita; onde mastiga e dejecta –
“defeca”, para os mais desprevenidos, morfologicamente –; onde se relaciona ou hostiliza,
cuspindo, circunstancialmente, no prato que outrora tenha comido; onde se
masturba ao sabor das preeminentes necessidades; onde faz amigos e os mastiga
como pastilhas elásticas (saborosas, enquanto detentoras da goma “melificada”);
onde avança e recua, em moldadas projecções do homem pelo homem; onde, ilusoriamente,
pensa eternizar-se em “poderes” efémeros, cintados por espartilhos revestidos a
chita (ordinário tecido, apenas aureolado pelas cores); onde se banqueteia,
chafurdando no seu próprio lameiro. Contudo, homens há que, por se não deixarem
ludibriar, são grandes no seu tempo e, intelectualmente, eternos na sua
essência. Os seus nomes permanecem no tempo – e para lá do tempo –, pelos seus
pensamentos, verticalidade de carácter e, sobretudo, subtileza, essa sublime
finura que só se consegue através de muita humildade e respeito pelos outros.
Será o eterno confronto entre o heroísmo de uns e a cobardia de outros; entre a
vassalagem viscosa de muitos e a fidelidade transparente de uns poucos.
Vem isto a
propósito – neste dia de aniversário (seis depois do centenário) –, da
necessidade de nos “colarmos” à figura de D. Francisco Saraiva [N. Ponte de
Lima, 1766 – m. Lisboa, 1845], insigne limiano tão ostracizado pelo poder local
e não só, um dos pais da Constituição Liberal de 1820, reitor da Universidade
de Coimbra (1821), guarda-mor da Torre do Tombo, conselheiro de Estado,
presidente das cortes, ministro e secretário de Estado, Cardeal-patriarca de
Lisboa, para acendermos as cento e seis velas do jornal CARDEAL SARAIVA. Esta
figura ímpar da cultura limiana é o patrono do centenário órgão de informação
regional, cujo passado se reveste de um ideal de luta pelos mais amplos
direitos e liberdades das gentes do Alto Minho. Só por isso – e mesmo que haja gente
que tem medo da sua própria sombra, que tema quem pensa pela sua própria cabeça
e/ou se dê ao trabalho de ouvir as vozes dos amordaçados –, vale a pena
desempoeirar as arrelias de circunstância e pensar que o homem é circunstância
da sua própria existência. Só se eternizarão aqueles que cultivarem a
verticalidade de carácter, de que são exemplo, entre outros, os nossos Cardeal
Saraiva, António Feijó, Norton de Matos, Júlio de Lemos, Teófilo Carneiro,
António Ferreira, Domingos Tarrozo, Conde d’Aurora, Aníbal Marinho, Augusto
Castro Sousa, entre outros, o que seria fastidioso aqui enumerar.
Neste dia de aniversário, aqui vai um abraço do tamanho do mundo a todos
aqueles que continuam a ler, a laborar e/ou a elaborar o jornal CARDEAL
SARAIVA. Mesmo com todos os obstáculos ou contratempos, vale a pena acreditar
nas causas da liberdade, da democracia, da verdadeira essência humana. Ainda
que permaneça o drama dos cardeais!...
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