«Sugestivo título este “Liberdade com
legendas”, encerrando em si uma aparente contradição que se sustenta da
antítese entre a possibilidade múltipla da imagem e o condicionamento da
palavra…»
Maria José
Guerreiro
Integrada num projecto
liderado por Rui A. Faria Viana, chefe de Divisão de Biblioteca e Arquivo
Municipais, e tendo como director artístico e coordenador o conceituado artista
vianense Tiago Manuel, foi inaugurada, no pretérito dia 21 de Janeiro (Sábado),
na Ala Jorge Amado da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, a oitava
exposição da “obra gráfica de um artista”. Como fez questão de salientar Rui A.
Faria Viana, este projecto, iniciado em Maio de 2013, já fez passar por Viana
do Castelo artistas como Tiago Manuel, João Fazenda, André Carrilho, Luís
Manuel Gaspar, Cristina Valadas, João Vaz de Carvalho, Isabel Baraona e, agora,
Miguel Rocha, de seu nome completo Miguel João Pinheiro Soares Rocha, nascido
em Lisboa em 1968.
Miguel Rocha, enquanto
ilustre artista (ilustrador e autor de banda desenhada), passou a infância em
Alhandra, regressando depois a Lisboa onde vivenciou a juventude, estudando na Escola António Arroio e na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Começou por trabalhar na área da ilustração, publicidade e artes gráficas e fez
a paginação de Selecções BD, I Série
(1988-1991), enquanto foi desenvolvendo os seus primeiros trabalhos. Estreou-se
mais tarde, mais concretamente em 1997, como autor de BD. De lá para cá o seu
trabalho tem vindo a ser publicado e mereceu vários prémios no Amadora BD – Festival Internacional de Banda
Desenhada da Amadora (FIBDA), festival que lhe dedicou uma exposição
retrospectiva em 2001.
Rui A. Faria Viana
referiu ainda, como preceito da elevada dimensão artística de Miguel Rocha, a
autoria do cartaz oficial do Campeonato
Europeu de Futebol, UEFA Euro 2004.
Tiago Manuel, como director
artístico e coordenador do projecto, acrescentou que não basta trazer um
artista de referência sem ter uma preocupação de trazer um autor cuja obra faça
sentido na programação e no crescimento intelectual dos públicos, nomeadamente os
públicos estudantis e até os académicos. Reforçou ainda a ideia de que a obra
de Miguel Rocha está ligada à mensagem dos homens, principalmente à BD de
intervenção, sem ser panfletária, mas de intervenção. Para o director artístico
e coordenador do projecto, há uma evidente preocupação no artista Miguel Rocha
de fazer um trabalho, mas também marcado pela ética.
Na voz activa e
sapiente dos artistas, gostamos da cumplicidade de José Miguel Gervásio quando
escreveu que a culpa é do lápis. «A
dimensão disto tudo que se vê, é coisa da porra do lápis. Digo eu, que percorro
vezes sem conta o contra caminho que tu fazes no subir. É quase igual, o meu ao
teu, mas de sentido oposto. O meu caminho tem outros percalços, levo outras
coisas em mãos, o coração cheio de outros enfados. As descidas extraordinárias
que fazem os fins de tarde desaparecer engolidos pelo sol, as árvores, pá, ao
fundo, à mão de se lhes pegar pequeninas. O mesmo ar lêvedo e, no entanto, a
aridez substancia-se diferente. Diferente na essência, quero eu dizer. O meu
lado é mais seco. Tem menos palavras que o teu. O teu percurso tem mais bocas.
A essência é o sumo deste jogo que eu jogo na corrente que desce. Isto é um
jogo que merece ser jogado…» – citamos do texto do catálogo. Percebemos
perfeitamente, quando essa cumplicidade entre artistas assenta no lápis,
enquanto instrumento do silêncio, colhendo magia.
Para nós, foi uma manhã maravilhosamente
preenchida, principalmente quando aquilo que se faz assenta em noções e métodos
de trabalho: preparação, medida e determinação de tempos, decomposição do trabalho
e observações instantâneas. A inauguração da exposição de Miguel Rocha,
«liberdade com legendas (obra gráfica editada em livros)», foi um excelente
exercício de linguagem expressiva, tendo em conta que o uso imaginativo e talentoso
da linguagem pode entreter-nos e deliciar-nos. Até na liberdade com legendas,
ligada à imagem específica ou à expressão memorável. Dentro da nossa
"Douta Ignorância", foi uma manhã de magnânima experiência emocional,
porque foram usadas palavras, desenhos e movimento que deram corpo à relação
entre o artista e o público, no qual nos incluímos.
Palavras, imagens e
movimento, a Arte como actividade humana que consiste em
o artista passar a todos nós, intencionalmente e, neste caso, por meio de
sinais externos, sentimentos que viveu e de nós sermos infectados pelos seus
sentimentos, por forma a experimentá-los também. Miguel Rocha conseguiu-o,
porque sentimo-lo.
Obrigatoriamente, uma
exposição a visitar, até ao dia 8 de Julho de 2017.
NOTA MÁXIMA!
1 comment:
Sem dúvida uma exposição a não perder.
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