“João
Marcos é um português de Ponte de Lima. E essa fatalidade marcou-o
profundamente. A sua terra natal reflectia, então, um típico ambiente minhoto
na sua ruralidade e arcaísmo, votada a uma agricultura de penosa subsistência”.
Cláudio Lima
Pelo segundo ano
consecutivo, comemoramos o 25 de Abril em Ponte de Lima, porque muitos são os
motivos que nos aproximam daquela maravilhosa terra, acrescendo o facto de aí
possuirmos muitos amigos que nos respeitam, prestando-se a uma cumplicidade
e/ou lealdade assoberbadas e transparentes.
Alguns deles,
infelizmente já desaparecidos, possuem o condão de nos iluminar – onde quer que
estejam – a vida muitas vezes “cheia de vazios”, como um dia o espelharia o
Poeta João Marcos (1913-2005) em «Versos
do Fim do Dia». E foi precisamente João Marcos que nos fez comemorar o 25
de Abril, por duas vezes (2013 e 2014), em Ponte de Lima, com a impreterível
conivência do grande poeta limiano Cláudio Lima, o maior e mais avalizado
estudioso da vida e obra do excelso Poeta dos «Colonizados» e da «Epopeia
Cósmica».
Se no ano passado
comemoramos o centenário do seu nascimento (1913-2013), numa justa homenagem
promovida pelo Município de Ponte de Lima, complementada por uma exposição na
Biblioteca Municipal local, uma romagem ao Jazigo onde repousa o seu féretro,
em Rebordões de Santa Maria, e o descerramento de um “marco” assinalando uma
rua com o seu nome – onde Cláudio Lima nos brindou com o elogio de
circunstância –; este ano voltamos a Ponte de Lima para assistirmos ao
lançamento do magnífico (pelo conteúdo, permitindo-nos, contudo, algumas pequenas
reservas quanto à estética – achamos que se poderia ir bem mais longe…
Pressentimos alguma contensão de despesas) livro de Cláudio Lima «João Marcos: Biografia e Bibliografia»,
magnanimamente apresentado pelo nosso bom amigo Professor Doutor David
Rodrigues, o mais “credenciado” camiliano dos camilianos no Alto Minho, e em
boa hora editado pelo Município de Ponte de Lima: “Do romance à poesia,
passando pelo ensaio e pela investigação histórica, nas obras sobre o Conde da
Barca e sobre o Cardeal Saraiva, João Marcos legou-nos uma vastíssima obra,
sendo hoje muito difícil reunir a colecção completa dos seus títulos,
considerando-se alguns autênticas obras raras disputadas por coleccionadores e
alfarrabistas” – escreveu o Presidente do Município, Eng.º Victor Mendes, em
jeito de nota introdutória. Tal como diria o apresentador, e com o qual comungamos
das palavras, o relato possível da vida de João Marcos e uma análise crítica,
seguida de uma «antologia», da sua obra editada é o que encontramos neste livro
do escritor e poeta Cláudio Lima (pseudónimo literário de Manuel da Silva
Alves), natural de Calvelo e residente na cidade dos arcebispos, que além de
uma obra considerável de natureza poética e literária, tem dedicado à temática
limiana uma boa parte da sua actividade.
Sem nos alvorarmos em
pressupostas presunções crítico-literárias, o que só por si seria um
contraditório às sábias palavras do apresentador, dado que o que está dito,
dito está, diremos que “João Marcos:
Biografia e bibliografia é um livro bem escrito e bem estruturado, obra de
um escritor sobre a vida e a obra de outro escritor. Recomenda-se, por isso, a
sua leitura a quantos se interessam (e devemos ser todos nós) pelos valores
culturais e seus agentes. Sem, todavia, cair em visões bairristas, redutoras
por natureza, muito mais em se tratando de literatura. Mesmo quando se trata de
homens e artistas sobre os quais não incidem os agressivos holofotes do marketing, porque independentes, sem
filiações em escolas ou correntes, afastados dos grandes centros, suportando a
edição dos seus livros ou em editoras de província ou de reduzida projecção
nacional e, por isso, marginais ou marginalizadas. Uma questão de resistência
por ser e estar, com dignidade, dados os conhecidos maus tempos que nos cercam”
– citamos David Rodrigues, e isso basta.
Estão de parabéns o
Município de Ponte de Lima, o autor, o apresentador e o “biobibliografado”, com
quem tivemos o prazer de privar de perto e de quem guardamos uma profunda e eterna
saudade, aquele João Marcos que sempre tentou “dos braços fazer asas / com
ramos e penas de aves / rasar por cima das casas / espraiar-me em voos suaves /
subir mais alto, mais alto, / sem tremer, sem sobressalto, / sempre mais alto e
mais alto”, eternamente mais alto.
Pena foi que a sessão
de lançamento não tivesse sido autónoma, para que as pessoas pudessem
conversar, durante ou no fim, com o autor, sobre o biografado e a sua obra, bem
como sobre o biógrafo e sua obra. Assim, o que ficou foi o resto... “Cereja no
topo do bolo” foi, sem dúvida, a extraordinária dissertação (sem rede) sobre Liberdade
e Cidadania, do bom amigo e ilustre Reitor da Universidade Fernando Pessoa e,
simultaneamente, Presidente da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, Professor
Doutor Salvato Trigo.
Nota máxima!
3 comments:
Ó Porfírio, não me obrigue a ser descortês, face às cortesias que tem para comigo. Em primeiro lugar, deixe lá os títulos que, embora verdadeiros e não adquiridos por equivalências, não passam de apêndices. Em segundo lugar, um não sou "camiliano" nem «camilianista»: sou apenas leitor (crítico quanto sei e posso)de Camilo, o Mestre da Língua e da Literatura.
Abraço.
Amigo David, por certo que aceitará o contraditório: o que está escrito, escrito está... Sempre fui muito objectivo naquilo que penso dos outros. Se fosse pela negativa, simplesmente ignorava. Os três merecem: João Marcos, Cláudio e David.
Um forte abraço.
Agora, ao reler o que escrevi, dei com umas gralhitas (essas fp que sempre me perseguem) no meu comentário. Desculpe.
Abraço.
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