«40 artistas partilham os seus olhares, as
suas críticas, as suas esperanças. Para uns, o cravo de Abril perdeu o viço, a
cor, a pomba da paz jaz acorrentada e moribunda, a nova geração de Abril
engorda sebosamente e afoga-se no próprio vómito.»
Maria José Guerreiro
No pretérito dia 14 de
Março de 2015 (Sábado), foi inaugurada, em Viana do Castelo, uma exposição
comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril, e que estará patente ao público, nos
baixos dos Antigos Paços do Concelho, à Praça da República, até ao dia 12 de
Abril do corrente ano. Parafraseando João Paulo Cotrim, «quarenta anos depois, e a convite da Câmara Municipal de Viana do
Castelo, desafiámos outros tantos ilustradores, esses mestres do efémero, para
reinterpretar os ícones que ficaram como tatuagem daqueles meses febris.
Reinterpretar sem constrangimentos, como quem regressa a um testo clássico para
o reler e trazer à cena com os olhos e as mãos de hoje». Em suma, quase que
se poderia ficar por aqui, como forma de se exprimir sensações ou
sensibilidades, plasmadas nos quarenta quadros dos quarenta artistas expostos.
Mas, se o fizéssemos, ficaria no ar, também, uma sensação (nossa) estranha de
inoperância observadora e de ingratidão, perante aquilo que nos foi dado
observar, porque a custo zero, com a anuência logística e económica da Câmara
Municipal de Viana do Castelo, norteada, apenas e só, pelo sentido estético da
Arte e da Cultura ao serviço de todos os cidadãos. Tudo ali tão próximo dos
olhos de toda a gente…“Pelos olhos dentro”.
A visão do passado, do
presente e do futuro, encontra eco na partilha dos olhares dos quarenta
artistas expostos, sendo de realçar a bipolaridade geracional, de metade ter
nascido antes do 25 de Abril, e a outra metade depois das portas que Abril
abriu: Alberto Faria, Lisboa, 1966; Alex Gozblau, Perúgia, Itália, 1971;
Armanda Baeza, Lisboa, 1990; Ana Biscaia, Marinha Grande, 1978; André da Loba,
Aveiro, 1979; André Letria, Lisboa, 1973; Bernardo Carvalho, Lisboa, 1973; Carlos
Guerreiro, Barreiro, 1969; Catarina Sobral, Coimbra, 1985; Cátia Vidinhas, Vila
Flor, 1989; Constança Araújo Amador, Porto, 1984; Cristina Sampaio, Lisboa,
1960; Cristina Valadas, Porto, 1965; Daniel Lima, Angola, 1971; Emílio Remelhe,
Barcelos, 1965; Esgar Acelerado, Póvoa do Varzim, 1968; Filipe Abranches,
Lisboa, 1965; Gémeo Luís, Maputo, 1965; João Fazenda, Lisboa, 1979; João Lucas,
Lisboa, 1964; Jorge Nesbitt, Lisboa, 1972; José Manuel Saraiva, Porto, 1974;
Júlio Dolbeth, Angola, 1973; Lord Mantraste, Caldas da Rainha, 1988; Manuel San
Payo, Lisboa, 1958; Maria a Miserável, Leiria, 1986; Marta Madureira, Porto,
1971; Marta Monteiro, Penafiel, 1973; Miguel Rocha, Lisboa, 1968; Nuno Saraiva,
Lisboa, 1969; Pedro Brito, Barreiro, 1975; Pedro Cavalheiro, Lisboa, 1961;
Pedro Lourenço, Lisboa, 1976; Pedro Proença, Lubango, Angola, 1962; Ricardo
Castro, São João da Madeira, 1978; Rui Rasquinho, Lisboa, 1971; Rui Silvares,
Viseu, 1963; Sebastião Peixoto, Braga, 1972; Susa Monteiro, Beja, 1979; e,
Tiago Albuquerque, Lisboa, 1982, acalentando a esperança de Abril permanecer
como uma porta aberta para o futuro.
Tiago Manuel, com a
conivência de Maria José Guerreiro e Rui A. Faria Viana, mentor persistente de
trazer a Viana do Castelo qualidade dos melhores entre os melhores, fez-nos
percorrer, quadro a quadro, autor a autor, reinterpretando sem constrangimentos
aquela extraordinária «Colecção de cromos», pronunciada alegoria de João Paulo
Cotrim, quando se referia aos artistas e às suas obras: «A ilustração é uma arte que consegue condensar num fósforo todo o
fulgor de uma ideia, de um acontecimento, e fazer arder tudo em símbolo, em
metáfora, em desenho e cor». Tudo tão bem explicado, por vezes, de uma
forma bem-humorada, pelo nosso guia de circunstância – dado que outro não
poderia ser –, Tiago Manuel.
Obrigatoriamente, uma
exposição a visitar.
NOTA MÁXIMA!
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