«Penso que chegamos a um momento-chave da
história em que é inultrapassável colocar o cidadão no centro do projecto de
integração europeia. As políticas de austeridade vieram mostrar como um
afastamento dos valores europeus põe em causa alicerces da EU que podem ser
resumidos em duas palavras: compromisso e solidariedade.»
Sandra Dias Fernandes
Interagindo com o nosso
colega Jorge Silva, numa organização da Câmara Municipal de Viana do Castelo
(Biblioteca Municipal de Viana do Castelo), chegamos ao final da actividade
integrada no projecto «Uma Nova Narrativa para a Europa», através da
metodologia «CAFÉ EUROPA», onde foi dada a oportunidade aos cidadãos,
residentes no concelho de Viana do Castelo, à participação activa pela via da
discussão de ideias, em ambiente descontraído, por forma a contribuir para uma
nova abordagem ao rumo da União Europeia. Sandra Fernandes, especialista em Questões
Europeias, foi a nossa convidada para moderar o último «Café Europa», que teve
lugar no pretérito dia 13 de Março, assente em duas pertinentes questões: A
União Europeia: um passado, um presente… um futuro? A União Europeia: tem um
futuro?
Recorrente da sua vastíssima
experiência, Sandra Fernandes levou-nos até ao passado, abordando os principais
aspectos na dinâmica alargamento/aprofundamento; inovação histórica, através da
noção clara de “ideia de paz positiva”, perpassando pelos Direitos Humanos nas
vertentes interna e externa, as quais, segundo ela, estão intimamente ligadas
devido a uma percepção da segurança enquanto Segurança Humana (Direitos
políticos, económicos e sociais, tomando como exemplo, emprego e dignidade); o
paradoxo crescente que nos traz para o presente do projecto de integração
europeia: o afastamento do cidadão da acção da União Europeia, tanto a nível
externo como interno. Com os pés bem assentes no presente, induziu-nos à
necessária reflexão sobre o facto da EU se apresentar como portadora de valores
próprios, europeus, que considera universais, e enquanto actor normativo e
modelos de estado social, projectando o futuro com um acto criativo, tal como
foi um acto criativo político a própria criação da EU, pelos pais fundadores: «Hoje, aqui, em Viana do Castelo, temos a
oportunidade de sermos protagonistas face a mais uma crise da União Europeia, a
qual sempre conseguiu ultrapassar pelo passado. Penso que o maior desafio
consiste em recuperar um espírito de solidariedade agastado pelo ressurgimento
de algum egoísmo nacional (não se alcançam soluções duradouras quando, para
problemas comuns, divergem as soluções apontadas). Só os cidadãos europeus são
capazes disso hoje com lideranças carismáticas para os levar. Ao debatermos
hoje neste espaço, julgo que vamos contribuir, um pouco, para o nosso sentido
de pertença ao projecto europeu» – disse a mesma ilustre especialista.
Principalmente para os
mais distraídos, diremos que Sandra Dias Fernandes é professora na área de
Relações Internacionais e Ciência Política da Universidade do Minho desde 2001.
É doutorada em Ciência Política, com especialização em Relações Internacionais
por Sciences Po (Paris). Recebeu o
Prémio Jacques Delors 2005 pela investigação sobre a relação entre a União
Europeia e a Rússia, com enfoque nas dimensões políticas e de segurança (livro:
Europa (In)Segura: União Europeia,
Rússia, Aliança Atlântica: A Institucionalização de uma Relação Estratégica.
Lisboa: Principia, 2006). Assume, actualmente, a direcção da Licenciatura e do
Mestrado em Relações Internacionais, sendo também Directora-adjunta do
Departamento de Relações Internacionais e Administração Pública, da
Universidade do Minho. Colaborou com a Embaixada de Portugal junto da Federação
Russa durante a Presidência Portuguesa da UE no segundo semestre de 2007, em
Moscovo. Em 2009, participou numa sessão de formação, em Riyadh (Arábia
Saudita), sobre a política externa da UE, organizada para diplomatas e altos
funcionários dos países do Golfo Pérsico. Contribuiu, também, para a “EU Study
Week”, organizada pela Delegação da Comissão Europeia em Voronezh (Rússia). Em
2010, participou numa mesa redonda, em Genebra (Suiça), com especialistas e
autoridades oficiais para discutir as perspectivas para a arquitectura de
segurança europeia e a proposta do presidente russo Medvedev acerca de um novo
tratado de segurança.
Foi Auditora do Curso
de Defesa Nacional do Instituto da Defesa Nacional (IDN), em 2003-2004. Em
2007, foi convidada pela Universidade Livre de Bruxelas (ULB) para lecionar em
unidades curriculares na área de segurança europeia e das relações UE-Rússia,
no âmbito de pós- graduações. Foi também docente convidada pelo Instituto
Estatal de Moscovo (Universidade) de Relações Internacionais (MGIMO), pela Universidade
de Economia de Izmir (Turquia), e pela Universidade de Ljubljana (Eslovénia)
para ministrar palestras sobre as mesmas temáticas. De 2007 a 2009, foi
“Visiting Research Fellow” do Centre for European Policy Studies (CEPS), em
Bruxelas.
Os seus interesses de
investigação centram-se nos estudos europeus, no espaço pós-soviético, na
relação entre a União Europeia e a Rússia, na análise de políticas externas e
na segurança internacional. Tem um conjunto alargado de obras publicadas,
livros, capítulos de livros e artigos científicos, a nível nacional e
internacional, incluindo por exemplo a recente publicação: Putin’s Foreign
Policy towards Europe: Evolving Trends of an (Un) Avoidable Relationship. In Roger Kanet and Rémi Piet (eds). Shifting Priorities in Russia’s Foreign and
Security Policy. 2014. Ashgate: 13-34. Tem também sido oradora em
conferências científicas nacionais e internacionais, colóquios e palestras,
para além de entrevistas a media
nacionais e estrangeiros. Muito recentemente, foi convidada pelo Ministério dos Negócios Estrageiros para
júri da carreira diplomática, do ano 2015.
Para concluirmos, da
forma mais positiva, diremos que o nosso eurocepticismo tem vindo a diminuir
gradualmente, sendo que terminará de vez quando possuirmos, na realidade,
verdadeiros líderes carismáticos.
Sandra Fernandes trouxe-nos essa esperança!
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