Thursday, October 04, 2012

Desencarnou o Professor António Eugénio Peixoto, um dos maiores impulsionadores e apaixonados pelo debate filosófico.


“Há três espécies de homens com os quais é útil ligarmo-nos pela amizade: os homens justos, os homens sinceros e os homens que muito aprenderam”.

Confúcio

Ao início da tarde do dia 29 de Setembro de 2012, pela voz de um dos nossos inesquecíveis mestres (assim o designamos pelo facto de todos nós – discentes pioneiros do Curso de Filosofia na Universidade do Minho – nos acharmos simples peripatéticos), Professor José Marques Fernandes, recebemos a triste – já há algum tempo esperada – notícia da desencarnação (preferimos à macabra designação da morte) do Professor António Eugénio Correia Braga Peixoto, emérito intelectual bracarense e Assistente Convidado em Regime de Requisição Especial na Universidade do Minho, onde foi nosso professor, nomeadamente nos “cadeirões” de Filosofia Moderna e Contemporânea. Tal acontecimento é deveras constrangedor, principalmente para todos nós que com ele convivemos afincadamente, debatendo as fronteiras do pensamento entre Idade-Média, Idade Moderna e Contemporânea, superando – mesmo aquando de algumas crispações da nossa parte, pelo formulado e/ou pretenso (ir)reconhecimento da nossa própria ignorância –, ao mesmo tempo, as teorias do conhecimento, da ciência e da lógica, a “crítica da razão pura”, a ética, estética, dialéctica, lógica e analítica transcendentais, e o imperativo categórico em Immanuel Kant (filósofo de “charneira” para este memorável professor); o “mundo como vontade e representação” em Arthur Schopenhauer; o idealismo e o materialismo alemães, perpassando por Fichte, Hegel e Karl Marx; a oposição de Kierkegaard a Hegel; a “origem da tragédia” em Friedrich Nietzsche, etc., etc… Belos debates, lições acutilantes, por parte de quem tinha uma desmesurada paixão pela leccionação das disciplinas de Filosofia e pelo próprio debate filosófico. Não é por acaso que estava indelevelmente ligado à criação e animação da “Comunidade de Leitores de Filosofia”, da qual era o seu coordenador. 
             

O Professor António Eugénio Correia Braga Peixoto, nascido na Bracara Augusta, em 3 de Julho de 1953, era licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pós-graduado pela Universidade do Minho em Filosofia da Educação e doutorando desta Universidade, nela tendo leccionado as disciplinas de Filosofia Social e Política, de História das Ideias Políticas e Sociais, Paradigmas Políticos Contemporâneos, na área de Filosofia Política; na área de Filosofia e Cultura Portuguesa as de Mentalidade e Cultura Portuguesa, de Pensamento Político Português e de Ideias e Estéticas no Portugal Contemporâneo. Por isso, as áreas de interesse do Professor Eugénio Peixoto, gravitavam à volta do Pensamento Social e Político, nomeadamente, nos seus reflexos (recepção e difusão) na cultura portuguesa dos séculos XIX e XX, e na área das mentalidades e da cultura portuguesa.


Outro dos factos relevantes na vida deste incansável professor era o de ele ter sido membro da Comissão Coordenadora do Curso Livre de Preparação para o Exame “Ad Hoc”, responsável pela sua implantação e organização. Em Outubro de 2007, escreveríamos na nossa crónica semanal “Impressões”, num dos jornais regionais – felizmente, um dia destes, ressurgirá das cinzas, qual “fénix” se materializará no “Falcão do Minho” – que colaborávamos, com o título «Universidade do Minho: antigos exames “Had Hoc” dão lugar a Cursos Livres de Preparação», realçando o papel preponderante (de líder) do Professor Eugénio Peixoto na iniciativa pioneira de criar Cursos Livres de Preparação para todos aqueles que pretendessem candidatar-se ao Ensino Superior. Destacávamos, também, o facto da Universidade do Minho, através do seu Conselho Académico, ter criado, no ano lectivo de 2003/2004, um Curso Livre de Preparação para o “Exame Extraordinário de Acesso ao Ensino Superior”, com base no desafio das sociedades modernas de informação e de formação ao longo da vida. Soubemos, mais tarde, que outras universidades e institutos politécnicos “copiaram” este modelo, dada a sua eficácia na resposta às solicitações, necessidades e desejos da região onde se inseriam. E o rosto de toda esta dinâmica era o Professor Eugénio Peixoto, levando a que a Universidade do Minho fosse pioneira nesta área.
O Professor Eugénio Peixoto deixa uma fabulosa e/ou excepcional (talvez única) biblioteca privada, nos domínios da filosofia, da literatura e da cultura portuguesas, a merecer a atenção da Universidade onde leccionava com empenho. Literariamente falando, conhecíamos-lhe – quantas conversas e segredos partilhados nos corredores da universidade – uma assoberbada paixão por Agustina Bessa-Luís. Partilhamos da convicção do Professor José Marques Fernandes, aquando da irreversível constatação do seu passamento (vítima de doença prolongada) – e sempre que nos lembrarmos das “Aulas Abertas”, dos “Colóquios”, dos “Seminários” e dos “Simpósios” onde participava afincadamente e partilhava muito do seu conhecimento e sabedoria, enriquecendo os debates filosóficos –, que os alunos e professores ficarão mais órfãos, a partir daqui.

Que descanse em paz, entre os filósofos que tanto amava!

1 comment:

CÉU ROSÁRIO said...

Amigo Porfirio
Obrigada por me dar a conhecer seu espaço...
Gostei muito.
Um abraço amigo