«O jornalista e especialista em vinhos José
António Salvador morreu domingo, 31 de Janeiro, na sequência de problemas
cardíacos. Salvador trabalhou em diversos jornais, na SIC e foi, até há poucos
meses, colaborador da VISÃO. Durante vários meses chegou a estar internado, em
Paris e em Lisboa, e estava actualmente à espera de um transplante de coração.
Recentemente, voltou a ser internado com alguns problemas de saúde,
identificados após uma consulta de rotina. Viria a falecer vítima de paragem
cardíaca.…»
Visão, 1.02.2016 às 12h19
Há pessoas que passam
pela nossa vida e que nos marcam profundamente, mormente quando falamos pela
força do carácter, sentido ético e expressão viva de um acto permanente de
humildade, só visível nos “maiores e mais bem formados intelectualmente”, e
solidariedade para com os outros. Uma dessas pessoas era, precisamente, José
António Salvador, jornalista apaixonado pela enofilia e a obra de Zeca Afonso.
Foi «Zeca Afonso – Livra-te do Medo», sua última obra, que nos levaria a
estabelecer a ponte da amizade, ao ponto de termos feito a sua apresentação em
Viana do Castelo (acto referido, à data, em anterior crónica), e que mereceu da
parte do José Salvador um imerecido autógrafo, pecadoramente elogioso: «Para o Porfírio Silva com um abraço de
gratidão pelo modo como apresentou este livro… (ass.)». Foi para nós
extremamente gratificante este encontro, em Abril de 2014. Comemorava-se os 50
Anos da «Grândola, vila morena» (1964-2014).
Sem mais rodeios, vamos
ao que interessa: José António Salvador nasceu em Espinho em 1947, frequentou a
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde integrou a Direcção Geral
da Associação Académica de Coimbra durante a crise estudantil de 1969.
Jornalista a partir deste ano iniciou a sua actividade profissional no
«Comércio do Porto». Foi também colaborador do jornal «A Voz Portucalense,
órgão da Diocese do Porto, fundado por D. António Ferreira Gomes, após o seu
regresso do exílio em 1969.
Integrou sucessivamente
as redacções dos jornais «Diário de Lisboa» (1976/75), «República» (1975),
«Gazeta da Semana» (1976/77), «Nô Pintcha» (Guiné-Bissau – 1977/78), «Diário
Popular» (1978/1988 com interregnos nos países lusófonos), «Voz di Povo» (Cabo
Verde – 1984), agência de noticias ANOP (também na Guiné-Bissau, 1985/86) e «O
Jornal» (1988/1992) antes de ingressar na SIC. Foi também colaborador da BBC (a
partir da Guiné-Bissau para o serviço de África daquela estação britânica,
enquanto dirigiu a ANOP em Bissau) e do semanário «Expresso», onde iniciou as
suas crónicas semanais de vinho (1980). Actualmente publicava na revista
«Visão» uma crónica semanal sobre vinhos desde 2001.
No «Diário Popular» dedicou-se
sobretudo à temática cultural, tendo coordenado o suplemento literário daquele
vespertino lisboeta. Neste período entrevistou José Saramago, João Hogan, Júlio
Pomar, António Ramos Rosa, Luiza Neto Jorge, José Afonso, José Mário Branco e
Fausto, entre outros.
Em 1992, foi fundador
da SIC, onde durante dois anos programou a informação. Desenvolveu
posteriormente a cobertura jornalística de temas culturais até 2002, período
durante o qual entrevistou Paula Rego, Costa Pinheiro, Graça Morais, René Bértholo,
João Vieira, Jorge Martins, Siza Vieira, Júlio Resende, João Cutileiro, João
Botelho, Vitorino, Janita Salomé, Sérgio Godinho, Camané, Cruzeiro Seixas, Sá
Nogueira, Eugénio de Andrade, Germano Almeida, Urbano Tavares Rodrigues, Alice
Vieira, Cláudio Torres, José Manuel Rodrigues, Eduardo Gageiro, José Maria
Soares Franco, João Portugal Ramos, António Agrellos e outros. Durante esta
década, assinou também quatro grandes reportagens/documentários, em 1994, sobre
o Verão quente («À lei da bomba – do 25 de Abril à rede bombista», esta
reportagem em parceria com Celestino Amaral), sobre as FP 25 de Abril – à lei
da bomba»), sobre a PIDE-DGS (PIDE-DGS, policia sem lei») e «11 de Março – a
matança da Páscoa». Durante este período ainda sobressaem os seus roteiros
etno-gastronómicos e de vinhos emitidos semanalmente na SIC desde 1994 a
Novembro de 2002, realizou mais de duas centenas de roteiros semanais sobre
gastronomia e vinhos emitidos às sextas-feiras, com a rubrica «Roteiros de
fim-de-semana».
Em 2003 realizou uma
série de 50 roteiros de Portugal para a RTP sobre vinhos, gastronomia e
património nacionais, transmitidos nos quatro canais da televisão pública (RTP
Internacional, RTP África, RTP N e RTP 2) entre 2003 e 2006.
Na literatura de vinhos
e gastronomia publicou também 13 roteiros anuais dos vinhos portugueses (de
1991 a 2003 inclusive) sob o título «Roteiros dos vinhos portugueses», e quatro
«Roteiros gastronómicos» (2002 a 2003).
A editora Terramar
publicou em 1993 o «Roteiro de vinhos da Bairrada». O jornal Público editou e
distribuiu «Os 100 melhores vinhos portugueses» de 1997 a 2000 e o Jornal de
Noticias publicou em 2005 o seu livro «16 castas portuguesas». Além disso
escreveu três álbuns sobre vinhos portugueses «O livro dos vinhos», (com fotografias
de Luís Ramos) da editora Fragmentos, Lisboa, 1989; «Os grandes vinhos
portugueses», editora Livros Cotovia, Lisboa, 1987 e «Os autores dos grandes
vinhos portugueses», edições Afrontamentos, Porto 2003.
Publicou o livro
«Livra-te do medo – Estórias & andanças do Zeca Afonso», edição Regra do
Jogo, Lisboa, 1984; «Zeca Afonso – O rosto da utopia», edições Afrontamento, 4ª
edição, Porto, 2006; «Cabo Verde – Viagem pela história das ilhas», com Germano
Almeida (texto) e José A. Salvador (fotos), Editorial Caminho, Lisboa, 2004;
«Portugal, vinhos, cultura e tradição, obra em seis volumes, edição Circulo de
Leitores, Lisboa, 2006-7; «Douro, rio de patrimónios, edição CTT, Lisboa, 2012
e «Zeca Afonso – Livra-te do Medo» - 1964-2014 - 50 anos Grândola.
O Clube de Imprensa
distinguiu-o por duas vezes, em 1987 e 1991, com o 1º Prémio Viagem pelas
reportagens «Tejo, por este rio a cima» e «Cabo Verde, o sonho das ilhas»,
publicadas respectivamente no «Expresso» e em «O Jornal».
A Academia Portuguesa
de Gastronomia atribuiu-lhe o Prémio Cultural e Literatura Gastronómica 2004
pelo conjunto da sua obra na área dos vinhos e da gastronomia.
O José António Salvador
desencarnou em 31 de Janeiro de 2016, realizando-se o seu funeral na
terça-feira, 2 de Fevereiro, às 13 horas, saindo da Igreja de S. João de Deus,
à Praça de Londres, em Lisboa (onde o seu féretro esteve em câmara-ardente),
para o Cemitério dos Olivais.
Descansa em paz, bom
Amigo José A. Salvador.
ATÉ SEMPRE!
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