“Cada
um de nós está neste mundo como um templo. Eu quero ser este templo habitado
por Deus, este espaço sagrado porque quero ser pedra viva da Igreja, da
Comunidade. Que cada um desta comunidade se envolva numa dinâmica de comunhão,
como sendo, a seu modo, pedra viva que faz este novo Templo”.
Pe. Artur Coutinho
Tal como aconteceu com
Étienne Gilson (1884-1978) – filósofo e historiador da filosofia, exegeta da
Bíblia e da filosofia da Idade Média –, também nós nos questionamos
permanentemente, quando nos posicionados na ponte entre «Deus e a Filosofia», tema
que deu título a uma das inúmeras obras publicadas por este já desaparecido
filósofo, que chegou a guiar-nos através da evolução das doutrinas filosóficas
sobre Deus, considerando este aspecto – a ponte entre Deus e a Filosofia – como
o maior de todos os problemas metafísicos. Abordou temas como o problema das
causas finais, talvez o problema mais habitualmente discutido pelos agnósticos
modernos; o problema do “SER” e por que há alguma coisa em vez de nada
(Leibniz); a hostilidade manifestada por uma ciência inteiramente matematizada
em relação ao acto irredutível da existência; a aniquilação do mundo material
por Deus, sem afectar de modo algum o nosso conhecimento científico dele; a
questão da atribuição de uma propriedade misteriosa chamada “existência”; o
valor do argumento na base do desígnio; o conceito estrutural de existência; e,
finalmente, o facto de que, para Étienne Gilson, “toda e qualquer energia
existencial, toda e qualquer coisa que exista depende, para existir, de um puro
Acto de existência”.
Mas, não foi com este
“desígnio”, de nos mantermos na ponte questionável entre Deus e a Filosofia,
que resolvemos aceitar o convite do Pe. Artur Coutinho (nosso parente por
afinidade) para assistirmos à Cerimónia de Dedicação da Igreja da Sagrada
Família, templo esse que passa a ser o maior do Alto Minho, com capacidade para
1400 pessoas, pensado para funcionar com um serviço de «babysitting», com salas
insonorizadas. Neste tão semblante acto ritual, moveu-nos tão só – como se mais
não bastasse – o espírito de solidariedade e de partilha, comungando, ao mesmo
tempo, das palavras do nosso grande amigo e conterrâneo, Pe. Artur Coutinho:
“Aqui, neste edifício dedicado à Sagrada Família, hoje e sempre, quero escutar,
saborear em Comunidade a Palavra de Deus, comungar e vivê-la no dia-a-dia da
minha vida”.
Sem mais palavras, e
apesar de compreendermos alguma apreensão por parte de pessoas exteriores à
dinâmica da paróquia – visualizadores do estado físico (quando se fala da obra
avaliada em cerca de três milhões de euros), sem interiorizarem aquilo que não
é explicável, mas que impulsiona a chamada “fé” de milhares de pessoas –,
apenas nos apraz registar a multifuncionalidade de tão importante
empreendimento, que inclui um espaço para acolhimento temporário de crianças
abandonadas e um centro de dia (já em funcionamento há mais de quatro anos),
ficando a faltar a conclusão das valências dedicadas a projectos educativos e
recreativos. Saliente-se o facto de que os avultados custos foram totalmente
suportados pelos paroquianos de Nossa Senhora de Fátima, com contributo de
amigos, sacerdotes e bispos da região, sendo que o único investimento externo
foi o terreno, atribuído pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, com a
condição de servir também para a realização de actividades sociais e culturais.
E isso, também já tem vindo a acontecer.
Registe-se apenas algumas
curiosidades, tomando por deferência as palavras de agradecimentos do Pe. Artur
Coutinho, que ajudam a desmistificar alguma detracção em tempo de crise: “a
todos os paroquianos e amigos, e a todo o povo de Deus desta Paróquia, exemplo
de fé e generosidade, que com as suas dádivas, trabalho e entusiasmo foram um
decisivo contributo para a realização duma obra que enobrece e prestigia esta
Comunidade”; “aos arquitectos Faro Viana (autor do projecto e responsável numa
primeira fase) e Sebastião Meireles que numa fase posterior o concluiu; à
empresa Pormin pela elaboração dos projectos gerais e específicos; ao gabinete
do Eng.º Jorge Torres que fiscalizou e acompanhou a obra; às empresas de
construção Aurélio Martins Sobreiro e Habitilima, seus gerentes e todos os
trabalhadores que puseram de pé o templo”, etc., etc. Ainda segundo o Pe. Artur
Coutinho, ilustre pároco de Nossa Senhora de Fátima (coincidência ou não, é
cidadão de mérito de Viana do Castelo), a concretização deste projecto
contribuiu para o reforço da “coesão, da solidariedade e da participação” dos
fiéis, ao mesmo tempo que “arrasta consigo um apelo à mudança interior”.
Para terminar, esperamos, sinceramente, que o templo exterior (físico),
ora inaugurado, se matize na força da pura razão natural, a emergência de um
caudal de vida que culmine no homem. Aí, estaremos cá para aplaudir!
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